domingo, 30 de outubro de 2011

Modernismo (1) - A Semana de 22

O primeiro assunto sobre o qual falarei é o início do Modernismo, que no Brasil foi em 1922 com a Semana de Arte Moderna. Antes de começar, é bom falar sobre os antecedentes.
Em 1881, o Realismo deu as caras no Brasil, inicialmente com Machado de Assis, e logo se tornou a escola vigente. Vale lembrar que nesse fim de século foi inaugurada a Academia Brasileira de Letras, justamente por Machado e outros nomes como Olavo Bilac. Ora, se havia uma Academia ligada ao realismo, deduz-se que era um estilo com estrutura rígida, e era, especialmente a poesia realista, chamada de Parnasianismo; uma poesia que valoriza a forma, e não o conteúdo.
O homem amarelo, de Anita Malfatti
A partir dos últimos anos do século 19, na Europa, surgiram as chamadas Vanguardas, movimentos ousados que tinham como objetivo romper com as normas acadêmicas, tanto nas artes plásticas como na literatura. como exemplo de vanguardas temos o Cubismo, o Surrealismo e o Dadaísmo.
Em 1913 houve a primeira exposição de arte "não acadêmica" do país, feita pelo pintor Lasar Segall, mas que não obteve reconhecimento. A primeira manifestação vanguardista notória no Brasil foi em 1917, quando a jovem pintora Anita Malfatti fez uma exposição em São Paulo. A exposição recebeu uma crítica duríssima de Monteiro Lobato, chamada Paranóia ou mistificação?; depois desse ataque sofrido por Malfatti, houve a reunião de um grupo que queria transformar as artes no Brasil.
cartaz produzido por Di Cavlcanti
É aí que chegamos à Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922. Com o apoio de barões do café (os milionários da vez) e sob a proteção intelectual de Graça Aranha, renomado diplomata e escritor pré-modernista, um grupo de pintores, escultores, músicos e escritores se apresentaram por três dias no Teatro Municipal de São Paulo. Entre eles estavam Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Plínio Salgado, Heitor Villa-Lobos, Victor Brecheret e Di Cavalcanti. Na primeira noite, dia 13, houve a abertura com a conferência de Graça Aranha intitulada A emoção estética na arte moderna, além de apresentações de música e poesia.
A segunda apresentação, no dia 15, foi a mais polêmica. Houve música com a pianista Guiomar Novaes, uma conferência de Menotti del Pichia ilustrada com textos de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Plínio Salgado. Foi nessa hora que o público se manifestou através de miados e latidos. Mas o ponto alto foi a leitura de Os sapos, de Manuel Bandeira, por Ronald de Carvalho, uma evidente e forte crítica ao Parnasianismo. A terceira noite, no dia 17, foi mais tranquila, a "ocorrência do dia" foi a entrada do maestro Villa-Lobos no palco, de chinelos. O público interpretou a atitude como futurista, mas o músico estava apenas com um calo inflamado.
Acho que a melhor palavra pra descrever a Semana de 22 é choque. Bem, antes era todo mundo seguindo as normas acadêmicas, fazendo tudo bonitinho, milimetricamente trabalhado, como nas poesias parnasianas, aí chegam os caras modernistas e pá! quebram-se os conceitos. Com os modernistas vem a necessidade de mudança, reinvenção do conceito de arte, seja pintura, música ou literatura, atacando os velhos modelos, especialmente o parnasianismo. Por ser tão inovadora, a Semana de 22 foi bastante criticada, assim como seus participantes. Graça Aranha, que não era modernista, mas agiu como patrono, chegou a ser expulso da Academia Brasileira de Letras - atitude extrema, já que ser um membro da ABL é uma posição vitalícia.
Segue abaixo trecho do poema Os sapos, de Manuel Bandeira, que representa muito bem a crítica aos parnasianos:

(...)
O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro 
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
(...)

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