domingo, 2 de março de 2014

Oscar - grandes erros

Sandra Bullock – melhor atriz por Um sonho possível (2009/2010)
Melhor opção: Carey Mulligan por Educação / Gabourey Sidibe por Preciosa / Hellen Mirren por A última estação / Meryl Streep por Julie e Julia
NÃO. Simplesmente NÃO. Não é que eu tenha algo contra Sandra Bullock. Muito pelo contrário, a considero uma excelente atriz de comédias. Muito consistente, muito simpática, muito divertida. De uns tempos pra cá, até venho apostando mais no seu talento como atriz dramática (viram Gravidade? Ela está excelente e mereceu sua indicação), mas dar o prêmio por sua atuação sem sal nesse filme moralista, comportado, irritantemente bonzinho e politicamente correto é o cúmulo. Não é que ela esteja ruim, isso não é o caso. O caso é que o filme não abre margem para uma interpretação de verdade. Algo impactante, que realmente chame atenção. O máximo que Um sonho possível faz é arrancar algumas lágrimas de algumas pessoas mais emotivas. Para quem realmente quer ver algo de diferente, de original e de sensacional num filme através de uma atuação, Um sonho possível só arrancou bocejos. Ao contrário das demais indicadas ao prêmio neste ano que trouxeram atuações fantásticas. A principal concorrente de Bullock na categoria foi Meryl Streep por Julie e Julia. Se Meryl tivesse levado o prêmio não seria ruim, mas, para mim, também não seria de longe a melhor opção. Estávamos diante de três atuações sensacionais da lendária Helen Mirren e, principalmente, das quase estreantes Carey Mulligan e Gabourey Sidibe. Carey, em Educação, traz à tona o espírito feminino, da juventude e de toda uma época num filme belíssimo sobre amadurecimento. Gabby nos trouxe a história mais dramaticamente pesada dos últimos anos. É praticamente um filme de terror na base do sofrimento, carregado quase que totalmente nas suas costas. Apesar de qualquer uma das quatro serem mais merecedoras que Bullock, eu deixaria o prêmio entre estas duas últimas, sobretudo com Carey, por quem virei um completo fã, que conseguiu firmar uma carreira relativamente sólida emplacando excelência atrás de excelência.

Gwyneth Paltrow – melhor atriz por Shakespeare apaixonado (1998/ 99)
Melhor opção: Cate Blanchett por Elizabeth / Fernanda Montenegro por Central do Brasil / Emily Watson por Hillary e Jackie  
Caso clássico de gafe do Oscar. Clássico! Há mais de 15 anos a Academia escolheu premiar a atuação bonitinha e simpática da bonitinha e simpática queridinha dos anos 90 em vez de premiar atrizes de verdade – sem ofensas. Na competição, amargaram uma derrota nada a ver atrizes que realmente deram um espetáculo em cena. Não falo apenas por Fernanda Montenegro, mas todas as outras – com exceção, talvez, de Meryl Streep e seu Um amor verdadeiro bonitinho, mas whatever – trouxeram papéis bem mais impactantes. Quase todos aqui já devem ter visto Central do Brasil, então não preciso falar muito deste nem explicar o porquê de Fernanda ter sido indicada e ter sido merecedora do prêmio. Mas vocês, por acaso, já viram Elizabeth? Cate Blanchett é um monstro em cena nesse filme. De uma força incrível. E Hillary e Jackie? Esse, muitos podem nem ter ouvido falar, mas é um trabalho magistral da excelentíssima Emily Watson que transforma em ouro – apesar de não ter levado tantos prêmios quanto merecia – qualquer papel que toca. Sou fã de Fernanda Montenegro, de Cate Blanchett e de Emily Watson, então a vitória de qualquer uma das três teria sido algo fenomenal e muito mais admirável que a bobinha aí.

