terça-feira, 30 de abril de 2013

Lars von Trier


Dizer que Lars von Trier é um diretor polêmico já é desnecessário há muito tempo. Além de brilhante, inovador, questionador e dono de uma perícia técnica que o torna único, Trier sem dúvidas é um sádico. Seus filmes conseguem atingir o espectador em cheio, causando sofrimento emocional e psicológico - mas um sofrimento que vale a pena sentir, porque cada um desses filmes é uma experiência única.
Lars Trier nasceu em Copenhague em 30 de abril de 1956, membro de uma família de intelectuais em que tudo era permitido, exceto sentimentos e religião. O excesso de liberdade contribuiu para a sua formação intelectual, mas a falta de afeto foi a grande causadora de sua ansiedade e desejo de controlar tudo, que o acompanha até hoje. Ainda na infância ganhou sua primeira câmera filmadora, e passou a fazer curtas metragens amadores, em que buscava retratar o mundo a sua volta, e desde então buscou elaborar suas próprias técnicas.
Na década de 70, junto a um grupo de jovens cineastas, produziu dois curtas metragens não muito conhecidos; mas foi depois de sua entrada na Escola Dinamarquesa de Cinema que ele desenvolveu melhor suas técnicas, após conhecer tudo que o cinema tinha a lhe oferecer. Dirigiu outros dois curtas enquanto cursava a Escola, e quando saiu dirigiu o primeiro longa, Elemento do crime, em 1984. Seu primor técnico milimétrico lhe garantiu o Prêmio Técnico de Cannes, além de grande reconhecimento de público e crítica.
Depois de outros bons filmes na década de 80, em 1991 Trier lançou Europa, filme que mistura suspense e romance na Europa pós- 2ª Guerra. O diretor confessou que esse foi o auge se dua obsessão por controle da imagem; dessa vez ele ganhou, em Cannes, o Grande Prêmio do Júri (que é tipo segundo lugar na categoria de melhor filme) e o Prêmio de Melhor Contribuição Artística.
Depois de trabalhar na televisão, Trier elaborou junto a Thomas Vinterberg o manifesto Dogma 95, que propõe um cinema puro através de dez mandamento, como a não utilização de cenários, câmeras apenas no ombro e utilização de luz e som naturais, visando se libertar do cinema que se sustenta em efeitos especiais e buscando se voltar para a essência artística do cinema. Mas mesmo sendo autor do manifesto, apenas um filme de Trier segue totalmente o Dogma: Os idiotas (1998) - os demais têm características, mas poucas.
Lars obteve sucesso novamente em Cannes com Ondas do destino (1996), que levou o Grande Prêmio do Júri, e quatro anos depois, com Dançando no escuro, o prêmio máximo: a Palma de Ouro. No filme, uma mulher vai perdendo a visão graças a uma doença degenerativa, mas encontra consolo na música. Ela trabalha exaustivamente para juntar dinheiro e pagar uma cirurgia para que seu filho não sofra do mesmo mal que ela, mas precisa lutar contra a maldade de algumas pessoas - Trier mais uma vez criticano os defeitos humanos. O filme também recebeu prêmios e indicações por melhor filme e por suas músicas. Os três filmes acima citados compõem a chamada Trilogia do coração.
Em 2003 Trier trabalhou com Nicole Kidman, que estava em seu auge, no controverso Dogville, filme que só pelo cenário (ou ausência dele) já chama bastante a atenção. No longa, Nicole vive uma mulher que se refugia numa pequena cidade no meio das Montanhas Rochosas, e para merecer o apoio dos moradores passa a prestar pequenos favores. O problema é que os anfitriões passam a querer mais, e a moça come o pão que o diabo amassou - outra crítica à maldade e mesquinhez humana. A década teve outros filmes muito bons, que culminaram em sua mais polêmica criação, Anticristo (2009), que em sua primeira exibição, em Cannes, fez metade da platéia aplaudir de pé, enquanto que a outra metade vaiava fervorosamente. Em Anticristo Trier se volta para si mesmo e para seu passando, deixando de ser um diretor sádico para ser um diretor sádico e masoquista - o tulmutuado roteiro remete a um episódio de seu passado e de sua relação com a mãe.
O último grande episódio envolvendo o diretor foi o lançamento de Melancholia (2011), filme sobre o fim do mundo e as reações provocadas por tal evento. Um filme de uma beleza visual como poucos, dotado de sensibilidade e ao mesmo visceral - para mim, seu melhor filme - e marcado pelas grandes atuações de Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg. O filme abrange muito bem temas universais, como medo, depressão (retratando a depressão do próprio diretor) e inferioridade do ser humano diante do universo. Mas maior que o planeta Melancholia, só o ego de Trier, que o fez falar besteira numa coletiva de imprensa, em que uma piada de péssimo gosto culminou na frase "eu entendo Hitler". Armou-se um circo, Trier foi expulso do Festival, o filme, que tinha grandes chances de ganhar a Palma de Ouro, ficou de fora da competição e por pouco Kirsten nã perdeu a indicação a melhor atriz, a qual venceu merecidamente. Recentemente a organização do Festival anunciou que Lars von Trier é novamente bem vindo em Cannes, e que seus próximos filmes serão apreciados pelo júri.
O mais novo filme do dinamarquês, The Nymphomaniac, é aguardado para esse ano. O filme terá cenas de sexo explícito e contará com a participação de Charlotte Gainsbourg, uma das grandes parcerias de Trier, que ganhou o Prêmio de atuação em Cannes em 2009 por Anticristo. Aliás, grandes atuações femininas são marcas da filmografia de Lars: além de Kirsten e Charlotte, Björk ganhou o prêmio em 2000 por Dançando no escuro.

