domingo, 13 de outubro de 2013

Gravidade - a ficção científica obrigatória de 2013

A nova produção do diretor Alfonso Cuarón é impressionante do começo ao fim. Gravidade (Gravity, 2013) narra a verdadeira epopeia da cientista Ryan (Sandra Bullock) tentando sobreviver no ambiente mais inóspito e pouco conhecido pelo homem: o espaço. Durante uma simples missão de reparos na estação espacial, Ryan, Matt (George Clooney) e os demais ocupantes da nave são atingidos por uma chuva de destroços de satélites que desencadeiam uma perigosa e imprevisível reação em cadeia que destrói tudo que está pelo caminho.
Os perigos da jornada incerta de Ryan em busca de sua sobrevivência são dos mais diversos possíveis. A cientista passa por tudo o imaginável e o imaginável nos poucos mais de 90 minutos do filme. Por estar sempre no limite físico e psicológico, o filme se aproveita para deixar um pouco de lado sua parte técnica e visual e se adentrar mais numa questão mais psicológica e filosófica, propondo provações pessoais às personagens. São questionados pontos dramáticos, principalmente a questão da mortalidade humana e o quanto somos fracos, impotentes e pequenos diante a grandeza do universo. Alguns detalhes da vida passada de Ryan também vão sendo revelados com o passar da trama, adicionando carga dramática e aumentando em algumas camadas a personagem muito bem interpretada por Sandra Bullock, que volta a um ambiente de ação onde não aparecia há um bom tempo. A dramaticidade é interessante e quase sempre fica bem no filme, mas em alguns momentos torna-se meio piegas. Algumas vezes, me peguei ansioso para saber a resolução do caso enquanto o filme se preocupava muito com questões dramáticas até clichês, sobretudo no final em que o drama se torna quase apelativo e caricato. Não chega a ser ruim em nenhum momento, mas essa energia desperdiçada com um drama quase exagerado poderia ter sido canalizada para aumentar os elementos chave do filme: a tensão, a sensação de imprevisibilidade e incapacidade que deixa o espectador num nível basal de ansiedade e curiosidade que é muito bom.


Dramas à parte, o que sustenta Gravidade é a parte técnica. E nisso o filme é impecável. A construção do ambiente é fenomenal e poucas vezes vi um filme de ficção científico tão bem realizado quanto este. O visual de Gravidade é fantástico. Do primeiro ao último minuto do filme, somos levados ao mais alto nível de realismo possível para um enredo tão improvável que se passa num ambiente tão difícil de trazer para nossa realidade. Isso faz o filme tornar-se algo possível de acreditar, permite que torçamos mais pelas personagens (torcemos por suas vitórias, lamentamos suas perdas) e definitivamente prende nossa atenção. A preocupação técnica se faz em todos os elementos, seja pela bela fotografia que inclui imagens belíssimas da Terra pelo ponto de vista espacial, pela trilha sonora interrompida por silêncios absurdos ou pela edição rápida que faz o filme de 90 minutos ser sempre ágil. O clima do filme é tão palpável que o espectador até é capaz de sentir o que está acontecendo, e é divertido perder-se à deriva junto às personagens.

Gravidade também se aproxima de outros filmes de ficção científica. O simples fato de tratar-se de questões espaciais o aproxima de Apollo 13 – do desastre ao triunfo, a qualidade técnica que remete às inovações tecnológicas de 2001 – uma odisseia no espaço e a escolha da protagonista é muito influenciada pela Ripley (Sigourney Weaver) de Alien. Em 79, Ridley Scott já havia provado que se a Terra é dos homens o espaço é das mulheres, pois Ripley é quase indestrutível. Bem assim é Ryan. A personagem mais forte, resistente e persistente o possível, elevando o instinto de sobrevivência ao patamar mais alto. No momento, a digna atuação de Sandra Bullock está bem cotada para uma indicação ao Oscar de melhor atriz, o que a aproximaria ainda mais de Sigourney Weaver, visto que esta recebeu indicação na categoria por seu trabalho em Aliens. Se a indicação ocorrer, não será desmerecido, assim como a provável indicação do filme a melhor filme. Dos filmes de 2013 que vi, é de longe o melhor e mais convincente. Sempre reclamo de filmes que dependem muito de sua parte técnica para atraírem o público, mas me rendi a Gravidade.

