Direção: Martin Scorsese
Com: Robert De Niro, Ray Liotta, Joe Pesci, Paul Sorvino e Lorraine Bracco
A escória da máfia. Ao mundo que
antes havia idolatrado o alto escalão dos mafiosos ítalo-americanos
apresentados pela trilogia de Coppola, Scorsese nos mostra o baixo escalão
desta mesma instituição, dando um novo ponto de vista de algo já muito familiar.
Os bons companheiros desenvolve-se na
relação entre Henry Hill (Ray Liotta) e sua vida na máfia. Uma vida toda
preparada para fazer parte disto, algo que sempre foi julgado como algo maior.
No meio da confusão e da pobreza dos bairros suburbanos violentos, ser da máfia
representava ser alguém. Scorsese desenvolve desta forma, a ascensão de Henry
para a máfia e como ele construiu destruir-se totalmente uma vez tendo abusado
de todos os privilégios e riqueza que lhe beneficiaram e ultrapassado qualquer
limite e senso de moralidade. Violento do começo ao fim, Os bons companheiros é ironicamente cômico. Situações absurdas
acontecem o tempo todo e risos são inevitáveis. O desenrolar da trama segue uma
sequência não muito imprevisível, mas muito interessante de ser acompanhada.
Representa, também, a terceira derrota mais amarga de Scorsese ao Oscar de
direção. Afinal, temos aqui o terceiro melhor filme do diretor, perdendo apenas
para Taxi Driver e Touro indomável.
Direção: Alfred Hitchcock
Com: Anthony Perkins, Janet
Leigh,
O filme mais reconhecido de
Alfred Hitchcock. Apesar de Um corpo que
cai ter sido escolhido ano passado como o melhor filme de todos os tempos
pela revista Sight and sound, Psicose
é o trabalho mais popular e perturbador do diretor. Hitchcock se dispôs a
assumir um risco pessoal altíssimo ao decidir trabalhar com uma história tão
sórdida, violenta e desagradável quanto à de Psicose. Afinal, nunca antes na história do cinema um monstro era
alguém de carne osso, um ser humano aparentemente comum e normal que sai de sua
banalidade e se transforma no maior psicopata da história do cinema. O choque
das plateias de 1960 era algo inevitável, mas dificilmente foi imaginado que o
filme tomaria a proporção que adquiriu. Enredo inovador, temática assustadora,
técnica perfeita. Estas são as três principais marcas de Psicose. A cena do chuveiro é um ícone. A trilha sonora,
inesquecível. Matar a protagonista antes da metade do filme? Pura ousadia. E as
reviravoltas? Uma melhor que a outra, mais intensa que a anterior. Ainda se
dispõe a análise da mente perturbada do assassino, a qual não é totalmente
elucidada, permanecendo, assim um ar de mistério que é muito importante para
manter o clima do filme. Norman Bates virou uma lenda e o momento mais
arriscado da carreira de Hitchcock tornou-se sua maior consagração. Filme
indispensável.
Direção: Ingmar Bergman
Com: Bibi Andersson, Liv Ullman
Uma experiência cinematográfica
sem igual, Persona é, para mim, o
melhor trabalho de Ingmar Bergman e o melhor filme europeu. Em pouco mais de 90
minutos, Bergman nos mostra quase totalmente através de imagens a complexa
relação entre duas personagens, uma enfermeira e uma paciente, que num curto
espaço de tempo criam uma forte conexão e passam por um processo simbiótico de
personalidades, onde é impossível determinar onde a mente de uma começa e a da
outra termina. A noção de individualidade é totalmente perdida e o que vemos é,
literalmente (quem viu sabe o porquê do literalmente) a fusão de duas pessoas.
Conforme o filme avança, as duas mulheres vão se despindo de todos os
artifícios sociais e vão mostrando todos seus defeitos, medos, arrependimentos.
A máscara, a persona, que usam cai e só sobram a verdadeira Alma (a enfermeira,
interpretada por Bibi Anderson) e Elisabeth Vogler (a paciente, uma atriz
vivida por Liv Ullman). Com sua temática complexa e psicológica, Persona não se importa muito com se
fazer entender. O prólogo inicial são apenas imagens aparentemente desconexas
que o próprio diretor chamou de “poema visual”. O visual é o forte de Persona. A fotografia é a alma do filme.
