sábado, 17 de agosto de 2013

Top 30: filmes preferidos - Lucas (2)


20. Fargo (1996)
Direção: Joel Coen
Com: Frances McDormand, William H. Macy, Steve Buscemi
Tudo pode acontecer no meio do nada. Meu filme preferido dos singulares irmãos Coen, Fargo nos traz uma tragicomédia que envolve sequestro, roubo, assassinato, medo, arrependimento, piadas, uma policial grávida e muitos, muitos erros. O subtítulo recebido em sua distribuição nacional, Uma comédia de erros, na verdade é bem conveniente. Um filme sobre erros que simplesmente acerta em tudo. Assistir Fargo é uma experiência divertida, sendo um prazer inestimável sentar e ver aquelas pessoas se destruindo pelas próprias bobagens que foram largando pela mais pura incompetência. Dentro de seu universo particular de filmes bizarros, Fargo pode até ser o que não bate mais nesta tecla, mas é de longe o trabalho mais sólido e mais competente dos irmãos Coen. Uma das coisas que mais gosto aqui é que toda a comédia, não são gags estúpidas, mas sequências de ironias e exageros tratadas como algo extremamente natural. Não se força a barra, tudo simplesmente flui. É como se dissessem: este aqui é nosso mundo, e no nosso mundo coisas assim acontecem a qualquer momento. A atuação de Frances McDormand é a cereja do bolo.
19. Os incompreendidos (Les 400 coups, 1959)
Direção: François Truffaut
Com: Jean-Pierre Léaud
Um divisor de águas. Se uma frase pudesse definir a importância de Os incompreendidos para o cinema mundial, esta frase seria muito bem aplicável. O trabalho de estréia do até então desconhecido François Truffaut iniciou o movimento eternizado como Nouvelle Vague francesa, movimento cinematográfico que pregava elementos como maior autonomia do diretor em detrimento aos estúdios, liberdade de expressão cinematográfica (que incluía perda de padrões técnicos e de atuação) e maior autoria das obras. Em Os incompreendidos, longa parcialmente biográfico, Truffaut analisa a figura rebelde do jovem Antoine Doinel, renegado pelos pais e por diversas instituições de controle social (apontadas como uma escola e um internato) cuja aversão às convenções sociais e a vida de solidão e descaso a que lhe foi imposta  o leva a vagar aleatoriamente pelas ruas de Paris praticando os mais diversos atos juvenis. Uma produção tão simples quanto abrangente em seu conteúdo, Os incompreendidos remete reflexões psicológicas e sociais sobre o estilo de vida do homem moderno (como moderno entenda-se os anos 60 – que não são assim tão diferentes dos dias de hoje). Além de tudo isso, é o primeiro capítulo da figura cinematográfica de Antoine Doinel, personagem recorrente na filmografia do diretor.

18. Manhattan (Manhattan, 1979)
Direção: Woody Allen
Com: Woody Allen, Diane Keaton, Mariel Hemingway, Meryl Streep
“Ele amava NY. Ele a idolatrava”. A maior canção de amor de Woody Allen àquela que foi palco de grande parte de sua obra, Manhattan é uma enorme homenagem ao estilo de vida, à beleza cinza, aos defeitos e as magias de uma cidade global que centraliza tantas histórias e que dá vida a muitas das personagens de sua vasta filmografia. Em Manhattan, Woody não nos poupa de mostrar imagens belíssimas da cidade, acompanhadas por baladas de jazz envolventes, fotografia em preto-e-branco muito bonita e cenas de romance, reflexão e, claro, o humor ácido que não poderia faltar. No filme, vive um homem dividido entre uma rival intelectual por quem se encontra estranhamente obcecado (mais uma parceria entre Woody Allen e Diane Keaton) e uma colegial, tão doce quanto jovem, que se mostra de uma maturidade emocional muito maior que a de seu companheiro quarentão. As reflexões clássicas sobre vida, morte e amor estão presentes, como não poderia faltar, mas Manhattan preza também a valorização das mais pequenas coisas, do contato, da intimidade e da alegria de estar com alguém. Romantismo puro. Difícil mesmo é não se apaixonar pelo filme.

17. Se meu apartamento falasse (The apartment, 1960)
Direção: Billy Wilder
Com: Jack Lemmon, Shirley MacLaine
Comédia de costumes é um de meus gêneros cinematográficos preferidos. Acho simplesmente genial a forma como um roteiro bem inteligente é capaz de transportar elementos banais do cotidiano e transformá-los na mais pura diversão. Quem soube fazer isso muito bem foi o mestre/diretor/roteirista Billy Wilder e, neste gênero, seu maior destaque é inegavelmente The apartment. Em termos de comédia, The apartment vai muito além da comédia de costumes, sendo um filme genuinamente completo, contando com elementos de drama, comédia romântica e romance propriamente dito. O filme esboça uma vastidão de personagens tão divertidas quanto amorais, envolvidas em contatos sujos de interesses e infidelidade que desafiam os valores dos bons costumes prezados pela época. Afinal, tratando-se de 1960, a produção de Billy Wilder é demasiadamente ousada em sua temática provocativa e atípica. Uma grande confusão amorosa e moral, que, para mim, é uma das melhores comédias de todos os tempos. Pode não ser de rolar de rir, de fato, mas sua inteligência é cativante. A dupla Jack Lemmon e Shirley MacLaine é genial.

