quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Top 30: filmes preferidos - Lucas (3)

10. Os bons companheiros (Goodfellas, 1990)
Direção: Martin Scorsese
Com: Robert De Niro, Ray Liotta, Joe Pesci, Paul Sorvino e Lorraine Bracco
A escória da máfia. Ao mundo que antes havia idolatrado o alto escalão dos mafiosos ítalo-americanos apresentados pela trilogia de Coppola, Scorsese nos mostra o baixo escalão desta mesma instituição, dando um novo ponto de vista de algo já muito familiar. Os bons companheiros desenvolve-se na relação entre Henry Hill (Ray Liotta) e sua vida na máfia. Uma vida toda preparada para fazer parte disto, algo que sempre foi julgado como algo maior. No meio da confusão e da pobreza dos bairros suburbanos violentos, ser da máfia representava ser alguém. Scorsese desenvolve desta forma, a ascensão de Henry para a máfia e como ele construiu destruir-se totalmente uma vez tendo abusado de todos os privilégios e riqueza que lhe beneficiaram e ultrapassado qualquer limite e senso de moralidade. Violento do começo ao fim, Os bons companheiros é ironicamente cômico. Situações absurdas acontecem o tempo todo e risos são inevitáveis. O desenrolar da trama segue uma sequência não muito imprevisível, mas muito interessante de ser acompanhada. Representa, também, a terceira derrota mais amarga de Scorsese ao Oscar de direção. Afinal, temos aqui o terceiro melhor filme do diretor, perdendo apenas para Taxi Driver e Touro indomável.


9. Psicose (Psycho, 1960)
Direção: Alfred Hitchcock
Com: Anthony Perkins, Janet Leigh,
O filme mais reconhecido de Alfred Hitchcock. Apesar de Um corpo que cai ter sido escolhido ano passado como o melhor filme de todos os tempos pela revista Sight and sound, Psicose é o trabalho mais popular e perturbador do diretor. Hitchcock se dispôs a assumir um risco pessoal altíssimo ao decidir trabalhar com uma história tão sórdida, violenta e desagradável quanto à de Psicose. Afinal, nunca antes na história do cinema um monstro era alguém de carne osso, um ser humano aparentemente comum e normal que sai de sua banalidade e se transforma no maior psicopata da história do cinema. O choque das plateias de 1960 era algo inevitável, mas dificilmente foi imaginado que o filme tomaria a proporção que adquiriu. Enredo inovador, temática assustadora, técnica perfeita. Estas são as três principais marcas de Psicose. A cena do chuveiro é um ícone. A trilha sonora, inesquecível. Matar a protagonista antes da metade do filme? Pura ousadia. E as reviravoltas? Uma melhor que a outra, mais intensa que a anterior. Ainda se dispõe a análise da mente perturbada do assassino, a qual não é totalmente elucidada, permanecendo, assim um ar de mistério que é muito importante para manter o clima do filme. Norman Bates virou uma lenda e o momento mais arriscado da carreira de Hitchcock tornou-se sua maior consagração. Filme indispensável.

8. Persona (1966)
Direção: Ingmar Bergman
Com: Bibi Andersson, Liv Ullman
Uma experiência cinematográfica sem igual, Persona é, para mim, o melhor trabalho de Ingmar Bergman e o melhor filme europeu. Em pouco mais de 90 minutos, Bergman nos mostra quase totalmente através de imagens a complexa relação entre duas personagens, uma enfermeira e uma paciente, que num curto espaço de tempo criam uma forte conexão e passam por um processo simbiótico de personalidades, onde é impossível determinar onde a mente de uma começa e a da outra termina. A noção de individualidade é totalmente perdida e o que vemos é, literalmente (quem viu sabe o porquê do literalmente) a fusão de duas pessoas. Conforme o filme avança, as duas mulheres vão se despindo de todos os artifícios sociais e vão mostrando todos seus defeitos, medos, arrependimentos. A máscara, a persona, que usam cai e só sobram a verdadeira Alma (a enfermeira, interpretada por Bibi Anderson) e Elisabeth Vogler (a paciente, uma atriz vivida por Liv Ullman). Com sua temática complexa e psicológica, Persona não se importa muito com se fazer entender. O prólogo inicial são apenas imagens aparentemente desconexas que o próprio diretor chamou de “poema visual”. O visual é o forte de Persona. A fotografia é a alma do filme. Não se importe em entender absolutamente tudo que está se passando, apenas aproveite o que pode ser absorvido e questione-se pelo que não é totalmente elucidado.

