30. Uma rua chamada pecado (A Streetcar Named Desire, 1951)
Direção: Elia Kazan
Com: Vivien Leigh, Marlon Brando,
Kim Hunter, Karl Malden
Uma das coisas que mais gosto de
apreciar no cinema são filmes com caráter teatral. Por assim dizer, refiro-me a
contos de simplicidade espacial e gigantismo de diálogos e nuances, com
roteiros caprichados inundados de referências e insinuações proferidas por um
elenco geralmente pequeno em tamanho, mas de talento e entrosamento impecáveis.
O que dizer, então, dos filmes baseados nas peças homônimas do polêmico
escritor Tenessee Williams que chocaram o público americano dos anos 50 e 60
com um espetáculo de malícia velada e um grande “chega pra lá” na censura. Sua
maior obra, Uma rua chamada pecado, é
uma devoção ao desejo. Uma obra intensa, sexualizada e implicitamente perversa
que se dispõe a despir suas quatro personagens de modo a mostrá-las em toda sua
amplitude e podridão. Sem ser vulgar, Uma
rua chamada pecado toca em temas polêmicos e é capaz de impressionar até o
público de hoje. Dotado também de um dos melhores elencos já presentes em um
filme de Hollywood, contando com os nomes de Karl Malden, Kim Hunter e dos
imortais Vivien Leigh e Marlon Brando, que trazem dois de seus melhores
trabalhos em tela.
29. Ligações Perigosas
(Dangerous Liaisons, 1988)
Direção: Stephen Frears
Com: Glenn Close, John Malkovich,
Michelle Pfeiffer, Uma Thurman, Keanu Reeves
Conto baseado em livro homônimo
do século XVIII, Ligações Perigosas
esmiúça a vida rica em bens materiais e miserável em moral e prazeres da
perversa marquesa de Merteuil (uma interpretação fenonemal de Glenn Close),
cuja principal diversão na vida fútil e leviana é escolher as pessoas mais
puras a seu redor e as destruir de todas as maneiras sórdidas e cínicas que
estão a sua disposição, tendo sempre como ajuda o tão sensual quanto imoral
Visconde de Valmont (grande trabalho de John Malkovich). A sedução é uma arma
num jogo de destruição moral, onde o prazer da conquista é simplesmente a
felicidade da humilhação alheia. Cínico e perverso, Ligações Perigosas é uma diversão maldosa que também serve como
grande estudo de personagens, análise comportamental da rica burguesia francesa
e de seu jogo de interesses e aparências. Uma pérola tão esquecida quanto
imperdível.
28. Alien – o oitavo
passageiro (Alien, 1979)
Direção: Ridley Scott
Com: Sigourney Weaver, John Hurt
O terror vem do espaço. Como, em
meio a toda a tecnologia e avanços que o futuro e o brilhantismo que só o ser
humano pode ter, a criatura mais primitivamente assassina pode causar o caos e
espalhar o mais puro terror entre os sete passageiros de uma nave-cargueiro que
vaga pelo universo? Em 1979, o trabalho visionário de Ridley Scott inovou o
gênero de ficção científica e, de quebra, o do terror com este conto simples
sobre um alienígena sem nenhum propósito além do da destruição, disposto a
matar todos que estão a sua frente, os quais são simples vítimas indefesas.
Todos exceto Ripley (Sigourney Weaver). Se fosse feita uma lista de 10
personagens femininas mais fortes do cinema, dez entre dez cinéfilos de
respeito a colocariam na lista. Alien
tem tudo e mais um pouco: técnica perfeita, elenco sincronizado, trilha
intensa, fotografia sufocante, vilão marcante e cenas que são inesquecíveis.
Desafio-te a olhar pro ET com os mesmos olhos.
27. Cisne Negro (Black
Swan, 2010)
Direção: Darren Aronofsky
Com: Natalie Portman, Vicent
Cassel, Barbara Hershey, Mila Kunis
A viagem alucinógena pela mente
perturbada da devotada e reprimida bailarina Nina Sayers (Natalie Portman) é um
dos filmes mais comentados, elogiados e detalhados em todos seus complexos
detalhes psicológicos dos últimos cinco anos do cinema americano. O controverso
diretor Darren Aronofsky cria um universo de sofrimento físico e psicológico ao
mergulhar numa busca irracional e violenta pela perfeição por parte da pobre
Nina, que é levada aos seus limites físicos e mentais por um caminho de
confrontação direta com seus desejos reprimidos, seus anseios e toda a pressão
que a cerca por todos os lados. Tecnicamente perfeito, muito me agrada o
tratamento que é dado ao balé por parte do filme. Esporte de sangue, dor e suor
disfarçado por uma máscara de beleza e suavidade. Mas, como disse, tudo são
máscaras e Aronofsky gosta de arrancá-las. Atuação visceral e inesquecível de
Natalie Portman consegue ser o ponto de alto de algo que já é por si só
excepcional.