Crash – melhor filme (2005/ 2006)
Melhor opção: O segredo de Brokeback Mountain
Sabe quando qualquer outra opção é melhor? Pois é. Até dar o prêmio para filmes que nem tinham sido indicados seria uma opção mais interessante que premiar o esquecível – talvez não por ter uma cena muito bonita – longa sobre o choque entre diferentes pessoas de diferentes mundos, mas confinadas numa mesma cidade e entrelaçadas por conexões das mais próximas às mais distantes, através de ligações que só podem ser explicadas por destino ou coincidências. Enfim, esse é um resumo total do filme. Não é que Crash seja totalmente ruim, mas ele não tem exatamente nada de muito extraordinário, vindo de um ano em que havia filmes fantásticos na competição. Capote, Boa noite e boa sorte e Munique são grandes trabalhos, mas inaceitável mesmo é a derrota de O segredo de Brokeback Mountain, filme bem mais emotivo, bem mais delicado, bem mais inovador (apesar de usar uma fórmula base de amor trágico que é mais velha que o mundo) e bem mais memorável. Memorável não apenas por ser um conto sobre cowboys gays, mas por ser um dos filmes mais honestos sobre o amor feito nos anos 2000. Muito triste, muito melancólico, mas muito bem realizado, O segredo de Brokeback Mountain é um filme muito sóbrio e respeitoso sobre o relacionamento ao longo dos anos de um casal cujo grande impedimento à felicidade é o preconceito (social e internalizado) e o medo. Deveras mais interessante, inteligente, impactante e polêmico que Crash, do qual eu só consigo lembrar que tem uma bala de festim, um assédio sexual que tem alguma ligação com um carro capotado (???) e Sandra Bullock caindo da escada e sendo socorrida por uma mexicana (!!!).
O melhor de Crash sem dúvida foi na hora da premiação - a cara de Jack Nicholson ao anunciar o vencedor. Ponha em 1'32 e boa risada.


Sinfonia em Paris - melhor filme (1951/ 52)
Melhor opção: Uma rua chamada pecado / Um lugar ao sol
Hollywood vivia uma das épocas áureas dos musicais e a Academia resolveu coroar o insosso Sinfonia em Paris, estrelado por Gene Kelly, que vive um veterano da 2ª guerra que resolvera viver em Paris para tentar viver como pintor, se apaixona por uma bailarina, sai dançando e cantando por qualquer besteira e bla-blça-blá. Um filme fraco cuja única boa lembrança é a piadinha no começo do filme em que a personagem de Kelly diz: "Nos Estados Unidos diziam que eu não tinha talento... aqui também dizem isso, mas em francês soa mais bonito". Mesmo assim, o filme venceu o interessantíssimo e imortal Uma rua chamada pecado, com as inesquecíveis atuações do quarteto Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter e Karl Malden, além do carismático drama Um lugar ao sol, famoso pela presença da então jovem e já promissora Elizabeth Taylor.

Minha linda dama - melhor filme (1964/ 65)
Melhor opção: Dr Fantástico
MAIS UM. Mais um ano em que um musical simplório vence - e olhe que se estamos nos anos 60, o musical tem 95% de chance de ser mais enjoativo que um saco de marshmallow. O pior é que nesse ano, dos cinco filmes indicados, apenas um merecia de fato o prêmio: a comédia de humor negro de Kubrick, o mais divertido e ácido trabalho do diretor que é ícone quando se fala de gênios do cinema e injustiçados do Oscar. O astuto filme sobre apocalipse nuclear perdeu para o ingênuo e irritante filme de três horas em que Audrey Hepburn sapateia e saltita pelas ruas e palacetes de Londres, num diferente tipo de plebeia que vira princesa (na verdade trata-se de um experimento social feito por um professor) que seria melhor indicado para casos crônicos de insônia. Amamos Audrey, mas Minha linda dama não dá pra engolir.