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Luís F. Passos

Um lugar ao Sol - drama e romance do jeito que Hollywood gosta

A família Eastman é proprietária de uma milionária empresa de roupas de banho femininas. Por serem muito ricos, são as pessoas mais importantes da cidade. Famosas, bonitas, elegantes e imponentes. No entanto, nem todo Eastman partilha desta abundância. Parentes mais afastados vivem uma vida muito humilde, dedicada a serviços de caridade numa espécie de organização religiosa. Nem todos deste lado, no entanto, são pessoas tão simplórias assim. O jovem George Eastman (Montgomery Clift) larga toda essa vida de pobreza e munido exclusivamente de sua ambição vai buscar emprego na empresa de seu tio abastado. Sua meta é prosperar na vida, tornando-se uma daquelas pessoas a quem observa com olhares atentos e uma parte integral de todo aquele circo de dinheiro. Como o próprio título propõe, sua meta é encontrar um lugar ao sol, o que não é nenhum pecado. Ninguém pode dizer que não almeja avançar econômica e socialmente. O que é colocado em cheque é até que ponto se está disposto a pagar o preço desta evolução, que pode vir a ser caro demais. 
Sua mediocridade, no entanto, parece não ser suficiente para permitir esta evolução, e tudo que o rapaz possui, na verdade, é sua incontestável beleza e carisma. Para piorar, a idiotice de George é tanta que ele acaba esbarrando em um grande emaranhado amoroso envolvendo duas mulheres opostas, mas igualmente apaixonadas. A primeira é a pobre e ingênua Alice (Shelley Winters), funcionária na indústria dos Eastman, que se envolve da forma mais trágica com nosso ingênuo e patético protagonista. Após um curto relacionamento de poucos altos e muitos baixos, a moça acaba grávida e não tem nenhuma solução além de pressionar George para que se case com ela. No entanto, a este momento o rapaz pouco tem interesse por ela (se é que em algum momento possuiu alguma atração), pois já se encontra perdidamente apaixonado pela rica e bela Angela Vickers (Elizabeth Taylor), que por sua vez é totalmente rendida a seus encantos. A dualidade entre Alice e Angela na vida de George é muito importante e um ponto chave do filme. O que elas  representam é uma interpretação paralela da qual se é induzido ao longo do filme, em que a história de drama e romance mescla-se com um questionamento de classes onde cada uma delas representa um oposto da pirâmide social (o público do cinema clássico pouco ligava para essas coisas. Se fosse feito um remake moderno de Um lugar ao sol, com certeza esse conteúdo seria acentuado). Encurralado, George tem de tomar uma decisão muito simples: se livrar de Alice. Afinal, optar por ela e largar Angela (o que, tendo em vista a situação, seria o mais correto a fazer) seria o fim de sua jornada de ascensão e ainda o afastamento de seu nítido desejo físico (isso nem conta muito, qualquer um se apaixonaria de graça por Liz Taylor) pela jovem. Medidas drásticas devem ser tomadas, mas, ao maior estilo hollywoodiano, sucessões de acasos surgem de diversas maneiras tornando nosso pobre protagonista incapaz de controlar a situação em que tudo converge para um fim tão memorável quanto trágico. 

Para mim, Um lugar ao sol (A place in the Sun, 1951) é uma representação exata do que é o cinema clássico. Tem um forte caráter dramático, pontuado por momentos que variam muito entre pequenos detalhes a grandes clímaces, e um quase descompensado caráter romântico. O romantismo, que na verdade nem combina muito com a proposta original da história, é acentuado à maneira antiga. O amor entre George e Angela é quase angelical. Os dois são lindos, tem uma conexão incrível, trocam extensas juras de amor eterno em que tudo é o mais bonito possível. A beleza de Elizabeth Taylor em Um lugar ao sol é algo surreal, o que também faz um excelente contraste com a normalidade proletária de Shelley Winters, que sempre foi excelente atriz, mas que se encaixava quase exclusivamente em personagens com cara de gente comum. Isso é interessante, pois nem assim George se encaixa, afinal, apesar de ser originado do mesmo meio que Alice, sua aparência é quase tão fora do normal quanto a de Angela – os dois formam um dos casais de cinema mais bonitos que já vi. 
Dos três, o único indicado ao Oscar foi Shelley Winters. Diz a lenda, inclusive, que ela tinha certeza absoluta de que levaria o prêmio, ficando totalmente decepcionada pela derrota para Vivien Leigh. Não sei exatamente o porquê disso. Sua personagem é legal, mas não aparece muito no filme e, pra mim, a personagem mais interessante é a de Montgomery Clift. É George Eastman que desperta uma maior amplitude de emoções no espectador, que varia entre a raiva pela moral questionável, o desprezo pelas atitudes, e até mesmo a compaixão pela grande ingenuidade demonstrada várias vezes e a supervalorização de seu caráter romântico (em relação à Angela, claro). Vencedor também do prêmio de melhor direção (Geroge Stevens).

