sábado, 31 de dezembro de 2011

2011, e perdemos Amy

Em 23 de julho desse ano uma notícia chamou a atenção do planeta, e parou o mundo da música: a morte precoce da cantora Amy Winehouse. Amy foi encontrada morta em seu quarto por um segurança. A cantora tinha apenas 27 anos e entrou, assim, para o "Clube dos 27", uma lista de grandes artistas que faleceram aos 27 anos, como Jimi Hendrix, Jim Morrison e Janis Joplin.
Um último presente aos fãs: o cd Amy Winehouse - Lioness: Hidden Treasures, que traz músicas inéditas e versões de clássicos gravadas pela saudosa inglesa. Uma que muita gente já conhece é Body and soul, que Amy gravou com Tony Bennett para compor o disco Tony Bennett: Duets II, cujo clipe coloco abaixo.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Cantando na chuva - just singin' in the rain

Acho que qualquer pessoa com acesso a um computador ou mesmo a  uma televisão já viu a cena - uma das mais populares do cinema - em que Gene Kelly canta e sapateia na chuva, mais feliz que pinto no lixo (e quem não viu a original, deve ter visto alguma paródia, como em Laranja Mecânica, 1971). Mas Cantando na chuva (Singin' in the rain, 1952) é muito, muito mais que essa cena. É um filme musical muito divertido, que me conquistou - e olhe que eu não sou o maior fã do gênero. Já revi o filme algumas vezes, de tanto que gostei dos números musicais. É leve, muito engraçado, e faz esquecer os problemas e ter vontade de ser feliz.
Em 1925, Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen) eram os rostos mais queridos do cinema mudo de Hollywood. Sempre faziam par romântico nos filmes, por isso as revistas os mostravam como um casal, o que não era verdade - na verdade, Don mal conseguia aturar Lina. O filme começa com o lançamento de "The Royal Rascar", novo filme estrelado pela dupla e mais um sucesso de público.
Depois da estreia Don vai com seu melhor amigo Cosmo (Donald O'Connor), músico que compõe as trilhas sonoras dos filmes, para a festa que seria dada pelo diretor do estúdio, R. F. Simpson (Millard Mitchell), em sua homenagem. No caminho há um pequeno acidente, e ele conhece a atriz Kathy Selden (Debbie Reynolds), que diz que seus filmes são fúteis e ele não passava de um ator medíocre. Don fica perturbado com as palavras da jovem, a qual encontra mais tarde na festa de Simpson - saindo de um bolo para fazer um número como corista. O ator zomba dela, que criticava atores mas era apenas uma figurante, e ela joga uma torta em seu rosto - que acerta Lina, e esta fica furiosa.
Na festa de R.F., é apresentado o projeto do cinema falado, que por ser uma grande novidade é chamado de tolice, ninguém achava que ia dar certo - exceto Cosmo, que disse que "falaram o mesmo do automóvel". R.F. não tinha uma opinião formada, mas disse que eles deveriam ficar atentos, pois outro estúdio estava fazendo um filme cantado.
As semanas passam, mas Cathy e suas palavras agressivas ficam na cabeça de Don, que andava meio triste por causa delas. Cosmo encontra a jovem numa gravação nos estúdios, e leva Don até ela. Eles resolvem suas diferenças e o galã se mostra apaixonado por Kathy. Mais uns dias passam, e o primeiro filme falado de Don e Lina, "O Cavaleiro duelista", é lançado, mas por causa de erros técnicos, é um fiasco. Kathy e Cosmo vão para a casa de Don, que estava frustrado com o filme, e surge a ideia de fazer um filme cantado. O problema seria Lina, que apesar de ser linda, tinha uma voz aguda e estridente, mas Cosmo sugere que Kathy a duble em todo o filme. Parecia estar tudo resolvido, então Don vai levar Kathy em casa, na chuva, e é nessa hora que tem a famosa cena.
Depois disso ainda tem um bocado de história, e um final belíssimo e surpreendente. Vale a pena conferir. Cantando na chuva é um clássico dos musicais que foi religiosamente trabalhado - a MGM tirou do baú algumas canções de musicais bem ou mal-sucedidos dos anos 20 e 30 e as entregou para seus diretores dizendo "façam um filme". E eles fizeram com maestria. Especialmente Gene Kelly, que tinha fama de carrasco (conta-se que Debbie Reynolds, que tinha apenas 17 anos, sofreu com o velho Kelly); mas o resultado final ficou ótimo. Os números musicais, que são quase dez, exibem o talento dos três protagonistas, tanto no canto como na dança. Eu pessoalmente prefiro a personagem de O'Connor, Cosmo, que é o mais espontâneo, engraçado e criativo. Mas todas as personagens fazem o filme valer a pena, desde a arrogante e insuportável Lina - ótimo trabalho de Jean Hagen, que recebeu indicação ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante - até a doce e talentosa Kathy.
Por trás do enredo relativamente simples o filme traz ótimas referências da transição do cinema mudo para o cinema falado, que foi a maior revolução de Hollywood. A história aliada ao perfeccionismo técnico fez de Cantando na chuva o melhor musical já produzido por Hollywood e um dos melhores filmes de todos os tempos (20º na lista da Sight and Sound). Afinal, sabemos que o simples pode ser excelente desde que seja bem trabalhado e despretensioso. Ótima pedida pro fim de ano.

