1. Meia-noite em Paris (Midnight in Paris, 2011) 
25 anos depois de Hannah e suas irmãs, Woody Allen estabelece um novo campeão de bilheteria entre seus filmes. A história do escritor Gil Pender (Owen Wilson), que consegue viajar no tempo na capital francesa e aproveitar a efervescência cultural dos anos 20 encantou milhões de pessoas por todo o mundo. Ao lado de pintores vanguardistas e escritores que guiaram toda a literatura do século, Gil vai descobrir que mais vale viver o presente e tentar ser feliz independente do tempo ou do espaço. Woody passa essa lição ao longo de 1h30 em belos cenários, fazendo a cidade luz e seu espírito serem os protagonistas do longa.
Nota: 9,0/ 10
2. Cisne Negro (Black Swan, 2010) 
A viagem alucinógena pela mente
perturbada da devotada e reprimida bailarina Nina Sayers (Natalie Portman) é um
dos filmes mais comentados, elogiados e detalhados em todos seus complexos
detalhes psicológicos dos últimos cinco anos do cinema americano. O controverso
diretor Darren Aronofsky cria um universo de sofrimento físico e psicológico ao
mergulhar numa busca irracional e violenta pela perfeição por parte da pobre
Nina, que é levada aos seus limites físicos e mentais por um caminho de
confrontação direta com seus desejos reprimidos, seus anseios e toda a pressão
que a cerca por todos os lados. Tecnicamente perfeito, muito me agrada o
tratamento que é dado ao balé por parte do filme. Esporte de sangue, dor e suor
disfarçado por uma máscara de beleza e suavidade. Mas, como disse, tudo são
máscaras e Aronofsky gosta de arrancá-las. Atuação visceral e inesquecível de
Natalie Portman consegue ser o ponto de alto de algo que já é por si só
excepcional.
Nota:9,5/ 10
3. Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008) 
O segundo filme da trilogia Batman de Christopher Nolan se consagrou 
como um dos melhores da década de 2000. Dando continuidade à luta de 
Batman/ Bruce Wayne (Bale) para resgatar Gotham do crime, o diretor nos 
apresenta um vilão sádico, genial e imprevisível: o Coringa (Ledger). 
Atuação excepcional e incrivelmente popular junto ao público que deixou 
no chinelo até mesmo o Coringa de Jack Nicholson (que riu quando o jovem
 Ledger morreu em 2008). A presença do vilão e a técnica usada por Nolan
 deixam o filme sombrio, sem esperanças e dotado de um magnetismo que 
prende o espectador do começo ao fim. Para mim é uma bênção um filme de 
ação ter tanto conteúdo, numa era em que o que mais importa são 
explosões e heróis de corpo definido.
Nota: 9,0/ 10 
Tema do texto mais lido de nosso blog, o filme mais pirateado da história do país se tornou conhecido pelo mundo, vencendo nada menos que o Urso de Ouro do Festival de Berlim. Chega a ser desnecessário falar sobre o filme, o inesquecível capitão Nascimento (Wagner Moura), que tenta achar um substituto à sua altura ao mesmo tempo em que precisa pacificar favelas da zona oeste do Rio próximas à sede da diocese, por conta da visita do papa João Paulo II. Sete anos e infinitos bordões depois, o filme permanece na memória dos brasileiros, apesar de sua mensagem aparentemente não ter sido muito bem compreendida: sua principal crítica não é contra a violência das favelas, mas contra uma polícia autoritária, corrupta e o Estado que não combate a desigualdade social, raiz dos problemas.