Nota: 8.5/10

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Lucas Moura

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Jack Nicholson


A geração cinematográfica dos anos 70 foi responsável por uma grande revolução na indústria. Uma revolução que se espalho por todas as áreas do cinema, desde os conceitos técnicos, a forma como escrever os roteiros e a direção ao estilo de atuação. Atrizes e atores da época fizeram história encarnando papéis dos mais variados possíveis, geralmente sem grandes conexões entre si, mas unidos pelo mais puro talento de seus intérpretes. Um dos maiores nomes dentre estes, é o de Jack Nicholson. 
Dono de uma carreira impecável que já dura mais de quatro décadas, Jack Nicholson é um dos atores mais queridos da Nova Hollywood, tendo crescido e se formado dentro de seu manifesto. Seu primeiro papel de destaque foi justamente no road movie alucinógeno Sem destino (Easy rider, 1969) que é o grande pontapé inicial do movimento. Seu papel em Sem destino o elevou, da noite pro dia, de ator desconhecido a um dos nomes mais requisitados da década, permitindo que ele pudesse expor seu incontestável talento em filmes dos mais diversos nos anos que se seguiram. No início dos anos 70, sua atividade fez-se presentes em grandes marcos do cinema americano como Cada um vive como quer (Five easy pieces, 1970) e Chinatown (1974). 
O Oscar de melhor ator veio apenas na quinta indicação. Apesar de já ser a quinta indicação, a vitória aconteceu em 1975, apenas seis anos após sua descoberta, por Um estranho no ninho (One flew over the cuckoo’s nest, 1975), um filme anti-sistema sobre a liberdade física e espiritual do indivíduo e que é até hoje um filme de importância histórica para a premiação (tendo em vista que só ele e mais dois – Aconteceu naquela noite e O silêncio dos inocentes – saíram vencedores dos cinco prêmios principais). Mesmo após o Oscar, o ritmo acelerado de sua carreira não diminuiu durante os anos 70. 
Nos anos 80, passou por uma pequena queda em sua popularidade motivada por alguns motivos que incluem a queda do movimento da Nova Hollywood, que deixou de lado grandes atores que estavam totalmente envolvidos no movimento (Nicholson nem tanto, mas alguns como Jon Voight e Ellen Burstyn tiveram uma queda bem acentuada) e  o primeiro grande fracasso da sua carreira, o atualmente cultuado longa de terror de Stanley Kubrick O iluminado (The shinning, 1980), que na época de seu lançamento foi um fracasso de público e crítica. Isso pouco importa, pois hoje em dia O iluminado é apontado como um dos pontos altos da carreira de Nicholson e Jack Torrance é uma personagem icônica. A popularidade restaurou-se ainda na primeira metade dos anos 80, com a produção familiar tão adocicada quanto emocionante Laços de ternura (Terms of endermeant, 1983) um papel tipicamente de comédia em que Nicholson contracena em sintonia perfeita com Shirley MacLaine. Pelo filme, recebeu seu segundo Oscar, agora como ator coadjuvante.
Sempre se reinventando, Laços de ternura deu início a uma sucessão de filmes do ator mais voltados para a comédia, devido a seu brilhante timing cômico. O ator passaria, então, a intercalar bem papéis cômicos e dramáticos, mostrando a versatilidade que é marca registrada do trabalho de um grande ator. O ápice cômico de Jack Nicholson veio nos anos 90, na sua terceira vitória ao Oscar – sendo segunda como melhor ator – por Melhor é impossível (As good as it gets, 1997), também do diretor James L. Brooks que havia o dirigido em Laços de ternura, em que interpreta um hilário e irritantemente neurótico escritor de livros de romance que se envolve emocionalmente com uma garçonete desesperada (Helen Hunt) e seu vizinho artista e homossexual (Greg Kinnear). Mais um grande sucesso de público e crítica em sua carreira e seu filme de maior destaque nos anos 90.
Já nos anos 2000, passou a enfrentar a típica queda de produção que atores mais velhos sempre costumam passar (De Niro, Al Pacino e Dustin Hoffman, que são mais ou menos da mesma época, sofrem pelo mesmo problema hoje em dia). Mesmo assim, com uma produção que contabiliza menos de dez filmes, emplacou pelo menos três grandes sucessos: sua participação em Os infiltrados (The departed, 2006) de Martin Scorsese, sua parceria perfeita com Diane Keaton na comédia romântica Alguém tem que ceder (Something’s gotta give, 2003) e sua última indicação ao Oscar (última de 12 – Nicholson é o ator mais indicado ao Oscar) pela divertidíssima comédia irônica de Alexander Payne, Confissões de Schmidt (About Schmidt, 2002).
Bom, com uma filmografia dessas pouco importa se no presente sua produção é baixa. Quem liga? Nicholson fez mais pela indústria do que metade dos atores sensação do momento juntos, que representam muito mais quantidade do que qualidade. É parte da história viva do cinema americano.

