Erico Veríssimo (1905-1975) é o mais popular escritor gaúcho, e um dos grandes nomes da literatura brasileira do século XX. Com pouco mais de vinte anos já escrevia, e em 1928 lançou seu primeiro livro, Fantoches. Os primeiros romances, que apresentavam uma visão sentimental da classe média urbana, fizeram grande sucesso, principalmente Olhai os lírios do campo (1938). Mas foram os romances histórico-políticos que imortalizaram Veríssimo. Sua obra prima, a trilogia O Tempo e o Vento, conta a história rio-grandense da época das Missões do século XVIII até a Era Vargas através das gerações da família Terra Cambará.
Incidente em Antares (1971) foi o último livro de Erico Verissimo, e um dos mais vendidos. É dividido em duas partes: Antares e O Incidente. A primeira fala da origem da cidade de Antares, no interior gaúcho, a partir de um povoado dominado por um certo Chico Vacariano. Com o crescimento do lugar, chega a família de Anacleto Campolargo, que logo se torna rival de Vacariano. E é essa rivalidade entre essas duas famílias, que disputam o domínio político de Antares, que movimenta a primeira parte. Mas em certo ponto, é firmada a paz entre os dois clãs, que se tornam amigos, sendo que os Vacariano eram conhecidos por serem mais ricos enquanto os Campolargo, na figura de sua matriarca, dona Quitéria, tinham fama de prezarem pela moral e pelos bons costumes.
A primeira parte termina com o falecimento de dona Quitéria Campolargo. A segunda parte, O Incidente, se inicia com o velório da ilustre senhora. Quando o cortejo fúnebre chega ao cemitério, uma surpresa: os coveiros da cidade haviam aderido à greve dos operários, impedindo os sepultamentos de Antares. Mesmo com a pressão dos fazendeiros e da polícia, a família Campolargo não conseguiu enterrar dona Quitéria, cujo caixão ficou na porta do cemitério, junto com outros seis que também haviam sido largados no local.
Os insepultos eram da mais diversas classes sociais: além da rica dona Quitéria, o advogado Cícero Branco, o pianista Menandro Olinda, o estudante comunista João Paz, o sapateiro anarquista Barcelona, o bêbado Pudim de Cachaça e a prostituta Erotildes. Na madrugada, aconteceu o inesperado: os defuntos se levantaram de seus caixões e foram ao centro da cidade exigir um enterro digno. Toda a população ficou apavorada, mas os grevistas não recuaram. Sem o cumprimento de sua exigência, os mortos-vivos ocuparam a praça principal da cidade e ameaçaram revelar segredos dos poderosos da região.
A confusão é imediata – onde já se viu morto levantando do caixão pra exigir enterro? Os defuntos começam a causar problemas: seus corpos em decomposição atraíam moscas e ratos, além de infectar o ar e a água da cidade. Mas a coisa fica séria mesmo quando eles começam a contar os segredos mais perturbadores de Antares.
Incidente em Antares é um dos melhores livros de Erico Verissimo. Tem a fluidez típica dos textos do escritor, além de muito bom humor e claro, a forte crítica social. O livro mostra como uma sociedade moralista e preconceituosa pode ter seus esqueletos escondidos no armário. Isso porque todos os mortos-vivos tinham coisas pra falar: o advogado Cícero sabia de todas as fraudes da administração pública, Erotildes conhecia todos os adúlteros, João morrera nas mãos da violenta polícia local, e até mesmo d. Quitéria põe de lado sua postura aristocrática e revela segredos das famílias ricas.
A obra virou minissérie, exibida pela Rede Globo em 1994.
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