O primeiro assunto sobre o qual falarei é o início do Modernismo, que no Brasil foi em 1922 com a Semana de Arte Moderna. Antes de começar, é bom falar sobre os antecedentes.
Em 1881, o Realismo deu as caras no Brasil, inicialmente com Machado de Assis, e logo se tornou a escola vigente. Vale lembrar que nesse fim de século foi inaugurada a Academia Brasileira de Letras, justamente por Machado e outros nomes como Olavo Bilac. Ora, se havia uma Academia ligada ao realismo, deduz-se que era um estilo com estrutura rígida, e era, especialmente a poesia realista, chamada de Parnasianismo; uma poesia que valoriza a forma, e não o conteúdo.
O homem amarelo, de Anita Malfatti |
Em 1913 houve a primeira exposição de arte "não acadêmica" do país, feita pelo pintor Lasar Segall, mas que não obteve reconhecimento. A primeira manifestação vanguardista notória no Brasil foi em 1917, quando a jovem pintora Anita Malfatti fez uma exposição em São Paulo. A exposição recebeu uma crítica duríssima de Monteiro Lobato, chamada Paranóia ou mistificação?; depois desse ataque sofrido por Malfatti, houve a reunião de um grupo que queria transformar as artes no Brasil.
cartaz produzido por Di Cavlcanti |
A segunda apresentação, no dia 15, foi a mais polêmica. Houve música com a pianista Guiomar Novaes, uma conferência de Menotti del Pichia ilustrada com textos de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Plínio Salgado. Foi nessa hora que o público se manifestou através de miados e latidos. Mas o ponto alto foi a leitura de Os sapos, de Manuel Bandeira, por Ronald de Carvalho, uma evidente e forte crítica ao Parnasianismo. A terceira noite, no dia 17, foi mais tranquila, a "ocorrência do dia" foi a entrada do maestro Villa-Lobos no palco, de chinelos. O público interpretou a atitude como futurista, mas o músico estava apenas com um calo inflamado.
Acho que a melhor palavra pra descrever a Semana de 22 é choque. Bem, antes era todo mundo seguindo as normas acadêmicas, fazendo tudo bonitinho, milimetricamente trabalhado, como nas poesias parnasianas, aí chegam os caras modernistas e pá! quebram-se os conceitos. Com os modernistas vem a necessidade de mudança, reinvenção do conceito de arte, seja pintura, música ou literatura, atacando os velhos modelos, especialmente o parnasianismo. Por ser tão inovadora, a Semana de 22 foi bastante criticada, assim como seus participantes. Graça Aranha, que não era modernista, mas agiu como patrono, chegou a ser expulso da Academia Brasileira de Letras - atitude extrema, já que ser um membro da ABL é uma posição vitalícia.
Segue abaixo trecho do poema Os sapos, de Manuel Bandeira, que representa muito bem a crítica aos parnasianos:
(...)
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
(...)