Lucas Moura

sábado, 20 de abril de 2013

As Vinhas da Ira - as vítimas

 Hollywood adora contos que levem às telas dos cinemas pedaços da história clássica ou moderna dos EUA. De todos os grandes eventos da história mundial e americana ocorridos no século XX, a grande depressão que se sucedeu à quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929 foi um dos mais importantes. Levou embora a prosperidade da terra dos sonhos do Tio Sam e instaurou por toda nação desespero e miséria até então não conhecidos em tamanha proporção. Milhares de famílias falidas, sem ter onde morar e muito menos o que comer espalharam-se por todo o país em busca de alguma oportunidade de sobrevivência, no sentido mais primitivo da palavra, sujeitando-se a qualquer coisa e trabalhando feito escravos para conseguir qualquer moeda de dez centavos. 
Mesmo assim, durante este período, sobretudo na década de 30, o tema não era muito bem abordado pelo cinema. Nos anos 40, apesar do foco maior em termos de temática com fundo histórico e contemporâneo já ser a Segunda Guerra Mundial, foi realizado através da direção primorosa de John Ford o primeiro filme a tratar diretamente a problemática da crise econômica na década de 30. As vinhas da ira (The grapes of wrath, 1940), baseado em livro homônimo com caráter quase documental, retrata da forma mais fiel possível a longa jornada de uma família de pobres fazendeiros do Oklahoma que atravessa metade do país em busca de trabalho e melhor chance de vida na ensolarada terra das oportunidades ilusórias, até hoje conhecida como terra dos sonhos, que é a Califórnia.
O retrato é o mais cruel e real possível para a época. A família, liderada por um jovem e excelente Henry Fonda, são a personificação de todas as vítimas do período histórico do país. Afinal, eles não sofrem apenas pela questão monetária relacionada com a depressão, mas também pela profunda seca, a qual foi um evento climático devastador que arrasou culturas e plantações pela região central do país (as personagens vêm de uma região designada pelo título de “tigela de pó”) e pelo impacto doloroso da abrupta maquinização do campo e a chegada das grandes empresas e companhias à zona rural, o que expulsou milhares de famílias subjugadas aos interesses de grandes e espertos empresários de suas terras, as quais mantinham não apenas uma relação de propriedade, mas sim uma relação espiritual. Para aquela gente, aquele pedaço morto de terra seca representativa a identidade familiar com um grande valor humano associado. Naquela terra eles nasceram, viveram e deveriam morrer, mas ao invés disso tinham de assistir tudo o que foi construído ao longo de anos de trabalho árduo ser destruído por um trator em apenas cinco minutos. John Ford, que adorava trabalhar com o povo dos EUA, principalmente destas regiões centrais e mais isoladas, foca muito mais o sofrimento pela perda da terra do que pela pobreza extrema em si.
A viagem rumo à Califórnia, cujos principais combustíveis eram sonhos e panfletos amarelos com promessas enganosas de fartura e abundância, também é a mais realista possível. Nós sabemos desde o começo que as coisas não seriam fáceis de forma alguma quando chegassem lá, mas as personagens vão aos poucos tendo de lidar e aceitar o fato de que estão saindo de um lugar miserável para outro tão ruim quanto, talvez pior, num caminho através de um país esquecido e por acampamentos de desabrigados e migrantes abarrotados de pessoas sem qualquer perspectiva. Apesar de a jornada ter uma direção ascendente, todo mundo sabe que na vida real não é bem assim que as coisas funcionam. De todas as pessoas que tentam a sorte nesse tipo de situação apenas uma pequena fatia consegue prosperar de alguma forme. Ou, no mínimo, sobreviver. 
Tecnicamente, As vinhas da ira (adoro esse título) é muito adequado a sua temática. Por ser um tema muito sério, o ar do filme deve acompanhar a sobriedade que a história pede. E assim o é. John Ford sempre teve um agrado especial por longas paisagens do mais puro nada, que apenas nos permite uma ambientação ao lugar, e aqui essas paisagens são acompanhadas de uma aridez incômoda que é associada ao estado de espírito daquele povo. Tão incômoda quanto os rostos sem esperança e os diálogos tão simples quanto emocionantes. Não uma emoção manipulativa, mas algo simples e genuíno, que são ditos pelas ricas e diversas personagens da trama, que além de Tom Joad interpretado por Henry Fonda, conta também com a presença de um ex-pastor tão degenerado quanto sábio e a mãe da família Joad (Jane Darwell, interpretação vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante) que é uma das minhas atuações preferidas (não no filme, no cinema mesmo).

