sábado, 31 de dezembro de 2011

2011, e perdemos Amy

Em 23 de julho desse ano uma notícia chamou a atenção do planeta, e parou o mundo da música: a morte precoce da cantora Amy Winehouse. Amy foi encontrada morta em seu quarto por um segurança. A cantora tinha apenas 27 anos e entrou, assim, para o "Clube dos 27", uma lista de grandes artistas que faleceram aos 27 anos, como Jimi Hendrix, Jim Morrison e Janis Joplin.
Um último presente aos fãs: o cd Amy Winehouse - Lioness: Hidden Treasures, que traz músicas inéditas e versões de clássicos gravadas pela saudosa inglesa. Uma que muita gente já conhece é Body and soul, que Amy gravou com Tony Bennett para compor o disco Tony Bennett: Duets II, cujo clipe coloco abaixo.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Cantando na chuva - just singin' in the rain

Acho que qualquer pessoa com acesso a um computador ou mesmo a  uma televisão já viu a cena - uma das mais populares do cinema - em que Gene Kelly canta e sapateia na chuva, mais feliz que pinto no lixo (e quem não viu a original, deve ter visto alguma paródia, como em Laranja Mecânica, 1971). Mas Cantando na chuva (Singin' in the rain, 1952) é muito, muito mais que essa cena. É um filme musical muito divertido, que me conquistou - e olhe que eu não sou o maior fã do gênero. Já revi o filme algumas vezes, de tanto que gostei dos números musicais. É leve, muito engraçado, e faz esquecer os problemas e ter vontade de ser feliz.
Em 1925, Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen) eram os rostos mais queridos do cinema mudo de Hollywood. Sempre faziam par romântico nos filmes, por isso as revistas os mostravam como um casal, o que não era verdade - na verdade, Don mal conseguia aturar Lina. O filme começa com o lançamento de "The Royal Rascar", novo filme estrelado pela dupla e mais um sucesso de público.
Depois da estreia Don vai com seu melhor amigo Cosmo (Donald O'Connor), músico que compõe as trilhas sonoras dos filmes, para a festa que seria dada pelo diretor do estúdio, R. F. Simpson (Millard Mitchell), em sua homenagem. No caminho há um pequeno acidente, e ele conhece a atriz Kathy Selden (Debbie Reynolds), que diz que seus filmes são fúteis e ele não passava de um ator medíocre. Don fica perturbado com as palavras da jovem, a qual encontra mais tarde na festa de Simpson - saindo de um bolo para fazer um número como corista. O ator zomba dela, que criticava atores mas era apenas uma figurante, e ela joga uma torta em seu rosto - que acerta Lina, e esta fica furiosa.
Na festa de R.F., é apresentado o projeto do cinema falado, que por ser uma grande novidade é chamado de tolice, ninguém achava que ia dar certo - exceto Cosmo, que disse que "falaram o mesmo do automóvel". R.F. não tinha uma opinião formada, mas disse que eles deveriam ficar atentos, pois outro estúdio estava fazendo um filme cantado.
As semanas passam, mas Cathy e suas palavras agressivas ficam na cabeça de Don, que andava meio triste por causa delas. Cosmo encontra a jovem numa gravação nos estúdios, e leva Don até ela. Eles resolvem suas diferenças e o galã se mostra apaixonado por Kathy. Mais uns dias passam, e o primeiro filme falado de Don e Lina, "O Cavaleiro duelista", é lançado, mas por causa de erros técnicos, é um fiasco. Kathy e Cosmo vão para a casa de Don, que estava frustrado com o filme, e surge a ideia de fazer um filme cantado. O problema seria Lina, que apesar de ser linda, tinha uma voz aguda e estridente, mas Cosmo sugere que Kathy a duble em todo o filme. Parecia estar tudo resolvido, então Don vai levar Kathy em casa, na chuva, e é nessa hora que tem a famosa cena.
Depois disso ainda tem um bocado de história, e um final belíssimo e surpreendente. Vale a pena conferir. Cantando na chuva é um clássico dos musicais que foi religiosamente trabalhado - a MGM tirou do baú algumas canções de musicais bem ou mal-sucedidos dos anos 20 e 30 e as entregou para seus diretores dizendo "façam um filme". E eles fizeram com maestria. Especialmente Gene Kelly, que tinha fama de carrasco (conta-se que Debbie Reynolds, que tinha apenas 17 anos, sofreu com o velho Kelly); mas o resultado final ficou ótimo. Os números musicais, que são quase dez, exibem o talento dos três protagonistas, tanto no canto como na dança. Eu pessoalmente prefiro a personagem de O'Connor, Cosmo, que é o mais espontâneo, engraçado e criativo. Mas todas as personagens fazem o filme valer a pena, desde a arrogante e insuportável Lina - ótimo trabalho de Jean Hagen, que recebeu indicação ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante - até a doce e talentosa Kathy.
Por trás do enredo relativamente simples o filme traz ótimas referências da transição do cinema mudo para o cinema falado, que foi a maior revolução de Hollywood. A história aliada ao perfeccionismo técnico fez de Cantando na chuva o melhor musical já produzido por Hollywood e um dos melhores filmes de todos os tempos (20º na lista da Sight and Sound). Afinal, sabemos que o simples pode ser excelente desde que seja bem trabalhado e despretensioso. Ótima pedida pro fim de ano.

Luís F. Passos

domingo, 25 de dezembro de 2011

Dez livros em 2011 (2)

Dando continuidade à lista com os livros que mais gostei de ler em 2011, chego aos cinco preferidos. E deles, 4 são nacionais! Isso porque esse ano resolvi ler alguns clássicos e outros nomes de peso, pra dar uma valorizada às minhas longas férias (ah, que saudade delas). Bem, vamos aos livros.

5. O Continente I e II: a primeira parte da trilogia O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo (isso, sem acento) é dividida em dois volumes (confira posts aqui e aqui). Neles Verissimo começa a contar a história gaúcha através das gerações da família Terra Cambará, das Missões Jesuíticas de Sete Povos até a Revolução Federalista de 1895, passando por personagens inesquecíveis como Ana Terra e o capitão Rodrigo Cambará, típicas figuras gaúchas. O Continente passa por mais de 200 anos de história, preparando o leitor para as partes seguintes da trilogia: O Retrato, com dois volumes, e O Arquipélago, com três volumes. O autor merece os parabéns não só pela obra, muito rica, como também pela extensa pesquisa histórica realizada para que os romances fossem escritos.

