quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A Lista de Schindler - sobre a ferida aberta na história



Polônia, 1939. Depois da súbita invasão alemã e rápida derrota do exército polonês, as tropas de Hitler dominaram a metade oeste do país (a outra parte fora ocupada pela União Soviética) e deram início ao plano do führer de exterminar a população judia. Enquanto eram construídos os primeiros campos de concentração e extermínio pelo interior do país, em muitas cidades os judeus eram concentrados em pequenos bairros chamados de guetos, em que eram destinados a morar em minúsculos apartamentos bem diferentes das grandes casas a que muitos deles estavam acostumados.
É nesse contexto que o empresário alemão Oskar Schindler (Liam Neeson) se muda para a Polônia com um ambicioso projeto em mente. Sabendo das restrições impostas aos judeus e que elas só tendiam a piorar, Oskar busca ricos empresários e banqueiros judeus para obter capital e montar uma fábrica; eles entrariam com o dinheiro enquanto o alemão seria o administrador. Apesar de parecer injusto, era a única forma de dinheiro judeu ser aplicado num investimento e não saqueado pelos nazistas. Para isso ele conta com o apoio de Itzhak Stern (Beng Kingsley), contador e membro influente do conselho judeu, que se torna seu braço direito na indústria.
Ao iniciar as atividades da fábrica, Schindler negocia com os alemães o uso de mão-de-obra judia que viria dos guetos e lhe seria bastante barata. A grande vantagem de trabalhar para Schindler? Não morrer. Não eram raros os casos de pessoas que simplesmente desapareciam ou eram levadas em caminhões e nunca voltavam. Ter o carimbo comprovando que era funcionário da fábrica de Schindler era uma garantia (não infalível, mas uma garantia) de voltar para casa ao anoitecer e não ser levado durante a noite. É logo nessa época que o empresário começa a salvar vidas, dando emprego a pessoas que não tinham condições de trabalhar, só para que elas tivessem documentos de trabalhador e assim salvassem suas vidas. Esse é só o começo do trabalho de Schindler, que culmina na famosa lista de centenas de pessoas salvas por ele.
A lista de Schindler (Schindler's List, 1993) para mim é, antes de tudo, uma rendição a Steven Spielberg. Não sou fã do diretor e seu único filme do qual eu realmente gostava era A cor púrpura (1985), mas foi impossível não me curvar diante da qualidade de A lista de Schindler. A primeira das muitas qualidades desse vencedor dos Oscar de melhor filme, direção, roteiro adaptado, direção de arte, música e fotografia é justamente a fotografia em preto-e-branco que por si só é um show a parte e acentua o clima triste e melancólico da época; tal preto-e-branco só é maculado pelo vermelho do casaco de uma pequena menina que aparece numa cena em que um gueto é evacuado, um momento emocionante que marca uma das melhores cenas da carreira de Spielberg.
É impressionante como o filme consegue transmitir a tensão que pairava sobre os judeus, seja nos guetos, onde os abusos por parte dos soldados alemães eram quase obrigatórios, ou nos campos de concentração, onde estavam sujeitos à figuras como o comandante Amon Göth (Ralph Fiennes), que do alto de sua varanda mirava cabeças com seu rifle e matava por puro entretenimento. É aqui que eu me surpreendi: Spielberg, que é um bocado moralista em seus filmes, conseguiu ser bastante fiel à história. A exceção está na relação de Schindler com a esposa (na importância dela no salvamento de judeus e nas inúmeras vezes em que ele a traiu) e no fato obscuro de muitas pessoas conseguirem entrar na lista graças ao pagamento de suborno – algo que diminuiria a objetividade moral do longa. Enfim, esses pequenos defeitos não são quase nada comparados aos inúmeros fatores que fazem de A lista de Schindler um dos melhores filmes sobre o Holocausto, muito superior aos outros que saem todos os anos às dezenas, como numa linha de produção patética e sem originalidade.

Nota: 10

Luís F. Passos

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Filmes pro final de semana - 25/10

1. Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006)
Talvez o mais querido entre os filmes semi-alternativos dos últimos anos seja esse leve e divertido melodrama familiar na forma de comédia. Uma família de seis pessoas - um avô doidão viciado em cocaína e heroína, um pai que é palestrante motivacional quase falido, uma mãe que trabalha dentro e fora do lar sem saber como resolver os problemas familiares, um tio especialista em Proust que tentou suicídio, um filho tímido e que vive em greve de silêncio e a pequena filha desengonçada e gordinha - que atravessa o país rumo à Califórnia para que a filha participe de um concurso de beleza e talento é o centro de uma história sobre fracasso, brigas e vícios que podem ser resolvidos (ou suportados) quando há uma família para se apoiar. O roteiro vencedor do Oscar é coeso e faz as mirabolantes aventuras da família parecerem totalmente possíveis e despertam a empatia de quem assiste. Difícil não se identificar com a história e não se cativar pelas personagens, seja a doce filha Olive ou o promíscuo vovô (que salvo engano, o nome nunca é dito) - que rendeu a Alan Arkin o Oscar de ator coadjuvante.
Nota: 9,5/ 10
2. Moulin Rouge - amor em vermelho (Moulin Rouge!, 2002)
O cabaré mais famoso do mundo chegou às telonas nesse inesquecível filme do habilidoso e extravagante diretor Baz Luhrmann. Na Paris do fim do século XIX, uma geração de jovens e pobres artistas buscava deixar sua marca na cultura da época, visando uma arte que girasse em torno da beleza, da verdade, da liberdade e do amor. Entre esses artistas há o escritor Christian (Ewan McGregor), que se apaixona pela mais bela das cortesãs do Moulin Rouge, Satine (Nicole Kidman) - mas entre os dois havia os planos de transformar o cabaré num teatro, um rico e maléfico barão e a doença que era o mal do século. Moulin Rouge fascina pelo exagero, brilho, beleza, músicas (apesar de não ter nenhuma música original, usando clássicos como Diamonds are the girls best friends e Like a virgin) e tem o grande mérito de ressuscitar o decrépito gênero dos musicais, sendo o primeiro musical em mais de vinte anos indicado ao Oscar de melhor filme.
Nota: 9,5/ 10
3. O Rei da Comédia (The king of comedy, 1983)
Robert DeNiro, em mais uma parceria com Martin Scorsese, dá vida ao psicopata Rupert Pumpkin,fã do grande humorista Jerry Langford (Jerry Lewis) e perturbado o suficiente para se achar tão engraçado quanto o ídolo. Obcecado por Jerry, Rupert dá início a um mirabolante plano para sequestrar o comediante e fazer seu próprio show na televisão. Para isso, ele conta com uma cúmplice, Masha (Sandra Bernhard), igualmente obcecada por Jerry, mas por estar apaixonada por ele. O filme então é tomada por uma forte tensão demonstrada através do sorriso confiante e meio idiota de Rupert, que parece estar prestes a explodir em fúria, e da instabilidade de Masha, que aparenta estar muito longe da realidade. Ambos são, na verdade, duas figuras solitárias em busca de atenção, no caso, de uma estrela; uma crítica de Scorsese à supervalorização das celebridades feita pela sociedade.
Nota: 8,5/ 10
4. O Pianista (The pianist, 2002)
O diretor Roman Polanski apresenta uma visão do Holocausto diferente da comumente mostrada nos filmes, dos campos de concentração, e foca no gueto de Varsóvia através do pianista Władysław Szpilman (Adrien Brody), famoso músico polonês que assiste à invasão de seu país pelas tropas nazistas em setembro de 1939 e a implantação das absurdas leis contra os judeus, que culminou na implantação dos guetos. É impressionante a realidade do filme ao acompanhar a perda da dignidade de um homem na busca pela sobrevivência, e parece que os obstáculos não param de surgir. E no filme, a representação de um dos pontos altos do Holocausto: o levante do Gueto de Varsóvia, quando operários deram início a uma revolta contra os soldados que resistiu por mais de vinte dias até ser totalmente esmagada pelos alemães. A emocionante história de Polanski foi vencedora da Palma de Ouro, além dos Oscar de melhor direção, ator e roteiro adaptado.
Nota: 9,5/ 10
5. A vida dos outros (Das Leven der Anderen, 2006)
Pense duas vezes antes de dizer que o cinema não é mais o mesmo e que já não se produzem inesquecíveis obras-primas. A vida dos outros tá aí pra provar que o cinema de alta qualidade ainda resiste. Com roteiro e direção de Florian Henckel von Donnersmarck, um desconhecido até então, o filme é ambientado nos anos 80 na Alemanha Oriental, onde a Stasi, uma das mais controladoras polícias secretas da Cortina de ferro tocava o terror numa época em que não havia o menor indício de abertura política. O capitão da Stasi Gerd Weisler (Urich Müher) recebe a missão de espionar um dramaturgo e sua esposa, que é atriz, e se instala no mesmo prédio em que o casal mora, no andar de cima, ouvindo tudo o que se passa na casa deles. O que inicialmente era apenas uma missão e encarado com escárnio se transforma numa relação unilateral de solidariedade, levando o espião a duvidar de toda sua ética e crença no partido totalitário e questionar um estilo de vida sem liberdade e sem direito à individualidade. Em poucas palavras: um filme excepcional. Infinitos elogios ao roteiro, à direção e à atuação de Mührer, que era um experiente ator de teatro na Alemanha (inclusive fora espionado durante a Guerra Fria) e que infelizmente faleceu um ano após o lançamento do filme.
Nota: 10

Luís F. Passos

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Poderosa Afrodite - comédia de tragédia



