O melhor de Crash sem dúvida foi na hora da premiação - a cara de Jack Nicholson ao anunciar o vencedor. Ponha em 1'32 e boa risada.
Sinfonia em Paris - melhor filme (1951/ 52)
Melhor opção:
Uma rua chamada pecado /
Um lugar ao sol
Hollywood vivia uma das épocas áureas dos musicais e a Academia resolveu coroar o insosso
Sinfonia em Paris, estrelado por Gene Kelly, que vive um veterano da 2ª guerra que resolvera viver em Paris para tentar viver como pintor, se apaixona por uma bailarina, sai dançando e cantando por qualquer besteira e bla-blça-blá. Um filme fraco cuja única boa lembrança é a piadinha no começo do filme em que a personagem de Kelly diz: "Nos Estados Unidos diziam que eu não tinha talento... aqui também dizem isso, mas em francês soa mais bonito". Mesmo assim, o filme venceu o interessantíssimo e imortal
Uma rua chamada pecado, com as inesquecíveis atuações do quarteto Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter e Karl Malden, além do carismático drama
Um lugar ao sol, famoso pela presença da então jovem e já promissora Elizabeth Taylor.
Minha linda dama - melhor filme (1964/ 65)
Melhor opção:
Dr Fantástico
MAIS UM. Mais um ano em que um musical simplório vence - e olhe que se estamos nos anos 60, o musical tem 95% de chance de ser mais enjoativo que um saco de marshmallow. O pior é que nesse ano, dos cinco filmes indicados, apenas um merecia de fato o prêmio: a comédia de humor negro de Kubrick, o mais divertido e ácido trabalho do diretor que é ícone quando se fala de gênios do cinema e injustiçados do Oscar. O astuto filme sobre apocalipse nuclear perdeu para o ingênuo e irritante filme de três horas em que Audrey Hepburn sapateia e saltita pelas ruas e palacetes de Londres, num diferente tipo de plebeia que vira princesa (na verdade trata-se de um experimento social feito por um professor) que seria melhor indicado para casos crônicos de insônia. Amamos Audrey, mas
Minha linda dama não dá pra engolir.
A noviça rebelde – melhor filme (1965/66)
Melhor opção:
Doutor Jivago /
Darling
Cara, eu odeio esse filme. É tão bobo, entediante e bem comportado que me dá vontade de vomitar. Já estávamos bem avançados nos anos 60 para dar tanta ênfase a este filme sem sal quando já se tinha uma grande quantidade de produções muito mais apropriadas a sua época e ao novo estilo de pensar e agir que viriam com tanta força alguns anos depois e, principalmente, nos anos 70. Filmes indicados como
Darling – a que amou demais traziam um conteúdo muito mais sério e muito mais apropriado para a nova geração crítica e ácida que surgia. Não estou dizendo que naquele ano as pessoas já estavam prontas para
Perdidos na noite (vencedor de melhor filme em 1970), mas também não se pode dizer que a história de uma freira cantora e um bando de pirralhos louros fugindo de nazistas e cantando músicas entediantes fosse o mais apropriado. Porque não os meios termos? Caso ainda quisessem apostar no caminho mais tradicional, vale lembrar que o clássico universal
Doutor Jivago também é do mesmo ano e acredito que seria uma opção melhor. Menos tola, pelo menos.
Apocalypse Now (1979) e Touro Indomável (1980) perderem o Oscar de melhor filme
Dois erros gritantes e consecutivos - apesar de serem de certa forma compreensíveis. A brilhante e revolucionária geração da década de 70 estava perdendo força e essas duas derrotas são o marco do fim da Nova Hollywood. Não sei qual dos dois revolta mais os cinéfilos; no primeiro caso, a odisseia de Francis Ford Coppola no Vietnã, sem dúvida um dos dez melhores filmes americanos já feitos, perdeu para o drama familiar Kramer vs Kramer, um ótimo filme abrilhantado pelas grandes atuações de Dustin Hoffmann (que venceu por melhor ator) e Meryl Streep (que venceu como atriz coadjuvante). Kramer é bom, mas a superioridade de Apocalypse now é indiscutível.
No caso de Touro indomável, o vencedor foi Gente como a gente, outro drama familiar muito bom, mas a diferença de qualidade entre os dois é muito evidente. Touro é muito mais profundo, infinitas vezes melhor dirigido (talvez o melhor trabalho de direção de Scorsese) e tem como grande destaque a atuação monstruosa de Robert De Niro, uma das melhores atuações masculinas vencedoras de Oscar.
