Terceiro ano seguido em que a seleção de filmes que disputaram a categoria principal do Oscar não me entusiasmou muito. Dos nove filmes desse ano, poucos tinham força suficiente para dar a impressão de que serão lembrados por mais uns anos, dentre eles o vencedor, 12 anos de escravidão. Acompanhando Solomon Northup, negro livre que fora sequestrado e vendido como escravo, o filme consegue ser mais que outra história sobre o trabalho escravo nos Estados Unidos. Primeiro, pelo seu realismo que chega a ser impressionante, como nas cenas de castigos com chicotes ou até mesmo quando um pesado pote de vidro é jogado na testa de uma personagem. Além disso, a história é muito bem amarrada e a direção igualmente boa, coroada com o desempenho formidável do elenco, cujo maior destaque é a coadjuvante Lupita Nyong'o, vencedora do Oscar e (Deus queira!) mais uma promessa da nova geração.
Nota: 9,0/ 10
Falando em Oscar, lembrei do ano que talvez foi o mais forte do século 21 no que diz respeito à lista de indicados a melhor filme - apesar de um dos mais fracos ter vencido. Entre as melhores opções, A rede social, talvez o melhor trabalho de David Fincher desde Clube da luta (1999). Pra quem ainda não viu, uma frase resume tudo: não é só um filme sobre a criação do Facebook. Na verdade, o nascimento de um dos maiores sites do mundo é só o plano de fundo para Fincher explorar o que se passa na mente dos jovens de uma geração brilhante que soube muito cedo o que é fama, poder, dinheiro, mas obviamente pagou um preço por isso. É como diz um dos mais conhecidos pôsteres do longa: você não ganha quinhentos milhões de amigos sem fazer alguns inimigos. É fato conhecido a briga entre Mark Zuckerberg e o brasileiro Eduardo Saverin, co-criadores do site, antes colegas de quarto em Harvard, depois que o Facebook ganhou fama e começou a render dinheiro. Fim de uma grande amizade, início de uma era. A era Facebook.
Nota: 9,5/ 10
Esqueça a ideia de que filmes de época devem retratar belas histórias de amor ou intensos conflitos políticos, ou mesmo guerras. O negócio aqui é bem mais sujo. A Marquesa de Merteuil (Glenn Close), ícone de riqueza e beleza, é miserável em termos de escrúpulos. Junto do igualmente charmoso e mau caráter Visconde de Valmont (John Malkovich), ela se diverte seduzindo corações inocentes visando roubar-lhes a virtude e a honra, humilhando as vítimas depois de usá-las. A sordidez do hobby dessa desprezível dupla é posta à prova quando eles escolhem como vítima a jovem Madame de Tourvel (Michelle Pfeiffer), cujo marido partiu numa longa viagem de trabalho. O filme serve como uma rica fonte de estudo comportamental e psicológico de suas personagens, abrindo espaço para o espectador observar os costumes e vícios da nobresa francesa no século 18, no seu mesquinho jogo de aparências e interesse.
Nota: 10
Italianos... ô povinho pra saber fazer filme bom! A Itália deve ser a maior vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro (depois confiro a informação), além de ser berço de alguns dos maiores cineastas da história, como Fellini, Antonioni, De Sicca, Leone, entre outros. Ente os italianos vencedores do Oscar, um dos mais queridos é o emocionante Cinema Paradiso, a bela história de Salvatore, um pobre garoto do interior apaixonado por cinema que cria uma forte amizade com Antonio, o projetor do pequeno cinema local. Salvatore, conhecido como Totó quando pequeno, costumava espiar da sala de projeção enquanto o padre censurava as cenas de beijo, e assim nasceu sua paixão pelo cinema. O brilho nos olhos de Totó é o mesmo brilho de qualquer criança (ou alguém que preserve o fascínio de uma criança) diante de um telona - e é apenas um de muitos aspectos positivos e emocionantes do filme. Um filme recente que se assemelha a Cinema Paradiso é A invenção de Hugo Cabret, especialmente seu protagonista, quase uma personificação da infância de Scorsese.
Nota: 9,5/ 10
Humphrey Bogart, um dos maiores símbolos do cinema clássico e astro de Casablanca dá vida ao detetive Sam Spade, nesse que é considerado o pioneiro do cinema noir. Procurado por Brigid O'Shaughnessy (Mary Astor), que afirma procurar sua irmã caçula, Sam acaba entrando numa caçada milionária em busca de uma misteriosa estátua de ouro e pedras preciosas que havia sido dada pelos Templários ao rei espanhol Carlos V e que nunca encontrou seu dono. Desaparecido por quatrocentos anos, o valioso Falcão Maltês estaria em posse de alguém próximo a Brigid, e também na mira de pessoas como Joel Cairo e Kasper Gutman, que não medem esforços para conseguir a estátua nem se preocupam com quem se interpuser em seu caminho. Cabe a Sam julgar quem mente e quem fala a verdade, além de se equilibrar na instável corda bamba que é o jogo de interesses daqueles que querem o falcão. Cinema clássico de primeiro nível.
Nota: 9,5/ 10
Luís F. Passos
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