4. O Estrangeiro: (post aqui) livro mais conhecido do argelino Albert Camus, O Estrangeiro narra a história de Mersault, homem aparentemente desprovido de emoções, especialmente aquelas pré-estabelecidas por valores sociais. Mersault perde sua mãe e não sente nada; começa um relacionamente onde não sente nada; mata um homem sem sentir nada. A falta de remorso de ter cometido o crime, além do fato de aceitar sua sentença traquilamente, é o meio que Camus usou para tratar do absurdo e do desencanto do homem (principalmente após a Segunda Guerra Mundial).

3. Fogo Morto: lançado em 1943, é o melhor livro de José Lins do Rêgo e é com ele que o autor fecha seu ciclo da cana-de-açúcar. O livro tem três partes, cada uma foca em um dos protagonistas: mestre José Amaro, coronel Lula de Holanda e capitão Vitorino Carneiro da Cunha - ambos os três loucos. A loucura é o segundo principal tema, o primeiro é a decadência do engenho da cana, simbolizado na figura do engenho Santa Fé, do coronel Lula. Ao longo da história, outros temas são tratados, como a solidão, o preconceito, o cangaço, a violência da polícia, a desigualdade social e a fé como refúgio do sofrimento.
Entre os três protagonistas, quem mais se destaca é o capitão Vitorino: uma figura quixotesca que sonha ser prefeito e acabar com os privilégios dos ricos senhores de engenho - mesmo sendo parente da maioria dos fazendeiros ricos da região. Com seu talento, José Lins do Rêgo conseguiu fazer de Fogo Morto não apenas suas obra prima, como também um dos livros mais importantes do Modernismo brasileiro.
 
2. Sagarana: (post aqui) primeiro livro de Guimarães Rosa, é um conjunto de 9 contos ambientados no sertão de Minas Gerais e Goiás.  O livro fala o sertão, de seus acontecimentos e personagens, muitos dos quais envolvem a terra natal do escritor, Codisburgo. Ao longo dos nove contos, vários temas são abordados: os costumes interioranos, o misticismo, romances, violência e pobreza; sendo boa parte das histórias baseadas em relatos que Rosa ouviu em suas andanças pelo sertão como médico e posteriormente como pesquisador.
Sagarana já traz a linguagem complexa e original inventada por Guimarães Rosa, com seus neologismos e arcaísmo, o que chamou logo a atenção de críticos e acadêmicos. Claro que a qualidade dos contos também conta muito, como por exemplo O burrinho pedrês e A hora e a vez de Augusto Matraga.

1. Grande Sertão: Veredas: o "grande" no título parece ser estratégico. Esse livro é gigante em vários aspectos: obra prima do mago das letras Guimarães Rosa, foi considerado um dos melhores exemplos de literatura universal no século XX. Também é um dos livros brasileiros que mais vendeu exemplares no exterior e um dos mais debatidos em teses acadêmicas.
Se trata de um monólogo narrado pelo ex-jagunço Riobaldo Tatarana, já em sua velhice. Riobaldo se dirige a um interlocutor não identificado - um "doutor" - narrando sua "Travessia", ou a história de sua vida. Nascido no sertão mineiro, foi criado pela mãe e depois pelo padrinho, até entrar no grande bando de jagunços de Joca Ramiro, onde cria uma forte amizade com Reinaldo Diadorim. O fato que dá ação à história é o assassinato de Joca Ramiro, por parte dos seus sub-chefes Hermógenes e Ricardão. Diadorim revela que Joca Ramiro era seu pai, e Riobaldo promete ajudar o amigo a vingar a morte, tomando a liderança do bando e partindo em busca dos traidores.
A universalidade da obra se apresenta através dos pensamentos de Riobaldo: seus sentimentos por Diadorim,  a dúvida sobre a existência do diabo - e um pacto com o dito cujo - e o seu contato com o sertão, além de outras angústias pessoais. Esse é um dos méritos de Guimarães Rosa: universalizar o regional. A obra se desenvolve de tal jeito que o sertão não é só o cenário no interior mineiro, mas também a aridez da alma humana.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Dez livros em 2011 (1)

Entrando no clima de fim de ano, vou falar dos dez livros que mais gostei em 2011. Por causa das longas férias que tive, li bastante esse ano, mas confesso que deixei de ler alguns dos livros que eu tinha reservado. Alguns dos livros já foram comentados aqui no blog, então vou pôr o link para que os leitores possam ter uma melhor descrição.

10. Eu sou o mensageiro: livro de Markus Zusak, autor do consagrado A menina que roubava livros. Foi o primeiro livro que concluí no ano, em janeiro, e foi numa fase muito boa pra mim, ainda na comemoração do resultado do vestibular. O livro fala de Ed Kennedy, um taxista  19 anos que leva uma vida normal (ou frustrada), mas depois de impedir um assalto a banco se torna famoso e passa a receber cartas misteriosas. A partir dessas cartas, Ed tem a oportunidade de interferir e mudar para melhor a vida de algumas pessoas, como uma senhora de 82 anos que sofria com a solidão e até da própria mãe, amarga e que aparentava não gostar dele. É com esse papel de "salvador" que Ed, além de ajudar aos outros, ajuda a si mesmo e chega ao centro de sua existência (profundo, não?). O livro é ótimo, uma leitura prazerosa, vale muito a pena.

9. Harry Potter e a Ordem da Fênix: depois de assistir a HP e a Relíquias da Morte - parte 2, e sentir toda aquela nostalgia pelo "fim" da saga, resolvi ler os últimos livros, mas fiquei só no quinto mesmo. HP e a Ordem da Fênix é o mais extenso dos sete livros (702 páginas) e um dos mais intensos. Depois de passar um verão na casa dos tios sem qualquer ligação com o mundo bruxo (a não ser um ataque de Dementadores), Harry conhece a Ordem da Fênix, organização secreta criada por Dumbledore para combater Voldemort. De volta a Hogwarts, Harry tem de enfrentar as mentiras inventadas sobre ele pelo Ministério da Magia, uma professora sádica enviada pelo Ministério e o difícil primeiro contado com o amor, sempre com o apoio de seus amigos Rony e Hermione.