A noviça rebelde – melhor filme (1965/66)
Melhor opção: Doutor Jivago / Darling
Cara, eu odeio esse filme. É tão bobo, entediante e bem comportado que me dá vontade de vomitar. Já estávamos bem avançados nos anos 60 para dar tanta ênfase a este filme sem sal quando já se tinha uma grande quantidade de produções muito mais apropriadas a sua época e ao novo estilo de pensar e agir que viriam com tanta força alguns anos depois e, principalmente, nos anos 70. Filmes indicados como Darling – a que amou demais traziam um conteúdo muito mais sério e muito mais apropriado para a nova geração crítica e ácida que surgia. Não estou dizendo que naquele ano as pessoas já estavam prontas para Perdidos na noite (vencedor de melhor filme em 1970), mas também não se pode dizer que a história de uma freira cantora e um bando de pirralhos louros fugindo de nazistas e cantando músicas entediantes fosse o mais apropriado. Porque não os meios termos? Caso ainda quisessem apostar no caminho mais tradicional, vale lembrar que o clássico universal Doutor Jivago também é do mesmo ano e acredito que seria uma opção melhor. Menos tola, pelo menos.

Apocalypse Now (1979) e Touro Indomável (1980) perderem o Oscar de melhor filme
Dois erros gritantes e consecutivos - apesar de serem de certa forma compreensíveis. A brilhante e revolucionária geração da década de 70 estava perdendo força e essas duas derrotas são o marco do fim da Nova Hollywood. Não sei qual dos dois revolta mais os cinéfilos; no primeiro caso, a odisseia de Francis Ford Coppola no Vietnã, sem dúvida um dos dez melhores filmes americanos já feitos, perdeu para o drama familiar Kramer vs Kramer, um ótimo filme abrilhantado pelas grandes atuações de Dustin Hoffmann (que venceu por melhor ator) e Meryl Streep (que venceu como atriz coadjuvante). Kramer é bom, mas a superioridade de Apocalypse now é indiscutível.
No caso de Touro indomável, o vencedor foi Gente como a gente, outro drama familiar muito bom, mas a diferença de qualidade entre os dois é muito evidente. Touro é muito mais profundo, infinitas vezes melhor dirigido (talvez o melhor trabalho de direção de Scorsese) e tem como grande destaque a atuação monstruosa de Robert De Niro, uma das melhores atuações masculinas vencedoras de Oscar.

O discurso do rei – melhor filme (2010/ 2011)
Melhor opção: A rede social/ Cisne negro
Mesmo com a ideia idiota de colocar 10 indicados na categoria de melhor filme, o Oscar ainda conseguiu premiar um dos piores! Sim. Num ano cheio de produções criativas como Cisne negro, A origem e A rede social, a Academia, como de costume, optou pelo caminho mais seguro ao premiar uma história sobre gagueira. Não é nem sobre um grande homem, pois seus feitos não importam, é apenas sobre um gago. A questão é que esse gago é o Rei George, cuja única função na sua figura representativa da realeza britânica é fazer um discurso eloquente. Como fazê-lo sendo gago? And it’s gone. É basicamente isso. Claro que é um filme bom, com atuações excelentes, mas não chega aos pés de pelo menos sete dos outros indicados. Apesar de ter uma preferência pessoal por Cisne negro, acho até que A rede social sairia como um vencedor mais apropriado para o prêmio. Um filme totalmente antenado que cumpre muito bem uma das funções básicas do cinema que aprendemos com a geração dos anos 70: falar sobre seu tempo. É um filme moderno, um conto arrojado sobre a dinâmica do poder e dos fenômenos culturais na geração atual. Muito interessante, muito inteligente e muitíssimo bem feito pelo sempre perfeccionista David Fincher. Particularmente, ainda prefiro Cisne negro por ser tão visceral. Outras opções muito boas seriam A origem, 127 horas e, sim, Toy Story 3 (porque é emocionante até dizer chega).