Nota: 9/10

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Lucas Moura

sábado, 13 de abril de 2013

Casablanca - As time goes by

Com o início da Segunda Guerra Mundial, o futuro da Europa ficou mais incerto do que nunca, e muitas pessoas perceberam que era melhor fugir do velho continente para os Estados Unidos. Mas como? Em 1941, mais da metade da França estava sob domínio alemão e a outra porção do país era governada por um militar simpatizante a Hitler - o chamado Governo de Vichy. A saída encontrada, então, era fugir da França pelo sul, passando por uma ilha mediterrânea e chegando em Casablanca, cidade litorânea do Marrocos francês (ou seja, sob ordens de Vichy), de onde era possível sair para Lisboa e de lá ir de navio para a terra do Tio Sam. Repito: possível, mas nada fácil. Para sair de Casablanca é necessária a autorização do governo, então só os muito ricos conseguiam tal façanha.
Bem, já que estamos em Casablanca, vamos ao Rick's! O bar americano é o melhor da cidade. Seu dono faz vista grossa aos romances, discussões e pequenos furtos que acontecem lá, e é essa neutralidade que lhe garante a certeza de nunca ser perturbado. Rick (Humphrey Bogart em sua melhor forma), uma figura austera que sempre está de smoking branco ou sobretudo, parece desprezar a tudo e a todos, sobretudo a política, e apenas seus empregados parecem merecer sua consideração. São eles o pianista Sam (Dooley Wilson), o maître Carl, o garçom Sasha, entre outros. Sam, inclusive, é parceiro de longa data de Rick e desde o início percebemos que guarda segredos do patrão.
O pontapé inicial do filme é a morte de dois oficiais alemães num trem, que portavam dois salvo-condutos, documentos valiosos que poderiam tirar duas pessoas de Casablanca sem empecilhos. A notícia causa alvoroço na cidade, e deixa de prontidão a polícia local, comandada pelo capitão Louis Renault (Claude Rains), e o Exército alemão, que envia para a cidade o major Strasser. O problema não é só a morte dos oficiais, mas a chegada do tcheco Victor Laszlo (Paul Henreid), procurado pelos nazistas por ser um líder da Resistência, que chegara à cidade para fugir para os Estados Unidos. Louis afirma saber quem é o portador dos documentos, mas o tal, temendo ser preso, dá os salvo-condutos a Rick para que o americano o guarde. Dito e feito, ele foi preso e morto, e como não estava em posse dos tão importantes papéis, Laszlo perde a chance de comprar sua fuga de Casablanca.
Acontece que Laszlo não estava sozinho: sua bela esposa Ilsa (Ingrid Bergman linda como nunca) o acompanhava. E Ilsa teve um passado com ninguém menos que Rick, na Paris pré-ocupação nazista, enquanto seu marido estava preso num campo de concentração e ela acreditava que ele estava morto. O casal viveu uma forte paixão na capital francesa, junto ao fiel amigo Sam, responsável pela trilha sonora do casal. Tudo acabou quando os alemães estavam prestes a invadir Paris e Rick e Sam fugiram para Casablanca e a moça não os acompanhou, sem explicar o porquê. E agora, o reencontro, em pleno deserto marroquino. E o problema é bem maior que uma mágoa de ex-casal: Rick tinha os salvo-condutos e podia salvar Laszlo e Ilsa, tirando-os da cidade e do alcance nazista, mas não parecia disposto a se arriscar por eles. Não demonstrava ser um patriota nem ter preferência política - só se arriscava por si mesmo. Essa questão é levada por todo o filme, junto com as lembranças de dias felizes em Paris e a possibilidade de reaver tal felicidade.
Casablanca (1942) é, sem dúvida, o mais querido de todos os vencedores do Oscar de melhor filme. ...E o vento levou tem seus vários motivos para ser chamado de clássico, mas aqui é diferente. Casablanca se tornou sinônimo de clássico com o passar das décadas, e merecidamente. Temos aqui um ótimo roteiro, cheio de frases de efeito, muito bem escrito e de uma fluidez incrível. Roteiro, aliás, inovador: a coluna que sustenta a história dos protagonistas é um flashback no meio do filme, em que vemos a história de Rick e Ilsa em Paris e como ela acabou. Uma quebra tão segura que parece ser perfeita. Perfeita como o final em aberto, que fez os espectadores da época se perguntarem o que aconteceria às personagens depois de tudo (e também o que aconteceria a eles em meio a guerra). Falando em perfeição, vamos falar do elenco. Não que sejam atuações viscerais e inovadoras, mas cada personagem parece que foi escrita para o ator que a interpretou; o Rick sério e triste de Bogart, a Ilsa apaixonada e dividida de Ingrid Bergman, o corrupto (e por que não simpático?) capitão Louis de Claude Rains e o leal e carismático Sam de Dooley Wilson, sempre pronto para tocar "aquela música" - As time goes by, belíssima. Enfim, Casablanca tem um ar cult que contribui para sua perpetuação no patamar onde está, fazendo muita gente se emocionar, até hoje, com um amor que mesmo parecendo que teve um fim, sempre terá Paris. E nós sempre o teremos como ícone. Play it, Sam!