7. O poderoso chefão, pt 2 (The Godfather II, 1974)
Direção: Francis Ford Coppola
Com: Al Pacino, Robert De Niro, Robert Duvall, Diane Keaton, Talia Shire, John Cazale e Lee Strasberg.
Raramente uma continuação é boa. Mais raramente ainda uma continuação consegue ser tão boa quanto, para alguns até melhor, que seu filme de origem. O exemplo maior desta raridade é O poderoso chefão pt 2, que consegue se igualar ao primeiro capítulo da trilogia e, em alguns aspectos, até superá-lo. É de fato conhecido que em O poderoso chefão pt 2 Coppola conseguiu ter uma liberdade de criação bem maior que no primeiro filme, o que facilitou o processo e tornou o filme ainda mais pessoal. Neste capítulo, já temos Michael Corleone (Al Pacino) definido em sua posição de chefe da máfia e da família Corleone. Então, vamos acompanhar sua trajetória, passando também por contextos históricos que servem como um interessante acessório para a narrativa.  A personagem de Michael vai se transformando ao longo do filme, mostrando novas faces que não haviam sido apresentadas no filme anterior. Aqui também é mostrada a juventude de Don Vito, desde sua saída da vida de pobreza na Itália a sua estabilização na sociedade ítalo-americana dos bairros suburbanos de Nova York. A cargo da caracterização da juventude de uma personagem já imortalizada pelo trabalho de Marlon Brando, está Robert De Niro, no primeiro dos maiores trabalhos de sua carreira.

6. O poderoso chefão (The Godfather, 1972)
Direção: Frances Ford Coppola
Com: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Diane Keaton, John Cazale
O primeiro capítulo da trilogia de mafiosos é um filme inesquecível. Mais que tecnicamente falando, é um dos filmes mais estilosos que existe. Aqui nos é apresentada a família Corleone, liderada pelo Don Vito (Marlon Brando), uma das principais famílias de mafiosos da cidade de Nova York, homens tão charmosos quanto perigosos, capazes de fazer tudo para cuidar de seus protegidos, mas que também não demonstram qualquer tipo de piedade em destruir inimigos. O filme apresenta traços de cinema noir e de drama, tendo este um centro muito fundamentado na própria relação familiar estranhamente próxima em que a família é mostrada como o bem maior que se pode ter como também pela dualidade entre Don Vito e seu filho Michael (Al Pacino), que num primeiro momento não se apresenta adequado a ocupar a posição do pai, mas que, aos poucos, vai se transformando. A interpretação de Marlon Brando é icônica e Al Pacino mostrou-se um dos maiores atores do cinema americano do dia para a noite. A mágica de assistir O poderoso chefão permanece inabalável já há mais de 40 anos. Assisti-lo ainda é uma oferta irrecusável.

5. Chinatown (1974)
Direção: Roman Polanski
Com: Jack Nicholson, Faye Dunaway, Diane Ladd, Roman Polanski, John Houston
Dentre os filmes do meu top 10, provavelmente Chinatown é o menos cultuado e simplesmente não sei por quê. Afinal, temos aqui um dos maiores filmes dos anos 70 e isto não é pouca coisa. A maior obra-prima de Polanski (sim, estou colocando-o acima de Repulsa ao sexo e O bebê de Rosemary) é uma repaginada no gênero antigo do cinema noir. O cinema noir, basicamente falando, é um estilo imortalizado pela figura de um investigador que se envolve em algum crime, geralmente relacionado a uma femme fatale, e conforme a história se desenvolve vamos tendo noção da profundidade dos problemas, da tortuosidade das tramas e de que as aparências, como sempre, enganam. Esta definição simples pode muito bem ser aplicada ao cerne de Chinatown, mas o filme vai muito além. O detetive J. J. Guittes de Jack Nicholson é contratado por uma rica femme fatale para investigar uma suspeita de adultério por parte de seu marido. Um caso aparentemente fácil de resolver acaba transformando-se numa história de grande abrangência, com incontáveis reviravoltas capazes de intrigar o espectador do começo ao fim do filme. Grande parte dos mistérios envolve a Sra. Murray (Faye Dunaway), uma mulher misteriosa e extremamente sensual, que guarda segredos inimagináveis que realmente chocam nossa mente ingênua de simples observador. A sujeira, a podridão e a amoralidade que cercam as personagens de Chinatown convergem todas para um legítimo gran finale, que se passa justamente no bairro chinês de mesmo nome. Um bairro que assombra Guittes desde seus tempos como policial da Polícia de Los Angeles e que remete a mais pura incapacidade. Um lugar onde nem tudo é o que realmente aparenta ser e onde tudo foge de nosso controle, sendo sintetizado por uma frase curta e grossa: “Esqueça, Jake. É Chinatown”. O maior problema de Chinatown é ter caído justamente no mesmo ano de O Poderoso chefão pt2. Desta forma, foi massacrado no Oscar e deixado quase em segundo plano. Mesmo assim, ainda arrebatou o prêmio de melhor roteiro e, para os bons fãs de cinema, é uma oferta tão irrecusável quanto.