Roberto Benigni – melhor ator por A vida é bela (1998/1999)
Melhor opção: Edward Norton por A outra história americana
Tudo bem, esse filme é bonitinho, mas também é bem enjoativo, concordam? De todos os filmes sobre o holocausto – que são muitos – A vida é bela consegue ser um dos mais emocionalmente apelativos. O filme usa praticamente de todos os artifícios possíveis para tentar conseguir uma conexão emotiva com o espectador, e até consegue. O problema é que o longa definitivamente não resiste a uma segunda sessão, ou muito menos ao tempo. O considero ultrapassado e comportado demais para levá-lo a sério. Além do mais, Roberto Benigni faz uma atuação bacana, mas tão caricata e exagerada que é até forçada, sinceramente. Não vejo nada de extraordinário em seu trabalho como ator neste filme e, principalmente, quem viu ele recebendo o prêmio sabe que sua reação à notícia foi no mínimo tosca. Enfim, como se não bastassem os pontos negativos de Benigni, o ano de 1998 trazia atuações espetaculares de Tom Hanks em O resgate do soldado Ryan e principalmente de Edward Norton no notório A outra história americana que com certeza é um dos melhores filmes dos anos 90 e com certeza é um dos melhores filmes já feitos sobre conflitos raciais no mundo moderno. Edward Norton é um excelente ator que com certeza mereceria uma maior visibilidade por parte do Oscar e A outra história americana foi a melhor oportunidade para isto. Não importa, pois ele tem uma verdadeira legião de fãs, sempre ansiosos pelos seus próximos trabalhos. 

Art Carney – melhor ator por Harry, o amigo de Tonto (1974/75)
Melhor opção: Jack Nicholson por Chinatown / Al Pacino por O poderoso chefão II
Quem é Art Carney? Não sei. Que filme é Harry, o amigo de Tonto? Não faço a menor ideia. Mesmo assim, num ano em que Al Pacino trouxe seu Michael Corleone em O poderoso chefão II e Jack Nicholson deixou meio mundo surpreso com a potência de seu noir em Chinatown, um ator que caiu em completo esquecimento por um filme o qual ninguém ouviu falar saiu vencedor do prêmio. Não importa que eu não tenha visto o filme, mas é óbvio que Pacino e Nicholson, que trouxeram dois dos melhores personagens da história do cinema, eram opções muito mais corretas. Pura questão de bom senso – o que a Academia mostra, várias vezes, que não tem.  

Rod Steiger – melhor ator por No calor da noite (1967/68)
Melhor opção: Paul Newman por Rebeldia indomável / Dustin Hoffman por A primeira noite de um homem
Longe de mim dizer que No calor da noite é um filme ruim ou que o trabalho de Rod Steiger no filme seja ruim, mas é mais um daqueles casos em que o vencedor caiu em quase esquecimento enquanto que indicados só fizeram crescer mais e mais. No caso, o ano era 1967 e os filmes já traziam muitas temáticas novas para o cinema. Apesar de ter, em sua origem, uma proposta mais inovadora, No calor da noite não chega aos pés de seus concorrentes neste quesito. O mesmo vale para suas personagens. Apesar de uma atuação correta, Rod Steiger ficou longe de fazer uma atuação icônica, algo desenvolvido muito bem por Dustin Hoffman em A primeira noite de um homem, e, meu preferido, Paul Newman em Rebeldia indomável. Em termos de filme, prefiro A primeira noite de um homem, mas em termos de atuação protagonista, prefiro a de Newman. Apesar de seu personagem não ter virado um símbolo tão grande quanto o de Hoffman, aqui o ator traz um de seus melhores papéis – melhor inclusive que aquele que lhe rendeu o prêmio em A cor do dinheiro de Martin Scorsese. O filme é tão bom, tão cheio de força e liberdade que esboça muito bem o espírito livre posteriormente imortalizado em Um estranho no ninho, longa que deve muito à Rebeldia indomável e que, nos dias atuais, carrega um renome consideravelmente maior.