26. Rede de intrigas
(Network, 1976)
Direção: Sidney Lumet
Com: Faye Dunaway, Peter Finch,
William Holden, Robert Duvall
Gosto muito de filmes críticos,
dispostos a mostrar verdades inconvenientes e que não se preocupam, de maneira
alguma, em causar desconforto ao espectador. Em Rede de intrigas, sucesso dos anos 70, a mídia televisiva é
desmascarada e toda a podridão, manipulação, corrupção e perda de moral e
valores éticos são expostas em meio a uma grande crítica embasada no mais puro
sensacionalismo televisivo. As intrigas vão muito além das telas de TV e
invadem a vida das personagens, figuras tão sórdidas, imorais e sem escrúpulos
quanto o sistema o qual defendem e do qual se nutrem. A maneira como Rede de intrigas tece uma teia de
confrontos e choques entre suas personagens denota a altíssima qualidade deste
que é um dos roteiros mais ácidos e bem escritos do cinema mundial.
25. Brilho eterno de uma
mente sem lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004)
Direção: Michael Gondry
Com: Jim Carrey, Kate Winslet,
Kirsten Dunst, Mark Rufallo, Elijah Wood, Tom Wilkinson
Blessed are the forgetful.
Decepções amorosas são capazes de levar as pessoas a tomarem as atitudes mais
drásticas. E quem nunca quis simplesmente apagar algo ou alguém de sua memória?
Ver-se permanentemente livre de uma grande decepção? É com essa premissa
simples que Brilho eterno de uma mente
sem lembranças cria o romance mais interessante dos anos 2000. Com um drama
intenso, o filme passeia pela tão bela quanto efêmera história de amor do
emocionalmente fechado Joe (Jim Carrey) e a emocionalmente explosiva Clementine
(Kate Winslet) que decidem esquecer um ao outro. Romântico, divertido,
inusitado e muito sentimental, um filme genuinamente sincero e de uma beleza
sem comparação. Aparentemente complexo com seus ares de ficção científica, seu
interior é muito simples. É um filme sobre amor e ponto final. E, olha, um dos
melhores sobre o tema. Para coroar a inusitada experiência, ainda vemos Kate Winslet
e Jim Carrey em papéis que contradizem suas zonas de conforto. Na verdade, Kate
Winslet não tem bem uma zona de conforto já que sua marca é a diversidade, mas
Jim Carrey foge totalmente de seu padrão cômico/palhaço para trazer sua
interpretação mais bonita. Meet me in Mountauk.
24. Ondas do destino
(Breaking the waves, 1996)
Direção: Lars Von Trier
Com: Emily Watson
Famoso por maltratar as heroínas
protagonistas de seus dramas intensamente psicológicos, um dos filmes menos
louvados, porém mais intensos, de Lars Von Trier é justamente o que inicia essa
onda de personagens femininas liderando o trabalho do diretor. Antes de Björk,
Nicole Kidman, Bryce Dallas Howard, Charlotte Gainsbourg e Kirsten Dunst, a
primeira atriz a se aventurar pelo sadismo do diretor foi a até então novata
Emily Watson na pele de Bess McNeil. Um filme basicamente sobre a devoção.
Sobre a entrega de corpo e alma de uma pobre e inocente moça a seus alvos de
verdadeira adoração e ao que acredita ser um bem maior. Esta incursão de Bess
tanto a torna algum tipo de santa quanto um alvo perfeito para o sadismo quase
incontrolável de Trier, que usa e abusa de sua personagem das formas mais
fortes, perigosas e cruéis possíveis, tornando Bess uma das personagens mais
difíceis e desafiantes do cinema moderno (que, ressaltando, estava nas mãos de
uma atriz novata). Uma experiência cinematográfica angustiante, desconfortável
e difícil de esquecer, Ondas do destino
ficou na minha cabeça muito além das duas horas de sua duração, tornou Emily
Watson uma das minhas atrizes preferidas e, como todo bom filme de Trier,
encheu minha cabeça de bons questionamentos. Aos cinéfilos que ainda não
assistiram, vejam.