É interessante ver a construção do roteiro de Poderosa Afrodite (Mighty Aphrodite, 1995). Pra mim, um dos filmes mais inusitados e criativos de toda a filmografia de Woody Allen. Numa descrição simples, é a história de um homem judeu chamado Lenny e de sua busca pela mãe de seu filho adotivo, a atriz Linda Ash (Mira Sorvino). Neste meio tempo, conhecemos uma Linda cuja vida é totalmente desestruturada, sem perspectivas e lotada de frustrações e acompanhamos a obsessão de um homem cuja própria vida pessoal está tão bagunçada que não lhe reste muito a fazer se não tentar brincar de Deus em prol de uma melhora na vida da moça. Paralelamente, o casamento de Lenny vai se dissolvendo quando sua esposa (Helena Bonham Carter) encontra-se muito mais interessada em seu trabalho – e em outras coisas mais – que em sua família.
Falando desta forma, o filme soa como um drama. Mas na verdade é uma comédia de alto nível. Cômico do início ao fim, Allen usa uma história com ares de tragédia grega – visto que o filme é repleto de pequenas reviravoltas que não podem ser ditas aqui – e desenvolve tudo com o máximo que seu humor poderia dar. É justamente este seu objetivo: uma típica comédia americana com uma ironia e dramaticidade de tragédia grega. A forma como a trama caminha, sua conclusão relativamente inesperada e as incansáveis referências ao teatro grego, bem como a figuras mitológicas da Grécia Antiga, também são fatores pensados para essa função de aproximação entre dois elementos que, vistos isoladamente, aparentam não ter nada em comum. A conexão com a arte grega clássica é tão forte que muitas sequências importantes do filme são ligadas, entre si, através de pequenas apresentações de algum tipo de grupo de teatro grego que narra e, obviamente, julga as ações de Lenny. Isso também dá um toque de realismo fantástico bastante legal (pelo menos para mim já que gosto muito deste estilo).
Humor. Allen sempre foi um mestre das piadas com referências, mas aqui foge um pouco das referências usuais a figuras de cinema e artes de um modo geral e abre seu leque para piadas envolvendo Zeus e secretárias eletrônicas ou Cassandra e advogados. As piadas são incessantes, as circunstâncias são sempre criativas e relativamente inesperadas. Por mais que o que vá acontecer não seja uma grande surpresa, a forma como o filme caminha é tão pouco usual que em nenhum momento se torna banal. O roteiro é muito divertido e repete, em sua origem, a fórmula clássica de Allen de fazer roteiros. Estão presentes: a figura do judeu neurótico, a adoração por uma Nova York sempre bonita, decepções diversas, figuras decadentes, sexualidade e, claro, mulheres lindíssimas aos pés do comediante. Isso não pode faltar.
Mesmo com tantas qualidades, o ponto em que Allen mais acerta é no elenco, que conta com a presença de nomes como F. Murray Abraham e Helena Bonham Carter. Mas o grande triunfo, o grande diferencial e o elemento que torna Poderosa Afrodite um filme difícil de esquecer é mesmo a atuação de Mira Sorvino. Muito, muito engraçada. A personagem de Linda Ash (Judy Cum para os íntimos) é muito legal. Inicialmente, uma figura desconhecida. De repente, uma mulher vulgarmente engraçada, mas que de alguma forma é relativamente complexa. Por trás de trejeitos tão caricatos, Mira Sorvino consegue adicionar algumas camadas a sua personagem, o que a torna empática não apenas como uma personagem de humor, mas sim alguém por quem vale a pena torcer e uma história que valha a pena acompanhar. Isso sem falar nas surpresas pouco usuais que sua vida revela. Por este papel, Mira Sorvino uniu-se a um seleto grupo de atrizes que venceram o Oscar por interpretações em filmes de Woody Allen. Junto a ela estão: Dianne Wiest (Hannah e suas irmãs e Tiros na Broadway), Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona) e Diane Keaton (Annie Hall, melhor atriz).

Nota: 9/10

Leia também:
Annie Hall
Hannah e suas irmãs
Vicky Cristina Barcelona

Lucas Moura

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Filmes pro final de semana - 18/10