Nota: 9.5/10

Lucas Moura

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Filmes pro final de semana - 11/10

1. 127 horas (127 hours, 2010)
Um dos maiores destaques entre os grandes filmes do Oscar 2010/ 2011 foi o longa estrelado por James Franco e baseado na história real do alpinista Aron Ralston, que sofreu um acidente e ficou preso por uma pedra por mais de cinco dias numa fenda no Grand Canyon, tendo como companhia apenas uma câmera com a qual gravou pequenos depoimentos de seu infortúnio, um pequeno cantil com cada vez menos água e uma faca quase cega, com a qual seria quase impossível fazer o ato desesperado que poderia tirá-lo dali: cortar o próprio braço. Ao longo de noventa minutos de filme, vemos o ótimo trabalho de James Franco, que leva praticamente sozinho a história e transmite todos os sentimentos de Aron, principalmente o medo de morrer num buraco no meio do deserto. Excelente atuação que rendeu ao ator tudo que foi indicação, ao Oscar, Globo de Ouro, SAG, etc... mas tinha um Colin Firth em O discurso do rei no meio do caminho.
Nota: 9,0/ 10
2. Reencontrando a felicidade (Rabbit Hole, 2010)
Só quem já perdeu alguém próximo, seja parente, amigo ou outro ente querido sabe a dor que a morte pode causar. E essa dor tem fim? É essa a pergunta que Reencontrando a felicidade levanta a partir de um casal, Becca (Nicole Kidman) e Howie (Aaron Eckhart), que perdeu o pequeno filho num acidente de carro. Enquanto Howie tenta tocar a vida pra frente com o apoio de grupos e da fé, Becca parece rejeitar qualquer tipo de ajuda, ansiando apenas ficar sozinha com sua dor - a não ser pena estranha amizade que inicia com Jason, o garoto que dirigia o carro que atropelou seu filho. E ainda há a mãe de Becca, Nat (Dianne Wiest), que tenta ajudar a filha, já que também perdera um filho, apesar da relutância dela. E talvez, a dor nunca acabe, mas se torne possível de conviver. Ótimo filme, com maturidade e sensibilidade na medida certa, além de marcar a volta dos grandes trabalhos de Nicole Kidman.
Nota: 8,5/ 10
3. Forrest Gump - O contador de histórias (Forrest Gump, 1994)
Eu definitivamente não sou fã de Forrest Gump, mas não posso discordar de que é uma interessante e bem feita história. Tudo começa num ponto de ônibus, onde um homem se senta... e claro, conta histórias. Mais exatamente as histórias de sua vida. Forrest Gump (Tom Hanks) é um simpático débil mental com QI de 75 e uma habilidade inacreditável para jogar pingue-pongue e correr (Run, Forrest, run!!). Forrest consegue a proeza de participar de alguns dos maiores acontecimentos do mundo entre as décadas de 50 e 80, como a Guerra do Vietnã e o Festival de Woodstock e conheceu figuras como John Kennedy, Lyndon Johnson e Richard Nixon. A vida de Forrest também é marcada por uma amizade/ paixonite de infância, Jenny, que não convence muito a quem assiste. Lembrando que Tom Hanks saiu vencedor do Oscar de melhor ator, seu segundo, e o filme ainda venceu melhor filme, roteiro adaptado, diretor, efeitos especiais e edição. De novo: venceu melhor filme e diretor. Derrotou quem? Pulp fiction e Tarantino. Mais um motivo pra eu não gostar dele.
Nota: 7,0/ 10
4. Os homens preferem as loiras (Gentlemen prefer blondes, 1953)
Cuidado ao dizer que Diamonds are a girl's best friend é coisa de Moulin Rouge ou mesmo da Madonna. A canção foi imortalizada por Marilyn Monroe nesse filme de 1953 em que ela interpreta Lorelei, uma showgirl que faz dupla com Dorothy (Jane Russell) e é noiva do jovem milionário Gus (Tommy Noonam). Quando as coristas precisam ir à Europa por trabalho, Gus dá a Lorelei uma carta de crédito razoável, mas seu pai, que desconfia da moça, manda investigá-la e acaba porvocando o fim do noivado. As duas moças então precisam se virar em Paris, e o jeito é fazer o que elas sabem melhor: cantar e dançar. O resultado é um misto de musical e comédia romântica muito bacana com uma certa acidez ao criticar a caça a fortunas e com muito glamour de duas grandes estrelas da época.
Nota: 8,0/ 10
5. Era uma vez em Tóquio (Tokyo Monogatari, 1953)
Um casal de idosos deixa sua filha mais jovem em casa, no campo, e vai visitar seus outros filhos na capital Tóquio, cidade que eles não conheciam. Porém os filhos já tinham suas próprias vidas e famílias e mal escondiam estar evitando os pais, na dura e atarefada vida do Japão pós-guerra. A única que parecia estar sempre disposta a fazer companhia e dar atenção aos velhos era a nora viúva que perdera o marido na guerra. Não que o casal reclamasse, tampouco a nora. Durante duas horas acompanhamos os idosos e suas constatações sobre velhice e relações familiares, inclusive a dolorosa mas talvez inevitável certeza do abandono dos mais jovens em relação aos mais velhos. O filme é muito sutil, delicado, discretamente lento, e essa leveza parece perfeita para acompanhar os gentis costumes japoneses e a melancólica saga do casal de idosos. Difícil aqui só é diferenciar todas as personagens... desculpem a piada.
Nota: 10