16. Réquiem para um sonho (Requiem for a dream, 2000)
Direção: Darren Aronofsky
Com: Ellen Burstyn, Jared Leto, Jennifer Connely, Marlon Wayans
Um choque. Poucos filmes podem ser tão desconfortáveis pela crueza como evidenciam a realidade. Num universo de vícios, o diretor Darren Aronofsky não mede esforços para passar uma experiência cinematográfica mais vívida o possível, jogando suas personagens na mais total perda de controle, um verdadeiro turbilhão emocional em que suas vidas são jogadas que se baseia, exclusivamente, nos vícios e no modo como manipulam e controlam mente e corpo das pessoas, como as transformam e, principalmente, como as destroem. Incômodo do começo ao fim é sadicamente divertido, empolgante e impossível de parar de assistir. A maneira como as personagens se autodestroem não chega a ser digna de pena, mas é capaz de despertar curiosidade suficiente para que não se saia de frente da tela até os créditos finais. Quem viu Cisne Negro percebeu que o diretor sabe como criar climas de tensão. Pois aqui a tensão é ainda mais elevada e cresce das formas mais absurdas e impensáveis possíveis. Um show de atuação de Jared Leto, Marlon Wayans, Jennifer Connely e, principalmente, de uma das grandes do cinema americano, Ellen Burstyn, cuja maneira de mostrar a fragilidade emocional, as inseguranças tolas e, principalmente, a deterioração física e psíquica da personagem é estarrecedora.

15. Drive (2010)
Direção: Nicholas Vinding Refn
Com: Ryan Golsling, Carey Mulligan, Albert Brooks
O filme mais interessante dos últimos dois anos, Drive é uma fábula moderna de ação, suspense e romance, guiados por uma direção aguçada e atores muito competentes. O filme centra-se na relação entre um homem misterioso, o qual nem sabemos o nome, interpretado por Ryan Gosling , que se encontra perdidamente apaixonado por sua jovem vizinha de modo a se dispor a protegê-la de todos os perigos que a envolvem, relacionados a seu marido recém saído da prisão e da máfia que os cercam. Tecnicamente falando, Drive é impecável. A fotografia é belíssima e acompanha as grandes mudanças de tom pelas quais o filme passa. Se num primeiro momento tudo é a magia da descoberta do amor, com paisagens bucólicas e ensolaradas ao entardecer, a metade final é negra, escura, sórdida e violenta. A violência é elevada aos limites conforme o conto torna-se cada vez mais perigoso e envolvente. A relação amorosa entre Ryan Gosling e Carey Mulligan é de uma pureza e uma sensibilidade que contrasta a todo o momento com o extremismo da violência onde aqueles personagens se encontram, tendo este antagonismo alcançado o ápice na já clássica cena do elevador. É quase um conto de fadas na verdade, onde um “príncipe encantado” luta a qualquer preço para defender sua “donzela” em perigo. A diferença é que no lugar de uma armadura de metal temos uma jaqueta prateada e em vez de cavalos brancos, carros envenenados dispostos a intensas cenas de perseguições. Méritos também para a trilha sonora.