1. A morte passou por perto (Killer’s Kiss, 1954)
A longa carreira de mais de quarenta anos de Stanley Kubrick produziu apenas treze filmes, sendo mais conhecidos os dez que ele lançou a partir de 1957 (de Glória feita de sangue a De olhos bem fechados), quando seu nome passou a possuir fama e prestígio em Hollywood. Mas seus três primeiros filmes também merecem a atenção do público, tanto por valor histórico e também por terem a qualidade que levou Kubrick ao panteão de maiores artistas do cinema. Seu segundo longa, A morte passou por perto, ainda não é bem um longa (menos de 70 minutos de duração), mas conta uma história intensa e interessante. Um boxeador veterano, Darvey Gordon, que há algum tempo vinha decepcionando as plateias, se envolve com uma jovem dançarina de um clube noturno, sem ter noção de quão perigoso é o romance. Bem, só dá pra dizer isso da história, além de que há cenas muito boas de perseguições, ameaças e luta corporal. Outro detalhe bacana é que este filme promoveu o nome do diretor, o fez conseguir recursos para um filme maior (que foi o seguinte, O grande golpe) e não demorou para que Kubrick dirigisse grandes produções. 
Nota: 7,5/ 10 
2. Os sonhadores (The dreammers, 2003) 
Que Bernardo Bertolucci é um diretor polêmico, nem preciso dizer; basta lembrar de filmes como O último tango em Paris. E um de seus mais conhecidos trabalhos dos últimos anos (e consequentemente, polêmicos) foi Os sonhadores, de 2003, que acompanha um jovem americano que estuda em Paris, Matthew (Michael Pitt) que conhece os irmãos gêmeos Theo (Louis Garrel) e Isabelle (Eva Green), ambos apaixonados por cinema como eles. Os irmãos são filhos de um casal de intelectuais que parte numa viagem, e Matthew é convidado para passar um tempo na casa deles. Não preciso dizer que a estadia de Matthew é marcada por eventos no mínimo estranhos, que são um misto de cinefilia, filosofia e sexo – não exatamente relações sexuais, mas várias formas de expressão do sexo. Por trás da sexualidade e eventuais bizarrices, temos aqui um ótimo filme sobre o cinema antigo das décadas de 20 e 30 e a nouvelle vague nos anos 60, além de acompanhar o espírito juvenil durante a inquietação política que marcou a França no ano de 68.  
Nota: 9,0/ 10 
3. Batman Begins (2005) 
Algum membro de uma tribo isolada ou um alienígena pode estranhar, mas o filme menos conhecido as trilogia Batman de Christopher Nolan é o primeiro, Batman Begins. Não que poucas pessoas tenham visto, mas o sucesso dos dois filmes seguintes foi muito maior do que o do primeiro. E apesar de ser um bocado inferior a O Cavaleiro das Trevas, Begins também tem seus créditos e merece sim ser visto. Nele vemos a origem do homem morcego, numa Gotham contaminada pelo crime e pela corrupção. Bruce Wayne (Christian Bale), herdeiro do bilionário conglomerado de empresas da família, é um órfão que perdeu seus pais num assalto e foi criado pelo fiel mordomo Alfred (Michael Caine). Decepcionado com a injustiça e a falta de moral da cidade, parte para uma remota região do Himalaia, onde aprende tudo que precisa para ser um símbolo da justiça que Gotham já não conhece, mas apesar de todo o treinamento, ele descobre que sua missão não é nada fácil. Na minha opinião, o diferencial de Batman Begins é mostrar o passo a passo da criação do Batman, o que a série anterior, cujos dois primeiros filmes são de Tim Burton, não fez. 
Nota: 8,0/ 10 
4. Dançando no escuro (Dancer in the dark, 2000) 
Musical é bom e (quase) todo mundo gosta. Mas deixe de lado a idéia de filmes alegres onde as pessoas cantam do nada de tanto estarem felizes como Cantando na chuva ou mesmo os musicais mais problemáticos como Cabaret; a coisa aqui é muito mais pesada. O musical de Lars Von Trier acompanha a triste saga de uma operária tcheca que mora nos Estados Unidos, Selma (Bjork),que se esforça para juntar dinheiro para uma cirurgia que pode salvar seu filho da cegueira à qual ela própria já está condenada. Como válvula de escape para sua vida sofrida, Selma tem o cinema, onde sempre vai com sua amiga Cathy (Catherine Deneuve) e uma peça na qual atuará... a não ser que uma perversa sociedade a impeça. Como? De um jeito que causa dor a quem assiste. Não é uma questão de bizarrices como em Anticristo, mas o que Selma enfrenta também causa um desconforto enorme – especialidade do brilhante e sádico Lars Von Trier. Filme vencedor da Palma de Ouro e do Prêmio de atuação feminina em Cannes (Bjork). 
Nota: 10 
5. Hotel Ruanda (Hotel Rwanda, 2004) 
Ambientado na Ruanda de 1994, quando a morte do presidente deu inicio a uma guerra civil entre as duas etnias do país, hutus e tutsis, Hotel Ruanda é centrado em Paul Rusesabagina (Don Cheadle), gerente do Hotel Des Milles Collines, propriedade de uma empresa belga. A guerra deu início a um genocídio em que a maioria hutu pretendia dizimar a minoria tutsi, e Paul se vê no meio disso tudo por ter um hotel cheio de turistas estrangeiros e por ser amigo do comandante das forças de paz da ONU no país. Com a ajuda de membros corruptos do governo e com a estrutura do hotel, Paul tenta salvar o maior número possível de tutsis – incluindo ele próprio e sua família. A coragem e solidariedade de Paul fazem sua história muito parecida com a de Oscar Schindler e sua lista; e assim como o filme de Spielberg, esse também é baseado em fatos reais. 
Nota: 9,0/ 10   
6. 72 horas (The next three days, 2010) 
John (Russel Crowe) é um professor universitário casado com Lara (Elizabeth Banks) e tem um pequeno filho de três anos. A vida perfeita do casal desmorona quando Lara é acusada de assassinar brutalmente a chefe, é condenada e perde todos os recusos nos tribunais. Condenada à mais de vinte anos, após alguns anos ela perde a esperança e chega a tentar suicídio. John, desesperado, decide tirar sua mulher da prisão, ou morrer tentando. O problema é: como tirar alguém de um presídio de segurança máxima sem registro de fugas? O professor passa a juntar dinheiro e a lidar com todo tipo de gente se preparando para realizar o arriscado e quase impossível plano. Ação e tensão do primeiro ao último minuto, coroado com a ótima atuação de Crowe. 
Nota: 7,0/ 10 
7. Valente (Brave, 2012) 
O décimo terceiro filme da Pixar é o primeiro a ter uma protagonista feminina. A princesa Merida, filha do rei Fergus e da rainha Elinor, é uma habilidosa arqueira que pretende traçar seu próprio destino, diferente de todas as outras princesas. Ela não pretende casar e viver num castelo, mas passar a vida atrás de aventuras. O principal obstáculo: sua mãe. E é por isso que Merida recorre a uma bruxa, mas a ajuda vem na forma de maldição. É justamente aí que Merida vai ter que demonstrar coragem como nunca, para desfazer a maldição enquanto é tempo. O filme é ótimo, muito engraçado e é impossível não se envolver com a história da jovem princesa de cabelos rebeldes e espírito indomável - detalhe pro cabelo ruivo, que parece estar pegando fogo e traduz perfeitamente a rebeldia da princesa. 
Nota: 8,0/ 10
Luís F. Passos