domingo, 6 de outubro de 2013

Moonrise Kingdom - frescor infantil para adultos

Demorei a conferir o último trabalho do diretor Wes Anderson. Na verdade, acho que demorei tempo demais. Estou totalmente apaixonado pelo carisma e pela qualidade de um filme que não reservava, exatamente, questionamentos sobre sua grande qualidade, mas que mesmo assim mostrou-se, para mim, muito melhor do que o que eu imaginava. Estou falando do sucesso de Cannes em 2012, Moonrise Kingdom.



O enredo é simples e quase banal, mas a maneira como se desenrola é especial e cativante. O filme conta a história de um casal de jovens de apenas 12 anos de idade que decidem se encontrar em um local, marcado através de cartas pelas quais se corresponderam por um tempo, na ilha em que vivem e fugirem juntos. Partir para uma vida melhor, de novas perspectivas, longe das enfadonhas frustrações de suas vidas cotidianas. O menino, Sam, é um órfão que sente-se incompreendido e rechaçado pelo grupo de escoteiros ao qual faz parte. A menina, Suzy, sente-se incompreendida e injustiçada dentro de um meio familiar desestruturado.



A vida em fuga dos dois se inicia, mas logo é interrompida pelos adultos (policiais, chefe dos escoteiros, assistente social, familiares) que querem impedir que esta loucura infantil tomasse consequências trágicas. E, de fato, tragédias acontecem ao longo da trama. Não por parte dos garotos, mas da intromissão de outros em seus planos. O fato é que Sam e Suzy, apesar de guiados por sentimentos imaturos que definitivamente não levariam a nada de bom na vida real, tem uma segurança e uma coragem que contrasta com o descontrole dos adultos do filme, que não tem qualquer controle sobre suas vidas e são apáticos demais para procurar alguma nova direção – algo que os dois estão aptos e dispostos a fazer.



O interessante em Moonrise Kingdom é que é um filme extremamente diverso. Através de imagens e cenários belos, naturais e minuciosos, Wes Anderson conta uma história que nos dá um pouco de tudo: momentos de tristeza, momentos de comédia e momentos trágicos que são todos marcados por grande sensibilidade e carisma. A tristeza e a tragédia são pontos fundamentais tendo em vista o lado psicológico conflituoso das protagonistas. Os momentos de comédia são quase todos fundamentados no absurdo – marca registrada do trabalho de Wes Anderson. O romance também é um dos pontos altos da trama, tendo em vista que o filme se esforça a retratar o improvável casal com a máxima pureza de sentimento possível. Enfim, o filme é uma graça. Ah, além de tudo o elenco é fantástico.

Nota: 10






Lucas Moura

sábado, 5 de outubro de 2013

Kate Winslet

Hoje é aniversário de uma das melhores atrizes do cinema dos últimos anos: Kate Winslet. Nome conhecido entre cinéfilos ou não, Kate é uma combinação perfeita de popularidade e talento, sendo, ao mesmo tempo, uma atriz extremamente reconhecida por público e crítica, tendo em sua filmografia uma lista extensa de trabalhos dos mais diversos possíveis.