Luís F. Passos

domingo, 25 de dezembro de 2011

Dez livros em 2011 (2)

Dando continuidade à lista com os livros que mais gostei de ler em 2011, chego aos cinco preferidos. E deles, 4 são nacionais! Isso porque esse ano resolvi ler alguns clássicos e outros nomes de peso, pra dar uma valorizada às minhas longas férias (ah, que saudade delas). Bem, vamos aos livros.

5. O Continente I e II: a primeira parte da trilogia O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo (isso, sem acento) é dividida em dois volumes (confira posts aqui e aqui). Neles Verissimo começa a contar a história gaúcha através das gerações da família Terra Cambará, das Missões Jesuíticas de Sete Povos até a Revolução Federalista de 1895, passando por personagens inesquecíveis como Ana Terra e o capitão Rodrigo Cambará, típicas figuras gaúchas. O Continente passa por mais de 200 anos de história, preparando o leitor para as partes seguintes da trilogia: O Retrato, com dois volumes, e O Arquipélago, com três volumes. O autor merece os parabéns não só pela obra, muito rica, como também pela extensa pesquisa histórica realizada para que os romances fossem escritos.

4. O Estrangeiro: (post aqui) livro mais conhecido do argelino Albert Camus, O Estrangeiro narra a história de Mersault, homem aparentemente desprovido de emoções, especialmente aquelas pré-estabelecidas por valores sociais. Mersault perde sua mãe e não sente nada; começa um relacionamente onde não sente nada; mata um homem sem sentir nada. A falta de remorso de ter cometido o crime, além do fato de aceitar sua sentença traquilamente, é o meio que Camus usou para tratar do absurdo e do desencanto do homem (principalmente após a Segunda Guerra Mundial).

3. Fogo Morto: lançado em 1943, é o melhor livro de José Lins do Rêgo e é com ele que o autor fecha seu ciclo da cana-de-açúcar. O livro tem três partes, cada uma foca em um dos protagonistas: mestre José Amaro, coronel Lula de Holanda e capitão Vitorino Carneiro da Cunha - ambos os três loucos. A loucura é o segundo principal tema, o primeiro é a decadência do engenho da cana, simbolizado na figura do engenho Santa Fé, do coronel Lula. Ao longo da história, outros temas são tratados, como a solidão, o preconceito, o cangaço, a violência da polícia, a desigualdade social e a fé como refúgio do sofrimento.
Entre os três protagonistas, quem mais se destaca é o capitão Vitorino: uma figura quixotesca que sonha ser prefeito e acabar com os privilégios dos ricos senhores de engenho - mesmo sendo parente da maioria dos fazendeiros ricos da região. Com seu talento, José Lins do Rêgo conseguiu fazer de Fogo Morto não apenas suas obra prima, como também um dos livros mais importantes do Modernismo brasileiro.
 
2. Sagarana: (post aqui) primeiro livro de Guimarães Rosa, é um conjunto de 9 contos ambientados no sertão de Minas Gerais e Goiás.  O livro fala o sertão, de seus acontecimentos e personagens, muitos dos quais envolvem a terra natal do escritor, Codisburgo. Ao longo dos nove contos, vários temas são abordados: os costumes interioranos, o misticismo, romances, violência e pobreza; sendo boa parte das histórias baseadas em relatos que Rosa ouviu em suas andanças pelo sertão como médico e posteriormente como pesquisador.
Sagarana já traz a linguagem complexa e original inventada por Guimarães Rosa, com seus neologismos e arcaísmo, o que chamou logo a atenção de críticos e acadêmicos. Claro que a qualidade dos contos também conta muito, como por exemplo O burrinho pedrês e A hora e a vez de Augusto Matraga.

