sexta-feira, 14 de março de 2014

Filmes pro final de semana - 14/03

1.Blue Jasmine (2013)
Vencedor muito merecido do Oscar de melhor atriz para Cate Blanchett este ano, Blue Jasmine é um trabalho consideravelmente genial de Woody Allen. À primeira vista, não me atentei muito ao filme em si porque Cate Blanchett chama tanta atenção que é difícil tirar os olhos dos trejeitos, da elegância, da instabilidade e das neuroses que ela cria ao dar vida à sua Jasmine, mas só precisei de 30 segundos para perceber que me deparava com mais um grande trabalho do diretor. O que Woody Allen faz aqui é, sabiamente, transportar o espírito deturpado da figura lendária do cinema e do teatro Blanche Dubois para a realidade atual do país, na esfera social rica e privilegiada dos milionários de NY e ainda adaptá-la a crise financeira mundial que se iniciou com especulação imobiliária há alguns anos atrás e usar isto como estopim para toda a crise psíquica de Jasmine. Assim como Blanche, quando na miséria, Jasmine, mais uma vez, depende da bondade de estranhos, recorre a sua irmã e até sofre com uma atração/repulsa pelo cunhado grosseiro. Assim como Blanche, Jasmine é a personificação da decadência, da negação e do desespero. Claro que Uma rua chamada pecado passeia por territórios muito mais sérios e complexos que Blue Jasmine, e as semelhanças entre os dois ficam por aqui mesmo, mas isso não nos impede de apreciar a forma como Woody Allen reverencia a genialidade de Tennesse Williams. Esta não é a primeira vez que há referências a Uma rua chamada pecado na filmografia de Allen. Em O dorminhoco, Woody meio que é “possuído” por Blanche Dubois, sendo Diane Keaton Kowalski. Estranho, bizarro, cômico e genial.
Nota: 9,0/ 10
2. Apenas uma vez (Once, 2006)
O simpático e independente sucesso do cinema e da música de 2006, Apenas uma vez é um filme muito simples, muito direto e muito sensível. Os músicos da vida real Glen Hansard e Marketa Irglóva vivem dois músicos que se conhecem por acaso no meio da cidade e, juntos, passam a viver uma pequena relação que não é definida em todas as palavras apenas como paixão, mas principalmente como amor num sentido ainda mais amplo, incluindo amizade, solidariedade e, sobretudo companheirismo. Tudo isto é explicitado através das belas canções do longa, que exprimem os sentimentos e as aflições de seus personagens. Ele, vivendo sob a sombra de um antigo e fracassado relacionamento. Ela, presa em seu cotidiano pouco estimulante. Filme muito bonito com canções lindas e uma riqueza de sensibilidade que só o talento natural pode trazer – dinheiro não é sinônimo de qualidade quando se fala em artes. Ah, este não é um musical. Eles cantam por dois motivos: porque eles vivem disso e porque precisam disso para viver.
Nota: 9,5/ 10
3. Os Excêntricos Tenenbaums (The Royal Tenenbaums, 2001)
Seguindo a linha normal de esquisitices que caracterizam toda a obra de Wes Anderson, Os excêntricos Tenenbaums é considerado um dos seus maiores filmes. Talvez o maior, tendo em vista que foi o que lhe trouxe mais reconhecimento. Contando com um elenco estelar que inclui nomes como Gene Hackman, Gwyneth Paltrow, Ben Stiller, Owen Wilson, Luke Wilson, Anjelica Huston, Danny Glover e Bill Murray, Anderson usa sua forma muito pouco usual de contar histórias para dar vida a uma das famílias mais brilhantes e, na mesma medida, disfuncionais do cinema. Com um pai vigarista e uma mãe solitária, as crianças Tenenbaum eram prodígios, mas cuja instabilidade familiar não podia dar sustento a nada além de inseguranças diversas em suas vidas adultas. Apesar de ter um enredo muito sério como base, Wes Anderson lota seu filme de situações e circunstâncias das mais esquisitas, exibindo seus personagens em suas mais infinitas manias e peculiaridades, o que os dá um caráter muito incomum e ao mesmo tempo muito pessoal. Em termos de dramas pessoais, estes não são tão esmiuçados, mas se fazem em presença suficiente para que este trabalho seja considerado um dos mais dramáticos de sua carreira. Na verdade, é profundo demais para ser uma comédia e superficial demais para ser um drama. Neste limbo é onde, justamente, se encontram os melhores trabalhos de Wes Anderson.
Nota: 9,5/ 10
4. E aí, meu irmão, cadê você? (O brother, Where Art Thou?, 2000)
A comédia escrachada dos irmãos Coen sobre um trio de prisioneiros fugitivos em busca de um tesouro é um verdadeiro desfile de gags, situações inusitadas, diálogos hilários e tudo o que o nem tão bom e velho Sul (dos EUA) pode trazer: sotaques forçados, caipiras banguelas, políticos obesos e de pouco caráter, músicos negros, vazios demográficos e até mesmo uma bizarra, totalmente inesperada e morbidamente divertida sequencia envolvendo rituais da Klan são apresentadas durante a grande epopeia que é este filme. Encabeçando o elenco, nomes famosos e recorrentes na filmografia dos Coen: George Clooney (também pode ser visto em O amor custa caro – não veja esse filme, é um lixo) e John Turturro (do clássico Barton Fink, pelo qual os Coen venceram a Palma de Ouro em Cannes). Muito divertido e muito imprevisível, E aí, meu irmão, cadê você? não guarda grandes lições de moral nem nada. Basicamente, é um filme sobre amizade e sobre “remissão” dos pecados por um grupo de vigaristas. Nada demais, se não fosse tão divertido assisti-lo. Não está no nível de Fargo ou mesmo de Queime depois de ler, mas ainda assim é melhor que 80% das comédias que seguem mais ou menos a mesma linha.
Nota: 8,5/10
5. O que terá acontecido a Baby Jane? (What ever Happened to Baby Jane, 1962)
Sister, sister. Oh, so fair. Why is there blood all over your hair?
A drástica crônica dos anos 60 sobre a maneira como Hollywood é capaz de destruir aqueles que um dia tornou grandes nomes com a mesma velocidade a qual os lançou ao estrelato é, até hoje, um dos filmes mais contundentes sobre este tema. Contando com as eternas rivais Bette Davis e Joan Crawford nos papéis protagonistas, a história se desenrola na relação entre duas irmãs. Num passado distante, Baby Jane Hudson (Bette Davis) foi uma criança prodígio que teve que ver sua fama destruída pelo tempo. Hoje, velha e esquecida, Baby Jane deve conviver com as lembranças de um passado áureo – lembranças que ela não consegue esquecer – e uma relação conflituosa com sua irmã (Joan Crawford), relação sustentada em inveja, desprezo, rivalidade e ressentimento de ambas as partes. Uma diversão cruel, um grande estudo de personalidade e um espetáculo de atuações em tela, O que terá acontecido a Baby Jane? pode soar até mais leve em tempos atuais, meu seu caráter perturbador à maneira que fala sobre a deterioração da mente humana permanece intacto.
Nota: 10


Lucas Moura


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