Agora a porra ficou séria. Vou falar da minha segunda categoria preferida, melhor atriz. Perde apenas para a categoria de melhor filme.
Na disputa de melhor atriz sempre temos ótimas opções. Aqui não há ano fraco, todo ano é ótimo.
Antológica. Scarlett O’hara é uma das personagens mais queridas e mais conhecidas não apenas da época de ouro de Hollywood, como de toda a história do cinema. Sua participação como protagonista e heroína de um dos filmes mais assistidos e conhecidos do cinema mundial, elevou a atriz Vivien Leigh a categoria de atrizes top de linha da história. Scarlett é uma personagem que são mil em uma. Riqueza, pobreza, luto, guerra, amores, interesses: tudo passa pela vida de Scarlett e cabe a ela lidar com tudo isso nas longas, porém agradáveis, quatro ou mais horas de duração desse longuíssimo filme que é ...E o vento levou. Grande parte do sucesso do filme cabe à relação entre o casal protagonista, mas acredito que a substituição de Vivien Leigh por outra atriz não obteria o mesmo sucesso. Vivien e Scarlett parecem feitas uma para a outra. Talvez seja essa a chave do sucesso.
Como assim Vivien Leigh de novo? Bom, pra mim ela merece tudo e mais um pouco em termos de admiração como artista. Vi Uma rua chamada pecado antes de ver ...E o vento levou e admito: acho Blanche (deste filme) uma personagem melhor, mais interessante e mais complexa que Scarlett. Pra mim essa é a melhor atuação da atriz, além de ser a personagem mais interessante desse filme que é marcado justamente por seus personagens muito, muito cheios de nuances. Blanche lidera os quatro personagens principais e é, de fato, a melhor coisa no filme que, digo e repito, é um dos meus clássicos preferidos (acho que é até melhor que Um lugar ao sol, filme que o derrotou na disputa do Oscar de melhor filme).
Arrisco-me a dizer que esse é o melhor trabalho de Elizabeth Taylor, a melhor atuação feminina vencedora de Oscar nos anos 60 e um dos melhores, mais complexos e mais cheio de grandes diálogos do cinema estadunidense. Elizabeth vive Marta, uma mulher de meia idade que junto com seu marido (interpretado por Richard Burton) convidam um jovem casal para passar uma noite na casa deles, onde são expostos a muita bebida e a joguinhos de destruição moral, onde os quatro personagens são expostos a discussões e humilhações, tudo na base da palavra, possíveis. Destaque para as grandes discussões entre o casal protagonista que são realmente incríveis. Junto a Uma rua chamada pecado, os dois filmes compõem meus dois elencos preferidos. Ambos liderados por uma atriz. Ambas vencedoras do Oscar.
Prostituta cujo sonho é ser atriz (beleza, essa é clichê nos filmes) passa a ser perseguida por uma espécie de maníaco sexual que já foi um antigo cliente seu. No meio dessa história, aparece um investigador (Donald Shutterland) cuja função ali é acompanhar Bree Daniels (Jane Fonda) e tentar descobrir o motivo do assassinato de seu melhor amigo que parece estar, de alguma forma obscura, conectado com a mocinha. Nossa, quanto spoiler. Mas Klute não se preocupa em esconder as coisas. Durante grande parte do filme a gente sabe muito bem que é o psicopata em questão. O grande “X” de Klute é o climão que é formado. Nossa, muito bom. O filme tem partes muito tensas, mesmo que você saiba quem é o bandido da história, pouco importa. O que vale é entrar no clima de mistério. Além disso, Bree Daniels é uma das minhas personagens preferidas. Ela não é simplesmente uma prosituta. Ela é uma mulher muito complexa, que muda várias vezes ao longo do filme, toma posições diferentes, atitudes inesperadas e sempre surpreende (inclusive no final).
Extrovertida, falante, brincalhona, divertida, ousada e ao mesmo tempo triste e insatisfeita. Essa é Sally Bowles. Uma dançarina de um cabaré de Berlim na Alemanha nazista que passa toda uma imagem caricatural de uma pessoa que ela, de fato, não é. Sua vida é mais complexa e conturbada do que parece. Quando então ela se envolve com um jovem (pobre), aí é que a coisa entra em conflito mesmo. Sally passa a se conflitar com antigos preceitos de si mesma, opiniões sobre o que é certo e errado, sobre amor e dinheiro. Dá pra perceber muito bem essa dualidade da personagem no último número musical do filme, que de alguma forma é triste.
Pior do que uma pessoa que só faz coisas ruins é uma pessoa que faz coisas ruins crente de que está fazendo algo de bom. Essa é a vaca da enfermeira Mildred Ratched, a mulher que realmente dita as regras num hospital psiquiátrico. E as dita rigorosamente, tomando as atitudes mais enérgicas possíveis para controlar (a palavra é essa mesmo) seus pacientes “loucos” e impedi-los de todas as maneiras a se expressar, a se divertirem ou qualquer outra manifestação que lide com a liberdade de cada um. Mildred ao mesmo tempo que consegue ser irritante, também consegue atrair quem assiste ao filme. Louise Fletcher não é uma atriz que fez muitos filmes (confesso que esse é o único dela que eu realmente lembro), mas aqui ela dá uma das melhores interpretações femininas da Hollywood dos anos 70. Parceria 100% com Jack Nicholson (seu oponente no filme).