O discurso do rei – melhor filme (2010/ 2011)
Melhor opção:
A rede social/ Cisne negro
Mesmo com a ideia idiota de colocar 10 indicados na categoria de melhor filme, o Oscar ainda conseguiu premiar um dos piores! Sim. Num ano cheio de produções criativas como
Cisne negro, A origem e
A rede social, a Academia, como de costume, optou pelo caminho mais seguro ao premiar uma história sobre gagueira. Não é nem sobre um grande homem, pois seus feitos não importam, é apenas sobre um gago. A questão é que esse gago é o Rei George, cuja única função na sua figura representativa da realeza britânica é fazer um discurso eloquente. Como fazê-lo sendo gago? And it’s gone. É basicamente isso. Claro que é um filme bom, com atuações excelentes, mas não chega aos pés de pelo menos sete dos outros indicados. Apesar de ter uma preferência pessoal por
Cisne negro, acho até que
A rede social sairia como um vencedor mais apropriado para o prêmio. Um filme totalmente antenado que cumpre muito bem uma das funções básicas do cinema que aprendemos com a geração dos anos 70: falar sobre seu tempo. É um filme moderno, um conto arrojado sobre a dinâmica do poder e dos fenômenos culturais na geração atual. Muito interessante, muito inteligente e muitíssimo bem feito pelo sempre perfeccionista David Fincher. Particularmente, ainda prefiro
Cisne negro por ser tão visceral. Outras opções muito boas seriam
A origem,
127 horas e, sim,
Toy Story 3 (porque é emocionante até dizer chega).
Roberto Benigni – melhor ator por A vida é bela (1998/1999)
Melhor opção: Edward Norton por
A outra história americana
Tudo bem, esse filme é bonitinho, mas também é bem enjoativo, concordam? De todos os filmes sobre o holocausto – que são muitos –
A vida é bela consegue ser um dos mais emocionalmente apelativos. O filme usa praticamente de todos os artifícios possíveis para tentar conseguir uma conexão emotiva com o espectador, e até consegue. O problema é que o longa definitivamente não resiste a uma segunda sessão, ou muito menos ao tempo. O considero ultrapassado e comportado demais para levá-lo a sério. Além do mais, Roberto Benigni faz uma atuação bacana, mas tão caricata e exagerada que é até forçada, sinceramente. Não vejo nada de extraordinário em seu trabalho como ator neste filme e, principalmente, quem viu ele recebendo o prêmio sabe que sua reação à notícia foi no mínimo tosca. Enfim, como se não bastassem os pontos negativos de Benigni, o ano de 1998 trazia atuações espetaculares de Tom Hanks em
O resgate do soldado Ryan e principalmente de Edward Norton no notório
A outra história americana que com certeza é um dos melhores filmes dos anos 90 e com certeza é um dos melhores filmes já feitos sobre conflitos raciais no mundo moderno. Edward Norton é um excelente ator que com certeza mereceria uma maior visibilidade por parte do Oscar e A outra história americana foi a melhor oportunidade para isto. Não importa, pois ele tem uma verdadeira legião de fãs, sempre ansiosos pelos seus próximos trabalhos.
Art Carney – melhor ator por Harry, o amigo de Tonto (1974/75)
Melhor opção: Jack Nicholson por Chinatown / Al Pacino por O poderoso chefão II
Quem é Art Carney? Não sei. Que filme é
Harry, o amigo de Tonto? Não faço a menor ideia. Mesmo assim, num ano em que Al Pacino trouxe seu Michael Corleone em
O poderoso chefão II e Jack Nicholson deixou meio mundo surpreso com a potência de seu noir em
Chinatown, um ator que caiu em completo esquecimento por um filme o qual ninguém ouviu falar saiu vencedor do prêmio. Não importa que eu não tenha visto o filme, mas é óbvio que Pacino e Nicholson, que trouxeram dois dos melhores personagens da história do cinema, eram opções muito mais corretas. Pura questão de bom senso – o que a Academia mostra, várias vezes, que não tem.
