Baseado em fatos reais, o mais recente trabalho da diretora Sofia Coppola traz à tona a história de um pequeno grupo de adolescentes que praticaram uma série de furtos a casas de celebridades hollywoodianas entre os anos de 2008 e 2009. Entre suas vítimas, nomes como Lindsay Lohan, Rachel Bilson, Orlando Bloom e, a mais lesada de todos, Paris Hilton. Os furtos eram relativamente pequenos em quantidade, mas essa relação pode ser considerada inversamente proporcional ao valor adquirido. Acredita-se que cerca de Um milhão de dólares foram roubados pelos jovens. Um milhão de dólares materializado em bolsas, sapatos, joias e tudo mais que o dinheiro e a fama das celebridades mais fashions de Hollywood podia comprar, sendo que o saldo dos roubos esteve sempre estampado pelas redes sociais. A questão é que os criminosos no caso estavam longe de serem pobres ou qualquer coisa do tipo. Muito pelo contrário, todos vinham de famílias muito bem de vida que moravam pela região. A questão então é: já que não havia qualquer necessidade para praticar os roubos, o que os levou a fazê-los?
Esse é o questionamento básico do filme de Sofia. Na verdade, a resposta é bem óbvia. Fazendo uma regressão na história do cinema, podemos lembrar que a origem dos filmes de jovens americanos ricos e rebeldes começou com Juventude transviada de 1955, filme que lançou a figura emblemática do rebelde sem causa, do adolescente indomável que luta em busca de uma compreensão própria e de uma identidade mal formada ao mesmo tempo em que sofre com as pressões externas de um ambiente desfavorável e a educação paterna cada vez mais falha. Mais de 50 anos mais tarde, vimos que o que se iniciou de uma forma mais agressiva adquiriu uma nova face. A perda de valores, a falta de personalidade e a desorientação pessoal crescentes encontraram ao longo dessas décadas uma falsa cura aparentemente perfeita. A ditadura da futilidade em que vivemos faz com que muitos dos jovens que se enquadram nessa situação encontrem uma maneira de se sentirem dentro de um grupo. Parte de um algo maior. E que algo maior seria esse? Em tempos de futilidade e supervalorização do material em detrimento do pessoal, os alvos, obviamente, são as celebridades. Durante anos foi talhada a noção de endeusamento e glorificação dessas figuras teoricamente icônicas que ditam o padrão comportamental vigente. Como as próprias personagens do filme dizem, o que elas queriam era apenas experimentar um pouco deste estilo de vida.
Tecnicamente falando, é nítido que se trata de um filme de Sofia Coppola, tendo este mantido todas as marcas essenciais do trabalho da diretora. A fotografia com aquele ar descuidado, porém minucioso, o minimalismo das cenas, os diálogos simples e corriqueiros intercalados por momentos silenciosos e a trilha sonora sempre na medida certa e feita de escolhas interessantes (live fast, die young, bad girls do it well) estão presentes. Para dar o tom preciso da história, Sofia também usa pequenos momentos de humor ao longo da trama. Um humor de uma forma irônica. Outro elemento consistente em toda sua filmografia e que aqui também se faz valer é a qualidade de seu elenco (geralmente jovem). Todas as cinco personagens principais são muito bem interpretadas por atores jovens de alta qualidade e o filme transita um pouco na mão de três deles. A primeira metade pertence à atriz Katie Chang que vive a aparente líder e mentora do bando, a segunda metade é mais guiada pelos conflitos pessoais (bem superficiais, mas presentes) de Mark (Israel Broussard), o único homem do grupo, e durante todo o filme, com uma importância crescente ao longo da história, está Emma Watson numa interpretação deliciosa da mais maliciosa e cínica de todos. Emma vive Nicki Moore e é a principal responsável pelos pontuais momentos de ironia do filme (além de estar mais bonita e sensual que nunca), além de se transformar na figura mais emblemática e significativa dentre todas.
Então, pode-se dizer que com um distanciamento maior que o habitual e um olhar puramente observador, Sofia Coppola nos traz um conto moderno e polêmico. The Bling Ring (2013) é nitidamente um filme que se dispõe a criticar a cultura do ego e da futilidade e também funciona como um documento sobre a perda de valores morais por parte de uma juventude cada vez mais arrogante, materialista e inconsequente.