Nota: 10

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Luís F. Passos

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Carrie, a estranha - pesadelos adolescentes

Na literatura americana, o escritor Stephen King posiciona-se como maior nome do gênero do terror, e filmes baseados em adaptações de seus livros tornaram-se ícones cinematográficos e grandes elementos de cultura pop, além de serem, os principais destes, representantes deste seleto e excepcional grupo de clássicos do terror que realmente tem grande importância na evolução cinematográfica. O iluminado e Louca obsessão, por exemplo, são grandes adaptações cinematográficas de livros de Stephen King que já fazem parte da história do cinema e são marcantes entre os cinéfilos. Hoje, no entanto, eu estou aqui para falar da primeira adaptação cinematográfica de um conto de Stephen King (seu primeiro, aliás), Carrie, a estranha (Carrie, 1976) um dos filmes mais importantes e reverenciados do cinema da década de 70, criando um estilo de terror pop e voltado para um público adolescente.
Filme de Brian De Palma, Carrie, a estranha nos traz a trajetória da jovem Carrie White (Sissy Spacek), uma menina apática que sofre muito nas mãos das colegas de escola por ser diferente, calada e sem qualquer tipo de presença ou atrativos físicos (o que hoje em dia chamaríamos de bullying, mas que na época não devia ter um termo muito definido). De qualquer forma, a vida escolar de Carrie é um inferno total. Dentro de casa, sua realidade é mais difícil ainda. Ela tem que lidar com uma mãe, Margaret (Piper Laurie), fanática religiosa que atribui qualquer coisa ao pecado da carne, vive numa casa cercada por objetos de cunho religioso que, em vez de trazerem paz de espírito, dão um ar macabro de penitência e sofrimento ao lugar. Ao cometer algum tipo de “pecado”, a jovem é trancada dentro de um armário minúsculo, abarrotado de crucifixos e figuras religiosas e forçada a rezar, rezar, rezar pela remissão de pecados não cometidos. Perante tanta aflição, pressão e sofrimento físico e psicológico, os temores e sentimentos conturbados da pobre Carrie são externados na forma de poderes telecinéticos (capacidade de mover objetos com o poder da mente).
Nos primeiros minutos do filme, temos as garotas da escola no vestiário da escola. Uma cena que tem um tom propositalmente erótico com todas elas nuas e sorridentes, envolvidas pela fumaça dos banhos quentes. Esse é um momento crucial. Durante seu banho, Carrie tem sua primeira menstruação (tardia), que é percebida como a menina não como um evento fisiológico, mas como uma hemorragia. O momento anterior de sensualidade é bruscamente rompido por gritos desesperados da menina que acredita estar morrendo (ela não sabia o que era menstruação porque a repressão sexual imposta por sua mãe é tão intensa que exclui qualquer tipo de manifestação sexual da filha – Margaret, ao descobrir o ocorrido, aponta a filha como pecadora e o sangue como uma forma de castigo divino por ela ter tido pensamentos impuros e um prenúncio a uma futura “perseguição” por garotos). Como as outras garotas reagem? Da pior maneira possível. Inicia-se um show de humilhação (primeiro de muitos) com agressões verbais, risos e absorventes atirados contra Carrie. 
O espetáculo no chuveiro é vital para todos os acontecimentos posteriores. Primeiro que a menstruação aparece simbolicamente como o início do descontrole dos poderes telecinéticos, visto sua associação a uma iniciação na vida sexual tão inibida pela presença materna; segundo que uma das garotas envolvidas na brincadeira, Sue Snell (Amy Irving), sentindo-se culpada e arrependida pelo que tinha feito, resolve pedir para que seu namorado, Tommy Ross, leve Carrie ao baile de formatura; terceiro, a punição dada às garotas envolvidas na brincadeira de mau gosto faz com que uma das mais ousadas e populares dentre elas, Chris, comece a odiar Carrie e arquitetar um plano de vingança. Com a ajuda de seu namorado bad boy (John Travolta, ainda desconhecido), decide se vingar com um grande ato final de humilhação. Durante o baile de formatura, vão fazer com que Carrie seja eleita rainha do baile e quando ela subir ao palco para receber sua coroa, levará um banho de sangue de porco, numa cena memorável e eternizada no cinema, que já rendeu várias referências ao filme ao longo dos anos. É após isso, inclusive, que os poderes de Carrie se descontrolam de vez, garantindo o desenrolar trágico para as personagens e inesquecível para nós, espectadores (cinéfilos ou não).
Vários motivos levam Carrie, a estranha a ser considerado um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. Brian de Palma construiu um conto muito bem elaborado, muito bem amarrado, muito bem adaptado do livro de Stephen King (apesar de os dois manterem diferenças enormes) com uma reprodução adequada à realidade cruelmente superficial das escolas americanas para construir um verdadeiro pesadelo juvenil, combinado ainda com a figura de uma mãe opressora, agressiva e descontrolada. Sissy Spacek nos traz um de seus melhores trabalhos no filme que a tornou uma das estrelas mais populares dos anos 70 e 80. Sissy constrói uma personagem muito complexa, mesmo falando tão pouco. Na parte inicial, aparece como a Carrie assustada e fraca que aos poucos vai se tornando mais forte conforme seus poderes evoluem, até a grande mudança final para assassina fria de olhar fixo, tudo acompanhado pela excelente trilha sonora que guia o tom das sequências. Tanto na cena do vestiário quanto na cena do baile, a atuação de Sissy é inesquecível. Na primeira, o desespero. Na segunda, o mórbido controle em meio ao caos. Suas expressões faciais, seus gestos, as diferentes formas como a personagem fala conforme as situações e até mesmo os momentos mais ternos de uma Carrie que nem imagina que suas esperanças vão ser totalmente destruídas enquanto nós, espectadores, sabemos de tudo o que vai acontecer. Mesmo sabendo que coisas horríveis acontecerão, é impossível não deixar de defendê-la. Por mais que Carrie se transforme numa assassina, Sissy, Stephen King e Brian de Palma criam uma personagem com a qual é impossível não criar empatia imediata. Quase um sentimento de compaixão mesmo, o que é muito difícil de ter num filme de terror, onde as personagens são descartáveis.
A outra grande atuação do filme fica por conta da mãe fanática brilhantemente interpretada pela ótima Piper Laurie que é muito mais assustadora que a própria filha. O que fala, como fala, como age, é tudo o mais estranho e desconfortável o possível. As cenas entre Sissy e Piper são todas excepcionais, uma das melhores parcerias que vi em filmes com duas gigantes do cinema em pontos altos de suas carreiras (as duas foram indicadas ao Oscar de atriz e atriz coadjuvante, respectivamente).