Rod Steiger – melhor ator por No calor da noite (1967/68)
Melhor opção:
Paul Newman por
Rebeldia indomável / Dustin Hoffman por
A primeira noite de um homem
Longe de mim dizer que
No calor da noite é um filme ruim ou que o trabalho de Rod Steiger no filme seja ruim, mas é mais um daqueles casos em que o vencedor caiu em quase esquecimento enquanto que indicados só fizeram crescer mais e mais. No caso, o ano era 1967 e os filmes já traziam muitas temáticas novas para o cinema. Apesar de ter, em sua origem, uma proposta mais inovadora,
No calor da noite não chega aos pés de seus concorrentes neste quesito. O mesmo vale para suas personagens. Apesar de uma atuação correta, Rod Steiger ficou longe de fazer uma atuação icônica, algo desenvolvido muito bem por Dustin Hoffman em
A primeira noite de um homem, e, meu preferido, Paul Newman em
Rebeldia indomável. Em termos de filme, prefiro
A primeira noite de um homem, mas em termos de atuação protagonista, prefiro a de Newman. Apesar de seu personagem não ter virado um símbolo tão grande quanto o de Hoffman, aqui o ator traz um de seus melhores papéis – melhor inclusive que aquele que lhe rendeu o prêmio em
A cor do dinheiro de Martin Scorsese. O filme é tão bom, tão cheio de força e liberdade que esboça muito bem o espírito livre posteriormente imortalizado em
Um estranho no ninho, longa que deve muito à
Rebeldia indomável e que, nos dias atuais, carrega um renome consideravelmente maior.
Chicago – melhor filme (2002/ 2003)
Melhor opção:
O pianista /
Gangues de Nova York /
O Senhor dos anéis: as duas torres
Hollywood adora um musical. O Oscar já cansou de dar prêmios a musicais que não mereciam, e com
Chicago não foi diferente. Mais uma vez, este não é um caso de filme ruim, mas um caso de uma competição muito melhor. No ano, concorriam diretamente a emoção de
O pianista, a voracidade de
Gangues de Nova York e a excelência de
As duas torres. Com essas três opções ótimas, a Academia foi por fora e deu o prêmio para
Chicago. Não satisfeito, ainda deu o prêmio de melhor atriz coadjuvante para Catherine Zeta-Jones, em mais um caso de uma atuação boa, porém com concorrência muito melhor. Apesar de ser um grande fã de
Gangues de Nova York, não o considero um dos melhores trabalhos de Scorsese – lembrando que seus melhores filmes não ganharam o Oscar – dessa forma, a melhor opção ficaria a cargo do emocionante e muito bem realizado (dramático, mas não muito apelativo) drama sobre o holocausto de Roman Polanski.
Uma mente brilhante – melhor filme (2001/ 2002)
Melhor opção:
Assassinato em Gosford Park
Mais um caso em que o vencedor era o pior dentre os indicados. Muito bom, uma atuação fantástica de Russel Crowe e uma tão boa quanto de Jennifer Connely. Porém, a concorrência vinha com tudo naquele ano. É deste ano o primeiro capítulo da saga do
Senhor dos Anéis, foi neste ano que
Moulin Rouge! ressuscitou os tão amados por Hollywood musicais com sua explosão de cor, som e paixão, foi neste ano que Sissy Spacek e um talentoso elenco adentrou nos dramas particulares de uma família como qualquer outra, mostrando o que está escondido e criando uma fantástica relação causa-consequência (frisando, mais uma vez, a excelência da atuação de Sissy Spacek e dos demais atores do filme) e, principalmente, é deste ano um dos melhores filmes de Robert Altman:
Assassinato em Gosford Park. Não que
Gosford Park seja o melhor filme do diretor, mas aqui temos seus elementos básicos de histórias que se cruzam, elenco gigantesco e roteiro complexo e intrincado, mas com um toque de clássico típico de cinema antigo, qualidade técnica impecável e um elenco que inclui a realeza do cinema mundial, contando com nomes como Hellen Mirren e Maggie Smith (ambas indicadas ao Oscar de melhor atriz coadjuvante). Mais uma vez,
Gosford Park não é o melhor filme de Robert Altman, mas foi a melhor chance que o diretor teve, visto que só venceu um prêmio honorário, de ganhar o prêmio (
Mash e
Nashville são melhores, mas não fazem o perfil da premiação de forma alguma).
Shakespeare apaixonado – melhor filme (1998/ 99)
Melhor opção:
A outra história americana – que não foi nem indicado / O resgate do soldado Ryan
Certo. Como se não bastasse ter dado o prêmio de melhor atriz para Gwyneth Paltrow, o Oscar, não satisfeito, ainda deu o prêmio de melhor filme para
Shakespeare apaixonado. Um filme ruim? Longe disso. Muito divertido, muito agradável e muito bonitinho, isso é fato. Porém, em ano nenhum um filme desse porte deveria levar o prêmio de melhor filme. Teoricamente, o vencedor da principal estatueta tem que ser inovador, arrebatador, surpreendente, ousado e tantas outras qualidades que muitos dos vencedores não têm nas doses perfeitas. Esse é o caso de
Shakespeare apaixonado. É clássico, com uns toques modernos, passeia por diferentes gêneros, mas não consegue ir muito além do bom. É todo perfeitinho, mas não chega a ser ótimo. Enfim, não vale o prêmio. Como concorrente direto, o filme enfrentou o clássico sobre a Segunda Guerra e uma das principais obras-primas de Spielberg,
O resgate do soldado Ryan. Não é um filme que eu goste muito – acho muito forçado no patriotismo e um pouco irritante às vezes – mas devo admitir que é um filme extremamente bem realizado, de uma destreza técnica fantástica e que conta com os 15 primeiros minutos mais intensos do cinema. Enfim, uma opção mais viável. Merecedor mesmo, a meu ver, era o nem indicado
A outra história americana, um filme simplesmente fenomenal em tudo o que propõe.