domingo, 13 de outubro de 2013

Gravidade - a ficção científica obrigatória de 2013

A nova produção do diretor Alfonso Cuarón é impressionante do começo ao fim. Gravidade (Gravity, 2013) narra a verdadeira epopeia da cientista Ryan (Sandra Bullock) tentando sobreviver no ambiente mais inóspito e pouco conhecido pelo homem: o espaço. Durante uma simples missão de reparos na estação espacial, Ryan, Matt (George Clooney) e os demais ocupantes da nave são atingidos por uma chuva de destroços de satélites que desencadeiam uma perigosa e imprevisível reação em cadeia que destrói tudo que está pelo caminho.
Os perigos da jornada incerta de Ryan em busca de sua sobrevivência são dos mais diversos possíveis. A cientista passa por tudo o imaginável e o imaginável nos poucos mais de 90 minutos do filme. Por estar sempre no limite físico e psicológico, o filme se aproveita para deixar um pouco de lado sua parte técnica e visual e se adentrar mais numa questão mais psicológica e filosófica, propondo provações pessoais às personagens. São questionados pontos dramáticos, principalmente a questão da mortalidade humana e o quanto somos fracos, impotentes e pequenos diante a grandeza do universo. Alguns detalhes da vida passada de Ryan também vão sendo revelados com o passar da trama, adicionando carga dramática e aumentando em algumas camadas a personagem muito bem interpretada por Sandra Bullock, que volta a um ambiente de ação onde não aparecia há um bom tempo. A dramaticidade é interessante e quase sempre fica bem no filme, mas em alguns momentos torna-se meio piegas. Algumas vezes, me peguei ansioso para saber a resolução do caso enquanto o filme se preocupava muito com questões dramáticas até clichês, sobretudo no final em que o drama se torna quase apelativo e caricato. Não chega a ser ruim em nenhum momento, mas essa energia desperdiçada com um drama quase exagerado poderia ter sido canalizada para aumentar os elementos chave do filme: a tensão, a sensação de imprevisibilidade e incapacidade que deixa o espectador num nível basal de ansiedade e curiosidade que é muito bom.


Dramas à parte, o que sustenta Gravidade é a parte técnica. E nisso o filme é impecável. A construção do ambiente é fenomenal e poucas vezes vi um filme de ficção científico tão bem realizado quanto este. O visual de Gravidade é fantástico. Do primeiro ao último minuto do filme, somos levados ao mais alto nível de realismo possível para um enredo tão improvável que se passa num ambiente tão difícil de trazer para nossa realidade. Isso faz o filme tornar-se algo possível de acreditar, permite que torçamos mais pelas personagens (torcemos por suas vitórias, lamentamos suas perdas) e definitivamente prende nossa atenção. A preocupação técnica se faz em todos os elementos, seja pela bela fotografia que inclui imagens belíssimas da Terra pelo ponto de vista espacial, pela trilha sonora interrompida por silêncios absurdos ou pela edição rápida que faz o filme de 90 minutos ser sempre ágil. O clima do filme é tão palpável que o espectador até é capaz de sentir o que está acontecendo, e é divertido perder-se à deriva junto às personagens.

Gravidade também se aproxima de outros filmes de ficção científica. O simples fato de tratar-se de questões espaciais o aproxima de Apollo 13 – do desastre ao triunfo, a qualidade técnica que remete às inovações tecnológicas de 2001 – uma odisseia no espaço e a escolha da protagonista é muito influenciada pela Ripley (Sigourney Weaver) de Alien. Em 79, Ridley Scott já havia provado que se a Terra é dos homens o espaço é das mulheres, pois Ripley é quase indestrutível. Bem assim é Ryan. A personagem mais forte, resistente e persistente o possível, elevando o instinto de sobrevivência ao patamar mais alto. No momento, a digna atuação de Sandra Bullock está bem cotada para uma indicação ao Oscar de melhor atriz, o que a aproximaria ainda mais de Sigourney Weaver, visto que esta recebeu indicação na categoria por seu trabalho em Aliens. Se a indicação ocorrer, não será desmerecido, assim como a provável indicação do filme a melhor filme. Dos filmes de 2013 que vi, é de longe o melhor e mais convincente. Sempre reclamo de filmes que dependem muito de sua parte técnica para atraírem o público, mas me rendi a Gravidade.

Nota: 9.5/10

Lucas Moura

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Filmes pro final de semana - 11/10