Não se importe em entender absolutamente tudo que está se passando, apenas
aproveite o que pode ser absorvido e questione-se pelo que não é totalmente
elucidado.
Direção: Francis Ford Coppola
Com: Al Pacino, Robert De Niro,
Robert Duvall, Diane Keaton, Talia Shire, John Cazale e Lee Strasberg.
Raramente uma continuação é boa.
Mais raramente ainda uma continuação consegue ser tão boa quanto, para alguns
até melhor, que seu filme de origem. O exemplo maior desta raridade é O poderoso chefão pt 2, que consegue se
igualar ao primeiro capítulo da trilogia e, em alguns aspectos, até superá-lo.
É de fato conhecido que em O poderoso
chefão pt 2 Coppola conseguiu ter uma liberdade de criação bem maior que no
primeiro filme, o que facilitou o processo e tornou o filme ainda mais pessoal.
Neste capítulo, já temos Michael Corleone (Al Pacino) definido em sua posição
de chefe da máfia e da família Corleone. Então, vamos acompanhar sua
trajetória, passando também por contextos históricos que servem como um
interessante acessório para a narrativa.
A personagem de Michael vai se transformando ao longo do filme,
mostrando novas faces que não haviam sido apresentadas no filme anterior. Aqui
também é mostrada a juventude de Don Vito, desde sua saída da vida de pobreza
na Itália a sua estabilização na sociedade ítalo-americana dos bairros
suburbanos de Nova York. A cargo da caracterização da juventude de uma
personagem já imortalizada pelo trabalho de Marlon Brando, está Robert De Niro,
no primeiro dos maiores trabalhos de sua carreira.
Direção: Frances Ford Coppola
Com: Marlon Brando, Al Pacino,
James Caan, Robert Duvall, Diane Keaton, John Cazale
O primeiro capítulo da trilogia
de mafiosos é um filme inesquecível. Mais que tecnicamente falando, é um dos
filmes mais estilosos que existe. Aqui nos é apresentada a família Corleone,
liderada pelo Don Vito (Marlon Brando), uma das principais famílias de mafiosos
da cidade de Nova York, homens tão charmosos quanto perigosos, capazes de fazer
tudo para cuidar de seus protegidos, mas que também não demonstram qualquer
tipo de piedade em destruir inimigos. O filme apresenta traços de cinema noir e
de drama, tendo este um centro muito fundamentado na própria relação familiar
estranhamente próxima em que a família é mostrada como o bem maior que se pode
ter como também pela dualidade entre Don Vito e seu filho Michael (Al Pacino),
que num primeiro momento não se apresenta adequado a ocupar a posição do pai,
mas que, aos poucos, vai se transformando. A interpretação de Marlon Brando é
icônica e Al Pacino mostrou-se um dos maiores atores do cinema americano do dia
para a noite. A mágica de assistir O poderoso chefão permanece inabalável já há
mais de 40 anos. Assisti-lo ainda é uma oferta irrecusável.
5. Chinatown (1974)
Direção: Roman Polanski
Com: Jack Nicholson, Faye
Dunaway, Diane Ladd, Roman Polanski, John Houston
Dentre os filmes do meu top 10,
provavelmente Chinatown é o menos
cultuado e simplesmente não sei por quê. Afinal, temos aqui um dos maiores
filmes dos anos 70 e isto não é pouca coisa. A maior obra-prima de Polanski
(sim, estou colocando-o acima de Repulsa ao sexo e O bebê de Rosemary) é uma
repaginada no gênero antigo do cinema noir. O cinema noir, basicamente falando,
é um estilo imortalizado pela figura de um investigador que se envolve em algum
crime, geralmente relacionado a uma femme fatale, e conforme a história se
desenvolve vamos tendo noção da profundidade dos problemas, da tortuosidade das
tramas e de que as aparências, como sempre, enganam. Esta definição simples
pode muito bem ser aplicada ao cerne de Chinatown,
mas o filme vai muito além. O detetive J. J. Guittes de Jack Nicholson é
contratado por uma rica femme fatale para investigar uma suspeita de adultério
por parte de seu marido. Um caso aparentemente fácil de resolver acaba
transformando-se numa história de grande abrangência, com incontáveis
reviravoltas capazes de intrigar o espectador do começo ao fim do filme. Grande
parte dos mistérios envolve a Sra. Murray (Faye Dunaway), uma mulher misteriosa
e extremamente sensual, que guarda segredos inimagináveis que realmente chocam
nossa mente ingênua de simples observador. A sujeira, a podridão e a
amoralidade que cercam as personagens de Chinatown
convergem todas para um legítimo gran finale, que se passa justamente no bairro
chinês de mesmo nome. Um bairro que assombra Guittes desde seus tempos como
policial da Polícia de Los Angeles e que remete a mais pura incapacidade. Um
lugar onde nem tudo é o que realmente aparenta ser e onde tudo foge de nosso
controle, sendo sintetizado por uma frase curta e grossa: “Esqueça, Jake. É
Chinatown”. O maior problema de Chinatown
é ter caído justamente no mesmo ano de O Poderoso chefão pt2. Desta forma, foi
massacrado no Oscar e deixado quase em segundo plano. Mesmo assim, ainda
arrebatou o prêmio de melhor roteiro e, para os bons fãs de cinema, é uma
oferta tão irrecusável quanto.