14. Crepúsculo dos deuses (Sunset Boulevard, 1950)
Direção: Billy Wilder
Com: Gloria Swanson, William Holden
“Eu sou grande. Os filmes é que ficaram pequenos”. A meu ver, não há duvidas de que este aqui é o melhor filme de Billy Wilder. Crepúsculo dos deuses é uma grande crítica à própria indústria do cinema e do entretenimento, um mundo que pode num momento elevar uma pessoa ao céu e, em questão de minutos, lançá-lo no total ostracismo quando não lhes é mais conveniente. É isso que ocorre com a Norma Desmond interpretada por Gloria Swanson. Uma musa do cinema mudo largada no esquecimento após o advento do cinema falado e que sofre com sua loucura e suas obsessões ao mesmo tempo em que alimenta fantasias megalomaníacas de uma volta ao estrelato que jamais ocorrerá. O roteiro de Wilder é fantástico. A forma como amarra as diferentes circunstâncias que culminam para o grande final, que é revelado já no início do filme, é de uma inteligência incrível. O filme é ácido, maldoso e as coisas se desenrolam de uma maneira ironicamente cruel para todas as personagens. Wilder não se importa de vê-las sofrer e as castiga pelos seus erros. Com certeza, este é também um dos melhores filmes não vencedores do Oscar de melhor filme, mas nem em 1951 nem em qualquer outro ano sua vitória ocorreria. Afinal, é uma produção metonímica crítica e mordaz demais para que os votantes dêem o braço a torcer e o consagrem dessa maneira. Bom, isso não importa. O que importa é que este é um dos melhores filmes de todos os tempos, e isso já é consagração mais que suficiente.
13. Nashville (1975)
Direção: Robert Altman
Com: Ronee Blakley, Lily Tomlin, Shelley Duvall, Ned Beaty
Em meio ao total clima de desesperança nos EUA dos anos 70, causado pelo escândalo Watergate e a catastrófica guerra do Vietnã, Robert Altman, sempre audaz, cria um universo fictício centrado numa das grandes capitais do país: Nashville. A capital mundial da música country converge uma grande fatia do verdadeiro EUA, com seu povo vivendo suas vidas, mas lotadas de decepções. É um tipo de retorno às raízes do país, digamos assim. Liderando um elenco enorme, Nashville nos mostra várias histórias paralelas com pequenos pontos de intersecção entre si, mas todas pontuadas pelos mesmos elementos: descrença, desesperança, arrependimentos, sofrimento. As personagens refletem em si toda a depressão e negação do período. Um país debilitado reflete num povo debilitado. As personagens de Nashville vão se afundando cada vez mais no fundo do poço e aparentemente não podem fazer nada para mudar isto. É uma força superior. A conclusão do longa, para mim, ainda permanece como uma incógnita. O close final na bandeira dos EUA que paira soberana sobre a cidade tanto pode ser interpretada como um sinal de luz no fim do túnel como também como uma forma zombeteira de dizer: isto é a verdadeira América. É isto que está por trás de toda a propaganda do “american way of life”. Como se trata de uma década muito confusa, Altman abusa no caos, tanto pelo número de personagens quanto pela falta de linearidade de narrativa e manter tudo isto sob controle é marca registrada deste que é um dos melhores diretores de todos os tempos. Nashville faz parte, também, de um dos melhores anos de indicados ao Oscar de melhor filme da história da competição. Estavam na disputa: Nashville, Tubarão, Barry Lyndon, Um dia de cão e o vencedor, Um estranho no ninho (um dos três filmes a vencer as cinco categorias principais). Meu preferido dos cinco? Nashville. Seria possível a vitória? Não. Crítico demais.

12. Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941)
Direção: Orson Welles
Com: Orson Welles
Filme obrigatório para cinéfilos. Um filme capaz de mudar perspectivas e entendimentos sobre o que é o cinema e, principalmente, um filme que justifica a designação deste como a sétima arte. Uma obra indispensável, intensa, interessante do começo ao fim. O diretor/ator Orson Welles cria a história de um magnata e o envolve em meio a um mistério em sua morte. A enigmática palavra “Rosebud” ecoa a mais de sete décadas na mente cinéfila. Para desvendar este mistério, toda a vida de Kane é desconstruída, passando de sua infância pobre a sua vida de velho milionário no palácio de Xanadu (a idéia teria vindo do palácio onde vivem as personagens de Rebecca do diretor Alfred Hitchcock). Um enredo construído em flashbacks, Cidadão Kane guarda doses enormes da mais pura genialidade cinematográfica. Além da narrativa não-linear, a fotografia do filme é algo totalmente inovador para o início dos anos 40. A posição das câmeras, o jogo de luzes, os artifícios de imagem. Tudo permanece, até hoje, extremamente primoroso de se ver. Uma verdadeira aula de cinema. Não é à toa que o filme permaneceu por 50 anos como o melhor filme de todos os tempos segundo a revista inglesa Sight and Sound, sem falar em todos os diretores que tiveram seu trabalho diretamente influenciado pela obra prima de Welles.

11. Hannah e suas irmãs (Hannah and her sisters, 1986)
Direção: Woody Allen
Com: Mia Farrow, Barbara Hershey, Dianne Wiest, Michael Caine, Max Von Sydow, Woody Allen
O filme mais abrangente de toda a vasta filmografia de Woody Allen, Hannah e suas irmãs concentra-se na conturbada e dependente relação familiar de uma grande família onde tudo converge para um ponto central: Hannah (Mia Farrow), a canalizadora de tudo. De maneira muito sutil, Woody Allen aborda todos os temas recorrentes em sua carreira, mas consegue explorá-los de maneira muito melhor que na maioria de seus outros filmes. Todas as personagens principais de Hannah e suas irmãs são construídas e desconstruídas, de modo que Woody mostra um interesse muito particular em explorar todas as camadas da personalidade dos envolvidos na história. Esse traço é nitidamente influenciado pelo trabalho do cineasta sueco Ingmar Bergman, ídolo de Allen. A presença do ator Max Von Sydow também é um bom exemplo da presença marcante da obra de Bergman em Hannah e suas irmãs. Além da família, o longa também aborda: religião, morte, vida, sexo, amor, amizade, ressentimento, culpa e traição. O conteúdo mais dramático encontra um contraponto preciso com o núcleo cômico do filme, liderado por um Woody Allen tão engraçado quanto poucas vezes. Vencedor de três Oscar (melhor roteiro, melhor atriz coadjuvante – Wiest – e melhor ator coadjuvante – Caine), permaneceu por mais de duas décadas como a maior bilheteria de Allen, sendo superado apenas por Meia noite em Paris.

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