A carreira de sucesso de Kate iniciou-se em 1994 com Almas gêmeas, filme Cult/independente do então desconhecido Peter Jackson (o nome por trás da trilogia O senhor dos anéis e também por O hobbit, King Kong entre outros filmes bons e megalomaníacos). Com seu reconhecimento por este trabalho, Kate conseguiu um papel de coadjuvante na adaptação de Ang Lee da obra de Jane Austen, Razão e sensibilidade, pela qual recebeu sua primeira indicação ao Oscar (como melhor atriz coadjuvante). Os sucesso destes dois trabalhos, e de outros menores, levaram Kate a ser escalada para o filme mais grandioso dos anos 90: Titanic. Como não associar o nome da atriz com Rose, sua personagem principal neste filme? O sucesso  estrondoso (pra dizer o mínimo) de Titanic a elevou automaticamente a categoria mais alta de Hollywood, de onde não saiu nesse últimos 16 anos.

Apesar de ter tomado frente de um projeto tão popular e dispendioso como Titanic, Kate Winslet nunca demonstrou grande interesse em filmes megalomaníacos como este. De fato, se for analisar minimamente a carreira da atriz percebe-se claramente que Titanic é um estranho no ninho dentre todos seus trabalhos, que são, em sua maioria esmagadora, filmes menores, para públicos mais restritos e, principalmente, filmes muito pessoais. Então, nos anos que se seguiram após Titanic, Kate não pontuou superproduções hollywoodianas, mas sim pequenos filmes, sejam mais ácidos como Contos proibidos do marquês de Sade ou mais intimistas como Iris.


Ao longo dos anos 2000, Kate praticamente reinou no cinema americano, colecionando quatro indicações ao Oscar (as outras duas vieram ainda nos anos 90 – Razão e sensibilidade e Titanic, obviamente). Esses quatro filmes foram: Iris, Brilho eterno de uma mente sem lembranças, Pecados íntimos e, o filme que lhe deu o prêmio: O leitor. O interessante é notar que estes filmes são incrivelmente divergentes entre si. Iris é mais intimista. Brilho eterno é um romance totalmente fora do padrão convencional em que Kate vive uma antológica Clementine. Pecados íntimos mostra a atriz mais sexual do que nunca (sexualidade – não vulgaridade – é um elemento marcante em quase todas as personagens de Kate). O leitor talvez seja o que exigiu uma maior carga dramática e veio no mesmo ano que um interessantíssimo e desconfortável Foi apenas um sonho, filme que recria a parceria com Leonardo Di Caprio em que os dois vivem o fim do sonho americano. Assistir Foi apenas um sonho é uma experiência muito curiosa de observação da evolução artística dos dois atores. Por Foi apenas um sonho, venceu o Globo de ouro de melhor atriz (sendo que na mesma edição do prêmio venceu melhor atriz coadjuvante por O leitor – massacrando a concorrência).

Atualmente, Kate Winslet pisou um pouco no freio e apresenta um número menor de grandes trabalhos como fazia nos anos 2000, mas mesmo assim ainda foi capaz de transportar seu talento para a televisão, onde protagonizou a adaptação do filme dos anos 40, Mildred Pierce (papel originalmente vivido por Joan Crawford), em que interpretou o papel principal e ganhou todos os principais prêmios de atuação feminina para a televisão (SAG, Emmy e Globo de Ouro). A impressão que dá é que a versatilidade e o talento de Kate são mesmo inesgotáveis.


Filmes que vocês não podem deixar de ver: Razão e sensibilidade, Titanic (caso algum alien não tenha visto ainda), Brilho eterno de uma mente sem lembranças, Pecados íntimos, O leitor e Foi apenas um sonho.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Filmes pro final de semana - 04/10