8. Manuelzão e Miguilim: já falei desse livro noutro post (clique aqui). É uma das partes do ciclo de novelas Corpo de Baile, do brilhante Guimarães Rosa, e um livro com o qual me identifiquei bastante. São duas histórias: a primeira, Campo Geral, de Miguilim, menino pobre do interior mineiro, mas que tem todas as características de uma criança de oito anos: curiosidade, medo, ingenuidade, carinho sincero e espontâneo pela família.
A segunda novela, Uma estória de amor (ou Festa de Manuelzão) narra uma festa na fazenda Samarra, administrada por um senhor conhecido como Manuelzão. O motivo da festa foi a construção de uma igrejinha de Nossa Srª do Perpétuo Socorro, que atraiu toda a população vizinha, e também muita gente de longe. Em meio à organização da festa e junto da família, Manuelzão lembra muitas histórias de sua vida.
A velhice de Manuelzão se une à infância de Miguilim: enquanto o menino vivia constantes descobertas, o vaqueiro experimentava o relembrar e o redescobrir das coisas da vida. Beleza de livro, muito bonito, principalmente a primeira novela.

7. Memorial de Aires: (confira aqui) Depois de inaugurar o Realismo no Brasil e lançar quatro livros imortais nessas características, Machado de Assis muda o estilo para escrever o emocionante Memorial de Aires, em que fica visível o caráter pessoal. O livro mostra um casal de velhos, Aguiar e Carmo, que apesar de muito felizes, não têm filhos. Mas Tristão, afilhado deles, e Fidélia, uma jovem viúva, são tratados pelo casal Aguiar como se fossem filhos deles.
A história é narrada pelo conselheiro José Aires, diplomata aposentado, amigo dos Aguiar e que acompanha o surgimento do amor entre Tristão e Fidélia. No final do livro, a tristeza e solidão sentida pelo casal Aguiar é reflexo do sofrimento do autor, que anos antes havia perdido sua esposa Carolina, por quem era profundamente apaixonado.

6. Leite derramado (post aqui): eleito livro do ano de 2010, é uma obra em que Chico Buarque conquista mais uma vez público e crítica. O livro é um monólogo feito pelo centenário Eulálio Assumpção, membro de uma antiga e nobre família carioca: seu pai foi o senador mais influente da República Velha e entre seus ancestrais há também um senador do Império e um conselheiro da rainha d. Maria I. Mas depois da morte de seu pai, o dinheiro e o poder da família vão se esvaindo, e os descendentes de Eulálio vão caindo na escala social, até que seu tataraneto é apresentado: um playboy envolvido com o tráfico de drogas.
O livro é excelente - o gênio Chico Buarque escreve de maneira magistral, deixando sua marca também na literatura.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Literatura do Nordeste - contra o preconceito

Na última semana o preconceito contra os nordestinos foi novamente assunto na internet por causa de uma menina gaúcha, Sophia Fernandes, que postou no seu twitter frases de ódio contra a região, mostrando bastante ignorância e estupidez. E outra vez os nordestinos (como eu) não ficaram quietos e demonstraram orgulho por sua terra, chamando bastante atenção na rede. A doente mental continuou falando besteira, e sua conta no Twitter foi roubada por um grupo de hackers que se indignou com o preconceito.
Então não custa lembrar uma parte da importância cultural da nossa região, né?
- O primeiro grande escritor brasileiro foi o baiano Gregório de Matos, que viveu no século XVII e é o maior nome do Barroco no Brasil;
- O brasileiro que mais vendeu livros (bons) em todos os tempos foi o também baiano Jorge Amado (O primeiro na verdade é Paulo Coelho, mas como disse, Jorge foi quem mais vendeu bons livros).
- O Nordeste é a região brasileira com mais nomes entre os gênios da literatura nacional: Gonçalves Dias (MA), Castro Alves (BA), José de Alencar (CE), Aluízio Azevedo (MA), Graça Aranha (MA), Augusto dos Anjos (PB), Manuel Bandeira (PE), Jorge de Lima (AL), Rachel de Queiroz (CE), José Lins do Rêgo (PB), Graciliano Ramos (AL), Amando Fontes (SE), João Cabral de Melo Neto (PE), Ariano Suassuna (PB), Ferreira Gullar (MA), Dias Gomes (BA), Nelson Rodrigues (PE), entre muitos outros;
- Um dos melhores contistas do mundo na atualidade é o sergipano Antônio Carlos Viana;
- O berço da Literatura de Cordel no Brasil é o Nordeste, que é a região em que o Cordel mais se desenvolveu. Os maiores nomes são Patativa do Assaré (CE) e José Camelo de Melo Rezende (PB), autor do Romance do Pavão Misterioso;
- Nos últimos anos, entre os escritores brasileiros vencedores de prêmios internacionais, a maioria é de nordestinos, como Ferreira Gullar (Prêmio Camões 2010), João Ubaldo Ribeiro (Prêmio Camões 2008) e o sergipano Francisco J. C. Dantas (Prêmio Internacional União Latina de Literaturas Românicas 2000).
Assim como na literatura, música, artes plásticas e cênicas, artesanato e claro, belezas naturais, o povo nordestino tem motivos de sobra para se orgulhar do lugar onde nasceu. O preconceito é apenas a demonstração de como algumas pessoas são capazes de ignorar a maior riqueza do nosso país: a diversidade.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Desculpem esse sumiço. Não é culpa dos estudos, é preguiça mesmo.
Próxima semana tô de volta com um bocado de post pra compensar a ausência.
Enquanto isso relaxem com um brega uma música antiga que achei.

domingo, 20 de novembro de 2011

Tony Bennett & Lady Gaga - The lady is a tramp

Bem, eu não gosto da Lady Gaga, mas essa parceria dela com Tony Bennett deu muito certo. Aliás, todas as parcerias de Bennett no seu novo cd deram certo. Tony é um famoso cantor de jazz que nesse ano, completando 85 anos de idade, lançou um cd só com duetos. Entre as parcerias estão Alejandro Sanz, Andrea Bocelli e nossa saudosa Amy Winehouse, com quem canta Body and soul, um clássico dos anos 30 que se tornou clássico definitivamente nas vozes marcantes de Amy e Bennet.
Body and soul é linda, mas decidi postar The lady is a tramp porque também ficou ótima, tanto a música quanto o clipe, em que Gaga parece botar medo no velhinho.
Ah, o nome do cd é Tony Bennett: Duets II.



sábado, 12 de novembro de 2011

Não se preocupe, estou bem!