Nota: 9,0/ 10
5. Sangue Negro (There will be blood, 2007)
Um filme excepcional em todos os sentidos. Estrelado por Daniel Day-Lewis, 
Sangue negro trata com muito realismo e objetividade sobre ambição a partir de Daniel Plainview(Day-Lewis), mineiro pobre que descobre no petróleo a possibilidade de obter o dinheiro e o poder que sempre quis ter. Para isso, inicialmente ele conta com nada além de suas próprias mãos e mente aguçada, construindo a cada palmo de terra cavado seu império e endurecendo seu coração. Não são poucos os desafios que ele enfrenta, entre eles o pastor de uma pequena cidade, Eli (Paul Dano), que mostra a influência que um líder religioso possui num lugarejo esquecido do deserto da Califórnia. A história forte e sólida escrita e dirigida por Paul Thomas Anderson ganha vida a partir da atuação marcante de Day-Lewis, responsável por seu segundo Oscar e sem dúvidas a melhor em muitos anos no cinema americano.
Nota: 9,5/ 10
 
6. Fale com ela (Hable con ella, 2002) 
A história é simples: o repórter Marco
 (Grandinetti) se envolve com a promissora toureira Lydia (Flores), que 
ao sofrer um grave acidente entra em estado de coma profundo. Na clínica
 em que Lydia é internada Marco conhece o enfermeiro Benigno (Cámara), 
que é apaixonado por sua paciente Alicia. Os dois amigos se veem na 
mesma situação, buscando o amor de mulheres permanentemente 
inconscientes - o "fale com ela" do título é um conselho que Benigno dá 
ao repórter para que este tente diminuir sua dor. Almodóvar utiliza 
poesia e sutileza para contar essas tristes histórias que se encontram e
 são tão semelhantes, se afastando um pouco de seu estilo em que 
personagens femininas e homossexuais se destacam, dando lugar a dois 
protagonistas masculinos, e trocando a tradicional turbulência pela 
delicadeza da dança (inclusive as touradas são suavizadas e comparadas 
ao balé) e músicas bonitas e tristes, como Cucurrucucu paloma, interpretada por Caetano Veloso.
Nota: 10 
7. De olhos bem fechados (Eyes wild shut, 1999) 
Um médico bem sucedido cujo nome era conhecido pela alta sociedade 
nova-iorquina (Tom Cruise), casado com uma bela mulher (Nicole Kidman) e
 pai de uma adorável criança acreditava ter uma vida perfeita. Gostava 
de ter tudo sob seu controle e acabava menosprezando sua esposa dentro 
da relação, até o dia em que ela confessa que fantasiou com um oficial 
da marinha que passou por ela em um hotel. Perturbado pela revelação da 
esposa, ele parte em busca de aventuras sexuais, sem imaginar a dimensão
 das consequências de seus atos. Uma aventura que divide o espectador 
entre o que é real e o que onírico, mas com um final sólido e 
esperançoso. Um filme que é um dos melhores trabalhos de direção de 
Kubrick e que quanto mais eu penso sobre, mais fascinado fico. De 
gravações demoradas e intenso trabalho de edição e pós-produção, De olhos bem fechados
 foi o último filme do diretor, que faleceu alguns dias depois de 
mostrar o resultado final aos executivos da Warner, há exatos 15 anos.
Nota: 10
8. Touro indomável (Raging bull, 1980) 
Quanto mais eu penso nesse filme, mais eu gosto dele e preciso me segurar pra não revê-lo. De um dos piores momentos da vida do diretor Martin Scorsese saiu seu melhor trabalho de direção, que aliado ao desempenho colossal de Robert De Niro concebeu uma trágica poesia sobre um lutador que tinha dentro de si seu pior inimigo. O talento de Jake LaMotta (De Niro) fez sua carreira ascender como um meteoro, mas seu ego, ciúme e outros demônios pessoais o fizeram cair com a mesma intensidade da subida. Trilha sonora impecável, fotografia em preto e branco deslumbrante e sequências em câmera lenta são alguns dos muitos detalhes que fazem de Touro indomável um filme que vai muito além do boxe e é extremamente competente naquilo que se propõe tratar.