4. Taxi driver (1976)
Direção: Martin Scorsese
Com: Robert De Niro, Jodie Foster, Cybill Shepperd, Harvey Keitel
Se Woody Allen romantiza a cidade de Nova York em seus filmes, Scorsese está mais que satisfeito em mostrá-la como o retrato de toda a imundície humana. E assim o faz. Nos diversos retratos da cidade que aparecem em seu filme, nenhum se compara ao mostrado em Taxi driver. Aqui, a cidade é mostrada como um verdadeiro inferno de ruas lotadas de marginais, viciados, criminosos e prostitutas que vagam na noite como zumbis sem qualquer tipo de propósito. Uma cidade dominada pela mais pura sujeira moral, uma imundície que só uma chuva de verdade poderia varrer das ruas. É nesse cenário que fervilha a mente instável de Travis Brickle (Robert De Niro), mergulhada em insônia, solidão e obsessão. Travis é a representação mais clássica possível de um anti-herói. Uma protagonista que simplesmente não conhece ou impõe qualquer tipo de valor moral e funciona exclusivamente em função de seus desejos obscuros. Sua maior ambição: transformar a cidade. Limpá-la, melhor dizendo. Para isso, tenta de diversas formas interagir com a sociedade que uma vez o isolou. Estas tentativas são as mais infrutíferas possíveis, tratando-se de alguém que pouco sabe de qualquer tipo de interação social e, conforme a história vai avançando, Travis vai se transformando. Neste caminho, envolve-se com uma bela funcionária de campanha política (Cybill Shepperd) e uma jovem prostituta que não quer ser salva (Jodie Foster), os grandes alvos de sua loucura e obsessão. O final, um dos melhores do cinema, ainda reserva um bom questionamento: quais são os limites entre o herói e o vilão? A resposta cabe a cada um.


3. Touro indomável (Raging Bull, 1980)
Direção: Martin Scorsese
Com: Robert De Niro, Cathy Moriarty, Joe Pesci
De todos os muitos – muitos mesmo – filmes americanos que abordam o boxe como plano de fundo ou até mesmo personagem, Touro indomável de Scorsese é de longe o melhor. Sua beleza estética e sua perfeição técnica o elevam da categoria dos filmes “comuns” e o colocam na posição dos maiores clássicos do cinema mundial. Já se passaram três décadas e a qualidade artística de Touro indomável não diminui nem um pouco. Numa era em que os protagonistas eram simbolizados pela figura do anti-herói, Scorsese brinda o cinema com um dos maiores destes. Um homem agressivo e violento que não consegue exprimir suas emoções e suas insatisfações através de palavras, usando, para tal, os próprios punhos. O filme acompanha a vida do boxeador Jake La Mota (Robert De Niro), sua escalada para o sucesso e seu declínio para o fracasso, numa descida pontuada por erros em simplesmente todas as áreas de sua vida, sem que em nenhum momento ele aprendesse com esses erros. La Mota não se torna uma pessoa melhor e o filme não caminha para um final feliz de qualquer maneira. Aliás, a obra poética de Scorsese tem um caráter praticamente documental. Afinal, Jake La Mota é uma figura lendária e real do mundo do boxe. O preto e branco da fotografia torna-o ainda mais interessante visualmente, e recursos como as mudanças de nuances na imagem conforme as circunstâncias vividas dentro dos ringues realmente ativam os sentidos. No auge de uma grande obra-prima, o melhor trabalho de um grande ator. Aqui De Niro desenvolve uma das melhores personagens masculinas da história do cinema. Uma interpretação vencedora do Oscar de melhor ator e que é categorizada por todos que já assistiram Touro indomável como uma das melhores de todos os tempos.


