sábado, 27 de outubro de 2012

Senhora - Perfil de Mulher

Um dos mais memoráveis escritores românticos, José de Alencar deixou para as futuras gerações seu extenso legado com mais de 20 romances, algumas peças teatrais, entre outras publicações de certa importância. Seu prestígio esteve sempre ligado a sua habilidade comunicativa; a sua maneira de sensibilizar seus leitores impressionava, entretanto seu potencial sensitivo – de atender às expectativas do público e ainda expressar-se admiravelmente, não aparentando ser o manipulador do universo ao qual escrevia, mas, sim, um mero narrador da lógica social – transformou Alencar em autoridade do Romantismo brasileiro.
Abraçando o nacionalismo, o escritor não somente eternizou personagens até então marginalizados em seus romances regionais (exemplo O Gaúcho e O Sertanejo), indianistas (aqueles idealizando os indígenas das nossas terras como Ubirajara e Iracema), históricos (considerando o também indianista O Guarani) e, por fim, as mais célebres de suas obras impressas: os romances urbanos.
Alencar não encontrava dificuldade em palestrar com seu público mais ávido. Nessa troca de correspondências via colunas jornalísticas, ele conseguia visualizar a demanda de seus leitores e suas expectativas e uma chance de justificar algum comportamento de seu personagem reprovado pela crítica popular. Entre as obras que causaram tamanho alvoroço destacam-se três, agrupadas elas formam Os Perfis de Mulher (Lucíola, Diva e Senhora). A recepção desses livros e suas protagonistas não foi espontânea, todavia a proposta do autor era mesmo abalar a sociedade ao refleti-la em seus escritos.
Senhora (1875), um dos seus últimos trabalhos como romancista, ocupa uma posição especial entre os romances brasileiros. Objeto de estudo inesgotável ainda na atualidade, o livro sintetiza o melhor de José de Alencar como escritor, romântico e crítico social. A forte aproximação surgida entre as leitoras do seu tempo e Aurélia Camargo, a protagonista, vinha da simpática trajetória da pobre moça aos ricos bailes do Rio de Janeiro. Assim, como outras figuras femininas, a Senhora emplacou um enorme sucesso.
Embora o foco principal da narrativa seja voltado a audaciosa Aurélia, temos no seu par amoroso, nomeado de Fernando Seixas, um perfil masculino digno de análise cautelosa. Não é a primeira vez que um bonvivant sofre uma transformação de caráter na obra alencariana, no entanto é em Senhora que a metamorfose do homem real ao homem ideal faz-se deveras evidente.
Fernando não foge às regras da sua época. Há descrições minuciosas sobre o apego demonstrado pelo moço às suas vestimentas e cigarros, todos de marca por mais que não fosse um padrão de vida que ele pudesse sustentar. Ele demonstra-se um usurpador, então. Sua família, formada pela mãe e duas irmãs, acaba investindo todo o renumerado de seus trabalhos e heranças no único filho homem, enquanto este se sente envergonhado pela simplicidade deles perante seu círculo social. Dentro de si, o jovem jornalista planejava uma ascensão por conveniência de suas relações públicas, assim justificaria todo o investimento que sua família depositara em sua roupagem melhorando o padrão de vida de todos.
A busca pela escalada social mostra-se brutal quando vamos notando o interesse financeiro sobrepondo o interesse amoroso. O rapaz aceita qualquer proposta de casamento que possa vir a beneficiá-lo a curto prazo e em espécie. Imagina o dote enquanto faz a corte de Adelaide, mas logo após declina o acordo para aceitar uma oferta maior feito às cegas. Qual não é a surpresa do nosso vaidoso herói ao descobrir que foi comprado pela pobre moça que abandonara justamente pela condição monetária dela?
Determinado a pagar de volta Aurélia a fim de reaver sua liberdade, Fernando se devota no seu trabalho. A mudança é profunda e ao mesmo tempo externa: o autor exalta a simplicidade e a repetição das novas – e poucas! – roupas do protagonista, assim como seus charutos mais baratos, sua rotina mais longa e eficiente no ofício, a raridade com a qual passou a comparecer nos bailes e teatros, etc.
A reinvenção de seu orgulho passa a ser minuciosa, todavia o agravante da situação de vendido, reconhecida apenas pelos mais próximos (lembrando que pouquíssimas pessoas sabiam do arranjo daquele casório e ninguém desconfiava da infelicidade do casal), o leva a afastar-se com vergonha de sua família. Em sua trajetória de maturidade, Seixas começa a virar o homem que Aurélia sonhava, apesar disso ela suprime o sentimento fazendo seu marido desconhecer a paixão ressurgida.
Ao completar os cem contos necessários para extinguir a negociação e voltar a ser um “homem livre”, independente da esposa, sua fortuna e maus-tratos (cada vez menos frequentes), Seixas alcança finalmente uma posição respeitosa, digna de um homem idealizado.

Leia também: O Guarani
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Esse resumo é uma união de recortes do artigo “A Transformação do Homem Diante da Senhora de Alencar” da autoria de Guilherme Oliveira Patterson.

Um comentário:

  1. Gui, Bateu saudade, me add no wats, to te procurando, vambora ser amigos, saudade de sua chatice, chato!

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