1. Um sonho de liberdade (The Shawshank Redemption, 1994)
Pequeno clássico dos anos 90, é um leve mas ótimo drama ambientado numa prisão americana nos anos 40 e centrado no jovem banqueiro Andy  Dufresne (Tim Robbins), condenado à prisão perpétua acusado do homicídio de sua esposa e do amante dela. Na cadeia, ele conhece Red (Morgan Freeman), com quem constrói uma forte amizade. Andy vai se adaptando à prisão e ganhando certa proteção do diretor e dos guardas por resolver os problemas com contabilidade, se esquivando de valentões e conseguindo ocasionais presentes para si e seus companheiros. Ao longo de mais de vinte anos de história, vemos as dificuldades enfrentadas por Andy e seus esforços para superá-las, inclusive conseguindo transformar a biblioteca da prisão. Através de um roteiro sólido e de um ótimo trabalho de direção, Robbins e Freeman lideram um filme coeso, forte e carismático conto originalmente escrito por Stephen King - sim! Nem só de terror vive o cara.
Nota: 8,0/10
2. Memórias de uma Gueixa (Memoirs of a Gueisha, 2005)
Baseado no best-seller homônimo de Arthur Golden, o filme é extremamente fiel ao livro - e ótimo para ilustrar a beleza do Japão pré-Segunda Guerra, militarista, desenvolvimentista e onde as gueixas tinham importante papel na sociedade (ou a margem dela). Chiyo é uma garota pobre, filha de pescador, que perde a mãe e é vendida para uma casa de gueixas em Kyoto. Lá ela recebe a missão de aprender tudo para se tornar uma gueixa, como escrita, dança, música e etiqueta, e conhece aquela que se tornaria sua maior rival: Hatsumomo, uma linda e famosa gueixa que vê na pequena e desajeitada Chiyo um futuro problema. Mas fora dos problemas dentro da casa, Chiyo conhece um homem elegante e gentil, por quem se apaixona - e cujo destino voltaria a se unir ao dela. Nenhuma obra-prima, mas certamente um agradável e interessante filme sobre amor e a cultura oriental.
Nota: 7,0/ 10
3. Kramer vs Kramer (1979)
Ah, a Nova Hollywood. Uma geração brilhante, promissora, ousada, revolucionária, que salvou a indústria do cinema americano... mas que não demorou muito mais que uma década. E o início do fim foi na premiação do Oscar de 1979/1980, em que o épico e gigantesco Apocalypse Now de Francis Ford Coppola e todo seu horror da Guerra do Vietnã foram derrotados para o drama familiar de Kramer vs Kramer. Estrelado por Dustin Hoffman e Meryl Streep, premiados respectivamente com Oscar de melhor ator e atriz coadjuvante, o filme acompanha o súbito fim do casamento de Ted Kramer (Hoffman) e sua esposa Joanna (Streep), motivado pela dedicação dele ao trabalho e não à família. Joanna se vai e deixa Ted com o pequeno filho Billy, e o executivo precisa se desdobrar em pai e mãe, sendo que ele mal fazia o primeiro papel como deveria. E quando Ted se acostuma à nova rotina... Joanna volta para brigar pela guarda do filho. O resultado? Uma batalha judicial que comoveu os Estados Unidos e derrotou um dos melhores filmes já feitos. Mas como a gente sabe que qualidade não é o único aspecto analisado pela Academia... a gente deixa pra lá e aproveita essa beleza de filme.
Nota: 8,5/ 10
4. A pele que habito (La piel que habito, 2011)
Fúria. Loucura. Paixão. Elementos novelescos e claro, onipresentes da obra de Pedro Almodóvar. Este filme de 2011 ganhou imensa popularidade por trazer esses três elementos com mais intensidade que o normal a ponto de chocar o espectador; muitos o classificam como terror (inclusive o próprio diretor), mas eu prefiro chamar de horror. A diferença? A intenção aqui não é apavorar o espectador, e sim impressionar, e muito. Antônio Banderas interpreta um cirurgião plástico muito competente, um cientista inovador cujo único, mas grande defeito é o desprezo à ética. Um de seus mais promissores e polêmicos trabalhos é o desenvolvimento de uma pele artificial cuja aparência é a da pele humana, mas é mais resistente. E para cobaia, ele usa alguém que fez coisas que o atingiram fortemente naquilo que ele considerava mais precioso. O que? Assista para descobrir. Garanto que é um prazer imenso descobrir os segredos que Almodóvar tem a revelar pouco a pouco e que deixou boquiabertas plateias de todo o mundo.
Nota: 9,0/ 10
5. Mamma Mia! (2008)
Na entrega do Oscar de melhor atriz ano passado, Colin Firth arrancou muitas risadas dizendo para Meryl Streep: "Meryl... Mamma Mia! Estávamos na Grécia, cantávamos, eu era gay e éramos felizes". Esse trecho da fala de Firth remete ao musical que só usou músicas da banda sueca Abba, sucesso anos anos 70 e 80 com melodias grudentas e uma impressionante harmonia entre as vozes de suas vocalistas. No filme Meryl Streep vive Donna, americana que mora numa pequena ilha grega onde mantém um velho hotel, do qual toma conta praticamente sozinha. Donna está organizando o casamento de sua única filha, Sophie (Amanda Seyfried), cujo sonho é conhecer o pai, de quem a mãe nunca falou. Investigando antigos diários de Donna, Sophie chega a três prováveis candidatos: Sam (Pierce Brosnam), Harry (Firth) e Bill (Stellan Skarsgard). Qual dos três é o verdadeiro pai de Sophie? E o reencontro de Donna com seus ex-namorados pode trazer a tona algum amor do passado? Assista, descubra, e reze para esquecer as várias músicas que grudarão em sua cabeça.
Nota: 8,0/ 10
Luís F. Passos