Chicago – melhor filme (2002/ 2003)
Melhor opção: O pianista / Gangues de Nova York / O Senhor dos anéis: as duas torres
Hollywood adora um musical. O Oscar já cansou de dar prêmios a musicais que não mereciam, e com Chicago não foi diferente. Mais uma vez, este não é um caso de filme ruim, mas um caso de uma competição muito melhor. No ano, concorriam diretamente a emoção de O pianista, a voracidade de Gangues de Nova York e a excelência de As duas torres. Com essas três opções ótimas, a Academia foi por fora e deu o prêmio para Chicago. Não satisfeito, ainda deu o prêmio de melhor atriz coadjuvante para Catherine Zeta-Jones, em mais um caso de uma atuação boa, porém com concorrência muito melhor. Apesar de ser um grande fã de Gangues de Nova York, não o considero um dos melhores trabalhos de Scorsese – lembrando que seus melhores filmes não ganharam o Oscar – dessa forma, a melhor opção ficaria a cargo do emocionante e muito bem realizado (dramático, mas não muito apelativo) drama sobre o holocausto de Roman Polanski.

Uma mente brilhante – melhor filme (2001/ 2002)
Melhor opção: Assassinato em Gosford Park
Mais um caso em que o vencedor era o pior dentre os indicados. Muito bom, uma atuação fantástica de Russel Crowe e uma tão boa quanto de Jennifer Connely. Porém, a concorrência vinha com tudo naquele ano. É deste ano o primeiro capítulo da saga do Senhor dos Anéis, foi neste ano que Moulin Rouge! ressuscitou os tão amados por Hollywood musicais com sua explosão de cor, som e paixão, foi neste ano que Sissy Spacek e um talentoso elenco adentrou nos dramas particulares de uma família como qualquer outra, mostrando o que está escondido e criando uma fantástica relação causa-consequência (frisando, mais uma vez, a excelência da atuação de Sissy Spacek e dos demais atores do filme) e, principalmente, é deste ano um dos melhores filmes de Robert Altman: Assassinato em Gosford Park. Não que Gosford Park seja o melhor filme do diretor, mas aqui temos seus elementos básicos de histórias que se cruzam, elenco gigantesco e roteiro complexo e intrincado, mas com um toque de clássico típico de cinema antigo, qualidade técnica impecável e um elenco que inclui a realeza do cinema mundial, contando com nomes como Hellen Mirren e Maggie Smith (ambas indicadas ao Oscar de melhor atriz coadjuvante). Mais uma vez, Gosford Park não é o melhor filme de Robert Altman, mas foi a melhor chance que o diretor teve, visto que só venceu um prêmio honorário, de ganhar o prêmio (Mash e Nashville são melhores, mas não fazem o perfil da premiação de forma alguma).

 Shakespeare apaixonado – melhor filme (1998/ 99)
Melhor opção: A outra história americana – que não foi nem indicado / O resgate do soldado Ryan
Certo. Como se não bastasse ter dado o prêmio de melhor atriz para Gwyneth Paltrow, o Oscar, não satisfeito, ainda deu o prêmio de melhor filme para Shakespeare apaixonado. Um filme ruim? Longe disso. Muito divertido, muito agradável e muito bonitinho, isso é fato. Porém, em ano nenhum um filme desse porte deveria levar o prêmio de melhor filme. Teoricamente, o vencedor da principal estatueta tem que ser inovador, arrebatador, surpreendente, ousado e tantas outras qualidades que muitos dos vencedores não têm nas doses perfeitas. Esse é o caso de Shakespeare apaixonado. É clássico, com uns toques modernos, passeia por diferentes gêneros, mas não consegue ir muito além do bom. É todo perfeitinho, mas não chega a ser ótimo. Enfim, não vale o prêmio. Como concorrente direto, o filme enfrentou o clássico sobre a Segunda Guerra e uma das principais obras-primas de Spielberg, O resgate do soldado Ryan. Não é um filme que eu goste muito – acho muito forçado no patriotismo e um pouco irritante às vezes – mas devo admitir que é um filme extremamente bem realizado, de uma destreza técnica fantástica e que conta com os 15 primeiros minutos mais intensos do cinema. Enfim, uma opção mais viável. Merecedor mesmo, a meu ver, era o nem indicado A outra história americana, um filme simplesmente fenomenal em tudo o que propõe.