Direção: Martin Scorsese
Com: Robert De Niro, Jodie
Foster, Cybill Shepperd, Harvey Keitel
Se Woody Allen romantiza a cidade
de Nova York em seus filmes, Scorsese está mais que satisfeito em mostrá-la
como o retrato de toda a imundície humana. E assim o faz. Nos diversos retratos
da cidade que aparecem em seu filme, nenhum se compara ao mostrado em Taxi driver. Aqui, a cidade é mostrada
como um verdadeiro inferno de ruas lotadas de marginais, viciados, criminosos e
prostitutas que vagam na noite como zumbis sem qualquer tipo de propósito. Uma
cidade dominada pela mais pura sujeira moral, uma imundície que só uma chuva de
verdade poderia varrer das ruas. É nesse cenário que fervilha a mente instável
de Travis Brickle (Robert De Niro), mergulhada em insônia, solidão e obsessão.
Travis é a representação mais clássica possível de um anti-herói. Uma
protagonista que simplesmente não conhece ou impõe qualquer tipo de valor moral
e funciona exclusivamente em função de seus desejos obscuros. Sua maior
ambição: transformar a cidade. Limpá-la, melhor dizendo. Para isso, tenta de
diversas formas interagir com a sociedade que uma vez o isolou. Estas
tentativas são as mais infrutíferas possíveis, tratando-se de alguém que pouco
sabe de qualquer tipo de interação social e, conforme a história vai avançando,
Travis vai se transformando. Neste caminho, envolve-se com uma bela funcionária
de campanha política (Cybill Shepperd) e uma jovem prostituta que não quer ser
salva (Jodie Foster), os grandes alvos de sua loucura e obsessão. O final, um
dos melhores do cinema, ainda reserva um bom questionamento: quais são os
limites entre o herói e o vilão? A resposta cabe a cada um.
3. Touro indomável (Raging Bull,
1980)
Direção: Martin Scorsese
Com: Robert De Niro, Cathy
Moriarty, Joe Pesci
De todos os muitos – muitos mesmo
– filmes americanos que abordam o boxe como plano de fundo ou até mesmo
personagem, Touro indomável de Scorsese é de longe o melhor. Sua beleza
estética e sua perfeição técnica o elevam da categoria dos filmes “comuns” e o
colocam na posição dos maiores clássicos do cinema mundial. Já se passaram três
décadas e a qualidade artística de Touro
indomável não diminui nem um pouco. Numa era em que os protagonistas eram
simbolizados pela figura do anti-herói, Scorsese brinda o cinema com um dos
maiores destes. Um homem agressivo e violento que não consegue exprimir suas
emoções e suas insatisfações através de palavras, usando, para tal, os próprios
punhos. O filme acompanha a vida do boxeador Jake La Mota (Robert De Niro), sua
escalada para o sucesso e seu declínio para o fracasso, numa descida pontuada
por erros em simplesmente todas as áreas de sua vida, sem que em nenhum momento
ele aprendesse com esses erros. La Mota não se torna uma pessoa melhor e o
filme não caminha para um final feliz de qualquer maneira. Aliás, a obra
poética de Scorsese tem um caráter praticamente documental. Afinal, Jake La
Mota é uma figura lendária e real do mundo do boxe. O preto e branco da
fotografia torna-o ainda mais interessante visualmente, e recursos como as
mudanças de nuances na imagem conforme as circunstâncias vividas dentro dos
ringues realmente ativam os sentidos. No auge de uma grande obra-prima, o
melhor trabalho de um grande ator. Aqui De Niro desenvolve uma das melhores
personagens masculinas da história do cinema. Uma interpretação vencedora do
Oscar de melhor ator e que é categorizada por todos que já assistiram Touro indomável como uma das melhores de
todos os tempos.
