domingo, 12 de junho de 2016

Namorados para sempre - you always hurt the one you love

Que os tradutores brasileiros devem fumar uma pesada, todos nós suspeitamos. E é em traduções como "Namorados para sempre", do original Blue Valentine (dia dos namorados triste) que a gente começa a ter certeza sobre a falta de lógica. Além disso, o filme foi lançado em às vésperas do dia dos namorados, cinco anos atrás - aí imagine quantos casais foram aos cinemas atraídos pelo título de um romance e ficaram decepcionados sobre o filme que trata sobre a crise de um casal.
Vamos à história: o casal Cindy (Michelle) e Dean (Ryan Gosling) está passando por um momento muito difícil em seu casamento. Juntos há cinco anos e pais de uma linda garotinha, eles se veem diante de uma situação onde mal conseguem manter uma conversa sem iniciar uma briga, o que em nada lembra o início do namoro deles. E é fazendo uma comparação do presente com o começo da relação que o filme consegue apresentar melhor suas personagens e explicar como elas se apaixonaram e o motivo da crise. Somos apresentados então a uma Cindy jovem, na universidade, que ajudava a cuidar de sua avó no asilo, onde conhece Dean, então um carregador de móveis metido a charmoso que com insistência e muito carisma consegue conquistá-la. O casal recém formado é adorável: jovens, bonitos, gente boa e com todo um futuro pela frente.
Cinco anos depois, Cindy é enfermeira e Dean, pintor. Ela tem um bom emprego numa clínica, onde é muito querida pelo chefe, enquanto ele depende do ofício instável, onde muitas vezes fica sem trabalho. Não é difícil perceber que a questão financeira é um agravante dos problemas da relação. Apesar das dificuldades, eles se esforçam para manter o casamento, em memória dos bons tempos e pela felicidade da filha Frances. É na luta pela salvação do relacionamento que eles vão para um motel no dia dos namorados, onde se passam as cenas com os diálogos mais tensos do filme. Aí podemos perceber que o título nacional pode fazer sentido: o voto de "namorados para sempre" é a promessa de fidelidade que se transformou numa obrigação penosa, difícil de cumprir. No caso das personagens, talvez seja mais difícil para Cindy, que chega a ver o marido como um peso que a impede de progredir profissional e pessoalmente.
A carga emocional transmitida pelo filme é impressionante. Tecnicamente falando, ele tem vários elementos para isso. A trilha sonora, a iluminação mais sóbria nas cenas mais tensas, a qualidade do roteiro - emocionante mas nunca apelativo. Por fim e mais importante, a atuação da dupla de personagens. Michelle Williams e Ryan Gosling carregam o filme juntos, mergulhados nas alegrias e frustrações de suas personagens, que por mais duronas que tentem parecer, são sensíveis e profundas. Os dois, que são alguns dos melhores exemplos do grande talento da nova geração de atores americanos, se dedicam totalmente ao filme, transparecendo o cansaço do desgaste de um casamento e a tristeza diante de uma provável separação. A tristeza de ter que aprender a lidar com a perda - tema tão antigo, tão trabalhado, mas que ainda rende excelentes filmes, como esse.

Nota: 9,5/10

Luís F. Passos

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