terça-feira, 5 de março de 2013

Toda Forma de Amor - amar vale a pena

O que esperar de um filme sobre um desenhista chamado Oliver (Ewan McGregor) que vive solitário na companhia quase exclusiva de seu cachorro Arthur e de uma névoa de luto pela morte recente de seu pai (Christopher Plummer), recém assumido gay após 44 anos casado num casamento sem paixão? Tudo. Toda forma de amor (Beginners, 2010) tem uma capacidade interessante de desenvolver uma história muito sentimental e com uma dose considerável de melancolia sem jamais ser exageradamente dramático. É comovente e divertido na mesma medida. 

O filme centra-se numa temática muito simples de entender: a construção do amor. Não se refere a relacionamentos amorosos entre casais, mas sim do amor de um modo geral. Acompanhamos a construção do relacionamento amoroso entre Oliver e sua nova namorada francesa Anna (Mélanie Laurent) pontuada por momentos de reflexão e flashbacks por parte dele com relação ao seu convívio com seu pai já falecido. Essas memórias variam das mais casuais e cotidianas as mais importantes e reflexivas. De um modo geral, o que Oliver tira deste contato com seu pai são lições efetivas sobre a importância de manter relacionamentos com as pessoas. Não apenas criá-las, mas sim, sustentá-las. Lições sobre como aproveitar a vida da melhor maneira possível enquanto seja tarde demais. Afinal, o próprio Hal levou mais de 70 anos para poder viver sua vida com plenitude depois de décadas preso a um casamento fracassado com uma mulher que, pelo que percebemos das lembranças de infância de Oliver, era tão infeliz quanto. Mesmo estando velho e doente Hal decidiu seguir seu plano em busca de felicidade – não há limite de tempo para tal procura. Assimilar tudo isso para Oliver é extremamente difícil, pois ele nunca foi exposto e nunca conviveu com veracidade de sentimentos. Durante sua infância só conhecia a frieza do casamento de seus pais e quando adulto, sentia-se automaticamente impelido a boicotar relacionamentos amorosos à medida que eles iam se tornando inevitavelmente mais sérios e íntimos. No entanto, Anna parece ser a mulher perfeita para ele. Mas como emplacar a relação dos dois sendo tão inseguro? E mais, a moça, a sua própria maneira, também é tão emocionalmente prejudicada quanto ele, de modo que sua incapacidade em manter relacionamentos quaisquer a faz mudar de cidade e casa constantemente, sem permitir-se construir um lar. 
Surge a problemática do filme: como lidar com o amor? O título original de Toda forma de amor é Beginners, que na tradução quer dizer iniciantes. Todos eles são iniciantes. Estão iniciando uma nova fase de suas vidas baseada em franqueza de sentimentos.
Toda forma de amor é uma diversão completa. Inteligente, sincero, humano e ainda engraçado. Sim, o longa conta com pontuais momentos de comédia e humor irônicos, desde o primeiro encontro entre Oliver e Anna numa festa a fantasia à participação agradabilíssima do cachorro Arthur, com seus “pensamentos em off” e suas “conversas” com Oliver. Oliver e Anna, aliás, parecem ser um dos casais mais “cool” que já vi em filmes, o diretor/roteirista Mike Mills parece gostar de tocar bastante nesta tecla, e Ewan McGregor e Mélanie Laurent realmente tem uma conexão muito interessante como casal. O grande atrativo, no entanto, é mesmo a personagem Hal, interpretação de Christopher Plummer vencedora do Oscar de melhor ator coadjuvante, que é uma personagem extremamente original. Apesar da temática homossexual a cerca da personagem, o filme não se preocupa em levantar bandeiras pelos direitos gays e de defesa do amor entre homens ou coisa do tipo, de modo que o tema surge da forma mais natural possível. É um filme sobre o amor de um modo geral e suas diversas formas de manifestação.


Lucas Moura

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