Nota: 10
Numa
 época em que cineastas mostravam os subúrbios e a imundície social de 
Nova York, sendo Scorsese e seu Taxi driver o melhor exemplo, Woody 
Allen realiza seu maior tributo à cidade em que nasceu, viveu, realizou 
boa parte de sua obra e pela qual é apaixonado. Manhattan mostra a
 Big apple através de um preto e branco que a romantiza, embalado pelo 
jazz constante na filmografia de Woody. Na trama, o diretor mais uma vez
 vive o protagonista, que aqui é um roteirista de um programa de 
televisão que se demite por odiar o emprego e a má qualidade da 
programação e sua relação com a namorada de dezessete anos, a ex-mulher 
que o largou para morar com outra mulher e a amante, uma jornalista 
pedante. E claro, a cidade, que além de cenário é quase uma personagem e
 fonte constante de inspiração para a personagem de Woody - "ele adorava
 Nova York. Ele a idolatrava". Da mesma forma, é difícil não adorar essa
 encantadora história.
Nota: 10 
Seems like old times... being here with you. A música cantada por Diane Keaton duas vezes no filme transmite muito sobre o relacionamento no qual Annie Hall
 é centrado. Keaton é Annie, descontraída, sem rumos traçados pra sua 
vida, vive fazendo bicos como fotógrafa e cantora em bares, que conhece o
 comediante Alvy Singer (Woody Allen), um nova-iorquino judeu neurótico,
 metódico, meio hipocondríaco e chato, apesar de carismático. Os dois se
 apaixonam e engatam um namoro que logo no início do filme sabemos que 
não dá certo. Woody Allen conta a história do casal de forma inovadora, 
alternando momentos do início da relação com momentos de crise ou do 
cotidiano deles enquanto viviam juntos - fora muitas outras inovações 
que deram novo fôlego ao gênero da comédia romântica e o Oscar de 
direção para Woody. É quase uma unanimidade de que este é o melhor filme
 do diretor, que aqui traçou o esboço de muitos de seus filmes 
subsequentes, e diferente dos anteriores que eram mais próximos à 
comédia pastelão; e não é difícil ver que Annie Hall supera até mesmo outros grandes filmes como Manhattan e Hannah e suas irmãs. A naturalidade com que tudo é passado ao espectador e o tema do longa - afinal, Annie é
 antes de tudo um filme sobre o amor - fazem dele uma fonte inesgotável 
de satisfação, tornando impossível querer ver uma só vez. 
Nota: 10
11. 2001: uma odisseia no espaço (2001: a space odissey, 1968)
Depois da sequência de 
Lolita (1962) e 
Dr. Fantástico (1964),
 o público sabia que deveria esperar por mais um filme de Kubrick. E o 
que veio foi muito além das expectativas de qualquer um. 
2001 foi
 concebido por Kubrick para ser mais uma sensação do que uma história. O
 diretor queria fazer um filme de ficção científica ambientado no 
espaço, e para isso olhou primeiro para o passado, milhões de anos 
atrás, na aurora da humanidade, para depois dar um salto até a era das 
viagens cósmicas. E com muita subjetividade e efeitos visuais 
impensáveis até então, que lhe renderam seu único Oscar, ele nos leva a 
uma viagem capaz de representar o desejo humano de conhecer o que há 
para dentro e para fora daquilo de nós mesmos que é conhecido. Mais que 
revolucionar a ficção científica, Kubrick mostra que não há limites para
 o cinema, para a imaginação e o talento de um artista. 
