sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Graciliano Ramos e Vidas secas

Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em 1892 na cidade alagoana de Quebrangulo, onde cresceu, e estudou na capital Maceió, concluindo o ensino médio por lá. Mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a trabalhar como jornalista. De volta à Alagoas em 1915, dessa vez em Palmeira dos Índios, se casou e ficou viúvo com pouco tempo de casamento. Em 1927 se elegeu prefeito de Palmeira dos Índios, mas renunciou dois anos depois (os ricos não estavam gostando de seu jeito "esquerdista"). De 1930 a 1936 morou em Maceió, trabalhando como jornalista e professor; em 1934 publicou São Bernardo, considerado sua obra prima. Em 1936, acusado de ser comunista, foi preso pelo governo de Vargas. Graciliano não era comunista - mas se tornou depois que foi solto, chegando a fazer parte do Partido Comunista Brasileiro.
a cachorra Baleia
Em 1938 Graciliano Ramos publicou Vidas secas, seu livro mais famoso. O livro narra a saga de Fabiano, sua mulher Sinhá Vitória, seus dois filhos, o papagaio e a cachorra Baleia. Fabiano é um vaqueiro desempregado que se tornou um retirante. No meio da viagem, a fome obriga a família a matar e comer o papagaio de estimação. Eles conseguem encontrar um sítio abandonado, onde se estabelecem e Fabiano começa a trabalhar. Quando o inverno chega e as terras ficam melhores, o dono do sítio aparece, fazendo do vaqueiro seu empregado. Fabiano suspeita que o patrão sempre o rouba na hora de dividir os lucros sobre a produção.
Vidas secas é composto por treze capítulos, e quase todos podem ser lidos fora de ordem (romance desmontável), exceto o primeiro e o último. Ao longo do livro Graciliano fala de modo genial o quanto que a pobreza e a fome afetam o homem - Fabiano se sente inferior, excluído; em uma passagem é humilhado e preso por um policial, sem motivo. Outra característica notória do livro é a zoomorfização ("animalização" do homem - por exemplo, na passagem em que Fabiano diz para si mesmo "Fabiano, você é um bicho".  A zoomorfização é uma consequência da miséria e da degradação do homem. A cachorra Baleia, descrita como uma personagem quase humana, chega a ser mais humana que seus donos.
O livro é o único de Graciliano que não foi escrito em primeira pessoa, portanto, não tem o caráter memorialista dos outros. O que merece destaque é que a obra é "muito certinha", concisa, cada coisa em seu lugar, sem exageros; os críticos dizem que a escrita é seca. Essas qualidades fazem de Vidas secas um dos maiores clássicos literários do século XX, ao lado de livros como Fogo morto, O Quinze e Grande sertão: Veredas. Publicado em vários países, já teve mais de cem edições no Brasil, onde é leitura obrigatória de várias grandes universidades, como USP, UFBA e PUC.

Nenhum comentário:

Postar um comentário