Nota: 8/10


Lucas Moura

sábado, 6 de abril de 2013

...E o vento levou - a força de um clássico

Não há como falar na Era de Ouro de Hollywood e não falar de ...E o vento levou (Gone with the Wind, 1939), primeiro filme adulto em cores (O Mágico de Oz saiu no mesmo ano, mas um pouco antes). Inspirada no best-seller homônimo de Margaret Mitchell, a super produção criou uma enorme expectativa em torno de seu preparo, graças ao megalomaníaco produtor David O. Selznick, que planejou e supervisionou tudo para fazer de seu filme um ícone que atravessasse décadas incólume como o maior dos filmes americanos. O cara levou a cabo seu projeto e só precisou esperar o Oscar para confirmar sua glória. Pra efeito de comparação, Selznick era James Cameron antes de James Cameron.
A história tem início em Tara, fazenda de médio porte da Geórgia, às vésperas da Guerra Civil americana, onde conhecemos a jovem e fútil Scarlett O'Hara (Vivien Leigh), que coleciona admiradores entre os homens e rivais despeitadas entre as mulheres da região. Scarlett gosta de ter vários homens a seus pés, mas na verdade é apaixonada por Ashley Wildes (Leslie Howard), filho de um fazendeiro vizinho - e mesmo Scarlett sendo a última coca-cola da Geórgia, Ashley prefere a doce Melanie Hamilton (Olivia de Havilland). Ainda no início também conhecemos Gerald O'Hara, pai de Scarlett, sua mulher Ellen, suas filhas Suellen e Carreen, e Mammy (Hattie McDaniel), escrava doméstica da família, que cuidava de Scarlett desde seu nascimento.
A sequência seguinte se passa na fazenda dos Wilkes, onde os poderosos da Geórgia e de outros estados do Sul decidem se separar do restante dos EUA, dando início à Guerra. E Scarlett nem aí. E Ashley anuncia seu casamento com Melanie. Aí Scarlett pira, e por despeito, decide se casar com Charles Hamilton, irmão de sua rival. Nessa bagunça, aparece o misterioso capitão Rhett Butler (Clark Gable), um cavalheiro fantasiado de cafajeste com a cara mais cafajestesca que o cinema já viu. Dá pra perceber que ele gostou de Scarlett desde que a viu, mas ela o despreza. Menos de um mês depois Scarlett fica viúva; Charles pegara pneumonia na Guerra. Ela então vai para Atlanta ficar com Melanie e a tia dela, Pittypat, e é essa a parte mais movimentada do filme - as duas jovens vão trabalhar como voluntárias no hospital durante a guerra; Melanie engravida e dá à luz num parto improvisado feito por Scarlett com o auxílio da estúpida escrava Prissy; e graças a Rhett, que havia se aproximado da protagonista durante os anos de conflito, as moças fogem de Atlanta quando o exército inimigo cerca a cidade.
Esse fim da primeira parte é genial. Além da ação, muito bem corrida, tem coisas muito bacanas como o zoom-out a partir de Scarlett para mostrar um cenário de destruição com milhares de soldados feridos ou o incêndio de Atlanta, em que o diretor George Cukor usou os cenários de King Kong e tocou fogo em tudo. Ah, importante explicar: o único diretor que levou créditos pelo filme e o Oscar por ele foi Victor Fleming, responsável pela segunda parte; A primeira foi dirigida por Sam Wood e Cukor.