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Filmes pro final de semana - 27/09

1. J. Edgar (2011)
Nos anos 20, a chamada polícia federal dos Estados Unidos era quase uma piada. Faltava estrutura, funcionários e principalmente o poder de atuação que é tão famoso nos dias de hoje. Tudo mudou com o brilhante e ambicioso John Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio) que entrou na agência como assistente do diretor e não tardou a ocupar o cargo do chefe. No comando do FBI, Hoover criou o conceito de uma polícia moderna, investigativa e com a capacidade de cruzar e gerar dados dos cidadãos como nenhuma outra no mundo. Tamanha dedicação lhe rendeu a segurança no cargo por nada menos que 48 anos, só deixando a diretoria da agência no caixão. Em todo esse tempo os Estados Unidos tiveram oito presidentes e mais de vinte secretários de Estado, todos devidamente investigados por Hoover, que encomendou dossiês sobre a vida de quase todas as figuras públicas do país – apesar dos feitos heróicos, o diretor também tinha um lado obscuro que incluía ir contra Martin Luther King e a luta pelos direitos civis. É essa uma das qualidades do filme: a imparcialidade. A direção de Clint Eastwood expõe as várias facetas de Hoover através da atuação fenomenal de DiCaprio, mostrando além de sua trajetória, a fonte de várias contradições da personalidade complexa e fascinante que foi J. Edgar Hoover.
Obs: na minha opinião, a atuação de DiCaprio foi a melhor desse ano, junto com a de Ryan Gosling em Drive. Nenhum dos dois atores foi indicado ao Oscar.
Nota: 9,5/ 10
2. Albert Nobbs (2011)
Na Irlanda vitoriana, o austero mordomo de hotel Albertt Nobbs guarda um segredo: é, na verdade, uma mulher, que há 30 anos usa roupas e identidade masculinas para poder trabalhar. Albert, interpretado por Glenn Close, é um exemplo de dedicação ao trabalho e discrição, o que lhe garante o respeito de todos os colegas e hóspedes do hotel. O filme gira em torno da figura do mordomo a partir de sua amizade com o pintor Hubert Page (Janet McTeer) e sua relação com o casal de amantes formado pela copeira do hotel Helen e o misterioso Joe, desempregado que aparecera no hotel e se oferecera para fazer bicos. No longa, se destacam as atuações de Glenn Close e Janet McTeer, ambas indicadas ao Oscar. Glenn, inclusive, também é co-produtora e co-roteirista do filme, que é beaseado num conto que também inspirou uma peça em que a atriz trabalhou na década de 80.
Nota: 8,0 / 10
3. Dúvida (Doubt, 2008)
Nova York, 1964. Numa tradicional e rigorosa escola católica do Bronx, a diretora, irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), controla com mãos de ferro a educação de seus alunos. A igreja é vinculada à igreja local, e consequentemente o pároco padre Brendan Flynn (Phillip Seymour Hoffman) também tem algum poder na administração escolar, além de dar aulas de educação física. A partir de um comentário feito pela irmã James (Amy Adams) sobre o excesso de atenção dada pelo padre ao único aluno negro da escola, Donald Miller, a irmã Aloysius começa uma verdadeira cruzada buscando a verdade por trás do padre, cujo comportamento liberal irrita a conservadora freira. Além do drama denso e muito bem elaborado, o filme é sustentado pelas excelentes atuações de seus três protagonistas, ambos os três indicados ao Oscar, e de quebra traz um fator adicional: Viola Davis, na época não muito conhecida, que aparece menos de dez minutos do filme mas é responsável por uma cena excelente junto a Meryl Streep (aliás, o trabalho de Meryl aqui é um dos que mais gosto na carreira dela) e também foi indicada a melhor atriz coadjuvante.
Nota: 8,5/ 10
4. O garoto (The kid, 1921)
Uma mãe pobre, um bebê abandonado, um assalto a uma mansão e eis que surge uma criança no caminho de nosso velho amigo Carlitos (Charles Chaplin). O vagabundo tenta se esquivar do pequenino que o destino pusera em sua vida, mas aceita cria-lo, apesar da pobreza em que vive. Cinco anos depois, o pequeno ajuda seu pai adotivo no ofício de vidraceiro - de um jeito não muito honesto, verdade - e os dois se viram como podem. Ao mesmo tempo, a outrora pobre mãe se tornara uma rica estrela de cinema que pratica caridade na tentativa de curar as mágoas do passado sobre o filho abandonado. Coincidências poderão fazer com que a mãe reencontre seu filho? Ao longo de 50 minutos Chaplin conduz uma história muito emocionante e claro, muito engraçada, por exemplo com a famosa cena em que ele e o menino fogem de um policial após destruir uma vidraça. Nenhuma palavra falada (o filme foi feito seis anos antes do cinema falado), mas emoção de sobra.
Nota: 8,0 / 10
5. Poderosa Afrodite (Mighty Aphrodite, 1995)
De todos os filmes genuinamente cômicos de Woody Allen, um dos mais divertidos e inusitados é mesmo Poderosa Afrodite. Uma mistura criativa e genial de romance americano com tragédia grega, aliados aos elementos de comédia já clássicos na filmografia do diretor, bem como esboços de suas reflexões usuais, que aqui aparecem quase em segundo plano. Em primeiro plano, uma trama enrolada e quase novelesca pautada na busca de um homem judeu de meia idade (Woody Allen) pela mãe de seu filho adotivo. A grande diversão de Poderosa Afrodite é ver a relação afetiva (não exatamente amorosa) que ocorre entre as personagens, tendo em vista o quão épica é a personagem interpretada por Mira Sorvino. Uma das personagens mais interessantes, divertidas e surpreendentes de toda a filmografia do diretor. Seja como tragédia grega ou comédia pastelão, Poderosa Afrodite funciona muito bem e não fica muito atrás dos grandes filmes do diretor.
Nota: 9,5/ 10
Lucas Moura e Luís F. Passos

