Duas figuras simétricas, mas de lados opostos do espelho. Assim são os policiais recém-formados Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) e Colin Sullivan (Matt Damon). Billy vem de uma família com uma extensa ficha criminal, sendo seu pai o único honesto da árvore genealógica, entra na polícia por idealismo e logo de cara recebe a difícil missão de trabalhar infiltrado na máfia irlandesa que tanto trabalho dava à polícia de Boston. Paralelamente, Colin tem uma ficha nada suspeita que encobre sua relação de longa data com Frank Costello (Jack Nicholson), o todo poderoso do crime na cidade, o qual encarrega o pupilo de ser seus olhos e ouvidos dentro da corporação.
Logo de início os dois são bem sucedidos. Colin, com a ajuda de sorte, sagacidade e dicas de Costello apresenta uma carreira meteórica, passando de detetive a segundo sargento e contando com o apoio e admiração de seu superior, tenente Ellerby (Alec Baldwin). Billy, no submundo, usa um primo traficante e a reputação de ex-policial e ex-detento para se aproximar de French, homem próximo a Costello, e consequentemente do chefão. Fingindo ser explosivo e impetuoso, Billy ganha a confiança do novo chefe; o problema era toda a pressão da missão. Sem sua identidade verdadeira e se relacionando apenas com os superiores capitão Queenan (Martin Sheen) sargento Dignan (Mark Wahlberg) vai acumulando o estresse a tensão diante do medo de ser descoberto e morto. Quem o ajuda é a psiquiatra Madolyn (Vera Farmiga), responsável por acompanhar ex-detentos e esposa de Colin.
Os infiltrados (The departed, 2006) se mostra como o melhor filme de Scorsese em mais de dez anos, justamente por ser a volta do diretor ao tema no qual ele praticamente não tem rivais: o crime organizado. Seu último trabalho com esse tema fora Cassino, onze anos antes, estrelado por seus amigos e parceiros de longa data Robert De Niro e Joe Pesci. Essa retomada se mostra muito bem pensada, já que os dois filmes anteriores, Gangues de Nova York (2002) e O Aviador (2004) não são do quilate que os fãs de Scorsese estão acostumados. Além disso, a tensão de Os infiltrados é o ambiente propício para que DiCaprio, atual preferido do diretor, ponha em cena todo seu potencial, assim como no filme de 2004, considerado por muitos seu melhor trabalho.. A ação e a violência presentes aqui remete a grandes filmes como Os bons companheiros (1990), com o acréscimo do suspense crescente que dispara a partir do momento em que tanto Costello quanto o tenente Ellerby passam a suspeitar de terem infiltrados entre seus homens - tensão maior ainda para a personagem de DiCaprio, cuja vida fica ainda mais vulnerável com a chance de ter sua identidade revelada.
A dedicação do elenco a suas personagens é impressionante, de um jeito que até mesmo Mark Wahlberg merece ser aplaudido. Mas ninguém merecia mais receber os créditos do que Scorsese, se reinventando ao mesmo tempo em que voltava para um terreno conhecido. E foi nesse ano que finalmente a Academia reconheceu seu talento e lhe concedeu o Oscar de melhor diretor, num clima de pedido de desculpas pelas injustiças cometidas antes e com uma imensa comemoração entre o meio artístico, que incluiu Coppola, Spielberg e George Lucas para anunciar a vitória. Quem não teve a mesma sorte foi DiCaprio, mais uma vez esnobado pela Academia, apesar de fazer aqui uma de suas maiores atuações, marcada por alternância de desejos de sobrevivência e autodestruição, talvez apenas por ser muito jovem e muito solitário.
Nota: 9,0/ 10
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