1. Grande Sertão: Veredas: o "grande" no título parece ser estratégico. Esse livro é gigante em vários aspectos: obra prima do mago das letras Guimarães Rosa, foi considerado um dos melhores exemplos de literatura universal no século XX. Também é um dos livros brasileiros que mais vendeu exemplares no exterior e um dos mais debatidos em teses acadêmicas.
Se trata de um monólogo narrado pelo ex-jagunço Riobaldo Tatarana, já em sua velhice. Riobaldo se dirige a um interlocutor não identificado - um "doutor" - narrando sua "Travessia", ou a história de sua vida. Nascido no sertão mineiro, foi criado pela mãe e depois pelo padrinho, até entrar no grande bando de jagunços de Joca Ramiro, onde cria uma forte amizade com Reinaldo Diadorim. O fato que dá ação à história é o assassinato de Joca Ramiro, por parte dos seus sub-chefes Hermógenes e Ricardão. Diadorim revela que Joca Ramiro era seu pai, e Riobaldo promete ajudar o amigo a vingar a morte, tomando a liderança do bando e partindo em busca dos traidores.
A universalidade da obra se apresenta através dos pensamentos de Riobaldo: seus sentimentos por Diadorim,  a dúvida sobre a existência do diabo - e um pacto com o dito cujo - e o seu contato com o sertão, além de outras angústias pessoais. Esse é um dos méritos de Guimarães Rosa: universalizar o regional. A obra se desenvolve de tal jeito que o sertão não é só o cenário no interior mineiro, mas também a aridez da alma humana.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Dez livros em 2011 (1)

Entrando no clima de fim de ano, vou falar dos dez livros que mais gostei em 2011. Por causa das longas férias que tive, li bastante esse ano, mas confesso que deixei de ler alguns dos livros que eu tinha reservado. Alguns dos livros já foram comentados aqui no blog, então vou pôr o link para que os leitores possam ter uma melhor descrição.

10. Eu sou o mensageiro: livro de Markus Zusak, autor do consagrado A menina que roubava livros. Foi o primeiro livro que concluí no ano, em janeiro, e foi numa fase muito boa pra mim, ainda na comemoração do resultado do vestibular. O livro fala de Ed Kennedy, um taxista  19 anos que leva uma vida normal (ou frustrada), mas depois de impedir um assalto a banco se torna famoso e passa a receber cartas misteriosas. A partir dessas cartas, Ed tem a oportunidade de interferir e mudar para melhor a vida de algumas pessoas, como uma senhora de 82 anos que sofria com a solidão e até da própria mãe, amarga e que aparentava não gostar dele. É com esse papel de "salvador" que Ed, além de ajudar aos outros, ajuda a si mesmo e chega ao centro de sua existência (profundo, não?). O livro é ótimo, uma leitura prazerosa, vale muito a pena.

9. Harry Potter e a Ordem da Fênix: depois de assistir a HP e a Relíquias da Morte - parte 2, e sentir toda aquela nostalgia pelo "fim" da saga, resolvi ler os últimos livros, mas fiquei só no quinto mesmo. HP e a Ordem da Fênix é o mais extenso dos sete livros (702 páginas) e um dos mais intensos. Depois de passar um verão na casa dos tios sem qualquer ligação com o mundo bruxo (a não ser um ataque de Dementadores), Harry conhece a Ordem da Fênix, organização secreta criada por Dumbledore para combater Voldemort. De volta a Hogwarts, Harry tem de enfrentar as mentiras inventadas sobre ele pelo Ministério da Magia, uma professora sádica enviada pelo Ministério e o difícil primeiro contado com o amor, sempre com o apoio de seus amigos Rony e Hermione.

8. Manuelzão e Miguilim: já falei desse livro noutro post (clique aqui). É uma das partes do ciclo de novelas Corpo de Baile, do brilhante Guimarães Rosa, e um livro com o qual me identifiquei bastante. São duas histórias: a primeira, Campo Geral, de Miguilim, menino pobre do interior mineiro, mas que tem todas as características de uma criança de oito anos: curiosidade, medo, ingenuidade, carinho sincero e espontâneo pela família.
A segunda novela, Uma estória de amor (ou Festa de Manuelzão) narra uma festa na fazenda Samarra, administrada por um senhor conhecido como Manuelzão. O motivo da festa foi a construção de uma igrejinha de Nossa Srª do Perpétuo Socorro, que atraiu toda a população vizinha, e também muita gente de longe. Em meio à organização da festa e junto da família, Manuelzão lembra muitas histórias de sua vida.
A velhice de Manuelzão se une à infância de Miguilim: enquanto o menino vivia constantes descobertas, o vaqueiro experimentava o relembrar e o redescobrir das coisas da vida. Beleza de livro, muito bonito, principalmente a primeira novela.