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Filmes pro final de semana - 20/09

1. Bastardos Inglórios (Inglorious Bastards, 2009)
Na França ocupada pelos nazistas, um pequeno pelotão americano formado apenas por judeus e comandado pelo tenente Aldo "o Apache" ( Brad Pitt) desembarca com um único objetivo: matar nazistas. O terror espalhado pelos Bastardos Inglórios se espalha pelas fileiras alemãs e chega ao próprio Hitler. Paralelamente, há uma jovem dona de cinema (Mélanie Laurent) que anos antes viu sua família ser morta pelo genial e sádico coronel da SS Hans Landa (Cristoph Waltz), que tem a chance de vingar seus parentes e todos os judeus mortos pelos nazistas. Utilizando a violência típica de seus filmes, enchendo a tela de sangue e fazendo referências cinematográficas e à  cultura pop, Tarantino cria uma história que é considerada por muitos a melhor dos anos 2000. O roteiro é excelente, envolvente e divertido; e também merece toda a glória Christoph Waltz, até então um desconhecido ator austríaco, que levou o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo maravilhoso trabalho como Hans Landa. Bingo! (entendedores entenderão).
 Nota: 9/ 10
2. Volver (2006) 
Voltando a trabalhar com fortes personagens femininas, Almodóvar dirige a história das irmãs Raimunda (Penélope Cruz) e  Sole (Lola Dueñas), que perderam os pais num trágico incêndio. O maior destaque da história vai para Raimunda, que logo no início do filme se vê diante da morte do marido pela sua própria filha, que o matara para se defender de abuso sexual. Mãe protetora, Raimunda decide esconder o cadáver para proteger sua filha. Na mesma noite, Sole viaja para o enterro de sua tia Paula, uma idosa debilitada que quando viva jurava para as duas irmãs que era a falecida mãe delas, Irene, quem cuidava dela na velhice - e as irmãs achavam que a tia estava ficando caduca. Mas acontece o impensável: Sole encontra sua falecida mãe mais viva do que nunca no porta-malas de seu carro. Estamos diante do sobrenatural? É a indagação que Almodóvar conduz pelo filme, com sua habilidade única de revelar aos poucos os mistérios de suas obras. Além das marcas do diretor espanhol, Volver tem como principal mérito as atuações de suas protagonistas, vencedoras do prêmio de atuação feminina em Cannes (foram cinco vencedoras empatadas), e talvez a melhor atuação da carreira de Penélope Cruz.
Nota: 8,5/ 10
3. Fargo (1996)

