Nos anos 20, a chamada polícia federal dos Estados Unidos
era quase uma piada. Faltava estrutura, funcionários e principalmente o poder
de atuação que é tão famoso nos dias de hoje. Tudo mudou com o brilhante e
ambicioso John Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio) que entrou na agência como
assistente do diretor e não tardou a ocupar o cargo do chefe. No comando do
FBI, Hoover criou o conceito de uma polícia moderna, investigativa e com a
capacidade de cruzar e gerar dados dos cidadãos como nenhuma outra no mundo.
Tamanha dedicação lhe rendeu a segurança no cargo por nada menos que 48 anos,
só deixando a diretoria da agência no caixão. Em todo esse tempo os Estados
Unidos tiveram oito presidentes e mais de vinte secretários de Estado, todos
devidamente investigados por Hoover, que encomendou dossiês sobre a vida de
quase todas as figuras públicas do país – apesar dos feitos heróicos, o diretor
também tinha um lado obscuro que incluía ir contra Martin Luther King e a luta
pelos direitos civis. É essa uma das qualidades do filme: a imparcialidade. A
direção de Clint Eastwood expõe as várias facetas de Hoover através da atuação
fenomenal de DiCaprio, mostrando além de sua trajetória, a fonte de várias
contradições da personalidade complexa e fascinante que foi J. Edgar Hoover.
Obs: na minha opinião, a atuação de DiCaprio foi a melhor desse ano, junto com a de Ryan Gosling em Drive. Nenhum dos dois atores foi indicado ao Oscar.
Nota: 9,5/ 10
Na Irlanda vitoriana, o austero mordomo de hotel Albertt
Nobbs guarda um segredo: é, na verdade, uma mulher, que há 30 anos usa roupas e
identidade masculinas para poder trabalhar. Albert, interpretado por Glenn
Close, é um exemplo de dedicação ao trabalho e discrição, o que lhe garante o
respeito de todos os colegas e hóspedes do hotel. O filme gira em torno da
figura do mordomo a partir de sua amizade com o pintor Hubert Page (Janet
McTeer) e sua relação com o casal de amantes formado pela copeira do hotel
Helen e o misterioso Joe, desempregado que aparecera no hotel e se oferecera
para fazer bicos. No longa, se destacam as atuações de Glenn Close e Janet
McTeer, ambas indicadas ao Oscar. Glenn, inclusive, também é co-produtora e
co-roteirista do filme, que é beaseado num conto que também inspirou uma peça
em que a atriz trabalhou na década de 80.
Nota: 8,0 / 10
Nova York, 1964. Numa tradicional e rigorosa escola católica
do Bronx, a diretora, irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), controla com mãos
de ferro a educação de seus alunos. A igreja é vinculada à igreja local, e
consequentemente o pároco padre Brendan Flynn (Phillip Seymour Hoffman) também
tem algum poder na administração escolar, além de dar aulas de educação física.
A partir de um comentário feito pela irmã James (Amy Adams) sobre o excesso de
atenção dada pelo padre ao único aluno negro da escola, Donald Miller, a irmã
Aloysius começa uma verdadeira cruzada buscando a verdade por trás do padre,
cujo comportamento liberal irrita a conservadora freira. Além do drama denso e
muito bem elaborado, o filme é sustentado pelas excelentes atuações de seus
três protagonistas, ambos os três indicados ao Oscar, e de quebra traz um fator
adicional: Viola Davis, na época não muito conhecida, que aparece menos de dez
minutos do filme mas é responsável por uma cena excelente junto a Meryl Streep
(aliás, o trabalho de Meryl aqui é um dos que mais gosto na carreira dela) e
também foi indicada a melhor atriz coadjuvante.
Nota: 8,5/ 10
4. O garoto (The kid, 1921)
Uma mãe pobre, um bebê abandonado, um assalto a uma mansão e eis que surge uma criança no caminho de nosso velho amigo Carlitos (Charles Chaplin). O vagabundo tenta se esquivar do pequenino que o destino pusera em sua vida, mas aceita cria-lo, apesar da pobreza em que vive. Cinco anos depois, o pequeno ajuda seu pai adotivo no ofício de vidraceiro - de um jeito não muito honesto, verdade - e os dois se viram como podem. Ao mesmo tempo, a outrora pobre mãe se tornara uma rica estrela de cinema que pratica caridade na tentativa de curar as mágoas do passado sobre o filho abandonado. Coincidências poderão fazer com que a mãe reencontre seu filho? Ao longo de 50 minutos Chaplin conduz uma história muito emocionante e claro, muito engraçada, por exemplo com a famosa cena em que ele e o menino fogem de um policial após destruir uma vidraça. Nenhuma palavra falada (o filme foi feito seis anos antes do cinema falado), mas emoção de sobra.
Nota: 8,0 / 10
5. Poderosa Afrodite (Mighty Aphrodite, 1995)
De todos os filmes genuinamente cômicos de Woody
Allen, um dos mais divertidos e inusitados é mesmo Poderosa Afrodite.
Uma mistura criativa e genial de romance americano com tragédia grega,
aliados aos elementos de comédia já clássicos na filmografia do diretor,
bem como esboços de suas reflexões usuais, que aqui aparecem quase em
segundo plano. Em primeiro plano, uma trama enrolada e quase novelesca
pautada na busca de um homem judeu de meia idade (Woody Allen) pela mãe
de seu filho adotivo. A grande diversão de Poderosa Afrodite é ver a
relação afetiva (não exatamente amorosa) que ocorre entre as
personagens, tendo em vista o quão épica é a personagem interpretada por
Mira Sorvino. Uma das personagens mais interessantes, divertidas e
surpreendentes de toda a filmografia do diretor. Seja como tragédia
grega ou comédia pastelão, Poderosa Afrodite funciona muito bem e não
fica muito atrás dos grandes filmes do diretor.
Nota: 9,5/ 10
Lucas Moura e Luís F. Passos