1. 127 horas (127 hours, 2010)
Um dos maiores destaques entre os grandes filmes do Oscar 2010/ 2011 foi o longa estrelado por James Franco e baseado na história real do alpinista Aron Ralston, que sofreu um acidente e ficou preso por uma pedra por mais de cinco dias numa fenda no Grand Canyon, tendo como companhia apenas uma câmera com a qual gravou pequenos depoimentos de seu infortúnio, um pequeno cantil com cada vez menos água e uma faca quase cega, com a qual seria quase impossível fazer o ato desesperado que poderia tirá-lo dali: cortar o próprio braço. Ao longo de noventa minutos de filme, vemos o ótimo trabalho de James Franco, que leva praticamente sozinho a história e transmite todos os sentimentos de Aron, principalmente o medo de morrer num buraco no meio do deserto. Excelente atuação que rendeu ao ator tudo que foi indicação, ao Oscar, Globo de Ouro, SAG, etc... mas tinha um Colin Firth em O discurso do rei no meio do caminho.
Nota: 9,0/ 10
2. Reencontrando a felicidade (Rabbit Hole, 2010)
Só quem já perdeu alguém próximo, seja parente, amigo ou outro ente querido sabe a dor que a morte pode causar. E essa dor tem fim? É essa a pergunta que Reencontrando a felicidade levanta a partir de um casal, Becca (Nicole Kidman) e Howie (Aaron Eckhart), que perdeu o pequeno filho num acidente de carro. Enquanto Howie tenta tocar a vida pra frente com o apoio de grupos e da fé, Becca parece rejeitar qualquer tipo de ajuda, ansiando apenas ficar sozinha com sua dor - a não ser pena estranha amizade que inicia com Jason, o garoto que dirigia o carro que atropelou seu filho. E ainda há a mãe de Becca, Nat (Dianne Wiest), que tenta ajudar a filha, já que também perdera um filho, apesar da relutância dela. E talvez, a dor nunca acabe, mas se torne possível de conviver. Ótimo filme, com maturidade e sensibilidade na medida certa, além de marcar a volta dos grandes trabalhos de Nicole Kidman.
Nota: 8,5/ 10
3. Forrest Gump - O contador de histórias (Forrest Gump, 1994)
Eu definitivamente não sou fã de Forrest Gump, mas não posso discordar de que é uma interessante e bem feita história. Tudo começa num ponto de ônibus, onde um homem se senta... e claro, conta histórias. Mais exatamente as histórias de sua vida. Forrest Gump (Tom Hanks) é um simpático débil mental com QI de 75 e uma habilidade inacreditável para jogar pingue-pongue e correr (Run, Forrest, run!!). Forrest consegue a proeza de participar de alguns dos maiores acontecimentos do mundo entre as décadas de 50 e 80, como a Guerra do Vietnã e o Festival de Woodstock e conheceu figuras como John Kennedy, Lyndon Johnson e Richard Nixon. A vida de Forrest também é marcada por uma amizade/ paixonite de infância, Jenny, que não convence muito a quem assiste. Lembrando que Tom Hanks saiu vencedor do Oscar de melhor ator, seu segundo, e o filme ainda venceu melhor filme, roteiro adaptado, diretor, efeitos especiais e edição. De novo: venceu melhor filme e diretor. Derrotou quem? Pulp fiction e Tarantino. Mais um motivo pra eu não gostar dele.
Nota: 7,0/ 10
4. Os homens preferem as loiras (Gentlemen prefer blondes, 1953)
Cuidado ao dizer que Diamonds are a girl's best friend é coisa de Moulin Rouge ou mesmo da Madonna. A canção foi imortalizada por Marilyn Monroe nesse filme de 1953 em que ela interpreta Lorelei, uma showgirl que faz dupla com Dorothy (Jane Russell) e é noiva do jovem milionário Gus (Tommy Noonam). Quando as coristas precisam ir à Europa por trabalho, Gus dá a Lorelei uma carta de crédito razoável, mas seu pai, que desconfia da moça, manda investigá-la e acaba porvocando o fim do noivado. As duas moças então precisam se virar em Paris, e o jeito é fazer o que elas sabem melhor: cantar e dançar. O resultado é um misto de musical e comédia romântica muito bacana com uma certa acidez ao criticar a caça a fortunas e com muito glamour de duas grandes estrelas da época.
Nota: 8,0/ 10
5. Era uma vez em Tóquio (Tokyo Monogatari, 1953)
Um casal de idosos deixa sua filha mais jovem em casa, no campo, e vai visitar seus outros filhos na capital Tóquio, cidade que eles não conheciam. Porém os filhos já tinham suas próprias vidas e famílias e mal escondiam estar evitando os pais, na dura e atarefada vida do Japão pós-guerra. A única que parecia estar sempre disposta a fazer companhia e dar atenção aos velhos era a nora viúva que perdera o marido na guerra. Não que o casal reclamasse, tampouco a nora. Durante duas horas acompanhamos os idosos e suas constatações sobre velhice e relações familiares, inclusive a dolorosa mas talvez inevitável certeza do abandono dos mais jovens em relação aos mais velhos. O filme é muito sutil, delicado, discretamente lento, e essa leveza parece perfeita para acompanhar os gentis costumes japoneses e a melancólica saga do casal de idosos. Difícil aqui só é diferenciar todas as personagens... desculpem a piada.
Nota: 10

domingo, 6 de outubro de 2013

Moonrise Kingdom - frescor infantil para adultos

Demorei a conferir o último trabalho do diretor Wes Anderson. Na verdade, acho que demorei tempo demais. Estou totalmente apaixonado pelo carisma e pela qualidade de um filme que não reservava, exatamente, questionamentos sobre sua grande qualidade, mas que mesmo assim mostrou-se, para mim, muito melhor do que o que eu imaginava. Estou falando do sucesso de Cannes em 2012, Moonrise Kingdom.



O enredo é simples e quase banal, mas a maneira como se desenrola é especial e cativante. O filme conta a história de um casal de jovens de apenas 12 anos de idade que decidem se encontrar em um local, marcado através de cartas pelas quais se corresponderam por um tempo, na ilha em que vivem e fugirem juntos. Partir para uma vida melhor, de novas perspectivas, longe das enfadonhas frustrações de suas vidas cotidianas. O menino, Sam, é um órfão que sente-se incompreendido e rechaçado pelo grupo de escoteiros ao qual faz parte. A menina, Suzy, sente-se incompreendida e injustiçada dentro de um meio familiar desestruturado.



A vida em fuga dos dois se inicia, mas logo é interrompida pelos adultos (policiais, chefe dos escoteiros, assistente social, familiares) que querem impedir que esta loucura infantil tomasse consequências trágicas. E, de fato, tragédias acontecem ao longo da trama. Não por parte dos garotos, mas da intromissão de outros em seus planos. O fato é que Sam e Suzy, apesar de guiados por sentimentos imaturos que definitivamente não levariam a nada de bom na vida real, tem uma segurança e uma coragem que contrasta com o descontrole dos adultos do filme, que não tem qualquer controle sobre suas vidas e são apáticos demais para procurar alguma nova direção – algo que os dois estão aptos e dispostos a fazer.