O paciente inglês – melhor filme (1996/ 97)
Melhor opção: Fargo
O que esperar de um filme consagrado pela série Seinfeld como longo e entediante? Exatamente isso. O paciente inglês é um romance estilo clássico, daqueles bem melosos e cheios de paixão e sofrimento. O problema do filme é que ele é simplesmente chato. Chato e longo. Chato, longo e entediante. Chato, longo, entediante e cansativo. Enfim, não é um filme que eu fosse recomendar a ninguém porque não acho que ele valha as pouco mais de 3hrs de sua duração. Sim, são 3hrs de um homem desfigurado por queimaduras morrendo no deserto enquanto conta sua história de amor com uma mulher lá de quem não lembro nada (só lembro que é interpretada pela excelente Kristin Scott Thomas). Filme totalmente dispensável. Algo muito diferente de dois de seus concorrentes, o empático Jerry Maguire e principalmente o ousadíssimo Fargo, uma das maiores incursões dos irmãos Coen pelo humor negro. Um filme que mistura sequestros, assassinatos, criminosos toscos e violentos, uma cidade no meio do nada e uma policial grávida vivida por Frances McDormand parecem uma combinação muito improvável, mas vira uma programação cinematográfica imperdível e uma grande diversão. O Oscar adora os irmãos Coen, tendo os indicado algumas vezes e até dado o prêmio de melhor filme para Onde os fracos não tem vez (ótimo filme, mas Sangue negro é bem melhor), mas falhou feio ao não consagrá-los por essa que é uma das poucas pérolas dos anos 90.

Rocky, um lutador – melhor filme (1976/ 77)
Melhor opção: Taxi driver
Esse é um pouco complicado pra mim, pois sou um fã do filme Rocky. No entanto, isso não tira meu bom senso de saber que Rocky é muito inferior a três de seus concorrentes diretos ao prêmio: Taxi driver, Rede de intrigas e Todos os homens do presidente. Taxi driver tornou-se um dos filmes mais importantes do cinema, sendo considerado por muitos a maior obra-prima de Martin Scorsese e também um dos melhores estudos sobre a obscuridade da mente humana e os caminhos que percorre quando em situações de extrema pressão; Rede de intrigas é um relato ácido do jogo de manipulação e sensacionalismo que cerca a mídia televisiva, num esquema de interesses e alienação guiado por pessoas inescrupulosas, instáveis e tão podres quanto o sistema que mantêm; Todos os homens do presidente é um drama político tenso e muito ousado que joga o caso Watergate e o clima de tensão e fobia americana dos anos 70. Enquanto isso, Rocky é só um filme sobre um boxeador e seu caminho em busca de uma vitória dentro e fora dos ringues. Qual dos quatro parece ser mais interessante? Se há de haver dúvidas, com certeza estará entre os três primeiros. Como melhor opção, com certeza seria o próprio Taxi driver – hoje em dia está até na lista dos 50 melhores filmes da revista Sight and Sound.

Jennifer Lawrence - melhor atriz por O lado bom da vida (2012/13)
Deixei pro final porque é um dos mais polêmicos. Afinal, Lawrence merecia ganhar ou não? Não. Naomi Watts, indicada por O impossível, e Emanuelle Riva por Amor, estavam muito melhores. Não há dúvida de que Jennifer é uma das melhores atrizes de sua geração, terá uma carreira incrível pela frente, mas a decisão de lhe dar o Oscar foi mais política do que artística. Naomi Watts sendo levada por uma onda gigante e se arrastando por um lamaçal infinito com o tendão calcâneo rompido pra mim foi a melhor atuação do ano passado, melhor até que a de Emanuelle Riva, no inesquecível Amor, enquanto mudava de elegante e ativa senhora para uma enferma que murchava a olhos vistos. Enfim, na comédia de David O. Russel Jennifer mostrou muito carisma e talento de sobra - prova de Hollywood sofre da falta de ideias, não de elenco - mas a Academia deveria esperar um trabalho mais sério e consistente.

Lucas Moura e Luís F. Passos

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