Nota: 10
 
12. O demônio das onze horas (Pierrot le fou, 1965) 
Dentre os poucos filmes de Godard que já vi, talvez Pierrot le fou
 seja o mais complexo, mas é de longe o que eu mais gosto. A história se
 desenvolve a partir da fuga de Ferdinand (Belmondo), um professor 
universitário que deixa pra trás a vida burguesa para cair na estrada 
com sua amante Marianne (Anna Karina). Se a Nouvelle vague queria 
quebrar princípios e reinventar o cinema, é só ver Pierrot para 
saber que eles conseguiram. A linearidade da história, marcada pela 
narração dos protagonistas, que se revezam  nos contando seus fatos e 
pensamentos, é quebrada várias vezes. Como bom filme de estrada, o que 
não falta aqui é filosofia e interrogações, até porque Godard mantém o 
padrão de diálogos que mais parecem interrogatórios. O casal de 
fugitivos é feliz? O que eles esperam do futuro? Afinal, Marianne 
corresponde aos sentimentos de Ferdinand? E mesmo sendo tantas 
as perguntas, as deixamos de lado porque parece que eles querem apenas 
seguir em frente, vendo beleza onde ninguém mais vê e estando lado a 
lado na jornada. 
Obs: o título brasileiro não é mais uma viagem dos tradutores; é o nome do livro no qual se baseia o filme.
 Nota: 10
Há quem diga que Lolita é o primeiro filme realmente 'de Kubrick', pois é o primeiro que dá pra saber que nenhum outro diretor filmaria. Afinal, haja ousadia para adaptar a polêmica obra de Vladimir Nabovok, que fora censurada em vários países quando lançada. Lolita acompanha o professor universitário Humbert Humbert (James Mason) e seu desejo doentio por uma adolescente de catorze anos, Lolita, que o levou a se casar com a mãe desta só para se aproximar dela. Com olhares furtivos e escrevendo em seu diário, Humbert guarda para si a obsessão pela menina, enquanto a mãe se atira sobre ele sem algum pudor. Reviravoltas no filme parecem contribuir para o sucesso,de suas intenções, mas outras reviravoltas deixam a história ainda mais interessante, e surpreendentemente fresca mesmo cinquenta e poucos anos depois de seu lançamento.
Nota: 10
14. Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958) 
Eleito há dois anos o melhor filme de todos os tempos e tirando Cidadão Kane de um lugar que ocupava há 50 anos, Um corpo que cai
 não foi bem recebido por público e crítica na época de seu lançamento, e
 só vinte anos depois passou a ser visto como uma das obras-primas de 
Alfred Hitchcock; francamente, não vejo o porquê de tal rejeição 
inicial. O filme tem uma das melhores reviravoltas do cinema, e aparenta
 não ter só um clímax, e sim um clímax principal que sucede e precede 
outros dois secundários. Na trama, James Stewart, que foi um dos mais 
frequentes parceiros de Hitchcock, interpreta um detetive que investiga a
 esposa de um antigo colega que aparentemente está possuída pelo 
espírito da bisavó. O filme é marcado pelo medo de altura da personagem 
de Stewart, que num acidente no alto de um prédio viu um colega da 
polícia morrer ao cair do telhado. Um suspense complexo e muito bem 
elaborado que envolve o espectador como poucos.
Nota: 10 
You must remember this... e quem conseguiria esquecer? Uma das histórias de amor mais conhecidas de todo o cinema, ambientada no Marrocos em meio à Segunda Guerra Mundial , é um misto de paixão, ciúme, ressentimento e saudades de uma época em que nem mesmo o Exército alemão parecia ser capaz de separar um casal feliz, Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa (Ingrid Bergman). O reencontro desse casal em Casablanca, anos depois, ocorre em meio a uma situação perigosa: um líder da Resistência francesa que tem a chance de fugir do alcance do Reich - mas que é o marido de Ilsa, e o detentor dessa chance acaba sendo Rick. Surgem as dúvidas: até que ponto as lembranças e o ressentimento influenciariam a decisão de Rick? Ainda havia amor? Ótimo roteiro cheio de diálogos afiados e pequenas piadas, elenco perfeito, história envolvente e uma das músicas mais conhecidas de todo o cinema são os ingredientes para uma obra que atravessa décadas incólume e segue conquistando fãs.
Nota: 10
Luís F. Passos