O interessante em Moonrise Kingdom é que é um filme extremamente diverso. Através de imagens e cenários belos, naturais e minuciosos, Wes Anderson conta uma história que nos dá um pouco de tudo: momentos de tristeza, momentos de comédia e momentos trágicos que são todos marcados por grande sensibilidade e carisma. A tristeza e a tragédia são pontos fundamentais tendo em vista o lado psicológico conflituoso das protagonistas. Os momentos de comédia são quase todos fundamentados no absurdo – marca registrada do trabalho de Wes Anderson. O romance também é um dos pontos altos da trama, tendo em vista que o filme se esforça a retratar o improvável casal com a máxima pureza de sentimento possível. Enfim, o filme é uma graça. Ah, além de tudo o elenco é fantástico.

Nota: 10






Lucas Moura

sábado, 5 de outubro de 2013

Kate Winslet

Hoje é aniversário de uma das melhores atrizes do cinema dos últimos anos: Kate Winslet. Nome conhecido entre cinéfilos ou não, Kate é uma combinação perfeita de popularidade e talento, sendo, ao mesmo tempo, uma atriz extremamente reconhecida por público e crítica, tendo em sua filmografia uma lista extensa de trabalhos dos mais diversos possíveis.


A carreira de sucesso de Kate iniciou-se em 1994 com Almas gêmeas, filme Cult/independente do então desconhecido Peter Jackson (o nome por trás da trilogia O senhor dos anéis e também por O hobbit, King Kong entre outros filmes bons e megalomaníacos). Com seu reconhecimento por este trabalho, Kate conseguiu um papel de coadjuvante na adaptação de Ang Lee da obra de Jane Austen, Razão e sensibilidade, pela qual recebeu sua primeira indicação ao Oscar (como melhor atriz coadjuvante). Os sucesso destes dois trabalhos, e de outros menores, levaram Kate a ser escalada para o filme mais grandioso dos anos 90: Titanic. Como não associar o nome da atriz com Rose, sua personagem principal neste filme? O sucesso  estrondoso (pra dizer o mínimo) de Titanic a elevou automaticamente a categoria mais alta de Hollywood, de onde não saiu nesse últimos 16 anos.

Apesar de ter tomado frente de um projeto tão popular e dispendioso como Titanic, Kate Winslet nunca demonstrou grande interesse em filmes megalomaníacos como este. De fato, se for analisar minimamente a carreira da atriz percebe-se claramente que Titanic é um estranho no ninho dentre todos seus trabalhos, que são, em sua maioria esmagadora, filmes menores, para públicos mais restritos e, principalmente, filmes muito pessoais. Então, nos anos que se seguiram após Titanic, Kate não pontuou superproduções hollywoodianas, mas sim pequenos filmes, sejam mais ácidos como Contos proibidos do marquês de Sade ou mais intimistas como Iris.


Ao longo dos anos 2000, Kate praticamente reinou no cinema americano, colecionando quatro indicações ao Oscar (as outras duas vieram ainda nos anos 90 – Razão e sensibilidade e Titanic, obviamente). Esses quatro filmes foram: Iris, Brilho eterno de uma mente sem lembranças, Pecados íntimos e, o filme que lhe deu o prêmio: O leitor. O interessante é notar que estes filmes são incrivelmente divergentes entre si. Iris é mais intimista. Brilho eterno é um romance totalmente fora do padrão convencional em que Kate vive uma antológica Clementine. Pecados íntimos mostra a atriz mais sexual do que nunca (sexualidade – não vulgaridade – é um elemento marcante em quase todas as personagens de Kate). O leitor talvez seja o que exigiu uma maior carga dramática e veio no mesmo ano que um interessantíssimo e desconfortável Foi apenas um sonho, filme que recria a parceria com Leonardo Di Caprio em que os dois vivem o fim do sonho americano. Assistir Foi apenas um sonho é uma experiência muito curiosa de observação da evolução artística dos dois atores. Por Foi apenas um sonho, venceu o Globo de ouro de melhor atriz (sendo que na mesma edição do prêmio venceu melhor atriz coadjuvante por O leitor – massacrando a concorrência).

Atualmente, Kate Winslet pisou um pouco no freio e apresenta um número menor de grandes trabalhos como fazia nos anos 2000, mas mesmo assim ainda foi capaz de transportar seu talento para a televisão, onde protagonizou a adaptação do filme dos anos 40, Mildred Pierce (papel originalmente vivido por Joan Crawford), em que interpretou o papel principal e ganhou todos os principais prêmios de atuação feminina para a televisão (SAG, Emmy e Globo de Ouro). A impressão que dá é que a versatilidade e o talento de Kate são mesmo inesgotáveis.