Direção: Francis Ford Coppola
Com: Martin Sheen, Marlon Brando, Robert Duvall e Dennis Hooper
De todos os filmes americanos sobre guerras nenhum é
tão forte e visceral quanto a obra-prima de Coppola, Apocalyse Now.
Dentre a amplitude de filmes que retratam ou se baseiam na Guerra de
Vietnã nenhum conseguiu captar a áurea quase mística de insanidade
física e mental quanto este aqui. Apocalypse Now retrata não apenas os
horrores da guerra, mas principalmente a forma como esta se manifesta na
deterioração da alma do homem. Um estudo complexo sobre a forma como a
mentalidade dos indivíduos definha em meio às manifestações do mais puro
horror. O filme tem uma áurea quase mística e retrata a trágica e
perigosa jornada de um soldado americano (Martin Sheen) pelo coração
das trevas e pela alma da guerra, em caminhos e viagens longas e
insuportáveis pela selva que nos mostra as diversas atrocidades
cometidas neste tipo de situação. A viagem dos soldados tem um destino
final. Seu objetivo é alcançar e deter um antigo oficial do exército
americano que tornou-se líder de um culto secreto no meio da floresta. A
interpretação deste líder é garantida pela presença marcante de um
transformado e amedrontador Marlon Brando. Apocalypse Now foi realizado
no fim dos anos 70, mantendo uma conexão direta com as características
de choque e pessimismo tão vigentes no cinema da época. Sua derrota ao
Oscar de melhor filme também pode ser percebida como um dos maiores
indícios do declínio daquela geração cinematográfica, mas isso não tem
grandes implicações. Afinal, temos aqui não apenas o melhor filme de
guerra como também um dos maiores filmes da história. A quantidade
técnica, de atuação, de direção e de roteiro são magnéticas e assistir
Apocalyse Now é uma experiência cinematográfica o mais intenso o
possível. Um filme que pode não agradar a todos, mas que é inegavelmente inesquecível.
Direção: Woody Allen
Com: Diane Keaton, Woody Allen, Tony Roberts, Carol Kane e Shelley Duvall
Considero Annie Hall um dos filmes mais importantes
de minha vida. Afinal, o vi pela primeira vez quando ainda começa a me
interessar mais por cinema e tê-lo visto foi um fator decisivo para
continuar me interessando cada vez mais por ele. Alem disso, trata-se do
melhor e mais consistente filme de Woody Allen. A história simples
sobre o amor e sobre a inexplicável importância que este possui na vida
das pessoas tornou-se uma das comédias mais importantes da história do
cinema americano, tendo sido responsável por uma verdadeira revolução na
maneira de se fazer comédia romântica. O trabalho ácido, irônico e
altamente romântico do comediante Woody Allen é uma grande declaração de
amor, não apenas a sua companheira (na época eram apenas amigos) Diane
Keaton – a qual baseou a personagem título – como também ao cinema, a
cultura e a cidade de Nova York. Os elementos técnicos de Annie Hall
também foram inovadores e recursos que viriam a se tornar comuns nas
comédias românticas foram inicialmente implantados aqui. Muitos fatores presentes em filmes modernos como por exemplo 500 dias
com ela tem a assinatura inegável da influência de Annie Hall. Também
funciona como uma análise comportamental do homem moderno e de todas as
neuroses que vêm acompanhadas pelo complicado e tenso estilo de vida
vigente. As interpretações de Woody Allen e Diane Keaton são muito
divertidas de se assistir e a parceria dos dois, com certeza, é uma das
melhores e mais produtivas do cinema. Particularmente, tenho um grande
interesse particular por este filme, tanto que já o vi mais de 10 vezes.
Deixo aqui, dentre estas 30 recomendações, uma dica especial com
relação a ele. Garanto que o divertimento é inevitável.
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