O paciente inglês – melhor filme (1996/ 97)
Melhor opção:
Fargo
O que esperar de um filme consagrado pela série Seinfeld como longo e entediante? Exatamente isso.
O paciente inglês é um romance estilo clássico, daqueles bem melosos e cheios de paixão e sofrimento. O problema do filme é que ele é simplesmente chato. Chato e longo. Chato, longo e entediante. Chato, longo, entediante e cansativo. Enfim, não é um filme que eu fosse recomendar a ninguém porque não acho que ele valha as pouco mais de 3hrs de sua duração. Sim, são 3hrs de um homem desfigurado por queimaduras morrendo no deserto enquanto conta sua história de amor com uma mulher lá de quem não lembro nada (só lembro que é interpretada pela excelente Kristin Scott Thomas). Filme totalmente dispensável. Algo muito diferente de dois de seus concorrentes, o empático
Jerry Maguire e principalmente o ousadíssimo
Fargo, uma das maiores incursões dos irmãos Coen pelo humor negro. Um filme que mistura sequestros, assassinatos, criminosos toscos e violentos, uma cidade no meio do nada e uma policial grávida vivida por Frances McDormand parecem uma combinação muito improvável, mas vira uma programação cinematográfica imperdível e uma grande diversão. O Oscar adora os irmãos Coen, tendo os indicado algumas vezes e até dado o prêmio de melhor filme para
Onde os fracos não tem vez (ótimo filme, mas
Sangue negro é bem melhor), mas falhou feio ao não consagrá-los por essa que é uma das poucas pérolas dos anos 90.
Rocky, um lutador – melhor filme (1976/ 77)
Melhor opção:
Taxi driver
Esse é um pouco complicado pra mim, pois sou um fã do filme
Rocky. No entanto, isso não tira meu bom senso de saber que Rocky é muito inferior a três de seus concorrentes diretos ao prêmio:
Taxi driver, Rede de intrigas e
Todos os homens do presidente.
Taxi driver tornou-se um dos filmes mais importantes do cinema, sendo considerado por muitos a maior obra-prima de Martin Scorsese e também um dos melhores estudos sobre a obscuridade da mente humana e os caminhos que percorre quando em situações de extrema pressão;
Rede de intrigas é um relato ácido do jogo de manipulação e sensacionalismo que cerca a mídia televisiva, num esquema de interesses e alienação guiado por pessoas inescrupulosas, instáveis e tão podres quanto o sistema que mantêm;
Todos os homens do presidente é um drama político tenso e muito ousado que joga o caso Watergate e o clima de tensão e fobia americana dos anos 70. Enquanto isso,
Rocky é só um filme sobre um boxeador e seu caminho em busca de uma vitória dentro e fora dos ringues. Qual dos quatro parece ser mais interessante? Se há de haver dúvidas, com certeza estará entre os três primeiros. Como melhor opção, com certeza seria o próprio
Taxi driver – hoje em dia está até na lista dos 50 melhores filmes da revista Sight and Sound.
Jennifer Lawrence - melhor atriz por O lado bom da vida (2012/13)
Deixei pro final porque é um dos mais polêmicos. Afinal, Lawrence merecia ganhar ou não? Não. Naomi Watts, indicada por
O impossível, e Emanuelle Riva por
Amor, estavam muito melhores. Não há dúvida de que Jennifer é uma das melhores atrizes de sua geração, terá uma carreira incrível pela frente, mas a decisão de lhe dar o Oscar foi mais política do que artística. Naomi Watts sendo levada por uma onda gigante e se arrastando por um lamaçal infinito com o tendão calcâneo rompido pra mim foi a melhor atuação do ano passado, melhor até que a de Emanuelle Riva, no inesquecível
Amor, enquanto mudava de elegante e ativa senhora para uma enferma que murchava a olhos vistos. Enfim, na comédia de David O. Russel Jennifer mostrou muito carisma e talento de sobra - prova de Hollywood sofre da falta de ideias, não de elenco - mas a Academia deveria esperar um trabalho mais sério e consistente.
Lucas Moura e Luís F. Passos