23. Laranja mecânica (A
Clockwork Orange, 1971)
Direção: Stanley Kubrick
Com: Malcom McDowell
Cor. Som. Fúria. Beethoven.
Violência. Moloko. Estas palavras isoladas provavelmente não surtem grande
efeito, mas unidas compõem a ópera de horror de Stanley Kubrick: Laranja mecânica. Baseado em livro
homônimo, o filme lança o espectador a um universo de um futuro não tão
distante, mas totalmente diverso ao presente que conhecemos. Na verdade, não
tão diverso assim. É mais como uma maximização dos elementos sórdidos de nossa
sociedade, canalizados na figura egocêntrica, maníaca e perturbada do jovem
estuprador/assassino/agressor/fã de música clássica Alex DeLarge (Malcom
McDowel). O retrato da perversão e crueldade social de Laranja mecânica só pode ser comparado à maneira deste próprio de
tratar o controle social e a perda de identidade por parte de um sistema
protetor (ou seria opressor?), controlador de mentes e manipulador. Como se não
bastasse sua temática por si só emblemática, Kubrick ainda abusa de um show de
edição, fotografia, figurino, diálogos (como esquecer o dialeto particularmente
perturbados das personagens?) e trilha sonora. Nunca mais Beethoven e Gene
Kelly foram os mesmos.
22. A primeira noite de
um homem (The Graduate, 1967)
Direção: Mike Nichols
Com: Dustin Hoffman, Anne
Bancroft, Katharine Ross
Um grande ritual de passagem, The Graduate explora os caminhos
confusos de um jovem pela sua transição entre a juventude descompromissada e os
direitos e deveres de sua vida adulta. Na figura de Benjamin (Dustin Hoffman)
todas as fobias juvenis sobre incerteza do futuro, apreensões sexuais, dúvidas
amorosas e inexperiência de vida estão personificadas. A graduação a qual o
título se refere não se limita apenas ao simples ato de adquirir um diploma
universitário, mas ao amadurecimento (da personagem e do cinema americano
também). Tornar-se um homem aprendendo com os erros e lidando com
responsabilidades. Aliado a isso, The
Graduate ainda se dispõe a compor um dos triângulos amorosos mais
absurdamente interessantes do cinema, afinal, Benjamin ama a jovem e bela
Elaine (Katharine Ross), mas encontra-se nas garras da sexualmente dominadora
Sra. Robinson (Anne Bancroft), mãe da garota, com quem manteve um caso amoroso.
O amor, aliás, é bem explorado pelo filme, mas já não é construído de uma
maneira idealizada ou artificialmente romântica. Não existe essa história de
felizes para sempre. Sua temática controversa e de teor polêmico nitidamente
foi um choque para a sociedade de 1967, mas seu impacto o tornou um dos filmes
mais importantes da indústria e o eternizou como um dos propulsores da
revolução cinematográfica dos anos 70. Isso sem esquecer a trilha sonora
brilhante liderada por The Sound of Silence de Simon and Garfunkel, que pontua
todas as dúvidas e os sentimentos do confuso e empático Benjamin.
21. Cães de aluguel (Reservoir dogs, 1992)
Direção: Quentin Tarantino
Com: Quentin Tarantino, Harvey
Keitel, Steve Buscemi
Em meio ao clima de comodismo dos
anos 90, eis que explode nas telas a novidade. O original e visceral trabalho
de Quentin Tarantino encontrou no público de sua época o espectador perfeito
para seus exageros de sangue, risos nervosos e tensão. Tudo para que possamos
nos deliciar com a forma divertida e fora de qualquer padrão convencional com a
qual o diretor trabalha seus personagens e seus conflitos, ambos igualmente
numerosos. Seu trabalho de estréia, Reservoir
dogs, é tão impactante quanto os tiros e os palavrões lançados durante toda
a duração do filme. Um genuíno choque. Audácia e originalidade sem fim cercam
este conto sobre um grupo de homens perigosos envolvidos com um crime furado e
suas tentativas desesperadas de escaparem imunes, ou pelo menos vivos, da
confusão violenta em que se envolveram. E que violência. Litros de sangue se misturam
a piadas corriqueiras, dancinhas “simpáticas”, orelhas decepadas e, sim, Like a
Virgin de Madonna. Apesar de abusar de referências a grandes cineastas,
Tarantino é um diretor genuinamente pop, e seu universo é muito bem pontuado
por este elemento.
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