Uma coisa que gosto em filmes franceses é a capacidade de surpreender. Você escolhe um filme achando que é legal, um filme bom mas normal, sem grandes expectativas, e quando assiste fica impressionado com a qualidade dele. É o que aconteceu há umas duas semanas quando assisti Não se preocupe, estou bem! (Je vais bien, ne t'en fais pas, 2006). Eu tava acessando o Laranja Psicodélica, blog que mais uso para baixar filmes e encontrei esse, que despertou meu interesse por ter Mélanie Laurent na capa. Já vi alguns filmes dela, como Bastardos Inglórios e O concerto, e a considero uma ótima atriz, o que se repetiu em Não se preocupe.
Vamos à historia: Lili (Mélanie) é uma jovem que chega de uma viagem à Espanha e ao chegar em casa recebe a notícia de que seu irmão gêmeo, Loïc, saiu de casa sem dizer aonde ia depois de uma séria briga com o pai. Por ser muito ligada ao irmão, Lili fica bastante preocupada, chegando a ficar sem comer. A garota volta à faculdade, e por estar de jejum por dias desmaia numa aula, sendo levada a um hospital, em que os médicos convencem seus pais a interná-la na ala psiquiátrica.
Lili tenta fugir do hospital com a ajuda de sua amiga Léa (Aïssa Maïga) e do noivo dela, Thomas (Julien Bosselier), mas é impedida pelas enfermeiras. Lili só aceita o tratamento e a comida quando, inesperadamente, chega um cartão postal de seu irmão, em que ele pede desculpas pela falta de notícias, diz que sente saudades e que saiu de casa por causa do pai, Paul (Kad Merad), o qual chama de idiota e autoritário. Em uma visita da mãe, Isabelle (Isabelle Renauld), Lili mostra o cartão, e Isabelle fica péssima com as palavras do filho.
De volta para casa, a jovem larga a faculdade e arruma um emprego num mercadinho onde Léa trabalha, e passa a se aproximar mais ainda da amiga e de Thomas. Os cartões de Loïc continuam chegando, sempre de cidades diferentes, o que impossibilitava Lili de respondê-los, e sempre com ofensas a seu pai. Aí temos duas consequências: Lili achar que seu irmão não queria mais vê-la, o que a deixa muito triste, e culpar Paul pela ausência de Loïc, já que os dois sempre brigaram muito. Com tanta pressão sobre ela, Lili decide sair de casa e alugar um pequeno apartamento; ao mesmo tempo termina o relacionamento de Léa e Thomas, mas eles continuam sendo amigos. É a partir daí que a participação de Thomas na vida de Lili vai aumentando, principalmente quando ele lhe sugere uma viagem em busca do irmão. Essa viagem é, para Lili, a chave para um importante processo de amadurecimento.
Não se preocupe, estou bem! é um filme muito, muito bom. Infelizmente não é muito conhecido aqui no Brasil, como ocorre com muitos filmes europeus, mas na França e em outros países fez grande sucesso. Primeiro porque tem grandes nomes do cinema francês, principalmente Mélanie Laurent, que vem ganhando espaço junto a grandes estrelas; o diretor, Philippe Lioret, também tem boa reputação por lá. As ótimas atuações de Kad Merad e Julien Boisselier também merecem elogios.
O enredo, montagem e principalmente a trilha sonora são incríveis. Chamo a atenção para a música tema de Lili, composta por seu irmão, que é muito bonita (Lili, da banda AaRON) e acompanha a protagonsta na tentativa de entender o que se passa com sua família. É este o principal tema do filme, as complicadas relações familiares, principalmente entre pais e filhos; tema este muito bem abordado durante todo o longa, com direito a um surpreendente desfecho (claro que é surpreendente, é francês!).

Luís F. Passos

domingo, 30 de outubro de 2011

Modernismo (1) - A Semana de 22

O primeiro assunto sobre o qual falarei é o início do Modernismo, que no Brasil foi em 1922 com a Semana de Arte Moderna. Antes de começar, é bom falar sobre os antecedentes.
Em 1881, o Realismo deu as caras no Brasil, inicialmente com Machado de Assis, e logo se tornou a escola vigente. Vale lembrar que nesse fim de século foi inaugurada a Academia Brasileira de Letras, justamente por Machado e outros nomes como Olavo Bilac. Ora, se havia uma Academia ligada ao realismo, deduz-se que era um estilo com estrutura rígida, e era, especialmente a poesia realista, chamada de Parnasianismo; uma poesia que valoriza a forma, e não o conteúdo.
O homem amarelo, de Anita Malfatti
A partir dos últimos anos do século 19, na Europa, surgiram as chamadas Vanguardas, movimentos ousados que tinham como objetivo romper com as normas acadêmicas, tanto nas artes plásticas como na literatura. como exemplo de vanguardas temos o Cubismo, o Surrealismo e o Dadaísmo.
Em 1913 houve a primeira exposição de arte "não acadêmica" do país, feita pelo pintor Lasar Segall, mas que não obteve reconhecimento. A primeira manifestação vanguardista notória no Brasil foi em 1917, quando a jovem pintora Anita Malfatti fez uma exposição em São Paulo. A exposição recebeu uma crítica duríssima de Monteiro Lobato, chamada Paranóia ou mistificação?; depois desse ataque sofrido por Malfatti, houve a reunião de um grupo que queria transformar as artes no Brasil.
cartaz produzido por Di Cavlcanti
É aí que chegamos à Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922. Com o apoio de barões do café (os milionários da vez) e sob a proteção intelectual de Graça Aranha, renomado diplomata e escritor pré-modernista, um grupo de pintores, escultores, músicos e escritores se apresentaram por três dias no Teatro Municipal de São Paulo. Entre eles estavam Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Plínio Salgado, Heitor Villa-Lobos, Victor Brecheret e Di Cavalcanti. Na primeira noite, dia 13, houve a abertura com a conferência de Graça Aranha intitulada A emoção estética na arte moderna, além de apresentações de música e poesia.
A segunda apresentação, no dia 15, foi a mais polêmica. Houve música com a pianista Guiomar Novaes, uma conferência de Menotti del Pichia ilustrada com textos de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Plínio Salgado. Foi nessa hora que o público se manifestou através de miados e latidos. Mas o ponto alto foi a leitura de Os sapos, de Manuel Bandeira, por Ronald de Carvalho, uma evidente e forte crítica ao Parnasianismo. A terceira noite, no dia 17, foi mais tranquila, a "ocorrência do dia" foi a entrada do maestro Villa-Lobos no palco, de chinelos. O público interpretou a atitude como futurista, mas o músico estava apenas com um calo inflamado.
Acho que a melhor palavra pra descrever a Semana de 22 é choque. Bem, antes era todo mundo seguindo as normas acadêmicas, fazendo tudo bonitinho, milimetricamente trabalhado, como nas poesias parnasianas, aí chegam os caras modernistas e pá! quebram-se os conceitos. Com os modernistas vem a necessidade de mudança, reinvenção do conceito de arte, seja pintura, música ou literatura, atacando os velhos modelos, especialmente o parnasianismo. Por ser tão inovadora, a Semana de 22 foi bastante criticada, assim como seus participantes. Graça Aranha, que não era modernista, mas agiu como patrono, chegou a ser expulso da Academia Brasileira de Letras - atitude extrema, já que ser um membro da ABL é uma posição vitalícia.
Segue abaixo trecho do poema Os sapos, de Manuel Bandeira, que representa muito bem a crítica aos parnasianos:

(...)
O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro 
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
(...)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Inverno da alma - frio

Inverno da alma (Winter’s bone, 2010) acompanha a odisseia de Ree (Jennifer Lawrence) em busca de seu pai, Jessup. Tudo começa quando a polícia vai até a casinha no meio do lado da família dizendo que Jessup, como garantia de sua fiança, deixou a casa e toda propriedade da família para o governo. O problema é que a hora de pagar a dívida chegou e o cara simplesmente desapareceu. Ree, sua mãe doente e seus dois irmãos pequenos vêem-se na eminência de perder sua casa e ficarem ao relento num frio desgraçado. Única saída para Ree salvar sua família: achar Jessup.
A partir daí ela começa uma procura meio perdida, tentando arrancar informações de pessoas super estranhas envolvidas numa espécie de máfia de tráfico de drogas a qual seu pai fazia parte, indo a lugares bizarros e passando por situações mais bizarras ainda. Todas essas pessoas, na verdade, não fazem muito esforço para ajudá-la. São pessoas frias e violentas, assim como Teardrop (John Hawkes) tio de Ree, irmão de Jessup, que parece ser o único disposto a ajudar a sobrinha a encontrar seu pai.
Inverno da alma é basicamente isso, de fato, não há muito o que falar sobre o filme porque ele é relativamente restrito. Não há muito para onde correr. Essas poucas linhas é basicamente toda a história do filme. Se eu quisesse contar todo o desenrolar final não ia precisar falar muito mais do que disse aí. Inverno é um filme simples, direto, cru. Não é um drama propriamente dito, é tudo meio distante, frio como o clima daquele buraco no meio do nada aparenta ser. Todas as personagens são frias e distantes, endurecidas pela pobreza e pelo clima. Até mesmo a protagonista, Ree, é sempre muito séria e poucas vezes se mostra emotiva. Isso não é exatamente um defeito, pois a frieza faz parte do filme. Coisas bonitinhas não se encaixaram nada bem aqui e o filme perderia o sentido.
Jennifer Lawrence faz o papel da jovem Ree. É um papel muito difícil porque Ree parece tudo, menos uma garota de 17 anos. Ter que cuidar da casa e da propriedade da família, da mãe doente e inválida e de dois irmãos pequenos sozinha, sem dinheiro e praticamente sem ajuda é bem complicado. Além disso, a personagem é de uma coragem muito grande, porque passa por cada coisa... parabéns a Jennifer Lawrence pela interpretação, é um papel complicado para uma atriz tão jovem e ela leva numa boa. Foi indicada ao Oscar de melhor atriz, mas sinto dizer que das cinco, na minha opinião, era a mais fraca. Falando nisso, Inverno em alguns momentos me lembrou Rio congelado (Frozen river, 2008). Os dois são frios, os dois são sérios, liderados por ótimas atuações femininas (em Rio, quem manda é Melissa Leo), com protagonistas de muita coragem e com atrizes indicadas ao Oscar na mesma categoria. São filmes independentes que conseguiram romper as barreiras do preconceito cinematográfico e ganhar os olhares de Hollywood. John Hawkes também foi indicado (como coadjuvante), mas quem realmente importa aqui é Jennifer. Estejam de olho nessa atriz que ela promete!

por Lucas Moura

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Adele - Someone like you

Adivinha quem tá em semana de provas de novo? Mas pra não deixar essa semana passar em branco, uma música pra animar.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Sagaranando no vestibular

Bem, já estamos na metade de outubro, o que significa que os vestibulares já estão chegando (com direito a ENEM no próximo final de semana). Aí eu tive uma ideia: até o começo de dezembro falar de alguns movimentos literários e também de alguns livros comuns em vestibulares, especialmente o da Universidade Federal de Sergipe.
A ideia é falar das características principais, contexto histórico, principais autores e obras, além de fazer a comparação com os estilos anteriores e posteriores.
Vou tentar começar na próxima semana, mas tá meio complicado porque terei provas; mas farei o possível pra postar logo. Só uma coisa: vou precisar de comentários, só assim saberei se os posts estão sendo úteis, ou no mínimo bem recebidos por vocês leitores.
E aí, o que acharam?

Enterrado vivo - claustrofóbico

Com o perdão do trocadilho, para desenterrar o cinema de quinta, que andava meio afastado por motivos estudantis, vou falar sobre o excelente filme Enterrado vivo (Buried, 2010).
O roteiro do filme, em si, não é dos mais complexos e é bem simples de entender: Paul Conroy, interpretado por Ryan Reynolds, é um motorista de caminhão estadunidense que trabalha no Iraque para a companhia CRT, e de repente, acorda amarrado e amordaçado em um caixão de madeira enterrado no meio de um deserto no meio de lugar nenhum após a frota de caminhões da empresa ser atacada por um grupo de insurgentes iraquianos. Paul não tem muitas coisas além de um isqueiro, uma lanterna e um celular, deixado ali pelos seus seqüestradores.
A partir daí, acompanhamos por mais ou menos 90 min. a luta de Paul pela sua sobrevivência. Com o celular deixado pelo seqüestrador, Paul faz contato com o mundo externo em busca de alguém que possa lhe salvar. Depois de vencer a burocracia das ligações transferidas das operadoras de telemarketing (em momentos irônicos, e, às vezes, divertidos do filme) ele finalmente consegue falar com o chefe do setor especializado da polícia estadunidense em lidar com seqüestros envolvendo atividade terrorista. O problema é que essas pessoas parecem estar mais preocupadas em evitar que esse tipo de história ganhe a mídia do que salvá-lo.
Pelo celular, Paul também mantém contanto com o seu seqüestrador em momentos excelentes do filme. O seqüestrador pede 5 milhões de dólares pelo resgate, e o faz gravar um vídeo deste celular que vai parar no youtube e nas redes televisivas de todo mundo. No último contato com o seqüestrador, temos uma das cenas mais aflitivas de um filme super aflitivo (há, não vou contar o que acontece!).
Ainda através desse celular, o filme dá seus momentos mais sensíveis, com relação ao relacionamento entre Paul e sua família.
Além da falta de oxigênio, Paul ainda tem que correr contra o tempo, pois o prazo final para o pagamento do sequestro é às 9hrs, e o tempo corre cada vez mais rápido, afastar uma cobra que entra pelo caixão por um buraco na madeira, torcer para que a bateria do celular não descarregue e tentar evitar ao máximo ser soterrado pela areia que entra no caixão depois deste ter sido danificado por explosões bem na região onde ele foi enterrado. Uau.
Achei o filme simplesmente excelente. É um filme que faz muito com muito pouco. Apenas um ator! Só temos Ryan Reynolds na tela o tempo todo, não vemos outros atores (com exceção de uma pequena cena onde é mostrado um vídeo com uma amiga de Paul, Pamela, também seqüestrada), não acompanhamos outras personagens, não vemos um cenário, porque o filme todo é mostrado por uma câmera dando closes em um ator numa caixa de madeira escura iluminada apenas por uma lanterna ou um isqueiro. E o filme é excelente! É muito bom lembrar que o cinema não precisa ser caríssimo, não precisa ser um Titanic ou um Avatar para ser um grande filme. Um bom roteiro, uma boa direção e um bom ator são mais do que suficientes para fazer um pequeno grande filme. Enterrado vivo é uma produção baratíssima mas de altíssima qualidade, não devendo nada a nenhum outro filme do gênero que seja uma superprodução. 
O clima de angústia crescente, seja pelo desespero de Paul, pela bateria do celular acabando, pela incerteza do resgate, e pela areia que não pára de entrar pelo caixão, ou pelo simples fato de se imaginar enterrado vivo num caixão (o que, para mim, já é motivo de angústia o suficiente) dão um clima muito bom para o filme e um ritmo intenso. 
Parabéns a Ryan Reynolds por mostrar que não é só um ator limitado a comédias românticas, mas sim um grande ator. Parabéns ao diretor Rodrigo Cortés (o qual pretendo me informar melhor) pelo pequeno grande filme. 


por Lucas Moura

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Graciliano Ramos e Vidas secas

Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em 1892 na cidade alagoana de Quebrangulo, onde cresceu, e estudou na capital Maceió, concluindo o ensino médio por lá. Mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a trabalhar como jornalista. De volta à Alagoas em 1915, dessa vez em Palmeira dos Índios, se casou e ficou viúvo com pouco tempo de casamento. Em 1927 se elegeu prefeito de Palmeira dos Índios, mas renunciou dois anos depois (os ricos não estavam gostando de seu jeito "esquerdista"). De 1930 a 1936 morou em Maceió, trabalhando como jornalista e professor; em 1934 publicou São Bernardo, considerado sua obra prima. Em 1936, acusado de ser comunista, foi preso pelo governo de Vargas. Graciliano não era comunista - mas se tornou depois que foi solto, chegando a fazer parte do Partido Comunista Brasileiro.
a cachorra Baleia
Em 1938 Graciliano Ramos publicou Vidas secas, seu livro mais famoso. O livro narra a saga de Fabiano, sua mulher Sinhá Vitória, seus dois filhos, o papagaio e a cachorra Baleia. Fabiano é um vaqueiro desempregado que se tornou um retirante. No meio da viagem, a fome obriga a família a matar e comer o papagaio de estimação. Eles conseguem encontrar um sítio abandonado, onde se estabelecem e Fabiano começa a trabalhar. Quando o inverno chega e as terras ficam melhores, o dono do sítio aparece, fazendo do vaqueiro seu empregado. Fabiano suspeita que o patrão sempre o rouba na hora de dividir os lucros sobre a produção.
Vidas secas é composto por treze capítulos, e quase todos podem ser lidos fora de ordem (romance desmontável), exceto o primeiro e o último. Ao longo do livro Graciliano fala de modo genial o quanto que a pobreza e a fome afetam o homem - Fabiano se sente inferior, excluído; em uma passagem é humilhado e preso por um policial, sem motivo. Outra característica notória do livro é a zoomorfização ("animalização" do homem - por exemplo, na passagem em que Fabiano diz para si mesmo "Fabiano, você é um bicho".  A zoomorfização é uma consequência da miséria e da degradação do homem. A cachorra Baleia, descrita como uma personagem quase humana, chega a ser mais humana que seus donos.
O livro é o único de Graciliano que não foi escrito em primeira pessoa, portanto, não tem o caráter memorialista dos outros. O que merece destaque é que a obra é "muito certinha", concisa, cada coisa em seu lugar, sem exageros; os críticos dizem que a escrita é seca. Essas qualidades fazem de Vidas secas um dos maiores clássicos literários do século XX, ao lado de livros como Fogo morto, O Quinze e Grande sertão: Veredas. Publicado em vários países, já teve mais de cem edições no Brasil, onde é leitura obrigatória de várias grandes universidades, como USP, UFBA e PUC.

domingo, 2 de outubro de 2011

Ei, não é por nada, mas quem quiser comentar fica à vontade, certo? Só pra eu saber que não tô falando sozinho.

Jóias

Depois de mais de duas semanas sem post, volto a dar atenção ao nosso querido blog falando de Jóias (Jewels, 1992), um dos livros mais bonitos de Danielle Steel e um de meus preferidos. O livro conta a vida da duquesa Sarah de Whitfield, a partir de um flashback dela às vésperas de completar 75 anos.
Sarah Thompsom nasceu em 1916 em Nova York, filha de um banqueiro. Aos 19 anos se casou com Freddie van Deering, um rapaz muito rico mas sem nenhum juízo. No início, o casamento era um sonho para Sarah, mas Freddie foi ficando ausente, passando a maior parte do tempo fora de casa e bebendo. Sarah engravida, mas isso não provoca nenhum efeito no marido, que continua na farra; a tristeza leva a jovem a perder o bebê. O divórcio veio quando, na festa de um ano de casamento, Freddie foi flagrado bêbado e com duas amantes.
Separada, Sarah decidiu se refugiar na casa de campo da família, onde passou um ano inteiro sem voltar a Nova York. É aí que seus pais a convencem a viajar pela Europa, mesmo com a relutância da moça. Primeira parada: Londres. Na primeira semana ela conhece William Whitfield, que depois descobre ser duque e primo do rei Eduardo VIII. Os dois se encantaram um pelo outro logo que se conheceram, e William decide mostrar a cidade a Sarah, que aos poucos vai esquecendo as mágoas do primeiro casamento e permitindo a si um novo amor. Sarah e seus pais continuam a viagem, passando por França e Itália, e fica evidente que a moça sente a falta de William. Quando os Thompsom retornam a Londres, o jovem duque pede Sarah em casamento, que seria depois de concluído o divórcio com Freddie.
Sarah e William se casaram em Nova York em dezembro de 1938 e foram passar a lua de mel no interior da França. Em um dos passeios o casal conheceu uma castelo abandonado na região do Loire, e William resolveu dá-lo de presente a Sarah. Eles começaram a reforma e pouco tempo depois se mudaram; com alguns meses Sarah já esperava o primeiro filho, Phillip, que nasceu no dia 3 de setembro de 1939, quando a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha. Por fazer parte da Família Real, William teve que se alistar nas forças Aliadas, deixando Sarah com o bebê e a fiel criada Emanuelle, retornando meses mais tarde para uma rápida visita. Visita essa que foi rápida, mas deixou uma consequência: Sarah engravidou novamente, dessa vez de uma menina.
O que ninguém esperava é que a França se rendesse e entregasse mais da metade de seu território aos alemães, incluindo a região do Loire. O castelo de Sarah foi ocupado pelos invasores, mas a integridade da duquesa foi garantida pelo comandante alemão, o coronel Joachim von Mannheim. Sarah, Phillip e Emanuelle se mudaram para um pequeno chalé no terreno do castelo, onde a duquesa teve uma difícil gravidez e deu à luz a Elizabeth. Joachim se apaixona por Sarah e se comporta como um pai para as crianças, já que não se tinha notícias de William. Elizabeth, Lizie, se torna uma menina muito bonita, mas com a saúde debilitada, falecendo com pouco mais de três anos; a morte da menina faz de Phillip um garoto amargo, e o afasta da mãe.
Com o enfraquecimento das tropas alemãs e o avanço dos Aliados, a ocupação francesa vai recuando, e Joachim se despede de Sarah; em maio de 1945 a guerra termina e Phillip é encontrado na Alemanha à beira da morte. Levado a Londres, os médicos conseguem salvar sua vida, mas não o movimento das pernas, prendendo o duque a uma cadeira de rodas. Devido à pobreza causada pela guerra, as pessoas estavam vendendo seus bens a qualquer preço, incluindo as jóias. Phillip e Sarah são procurados por uma mulher que queria vender uma pulseira de brilhantes por um preço ínfimo, mas o casal paga um preço justo. A partir daí, muitas outras pessoas começam a procurá-los, e eles sempre compravam o que era oferecido, visando ajudar a todos. Como a quantidade de jóias era grande, e elas eram de boa qualidade, os dois decidem criar uma joalheria, a Whitfield's.
A partir daí a história segue outros rumos. Sarah engravida outras vezes, fica viúva e se vê em outra batalha: a criação dos filhos. A joalheria cresce, e além de Paris, abre filiais na Inglaterra e na Alemanha, se tornando uma das maiores da Europa.
Jóias, como já disse, é considerado um dos livros mais bonitos de Danielle Steel. Dos que eu li, considero-o o melhor. É bonito, elegante, sábio, tudo na medida certa, e consegue tocar o leitor durante todo o enredo, em especial em passagens como a morte de Lizzie. E é leve, bem agradável de ler. Recomendo!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Peço desculpas por essa semana sem post, é que a coisa no curso tá pesada. Domingo volto falando de um filme de Chaplin.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Julie e Julia - bon appétit!

Hoje nosso blog completa quatro meses, e por isso eu, Luís, farei o post de cinema da semana, especialíssimo, com um de meus filmes preferidos, Julie e Julia (Julie and Julia, 2009). O filme conta as trajetórias (reais) de duas mulheres, uma nos anos 1950 e outra nos 2000, inicialmente paralelas, mas que ao longo do filme vão se fundindo. Um filme muito, muito bonito e que consegue ser grandioso na sua simplicidade. São inevitáveis trocadilhos como "um filme delicioso": a comida é o plano de fundo do filme, e serve de elo de ligação entre as protagonistas.

Em 1948, depois de contribuir para a Inteligência americana na Segunda Guerra Mundial, o diplomata Paul Child (Stanley Tucci) e sua esposa Julia (Meryl Streep) chegaram em Paris, onde Paul ocuparia um posto diplomático. Logo de início Julia fica maravilhada com a cozinha francesa, e depois de se arriscar em alguns passatempos como bridge, ela entra na famosa escola de culinária Cordon Bleu, se destacando como uma das melhores alunas da turma. Em uma festa, Julia conhece Louisette Berthole (Helen Carey) e Simone Beck -Simca- (Linda Emond), duas amigas que estavam escrevendo um livro de culinária. Depois de ser aprovada no Cordon Bleu, apesar da implicância da diretora, Madame Brassart, Julia se une a Louisette e Simca para dar aulas para americanas, formando a chamada escola informal L'école de les trois gourmandes, sempre apoiada por Paul. Essas são algumas marcas do casal: compreensão, apoio, amor incondicional.
Já em 2002, Julie Powell (Amy Adams), funcionária pública no Departamento de assistência às vítimas do 11 de setembro, se vê perdida no tempo. Prestes a completar trinta anos, percebe que nunca fez nada de especial, e estava levando uma vida normal demais. Depois de ser enganada por uma antiga colega de faculdade e aparecer na capa de uma vista como fazendo parte de uma "geração perdida", Julie decide fazer um blog, e seu marido Eric (Chris Messina) sugere que ela faça sobre culinária. Surge então a ideia de preparar todas as receitas de Dominando a arte da cozinha francesa, escrito pela americana Julia Child e por duas francesas, com o prazo de um ano. O livro, lançado na década de 60, era uma espécie de "bíblia" culinária para as donas de casa norte americanas e fez de Julia uma espécie de guru gastronômica na terra do Tio Sam.
O livro de Louisette e Simca, que era voltado às americanas que moravam na França, foi rejeitado pela editora e precisava de alguém que o traduzisse para o inglês. As duas decidem convidar Julia a se tornar co-autora, e quando a americana passa a colaborar, o livro ganha mais carisma e acessibilidade. Julia recorria bastante aos conselhos da amiga americana Avis De Voto (Deborah Rush), com quem se correspondia; Avis se tornou peça chave na publicação do livro. Nesse meio tempo, sua irmã Dorothy (Jane Lynch) vai visitá-la, e conhece um amigo de Paul, por quem se apaixona; o casamento é feito pouco tempo depois em Paris. Na ocasião são apresentados os pais de Julia, com atenção para o pai, republicano e admirador do senador McCurthy, que liderou uma caça aos comunistas nos EUA.
Alguns meses depois Dorothy manda uma carta onde diz estar grávida; nesse momento é revelada a grande (e talvez única) decepção de Julie e Paul: não terem filhos. Nessa mesma época a política anti-comunista atinge Paul: ele estava sendo investigado como suspeito de ter ideias esquerdistas, já que servira na China. Mesmo inocentado, Paul é transferido para o sul da França, e depois para outros países europeus, o que fez a conclusão do livro de Julia ser adiada.
Quanto a Julie... seu projeto de fazer as muitas receitas do livro ia dando certo, mas estava desgastando o casal (segundo Erick, "comida demais e sexo de menos"). Julie, que era um pouco egocêntrica, foi se tornando mimada e achava que tudo que importava no mundo era seu blog, chegando a deixar o marido de lado. Seu estresse chega ao extremo quando ela perde uma chance de se tornar conhecida na imprensa, e numa briga com Erick, ele sai de casa. É aí que o projeto se abala, pois Julie fica sem chão.
Depois disso, o filme (para ambas as protagonistas) segue rumos bem interessantes. Dessa vez não conto o final da história, primeiro porque indico (muito, muito) o filme e segundo porque no nosso Cinema de quinta não costumamos fazer isso.O que digo é: o filme é levado de tal forma que o espectador percebe que a comida não é o foco principal, é apenas o elo de ligação entre Julie e Julia, separadas por 50 anos. O verdadeiro tema principal é amor, já que temos dois casais tão felizes, quase perfeitos. Julia e Paul se conheceram quando ela tinha mais de quarenta anos, e nunca mais se separaram; tinham cumplicidade e sabiam apoiar um ao outro quando precisavam. Já Julie e Erick, não parecem ser tão perfeitos assim (Julie chega a dizer que "Julia nunca brigou com o marido"), mas provam ser ideais um para o outro.
Julie e Julia tinham personalidades bem distintas: Julia era forte, decidida, enquanto Julie desistia facilmente e surtava com frequência. O que elas têm em comum é o amor por cozinhar e o talento isso, e os casamentos. ambos bastante felizes.
O enredo é muito bom, mas não é do tipo que vai concorrer a grandes prêmios, o que não pode ser dito do elenco, que é de primeira. A começar por Meryl Streep (minha atriz preferida e considerada por muitos a melhor da atualidade), que como Julia concorreu ao Oscar (2010) pela 16ª vez, perdendo para Sandra Bullock, que concorreu por Um sonho possível (The bind Side, 2010). Julia não é considerada uma personagem muito difícil, mas a atuação de Meryl foi ótima (pra variar), chegando a ganhar o Globo de Ouro de Melhor atriz de Comédia ou Musical (2010). Amy Adams também fez um bom trabalho como a estressada e insegura Julie, se mostrando bastante versátil, já que suas personagens geralmente são muito conturbadas, e Julie é uma pacífica dona de casa. Stanley Tucci, como Paul, também foi muito elogiado; foi escolhido para o papel pela diretora, Nora Ephron, e pela própria Meryl, que ao conhecer a personagem disse que Stanley era o ator certo para interpretá-la. Chris Messina, Linda Emond e Deborah Rush são outros que mandaram bem na telona.
Julie e Erck Powell
Saindo do filme e indo pra vida real: Julia Child e Julie Powell são pessoas que existiram de verdade (existem, no caso de Julie). Julia publicou Mastering the art of French Cook em 1961, e nesses cinquenta anos o livro já teve mais de cinquenta edições. Depois da publicação do livro os americanos mudaram seu jeito de comer, valorizando refeições em família, deixando de lado (quando possível, claro) o fast food. Julia passou a apresentar um programa de TV e se tornou o ícone da culinária americana. Quanto a Julie, seu blog se tornou conhecido nacionalmente, e a partir dele foi feito o livro Julie & Julia, que serviu de base para o filme. Julia faleceu em 2004 com 91 anos; Julie vive em Queens, Nova York e tem 38 anos.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

(pré) Julie e Julia

Hoje não tem post por três motivos: anatomia humana 1, bioquímica, e por eu estar preparando um post especial pra quinta, com o filme Julie e Julia (Julie and Julia, 2009). Por enquanto eu deixo aqui o trailer; até quinta.

domingo, 11 de setembro de 2011

As mil e uma noites

11 de setembro, luto pelas vítimas, babaquice de soberania americana, teorias conspiratórias, isso tem todo ano. Mas o que nunca falam o que há no Oriente Médio, além dos fanáticos religiosos muçulmanos: uma cultura riquíssima desenvolvida pelos seguidores do profeta Maomé. Na Idade Média, enquanto a Europa vivia num atraso científico, os árabes estavam a pleno vapor, por exemplo na medicina,astronomia, matemática e literatura. E quando se fala em literatura árabe, a gente lembra logo das Mil e uma noites.
O pontapé inicial é bem conhecido: um rei persa chamado Shariar, depois de ser traído por sua primeira esposa,  manda matá-la e passa a odiar as mulheres, vingando-se através de um jeito bem perverso: casava-se todos os dias (aproveitava a noite), e na manhã seguinte matava as esposas. Até que uma jovem esperta chamada Sherazade (depois de aproveitar a noite), sabendo o que esperava por ela na manhã seguinte, pediu permissão ao rei para lhe contar uma história. O rei consentiu, e ela iniciou uma narração, parando no meio da história e prometendo continuar na noite seguinte. Shariar, que aparentemente não teve infância e se encantou pela história, acatou Sherazade e esperou o final do conto. A rainha foi se aproveitando da curiosidade do marido, e sempre que acabava uma história, começava outra, sempre preocupada em salvar o próprio pescoço. 
Mas como eu disse, as histórias eram contadas antes de dormir, depois que o casal se entendia (er...). Assim, Shariar e Sherazade deixaram de ser estranhos um para o outro, foram se conhecendo melhor e acabaram se apaixonando. A rainha contou histórias durante mil e uma noites até que Shariar prometesse poupar sua vida. A doença (mental) do rei foi curada, e ele deixou de ser um homem amargo, e eles viveram felizes para sempre. Ou então felizes até que Shariar resolveu ter um harém, hehe.
As mil e uma noites são uma coletânea de histórias árabes e hindus que existiam há muito tempo, e foram reunidas em árabe a partir do século IX. Já no século XVIII foram trazidas para o ocidente pelo francês Antoine Galland; as histórias ganharam grande repercussão e devido ao seu valor literário e cultural, se tornou um clássico mundial.
Entre as histórias mais conhecidas estão Aladim, Ali Babá e os quarenta ladrões e Simbad, o marujo.

ps: pra matar as saudades de Osama, uma musiquinha pro barbudo.