Tudo pode acontecer no meio do nada. Meu filme preferido dos singulares irmãos Coen, Fargo nos traz uma tragicomédia que envolve sequestro, roubo, assassinato, medo, arrependimento, piadas, uma policial grávida e muitos, muitos erros. O subtítulo recebido em sua distribuição nacional, Uma comédia de erros, na verdade é bem conveniente. Um filme sobre erros que simplesmente acerta em tudo. Assistir Fargo é uma experiência divertida, sendo um prazer inestimável sentar e ver aquelas pessoas se destruindo pelas próprias bobagens que foram largando pela mais pura incompetência. Dentro de seu universo particular de filmes bizarros, Fargo pode até ser o que não bate mais nesta tecla, mas é de longe o trabalho mais sólido e mais competente dos irmãos Coen. Uma das coisas que mais gosto aqui é que toda a comédia, não são gags estúpidas, mas sequências de ironias e exageros tratadas como algo extremamente natural. Não se força a barra, tudo simplesmente flui. É como se dissessem: este aqui é nosso mundo, e no nosso mundo coisas assim acontecem a qualquer momento. A atuação de Frances McDormand é a cereja do bolo.
Nota: 10
4. Os bons companheiros (GoodFellas, 1990)
A escória da máfia. Diferente do alto escalão dos mafiosos ítalo-americanos apresentados pela trilogia de Coppola, Scorsese nos mostra o baixo escalão desta mesma instituição, dando um novo ponto de vista de algo já muito familiar. Os bons companheiros desenvolve-se na relação entre Henry Hill (Ray Liotta) e sua vida na máfia. Uma vida toda preparada para fazer parte disto, algo que sempre foi julgado como algo maior. No meio da confusão e da pobreza dos bairros suburbanos violentos, ser da máfia representava ser alguém. Scorsese desenvolve desta forma, a ascensão de Henry para a máfia e como ele construiu destruir-se totalmente uma vez tendo abusado de todos os privilégios e riqueza que lhe beneficiaram e ultrapassado qualquer limite e senso de moralidade. Violento do começo ao fim, Os bons companheiros é ironicamente cômico. Situações absurdas acontecem o tempo todo e risos são inevitáveis. O desenrolar da trama segue uma sequência não muito imprevisível, mas muito interessante de ser acompanhada. Representa, também, a terceira derrota mais amarga de Scorsese ao Oscar de direção. Afinal, temos aqui o terceiro melhor filme do diretor, perdendo apenas para Taxi Driver e Touro indomável.
Nota: 10

5. Farrapo humano (The lost weekend, 1945) 
Primeiro filme a retratar o alcoolismo como o grande problema que é, Farrapo humano é uma abordagem adulta, inteligente e impiedosa da degradação daqueles que sofrem desse mal. No filme Ray Milland dá vida a Don Birnam, escritor que vem lutando contra a bebida e que enfrenta um final de semana crítico em que está sozinho, sem sua namorada e seu irmão, que o incentivam a ficar longe do álcool. Na solidão, a falta de dinheiro para comprar whisky leva Don a mentir, trair, roubar e até mesmo tentar vender sua máquina de escrever, numa sucessão de cenas tensas e humilhantes para o protagonista - e a excelente direção de Billy Wilder nos leva para junto de Don a todo o tempo, sofrendo com ele e vendo sua triste história a partir de seu ponto de vista. Filme ícone dos anos 40, vencedor dos Oscar de melhor filme, direção, roteiro adaptado e ator.
Nota: 10

Lucas Moura e Luís F. Passos