domingo, 25 de dezembro de 2011

Dez livros em 2011 (2)

Dando continuidade à lista com os livros que mais gostei de ler em 2011, chego aos cinco preferidos. E deles, 4 são nacionais! Isso porque esse ano resolvi ler alguns clássicos e outros nomes de peso, pra dar uma valorizada às minhas longas férias (ah, que saudade delas). Bem, vamos aos livros.

5. O Continente I e II: a primeira parte da trilogia O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo (isso, sem acento) é dividida em dois volumes (confira posts aqui e aqui). Neles Verissimo começa a contar a história gaúcha através das gerações da família Terra Cambará, das Missões Jesuíticas de Sete Povos até a Revolução Federalista de 1895, passando por personagens inesquecíveis como Ana Terra e o capitão Rodrigo Cambará, típicas figuras gaúchas. O Continente passa por mais de 200 anos de história, preparando o leitor para as partes seguintes da trilogia: O Retrato, com dois volumes, e O Arquipélago, com três volumes. O autor merece os parabéns não só pela obra, muito rica, como também pela extensa pesquisa histórica realizada para que os romances fossem escritos.

4. O Estrangeiro: (post aqui) livro mais conhecido do argelino Albert Camus, O Estrangeiro narra a história de Mersault, homem aparentemente desprovido de emoções, especialmente aquelas pré-estabelecidas por valores sociais. Mersault perde sua mãe e não sente nada; começa um relacionamente onde não sente nada; mata um homem sem sentir nada. A falta de remorso de ter cometido o crime, além do fato de aceitar sua sentença traquilamente, é o meio que Camus usou para tratar do absurdo e do desencanto do homem (principalmente após a Segunda Guerra Mundial).

3. Fogo Morto: lançado em 1943, é o melhor livro de José Lins do Rêgo e é com ele que o autor fecha seu ciclo da cana-de-açúcar. O livro tem três partes, cada uma foca em um dos protagonistas: mestre José Amaro, coronel Lula de Holanda e capitão Vitorino Carneiro da Cunha - ambos os três loucos. A loucura é o segundo principal tema, o primeiro é a decadência do engenho da cana, simbolizado na figura do engenho Santa Fé, do coronel Lula. Ao longo da história, outros temas são tratados, como a solidão, o preconceito, o cangaço, a violência da polícia, a desigualdade social e a fé como refúgio do sofrimento.
Entre os três protagonistas, quem mais se destaca é o capitão Vitorino: uma figura quixotesca que sonha ser prefeito e acabar com os privilégios dos ricos senhores de engenho - mesmo sendo parente da maioria dos fazendeiros ricos da região. Com seu talento, José Lins do Rêgo conseguiu fazer de Fogo Morto não apenas suas obra prima, como também um dos livros mais importantes do Modernismo brasileiro.
 
2. Sagarana: (post aqui) primeiro livro de Guimarães Rosa, é um conjunto de 9 contos ambientados no sertão de Minas Gerais e Goiás.  O livro fala o sertão, de seus acontecimentos e personagens, muitos dos quais envolvem a terra natal do escritor, Codisburgo. Ao longo dos nove contos, vários temas são abordados: os costumes interioranos, o misticismo, romances, violência e pobreza; sendo boa parte das histórias baseadas em relatos que Rosa ouviu em suas andanças pelo sertão como médico e posteriormente como pesquisador.
Sagarana já traz a linguagem complexa e original inventada por Guimarães Rosa, com seus neologismos e arcaísmo, o que chamou logo a atenção de críticos e acadêmicos. Claro que a qualidade dos contos também conta muito, como por exemplo O burrinho pedrês e A hora e a vez de Augusto Matraga.

1. Grande Sertão: Veredas: o "grande" no título parece ser estratégico. Esse livro é gigante em vários aspectos: obra prima do mago das letras Guimarães Rosa, foi considerado um dos melhores exemplos de literatura universal no século XX. Também é um dos livros brasileiros que mais vendeu exemplares no exterior e um dos mais debatidos em teses acadêmicas.
Se trata de um monólogo narrado pelo ex-jagunço Riobaldo Tatarana, já em sua velhice. Riobaldo se dirige a um interlocutor não identificado - um "doutor" - narrando sua "Travessia", ou a história de sua vida. Nascido no sertão mineiro, foi criado pela mãe e depois pelo padrinho, até entrar no grande bando de jagunços de Joca Ramiro, onde cria uma forte amizade com Reinaldo Diadorim. O fato que dá ação à história é o assassinato de Joca Ramiro, por parte dos seus sub-chefes Hermógenes e Ricardão. Diadorim revela que Joca Ramiro era seu pai, e Riobaldo promete ajudar o amigo a vingar a morte, tomando a liderança do bando e partindo em busca dos traidores.
A universalidade da obra se apresenta através dos pensamentos de Riobaldo: seus sentimentos por Diadorim,  a dúvida sobre a existência do diabo - e um pacto com o dito cujo - e o seu contato com o sertão, além de outras angústias pessoais. Esse é um dos méritos de Guimarães Rosa: universalizar o regional. A obra se desenvolve de tal jeito que o sertão não é só o cenário no interior mineiro, mas também a aridez da alma humana.

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