De todos os filmes da diretora, no entanto, este é o mais impessoal e o que mais se distancia dos demais. Apesar de seguir o mesmo padrão estético dos demais e de focar na superficialidade aristocrática, tema bem esmiuçado em forma de filme clássico em Maria Antonieta, este aqui não tem o forte aspecto emotivo presente em filmes como As virgens suicidas e Encontros e desencontros ou a proximidade pessoal com a diretora como em Um lugar qualquer. Talvez o fato de se passar na sociedade em que Sofia (nascida e criada em Hollywood cercada por celebridades e milionários) o torne um projeto mais pessoal para ela. Talvez seja uma adaptação de uma visão própria de observadora de alguém que sempre acompanhou aquele meio. Mas de qualquer forma, não gera conexão pessoal. Mesmo assim, ainda é muito divertido acompanhar ironicamente a trajetória desse grupo de jovens com suas motivações estúpidas e também é uma boa forma de pensar sobre a que ponto chegamos.
Esse é o questionamento básico do filme de Sofia. Na verdade, a resposta é bem óbvia. Fazendo uma regressão na história do cinema, podemos lembrar que a origem dos filmes de jovens americanos ricos e rebeldes começou com Juventude transviada de 1955, filme que lançou a figura emblemática do rebelde sem causa, do adolescente indomável que luta em busca de uma compreensão própria e de uma identidade mal formada ao mesmo tempo em que sofre com as pressões externas de um ambiente desfavorável e a educação paterna cada vez mais falha. Mais de 50 anos mais tarde, vimos que o que se iniciou de uma forma mais agressiva adquiriu uma nova face. A perda de valores, a falta de personalidade e a desorientação pessoal crescentes encontraram ao longo dessas décadas uma falsa cura aparentemente perfeita. A ditadura da futilidade em que vivemos faz com que muitos dos jovens que se enquadram nessa situação encontrem uma maneira de se sentirem dentro de um grupo. Parte de um algo maior. E que algo maior seria esse? Em tempos de futilidade e supervalorização do material em detrimento do pessoal, os alvos, obviamente, são as celebridades. Durante anos foi talhada a noção de endeusamento e glorificação dessas figuras teoricamente icônicas que ditam o padrão comportamental vigente. Como as próprias personagens do filme dizem, o que elas queriam era apenas experimentar um pouco deste estilo de vida.
Tecnicamente falando, é nítido que se trata de um filme de Sofia Coppola, tendo este mantido todas as marcas essenciais do trabalho da diretora. A fotografia com aquele ar descuidado, porém minucioso, o minimalismo das cenas, os diálogos simples e corriqueiros intercalados por momentos silenciosos e a trilha sonora sempre na medida certa e feita de escolhas interessantes (live fast, die young, bad girls do it well) estão presentes. Para dar o tom preciso da história, Sofia também usa pequenos momentos de humor ao longo da trama. Um humor de uma forma irônica. Outro elemento consistente em toda sua filmografia e que aqui também se faz valer é a qualidade de seu elenco (geralmente jovem). Todas as cinco personagens principais são muito bem interpretadas por atores jovens de alta qualidade e o filme transita um pouco na mão de três deles. A primeira metade pertence à atriz Katie Chang que vive a aparente líder e mentora do bando, a segunda metade é mais guiada pelos conflitos pessoais (bem superficiais, mas presentes) de Mark (Israel Broussard), o único homem do grupo, e durante todo o filme, com uma importância crescente ao longo da história, está Emma Watson numa interpretação deliciosa da mais maliciosa e cínica de todos. Emma vive Nicki Moore e é a principal responsável pelos pontuais momentos de ironia do filme (além de estar mais bonita e sensual que nunca), além de se transformar na figura mais emblemática e significativa dentre todas.
De todos os filmes da diretora, no entanto, este é o mais impessoal e o que mais se distancia dos demais. Apesar de seguir o mesmo padrão estético dos demais e de focar na superficialidade aristocrática, tema bem esmiuçado em forma de filme clássico em Maria Antonieta, este aqui não tem o forte aspecto emotivo presente em filmes como As virgens suicidas e Encontros e desencontros ou a proximidade pessoal com a diretora como em Um lugar qualquer. Talvez o fato de se passar na sociedade em que Sofia (nascida e criada em Hollywood cercada por celebridades e milionários) o torne um projeto mais pessoal para ela. Talvez seja uma adaptação de uma visão própria de observadora de alguém que sempre acompanhou aquele meio. Mas de qualquer forma, não gera conexão pessoal. Mesmo assim, ainda é muito divertido acompanhar ironicamente a trajetória desse grupo de jovens com suas motivações estúpidas e também é uma boa forma de pensar sobre a que ponto chegamos.
Nota: 9/10
Lucas Moura
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