É interessante ver a construção do roteiro de Poderosa Afrodite (Mighty Aphrodite, 1995). Pra mim, um dos filmes mais inusitados e criativos de toda a filmografia de Woody Allen. Numa descrição simples, é a história de um homem judeu chamado Lenny e de sua busca pela mãe de seu filho adotivo, a atriz Linda Ash (Mira Sorvino). Neste meio tempo, conhecemos uma Linda cuja vida é totalmente desestruturada, sem perspectivas e lotada de frustrações e acompanhamos a obsessão de um homem cuja própria vida pessoal está tão bagunçada que não lhe reste muito a fazer se não tentar brincar de Deus em prol de uma melhora na vida da moça. Paralelamente, o casamento de Lenny vai se dissolvendo quando sua esposa (Helena Bonham Carter) encontra-se muito mais interessada em seu trabalho – e em outras coisas mais – que em sua família.
Falando desta forma, o filme soa como um drama. Mas na verdade é uma comédia de alto nível. Cômico do início ao fim, Allen usa uma história com ares de tragédia grega – visto que o filme é repleto de pequenas reviravoltas que não podem ser ditas aqui – e desenvolve tudo com o máximo que seu humor poderia dar. É justamente este seu objetivo: uma típica comédia americana com uma ironia e dramaticidade de tragédia grega. A forma como a trama caminha, sua conclusão relativamente inesperada e as incansáveis referências ao teatro grego, bem como a figuras mitológicas da Grécia Antiga, também são fatores pensados para essa função de aproximação entre dois elementos que, vistos isoladamente, aparentam não ter nada em comum. A conexão com a arte grega clássica é tão forte que muitas sequências importantes do filme são ligadas, entre si, através de pequenas apresentações de algum tipo de grupo de teatro grego que narra e, obviamente, julga as ações de Lenny. Isso também dá um toque de realismo fantástico bastante legal (pelo menos para mim já que gosto muito deste estilo).
Humor. Allen sempre foi um mestre das piadas com referências, mas aqui foge um pouco das referências usuais a figuras de cinema e artes de um modo geral e abre seu leque para piadas envolvendo Zeus e secretárias eletrônicas ou Cassandra e advogados. As piadas são incessantes, as circunstâncias são sempre criativas e relativamente inesperadas. Por mais que o que vá acontecer não seja uma grande surpresa, a forma como o filme caminha é tão pouco usual que em nenhum momento se torna banal. O roteiro é muito divertido e repete, em sua origem, a fórmula clássica de Allen de fazer roteiros. Estão presentes: a figura do judeu neurótico, a adoração por uma Nova York sempre bonita, decepções diversas, figuras decadentes, sexualidade e, claro, mulheres lindíssimas aos pés do comediante. Isso não pode faltar.
Mesmo com tantas qualidades, o ponto em que Allen mais acerta é no elenco, que conta com a presença de nomes como F. Murray Abraham e Helena Bonham Carter. Mas o grande triunfo, o grande diferencial e o elemento que torna Poderosa Afrodite um filme difícil de esquecer é mesmo a atuação de Mira Sorvino. Muito, muito engraçada. A personagem de Linda Ash (Judy Cum para os íntimos) é muito legal. Inicialmente, uma figura desconhecida. De repente, uma mulher vulgarmente engraçada, mas que de alguma forma é relativamente complexa. Por trás de trejeitos tão caricatos, Mira Sorvino consegue adicionar algumas camadas a sua personagem, o que a torna empática não apenas como uma personagem de humor, mas sim alguém por quem vale a pena torcer e uma história que valha a pena acompanhar. Isso sem falar nas surpresas pouco usuais que sua vida revela. Por este papel, Mira Sorvino uniu-se a um seleto grupo de atrizes que venceram o Oscar por interpretações em filmes de Woody Allen. Junto a ela estão: Dianne Wiest (Hannah e suas irmãs e Tiros na Broadway), Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona) e Diane Keaton (Annie Hall, melhor atriz).
Nota: 9/10
Leia também:
Annie Hall
Hannah e suas irmãs
Vicky Cristina Barcelona
Lucas Moura
Falando desta forma, o filme soa como um drama. Mas na verdade é uma comédia de alto nível. Cômico do início ao fim, Allen usa uma história com ares de tragédia grega – visto que o filme é repleto de pequenas reviravoltas que não podem ser ditas aqui – e desenvolve tudo com o máximo que seu humor poderia dar. É justamente este seu objetivo: uma típica comédia americana com uma ironia e dramaticidade de tragédia grega. A forma como a trama caminha, sua conclusão relativamente inesperada e as incansáveis referências ao teatro grego, bem como a figuras mitológicas da Grécia Antiga, também são fatores pensados para essa função de aproximação entre dois elementos que, vistos isoladamente, aparentam não ter nada em comum. A conexão com a arte grega clássica é tão forte que muitas sequências importantes do filme são ligadas, entre si, através de pequenas apresentações de algum tipo de grupo de teatro grego que narra e, obviamente, julga as ações de Lenny. Isso também dá um toque de realismo fantástico bastante legal (pelo menos para mim já que gosto muito deste estilo).
Humor. Allen sempre foi um mestre das piadas com referências, mas aqui foge um pouco das referências usuais a figuras de cinema e artes de um modo geral e abre seu leque para piadas envolvendo Zeus e secretárias eletrônicas ou Cassandra e advogados. As piadas são incessantes, as circunstâncias são sempre criativas e relativamente inesperadas. Por mais que o que vá acontecer não seja uma grande surpresa, a forma como o filme caminha é tão pouco usual que em nenhum momento se torna banal. O roteiro é muito divertido e repete, em sua origem, a fórmula clássica de Allen de fazer roteiros. Estão presentes: a figura do judeu neurótico, a adoração por uma Nova York sempre bonita, decepções diversas, figuras decadentes, sexualidade e, claro, mulheres lindíssimas aos pés do comediante. Isso não pode faltar.
Mesmo com tantas qualidades, o ponto em que Allen mais acerta é no elenco, que conta com a presença de nomes como F. Murray Abraham e Helena Bonham Carter. Mas o grande triunfo, o grande diferencial e o elemento que torna Poderosa Afrodite um filme difícil de esquecer é mesmo a atuação de Mira Sorvino. Muito, muito engraçada. A personagem de Linda Ash (Judy Cum para os íntimos) é muito legal. Inicialmente, uma figura desconhecida. De repente, uma mulher vulgarmente engraçada, mas que de alguma forma é relativamente complexa. Por trás de trejeitos tão caricatos, Mira Sorvino consegue adicionar algumas camadas a sua personagem, o que a torna empática não apenas como uma personagem de humor, mas sim alguém por quem vale a pena torcer e uma história que valha a pena acompanhar. Isso sem falar nas surpresas pouco usuais que sua vida revela. Por este papel, Mira Sorvino uniu-se a um seleto grupo de atrizes que venceram o Oscar por interpretações em filmes de Woody Allen. Junto a ela estão: Dianne Wiest (Hannah e suas irmãs e Tiros na Broadway), Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona) e Diane Keaton (Annie Hall, melhor atriz).
Nota: 9/10
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