“A televisão encarnada”...até que é uma boa descrição pra Diana. Empresária do ramo televisivo tudo em sua vida, TUDO gira em torno de audiência televisiva. Ela trabalha unicamente para conseguir pontos e mais pontos de audiência para o canal de televisão no qual é funcionária. Por trás das câmeras, a rede televisiva é um grande jogo de intrigas, cheio de pessoas inescrupulosas que fazem tudo para prender você, otário telespectador. Diana é uma delas. Sem escrúpulos. Manipuladora. Faye Dunaway é ótima.
Não há melhor personagem na filmografia de Woody Allen (minha opinião). Engraçada, divertida, inteligente (inteligente, sim! – quem viu o filme vai entender essa observação), estilosa, sensível na medida certa, moderna (apesar dos muitos anos do filme), cheia de atitude e carisma: essa é Annie Hall, protagonista do filme de mesmo nome, interpretada por uma Diane Keaton em seu auge. Melhor parceria da carreira de ambos, Diane e Woody, coroada com esse filmaço. Ah, talvez esse seja meu filme preferido.
Tá difícil sofrer mais do que essa Sofia, viu? Tá difícil ser melhor que Meryl Streep também. Não sei se o papel da polonesa sofrida, vivendo nos EUA após sair de um campo de concentração – com direito a famosa escolha do título – seja de fato o melhor papel da atriz, mas que está entre os melhores, está com certeza. O filme todo gira em torno dela e sua atuação é o que sustenta tudo aqui. É o filme de Meryl com maior carga emocional dos que já vi. Vale muito a pena assistir e é um Oscar mutio bem merecido.
Mulher surda-muda se envolve com professor de uma escola de alunos com necessidades especiais, na qual trabalha, cujo trabalho é ajudar a desenvolver fala em crianças e jovens surdos-mudos. Ela é muito difícil de se lidar, algo vindo com certeza de todo o sofrimento pelo qual passou em sua vida cheia de limitações. Tá até aí tudo bem. O que há de tão extraordinário assim? A questão é que a atriz, Marlee Matlin, é surda-muda de fato. Durante todo o filme, ela se comunica apenas por linguagens de sinais e expressões faciais que muitas vezes são mais do que suficientes para entender o que ela está pensando pela força que a atriz coloca nas expressões já que não pode usar palavras. Uma das minhas atrizes preferidas, apesar de só conhecer esse filme dela (trabalhos para atores nessa condição com certeza são difíceis...).
Mulher doida, totalmente sem noção, que após um acaso do destino, faz o escritor de sua série de livros, intitulada Misery, como refém e o mantém em cativeiro para que ele mude o final que havia planejado para a série de sucesso. Essa mulher é medonha. Ela passa uma imagem estável, mas é só começar a falar ou a ser contrariada que ela se transforma em uma pessoa totalmente diferente, capaz de tudo (quem viu o filme, sabe de que cena em específico eu estou falando). Filme baseado em obra de Stephen King, o rei dos personagens violentos e bizarros.
O que é mais Coen do que uma policial grávida interpretada pela hilária Frances McDormand cuja missão é investigar um seqüestro de uma mulher, filha de um homem rico da região? Marge é muito divertida, apesar de ao mesmo tempo ser uma personagem séria, numa missão séria de resgate. Tudo isso, obviamente, é recheado com o humor irônico não só dos Coen, como também da própria Frances, que é uma grande atriz que sempre traz bons trabalhos.
Vi esse filme há muuuuito tempo atrás e ele de fato me impressionou muito, pois até hoje falo muito e muito bem dele. Nele, uma Charlize Theron incrivelmente feia e acabada (maquiagem realmente faz milagre) é uma prostitua, lésbica, apaixonada por uma garota mais jovem que se torna a primeira seria killer (primeirA) dos EUA. Interpretação muito forte da atriz, seu melhor trabalho (em segundo lugar viria Terra fria de 2006) e uma das melhores vencedoras da década.
Uma artista interpretando uma artista. Marion faz o papel de Edith Piaf e não nos poupa de nenhum, NENHUM dos muitos, MUITOS sofrimentos pelos quais a cantora francesa passou durante sua curta e movimentada vida. O filme em si é meio chato, algumas vezes é entediante mesmo. Tem horas que a pessoa cansa de ver tanto sofrimento. O que salva o longa: Marion Cotillard, que está incrível no papel. Sua grande transformação física e psicológica pra captar todos os altos e baixos da cantora garantem a Marion um lugar entre as grandes vencedoras do Oscar (vencendo nesse ano a experiente Julie Christie por um filme excelente chamado Longe dela).
Nina. Jovem e talentosa bailarina que recebe o maior desafio de sua carreira: interpretar a rainha dos cisnes, no balé do Lago dos cisnes. Interpretar o cisne branco, tudo ok. O problema é se transformar no cisne negro, uma figura que é justamente o oposto de tudo aquilo que Nina sempre foi forçada a ser. Uma personagem conturbadíssima, que sofre muito tanto psicologicamente quanto fisicamente, complexa, com uma sexualidade totalmente abafada pela presença constante de sua mãe controladora (Barbara Hershey) que quanto mais é colocada sobre pressão, mais entra mais e mais fundo numa onda alucinante de loucura. Dentre as jovens atrizes, Natalie Portman é a melhor e sua carreira já está coroada, graças a esse longa, que vai deixar a atriz fixa no imaginário dos cinéfilos.
por Lucas Moura
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