Depois de uma verdadeira odisseia, Scarlett, Melanie e seu filho e Prissy chegam a Tara, que assim como todas as fazendas do Sul estava destruída. A casa permanecia de pé, mas a situação não podia ser pior: a mãe de Scarlett estava morta, o pai louco, as lavouras destruídas e não havia nada para comer. Desesperada, a moça corre para o jardim, onde encontra apenas rabanetes e, numa das cenas mais famosas do cinema, jura nunca mais passar fome.
A segunda parte traz uma Scarlett diferente, endurecida pela guerra e pela fome, que põe a frescura de lado e assume o controle da casa, obrigando a todos a trabalhar, matando para proteger sua família, roubando o noivo da irmã e se casando por interesse para salvar a fazenda - ela enfim percebera que amava Tara e que era de lá que tirava suas forças. Ashley volta da guerra e pensa em levar a esposa e o filho para Nova York, mas é impedido por Scarlett, que lhe oferece sociedade na loja do marido. Pra resumir a história: a protagonista fica viúva de novo, casa com Rhett, e a partir daí temos mais romance que drama, apesar da relutância de Scarlett em amar seu marido, que é doido por ela.
Todo esse dramalhão percorre quatro horas, num dos mais longos filmes já feitos - e a longa duração faz com que muitos lhe torçam o nariz. Eu vejo que entre os cinéfilos ...E o vento levou praticamente é respeitado  muito em parte pela sua importância histórica, pela questão da inovação do cinema em cores, pelos efeitos especiais inovadores e pela grandeza, já que até hoje permanece como um dos maiores épicos americanos. Mas eu vejo muito mais que isso, e não é só porque eu gosto dele. Primeiro, aqui temos um elenco formado por gigantes da época: Vivien Leigh excelente como Scarlett, num trabalho muito versátil, que é rica, pobre, boa, má, vítima, algoz, frágil, forte e faz de tudo para ter sua dignidade de volta; Clark Gable, que era uma unanimidade junto ao público e único ator pensado para o papel; Olivia de Havilland (aaah, Olivia! Hoje tem apenas 96 anos) tá uma graça, foi indicada ao Oscar de coadjuvante (aliás, os cinco principais foram indicados) e Hattie McDaniel, a escrava quase mãe, ganhou o Oscar de atriz coadjuvante, primeira pessoa negra a ganhar estatueta. Ah! Apesar do ótimo desempenho juntos, Leigh e Gable se odiavam.
E a história é muito boa. Claro, é cheia de falhas, mostra uma versão romantizada do Sul, os fazendeiros escravistas eram cavalheiros, os escravos eram felizes... bem diferente da realidade. Também há, num trecho, uma pequena organização que nos lembra a Ku Klux Klan, e o filme parece ser indiferente a ela. Mas a história é boa! Legal ver toda a saga de Scarlett, seu amadurecimento lento, sua ambição, sua falsidade para com Melanie que tem raros momentos de sincero afeto, seus casamentos por interesse e claro, o final em aberto, quando ela percebe que perdeu o que realmente importava - Rhett. O casamento deles é meio conturbado, Scarlett parece fazer questão de mostrar que o despreza, enquanto ele fica com cara de besta, exceto numa cena em que ele a arrasta pelas escadas em direção ao quarto, e no outro dia ela acorda toda serelepe. Hummm... Enfim, apesar de parecer estar na pior, nossa heroína não se abala. Afinal, ela tinha Tara. Tara lhe daria forças e ela pensaria numa solução. Amanhã é um novo dia.

Oscar: Melhor filme, diretor (Fleming), roteiro, atriz (Vivien Leigh), atriz coadjuvante (Hattie McDaniel) direção de arte, fotografia, edição, prêmio de inovação técnica e prêmio honorário pelo uso de cor.

Nota: 9/10

Luís F. Passos