Filmes que vocês não podem deixar de ver: Razão e sensibilidade, Titanic (caso algum alien não tenha visto ainda), Brilho eterno de uma mente sem lembranças, Pecados íntimos, O leitor e Foi apenas um sonho.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Filmes pro final de semana - 04/10

1. Um sonho de liberdade (The Shawshank Redemption, 1994)
Pequeno clássico dos anos 90, é um leve mas ótimo drama ambientado numa prisão americana nos anos 40 e centrado no jovem banqueiro Andy  Dufresne (Tim Robbins), condenado à prisão perpétua acusado do homicídio de sua esposa e do amante dela. Na cadeia, ele conhece Red (Morgan Freeman), com quem constrói uma forte amizade. Andy vai se adaptando à prisão e ganhando certa proteção do diretor e dos guardas por resolver os problemas com contabilidade, se esquivando de valentões e conseguindo ocasionais presentes para si e seus companheiros. Ao longo de mais de vinte anos de história, vemos as dificuldades enfrentadas por Andy e seus esforços para superá-las, inclusive conseguindo transformar a biblioteca da prisão. Através de um roteiro sólido e de um ótimo trabalho de direção, Robbins e Freeman lideram um filme coeso, forte e carismático conto originalmente escrito por Stephen King - sim! Nem só de terror vive o cara.
Nota: 8,0/10
2. Memórias de uma Gueixa (Memoirs of a Gueisha, 2005)
Baseado no best-seller homônimo de Arthur Golden, o filme é extremamente fiel ao livro - e ótimo para ilustrar a beleza do Japão pré-Segunda Guerra, militarista, desenvolvimentista e onde as gueixas tinham importante papel na sociedade (ou a margem dela). Chiyo é uma garota pobre, filha de pescador, que perde a mãe e é vendida para uma casa de gueixas em Kyoto. Lá ela recebe a missão de aprender tudo para se tornar uma gueixa, como escrita, dança, música e etiqueta, e conhece aquela que se tornaria sua maior rival: Hatsumomo, uma linda e famosa gueixa que vê na pequena e desajeitada Chiyo um futuro problema. Mas fora dos problemas dentro da casa, Chiyo conhece um homem elegante e gentil, por quem se apaixona - e cujo destino voltaria a se unir ao dela. Nenhuma obra-prima, mas certamente um agradável e interessante filme sobre amor e a cultura oriental.
Nota: 7,0/ 10
3. Kramer vs Kramer (1979)
Ah, a Nova Hollywood. Uma geração brilhante, promissora, ousada, revolucionária, que salvou a indústria do cinema americano... mas que não demorou muito mais que uma década. E o início do fim foi na premiação do Oscar de 1979/1980, em que o épico e gigantesco Apocalypse Now de Francis Ford Coppola e todo seu horror da Guerra do Vietnã foram derrotados para o drama familiar de Kramer vs Kramer. Estrelado por Dustin Hoffman e Meryl Streep, premiados respectivamente com Oscar de melhor ator e atriz coadjuvante, o filme acompanha o súbito fim do casamento de Ted Kramer (Hoffman) e sua esposa Joanna (Streep), motivado pela dedicação dele ao trabalho e não à família. Joanna se vai e deixa Ted com o pequeno filho Billy, e o executivo precisa se desdobrar em pai e mãe, sendo que ele mal fazia o primeiro papel como deveria. E quando Ted se acostuma à nova rotina... Joanna volta para brigar pela guarda do filho. O resultado? Uma batalha judicial que comoveu os Estados Unidos e derrotou um dos melhores filmes já feitos. Mas como a gente sabe que qualidade não é o único aspecto analisado pela Academia... a gente deixa pra lá e aproveita essa beleza de filme.
Nota: 8,5/ 10
4. A pele que habito (La piel que habito, 2011)
Fúria. Loucura. Paixão. Elementos novelescos e claro, onipresentes da obra de Pedro Almodóvar. Este filme de 2011 ganhou imensa popularidade por trazer esses três elementos com mais intensidade que o normal a ponto de chocar o espectador; muitos o classificam como terror (inclusive o próprio diretor), mas eu prefiro chamar de horror. A diferença? A intenção aqui não é apavorar o espectador, e sim impressionar, e muito. Antônio Banderas interpreta um cirurgião plástico muito competente, um cientista inovador cujo único, mas grande defeito é o desprezo à ética. Um de seus mais promissores e polêmicos trabalhos é o desenvolvimento de uma pele artificial cuja aparência é a da pele humana, mas é mais resistente. E para cobaia, ele usa alguém que fez coisas que o atingiram fortemente naquilo que ele considerava mais precioso. O que? Assista para descobrir. Garanto que é um prazer imenso descobrir os segredos que Almodóvar tem a revelar pouco a pouco e que deixou boquiabertas plateias de todo o mundo.
Nota: 9,0/ 10
5. Mamma Mia! (2008)
Na entrega do Oscar de melhor atriz ano passado, Colin Firth arrancou muitas risadas dizendo para Meryl Streep: "Meryl... Mamma Mia! Estávamos na Grécia, cantávamos, eu era gay e éramos felizes". Esse trecho da fala de Firth remete ao musical que só usou músicas da banda sueca Abba, sucesso anos anos 70 e 80 com melodias grudentas e uma impressionante harmonia entre as vozes de suas vocalistas. No filme Meryl Streep vive Donna, americana que mora numa pequena ilha grega onde mantém um velho hotel, do qual toma conta praticamente sozinha. Donna está organizando o casamento de sua única filha, Sophie (Amanda Seyfried), cujo sonho é conhecer o pai, de quem a mãe nunca falou. Investigando antigos diários de Donna, Sophie chega a três prováveis candidatos: Sam (Pierce Brosnam), Harry (Firth) e Bill (Stellan Skarsgard). Qual dos três é o verdadeiro pai de Sophie? E o reencontro de Donna com seus ex-namorados pode trazer a tona algum amor do passado? Assista, descubra, e reze para esquecer as várias músicas que grudarão em sua cabeça.
Nota: 8,0/ 10
Luís F. Passos