7. Memorial de Aires: (confira aqui) Depois de inaugurar o Realismo no Brasil e lançar quatro livros imortais nessas características, Machado de Assis muda o estilo para escrever o emocionante Memorial de Aires, em que fica visível o caráter pessoal. O livro mostra um casal de velhos, Aguiar e Carmo, que apesar de muito felizes, não têm filhos. Mas Tristão, afilhado deles, e Fidélia, uma jovem viúva, são tratados pelo casal Aguiar como se fossem filhos deles.
A história é narrada pelo conselheiro José Aires, diplomata aposentado, amigo dos Aguiar e que acompanha o surgimento do amor entre Tristão e Fidélia. No final do livro, a tristeza e solidão sentida pelo casal Aguiar é reflexo do sofrimento do autor, que anos antes havia perdido sua esposa Carolina, por quem era profundamente apaixonado.

6. Leite derramado (post aqui): eleito livro do ano de 2010, é uma obra em que Chico Buarque conquista mais uma vez público e crítica. O livro é um monólogo feito pelo centenário Eulálio Assumpção, membro de uma antiga e nobre família carioca: seu pai foi o senador mais influente da República Velha e entre seus ancestrais há também um senador do Império e um conselheiro da rainha d. Maria I. Mas depois da morte de seu pai, o dinheiro e o poder da família vão se esvaindo, e os descendentes de Eulálio vão caindo na escala social, até que seu tataraneto é apresentado: um playboy envolvido com o tráfico de drogas.
O livro é excelente - o gênio Chico Buarque escreve de maneira magistral, deixando sua marca também na literatura.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Literatura do Nordeste - contra o preconceito

Na última semana o preconceito contra os nordestinos foi novamente assunto na internet por causa de uma menina gaúcha, Sophia Fernandes, que postou no seu twitter frases de ódio contra a região, mostrando bastante ignorância e estupidez. E outra vez os nordestinos (como eu) não ficaram quietos e demonstraram orgulho por sua terra, chamando bastante atenção na rede. A doente mental continuou falando besteira, e sua conta no Twitter foi roubada por um grupo de hackers que se indignou com o preconceito.
Então não custa lembrar uma parte da importância cultural da nossa região, né?
- O primeiro grande escritor brasileiro foi o baiano Gregório de Matos, que viveu no século XVII e é o maior nome do Barroco no Brasil;
- O brasileiro que mais vendeu livros (bons) em todos os tempos foi o também baiano Jorge Amado (O primeiro na verdade é Paulo Coelho, mas como disse, Jorge foi quem mais vendeu bons livros).
- O Nordeste é a região brasileira com mais nomes entre os gênios da literatura nacional: Gonçalves Dias (MA), Castro Alves (BA), José de Alencar (CE), Aluízio Azevedo (MA), Graça Aranha (MA), Augusto dos Anjos (PB), Manuel Bandeira (PE), Jorge de Lima (AL), Rachel de Queiroz (CE), José Lins do Rêgo (PB), Graciliano Ramos (AL), Amando Fontes (SE), João Cabral de Melo Neto (PE), Ariano Suassuna (PB), Ferreira Gullar (MA), Dias Gomes (BA), Nelson Rodrigues (PE), entre muitos outros;
- Um dos melhores contistas do mundo na atualidade é o sergipano Antônio Carlos Viana;
- O berço da Literatura de Cordel no Brasil é o Nordeste, que é a região em que o Cordel mais se desenvolveu. Os maiores nomes são Patativa do Assaré (CE) e José Camelo de Melo Rezende (PB), autor do Romance do Pavão Misterioso;
- Nos últimos anos, entre os escritores brasileiros vencedores de prêmios internacionais, a maioria é de nordestinos, como Ferreira Gullar (Prêmio Camões 2010), João Ubaldo Ribeiro (Prêmio Camões 2008) e o sergipano Francisco J. C. Dantas (Prêmio Internacional União Latina de Literaturas Românicas 2000).
Assim como na literatura, música, artes plásticas e cênicas, artesanato e claro, belezas naturais, o povo nordestino tem motivos de sobra para se orgulhar do lugar onde nasceu. O preconceito é apenas a demonstração de como algumas pessoas são capazes de ignorar a maior riqueza do nosso país: a diversidade.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Desculpem esse sumiço. Não é culpa dos estudos, é preguiça mesmo.
Próxima semana tô de volta com um bocado de post pra compensar a ausência.
Enquanto isso relaxem com um brega uma música antiga que achei.