Acho que qualquer pessoa com acesso a um computador ou mesmo a uma televisão já viu a cena - uma das mais populares do cinema - em que Gene Kelly canta e sapateia na chuva, mais feliz que pinto no lixo (e quem não viu a original, deve ter visto alguma paródia, como em Laranja Mecânica, 1971). Mas Cantando na chuva (Singin' in the rain, 1952) é muito, muito mais que essa cena. É um filme musical muito divertido, que me conquistou - e olhe que eu não sou o maior fã do gênero. Já revi o filme algumas vezes, de tanto que gostei dos números musicais. É leve, muito engraçado, e faz esquecer os problemas e ter vontade de ser feliz.
Em 1925, Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen) eram os rostos mais queridos do cinema mudo de Hollywood. Sempre faziam par romântico nos filmes, por isso as revistas os mostravam como um casal, o que não era verdade - na verdade, Don mal conseguia aturar Lina. O filme começa com o lançamento de "The Royal Rascar", novo filme estrelado pela dupla e mais um sucesso de público.
Depois da estreia Don vai com seu melhor amigo Cosmo (Donald O'Connor), músico que compõe as trilhas sonoras dos filmes, para a festa que seria dada pelo diretor do estúdio, R. F. Simpson (Millard Mitchell), em sua homenagem. No caminho há um pequeno acidente, e ele conhece a atriz Kathy Selden (Debbie Reynolds), que diz que seus filmes são fúteis e ele não passava de um ator medíocre. Don fica perturbado com as palavras da jovem, a qual encontra mais tarde na festa de Simpson - saindo de um bolo para fazer um número como corista. O ator zomba dela, que criticava atores mas era apenas uma figurante, e ela joga uma torta em seu rosto - que acerta Lina, e esta fica furiosa.
Na festa de R.F., é apresentado o projeto do cinema falado, que por ser uma grande novidade é chamado de tolice, ninguém achava que ia dar certo - exceto Cosmo, que disse que "falaram o mesmo do automóvel". R.F. não tinha uma opinião formada, mas disse que eles deveriam ficar atentos, pois outro estúdio estava fazendo um filme cantado.
As semanas passam, mas Cathy e suas palavras agressivas ficam na cabeça de Don, que andava meio triste por causa delas. Cosmo encontra a jovem numa gravação nos estúdios, e leva Don até ela. Eles resolvem suas diferenças e o galã se mostra apaixonado por Kathy. Mais uns dias passam, e o primeiro filme falado de Don e Lina, "O Cavaleiro duelista", é lançado, mas por causa de erros técnicos, é um fiasco. Kathy e Cosmo vão para a casa de Don, que estava frustrado com o filme, e surge a ideia de fazer um filme cantado. O problema seria Lina, que apesar de ser linda, tinha uma voz aguda e estridente, mas Cosmo sugere que Kathy a duble em todo o filme. Parecia estar tudo resolvido, então Don vai levar Kathy em casa, na chuva, e é nessa hora que tem a famosa cena.
Depois disso ainda tem um bocado de história, e um final belíssimo e surpreendente. Vale a pena conferir. Cantando na chuva é um clássico dos musicais que foi religiosamente trabalhado - a MGM tirou do baú algumas canções de musicais bem ou mal-sucedidos dos anos 20 e 30 e as entregou para seus diretores dizendo "façam um filme". E eles fizeram com maestria. Especialmente Gene Kelly, que tinha fama de carrasco (conta-se que Debbie Reynolds, que tinha apenas 17 anos, sofreu com o velho Kelly); mas o resultado final ficou ótimo. Os números musicais, que são quase dez, exibem o talento dos três protagonistas, tanto no canto como na dança. Eu pessoalmente prefiro a personagem de O'Connor, Cosmo, que é o mais espontâneo, engraçado e criativo. Mas todas as personagens fazem o filme valer a pena, desde a arrogante e insuportável Lina - ótimo trabalho de Jean Hagen, que recebeu indicação ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante - até a doce e talentosa Kathy.
Por trás do enredo relativamente simples o filme traz ótimas referências da transição do cinema mudo para o cinema falado, que foi a maior revolução de Hollywood. A história aliada ao perfeccionismo técnico fez de Cantando na chuva o melhor musical já produzido por Hollywood e um dos melhores filmes de todos os tempos (20º na lista da Sight and Sound). Afinal, sabemos que o simples pode ser excelente desde que seja bem trabalhado e despretensioso. Ótima pedida pro fim de ano.
Luís F. Passos
Depois da estreia Don vai com seu melhor amigo Cosmo (Donald O'Connor), músico que compõe as trilhas sonoras dos filmes, para a festa que seria dada pelo diretor do estúdio, R. F. Simpson (Millard Mitchell), em sua homenagem. No caminho há um pequeno acidente, e ele conhece a atriz Kathy Selden (Debbie Reynolds), que diz que seus filmes são fúteis e ele não passava de um ator medíocre. Don fica perturbado com as palavras da jovem, a qual encontra mais tarde na festa de Simpson - saindo de um bolo para fazer um número como corista. O ator zomba dela, que criticava atores mas era apenas uma figurante, e ela joga uma torta em seu rosto - que acerta Lina, e esta fica furiosa.
Depois disso ainda tem um bocado de história, e um final belíssimo e surpreendente. Vale a pena conferir. Cantando na chuva é um clássico dos musicais que foi religiosamente trabalhado - a MGM tirou do baú algumas canções de musicais bem ou mal-sucedidos dos anos 20 e 30 e as entregou para seus diretores dizendo "façam um filme". E eles fizeram com maestria. Especialmente Gene Kelly, que tinha fama de carrasco (conta-se que Debbie Reynolds, que tinha apenas 17 anos, sofreu com o velho Kelly); mas o resultado final ficou ótimo. Os números musicais, que são quase dez, exibem o talento dos três protagonistas, tanto no canto como na dança. Eu pessoalmente prefiro a personagem de O'Connor, Cosmo, que é o mais espontâneo, engraçado e criativo. Mas todas as personagens fazem o filme valer a pena, desde a arrogante e insuportável Lina - ótimo trabalho de Jean Hagen, que recebeu indicação ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante - até a doce e talentosa Kathy.
Por trás do enredo relativamente simples o filme traz ótimas referências da transição do cinema mudo para o cinema falado, que foi a maior revolução de Hollywood. A história aliada ao perfeccionismo técnico fez de Cantando na chuva o melhor musical já produzido por Hollywood e um dos melhores filmes de todos os tempos (20º na lista da Sight and Sound). Afinal, sabemos que o simples pode ser excelente desde que seja bem trabalhado e despretensioso. Ótima pedida pro fim de ano.
Luís F. Passos
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