2. Apocalypse now (1979)
Direção: Francis Ford Coppola
Com: Martin Sheen, Marlon Brando, Robert Duvall e Dennis Hooper
De todos os filmes americanos sobre guerras nenhum é tão forte e visceral quanto a obra-prima de Coppola, Apocalyse Now. Dentre a amplitude de filmes que retratam ou se baseiam na Guerra de Vietnã nenhum conseguiu captar a áurea quase mística de insanidade física e mental quanto este aqui. Apocalypse Now retrata não apenas os horrores da guerra, mas principalmente a forma como esta se manifesta na deterioração da alma do homem. Um estudo complexo sobre a forma como a mentalidade dos indivíduos definha em meio às manifestações do mais puro horror. O filme tem uma áurea quase mística e retrata a trágica e perigosa jornada de um soldado americano (Martin Sheen) pelo coração das trevas e pela alma da guerra, em caminhos e viagens longas e insuportáveis pela selva que nos mostra as diversas atrocidades cometidas neste tipo de situação. A viagem dos soldados tem um destino final. Seu objetivo é alcançar e deter um antigo oficial do exército americano que tornou-se líder de um culto secreto no meio da floresta. A interpretação deste líder é garantida pela presença marcante de um transformado e amedrontador Marlon Brando. Apocalypse Now foi realizado no fim dos anos 70, mantendo uma conexão direta com as características de choque e pessimismo tão vigentes no cinema da época. Sua derrota ao Oscar de melhor filme também pode ser percebida como um dos maiores indícios do declínio daquela geração cinematográfica, mas isso não tem grandes implicações. Afinal, temos aqui não apenas o melhor filme de guerra como também um dos maiores filmes da história. A quantidade técnica, de atuação, de direção e de roteiro são magnéticas e assistir Apocalyse Now é uma experiência cinematográfica o mais intenso o possível. Um filme que pode não agradar a todos, mas que é inegavelmente inesquecível.

1. Annie Hall (1977)
Direção: Woody Allen
Com: Diane Keaton, Woody Allen, Tony Roberts, Carol Kane e Shelley Duvall
Considero Annie Hall um dos filmes mais importantes de minha vida. Afinal, o vi pela primeira vez quando ainda começa a me interessar mais por cinema e tê-lo visto foi um fator decisivo para continuar me interessando cada vez mais por ele. Alem disso, trata-se do melhor e mais consistente filme de Woody Allen. A história simples sobre o amor e sobre a inexplicável importância que este possui na vida das pessoas tornou-se uma das comédias mais importantes da história do cinema americano, tendo sido responsável por uma verdadeira revolução na maneira de se fazer comédia romântica. O trabalho ácido, irônico e altamente romântico do comediante Woody Allen é uma grande declaração de amor, não apenas a sua companheira (na época eram apenas amigos) Diane Keaton – a qual baseou a personagem título – como também ao cinema, a cultura e a cidade de Nova York. Os elementos técnicos de Annie Hall também foram inovadores e recursos que viriam a se tornar comuns nas comédias românticas foram inicialmente implantados aqui.  Muitos fatores presentes em filmes modernos como por exemplo 500 dias com ela tem a assinatura inegável da influência de Annie Hall. Também funciona como uma análise comportamental do homem moderno e de todas as neuroses que vêm acompanhadas pelo complicado e tenso estilo de vida vigente. As interpretações de Woody Allen e Diane Keaton são muito divertidas de se assistir e a parceria dos dois, com certeza, é uma das melhores e mais produtivas do cinema. Particularmente, tenho um grande interesse particular por este filme, tanto que já o vi mais de 10 vezes. Deixo aqui, dentre estas 30 recomendações, uma dica especial com relação a ele. Garanto que o divertimento é inevitável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário