sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Filmes pro final de semana - 21/08

1. Sergio (2020)

Produzido e estrelado por Wagner Moura, esse original da Netflix mostra parte da carreira do diplomata Sergio Vieira de Mello (Moura), Alto Comissário de Direitos Humanos que vai para Bagdá na Guerra do Iraque para coordenar a equipe que planejava a reconstrução e redemocratização do país. Vítima fatal de um atentado à bomba, Sergio tinha uma carreira brilhante e altas chances de ser o próximo Secretário-Geral das Nações Unidas. O filme mostra sua permanência no Iraque e momentos importantes de sua carreira, como a atuação na independência do Timor Leste, além de detalhes de sua vida pessoal - a distante relação com os filhos e o namoro com a colega da ONU Carolina Larriera (Ana de Armas), que após sua morte foi reconhecida como sua esposa. Pouco documental e emocionante na medida certa, o filme tem um ótimo elenco, capitaneado pelo sempre excelente Wagner Moura.
Nota: 8,0/ 10
2. Brooklyn (2015)
Essa carismática comédia romântica é centrada em Ellis (Saoirse Ronan), uma jovem irlandesa que deixa sua terra natal porque sonhava com algo diferente de casar e ser dona de casa - destino de todas as moças de sua cidade. Ela então se muda para os Estados Unidos e vai morar no Brooklyn, onde arruma emprego e começa a conhecer novas pessoas. Quando conhece o simpático e divertido bombeiro Tony (Emory Cohen), descente de italianos, Ellis acredita ter conhecido o amor de sua vida e que todo seu futuro está definido, mas acontecimentos na Irlanda põem a garota numa encruzilhada para decidir entre o amor e o dever familiar.
Nota: 8,0/ 10
3. Tim Maia (2014)
A cinebiografia do genial e autodestrutivo cantor brasileiro é baseado em livro do crítico Nelson Motta. Vemos a infância pobre, o início da carreira na adolescência (tendo Robson Nunes como intérprete)- ao lado de Roberto Carlos, que seguiu caminhos diferentes - , a ida aos Estados Unidos e o retorno ao Brasil (já interpretado por Babu Santana) trazendo uma imensa influência do soul e do funk. Ótimo compositor e extraordinário cantor, Tim Maia surfou em ondas de sucesso que quebravam devido à sua personalidade forte e pavio curto, além de acontecimentos bizarros como sua participação na seita da Cultura Racional, que rendeu três discos com letras estranhas mas com melodias e arranjos sensacionais. Apesar das críticas negativas de familiares e amigos, que apontaram algumas incoerências no longa, o filme tem seus méritos e merece ser assistido.
Nota: 8,5/ 10 
4. A lista de Schindler (Schindler's list, 1993)
Talvez seja o mais aclamado filme de Steven Spielberg, e é um dos que mais gosto (meu preferido dele é A cor púrpura). Quase todo mundo já viu, e quem não viu deve ver. Baseado na história real do empresário alemão que salvou milhares de vidas, A lista de Schindler é um filme que emociona sem ser apelativo. Mostra como Schindler (Liam Neeson), um industrial que empregava judeus de um gueto, consegue se esquivar da máquina mortífera da SS e livrar os moradores do gueto de serem enviados a Auschwitz, onde a morte era quase inevitável. O filme traz cenas inesquecíveis como a do oficial psicopata Amön Goth (Ralph Fiennes) praticando tiro ao alvo em pessoas e a marcha dos judeus saindo do gueto, com uma pequena garota vestida de vermelho (único elemento colorido do filme, que é em preto e branco) andando à frente.
Nota: 10
5. Ladrão de casaca (To Catch a Thief, 1955)
Um dos filmes mais elegantes de Alfred Hitchcock traz Cary Grant como o bon vivant John Robie, ex-ladrão de joias conhecido como Gato, devido a suas habilidades em invadir apartamentos e fugir por telhados. O bonitão corre o risco de ser preso quando começa uma onda de roubos de joias na Riviera Francesa, já que o estilo dos crimes é idêntico ao seu. Para provar sua inocência ele tenta seguir o rastro dos crimes, contando com a ajuda da charmosa e mimada Frances Stevens (Grace Kelly), filha de uma milionária que é um alvo em potencial do novo Gato. Charmoso e intenso, este é mais um bom representante da obra do Mestre do suspense.
Nota: 9,5/ 10

Luís F. Passos

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Filmes pro final de semana - 14/08

1. O Impossível (Lo impossible, 2012)
Baseado em fatos reais e com um imenso apelo emocional, O impossível acompanha uma família que estava passando férias na Tailândia quando o país foi atingindo por tsunami no fim de 2004. O casal Maria (Naomi Watts) e Henry (Ewan McGregor) é separado: ela vai para um lado com o filho mais velho, enquanto ele está com os dois mais novos. Gravemente feridos, famintos e desidratados, eles vagam por um país destruído, repleto de ruínas e amontoados de corpos. O filme relembra uma tragédia que marcou não apenas seus sobreviventes, mas todo o mundo que assistiu perplexo à destruição causada pela força da natureza. Eu já disse que é emocionante? É muito. Muito. Naomi Watts faz aqui seu melhor trabalho, numa atuação antológica que injustamente perdeu o Oscar para Jennifer Lawrence - apenas verdades.
Nota: 8,0/ 10
2. As vantagens de ser invisível (The perks of being a wallflower, 2012)
Esse filme é um presente do circuito independente ou semi-independente para o mundo. Baseado num livro homônimo escrito pelo diretor e roteirista do filme, Stephen Chbosky, o longa é centrado em Charlie (Logan Lerman), um adolescente solitário  de 16 anos que está entrando no ensino médio, tentando lidar com a pressão típica da fase ao mesmo tempo em que é assombrado por terríveis traumas do passado, que aos poucos são revelados. A solidão de Charlie diminui quando ele conhece os irmãos Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), ambos veteranos prestes a concluir o ensino médio. Patrick é muito extrovertido e descolado, meio porra-louca; Sam, a bela colegial, é gentil e simpática, cheia de vida - e logo percebe-se que Charlie se apaixona por ela. Através dos dois, que se tornam seus melhores amigos, o protagonista conhece gente nova, novos ambientes, novas experiências, ganhando um sopro de vida em seu cotidiano mórbido. Mas nem tudo são flores, e aos poucos as fragilidades, medos, inseguranças e segredos dos outros também vêm à tona, e vemos que Charlie não é o único perdido e em busca de formar uma identidade pessoal - um dos temas centrais deste emocionante, carismático e incrível filme.
Nota: 10
3. O Vencedor (The fighter, 2010)
Micky Ward (Mark Wahlberg) é um lutador muito esforçado, que tem como exemplo e treinador seu irmão mais velho, Dicky Eklund (Christian Bale). Dicky é um ex-lutador de boxe profissional, atualmente no fundo do poço devido ao seu vício em crack, que é tido como  herói de sua cidade por ter vencido uma luta importante anos atrás. O problema é que Dicky é tão desequilibrado e inconsequente que acaba puxando pra baixo a carreira de seu irmão. As outras duas figuras chave na vida de Micky são sua mãe possessiva Alice (Melissa Leo) e sua namorada Charlene (Amy Adams), que vê a família de Micky como um grande empecilho para seu sucesso. O pior é que Charlene tem uma certa razão, e ao perceber isso o lutador se afasta um pouco da mãe, do irmão e das sete irmãs barangas decidido a impulsionar sua carreira; aos poucos, Dicky também percebe o mar de lama em que está mergulhado e decide que precisa mudar sua vida. Nessa muito bem elaborada trama familiar, três atuações se destacam: as de Christian Bale, Melissa Leo e Amy Adams, sendo as duas primeiras vencedoras do Oscar de ator e atriz coadjuvante, respectivamente. Mais uma vitória desse filme sobre fracassados.
Nota: 9,0/ 10
4. Babel (2006)
Qual a relação existente entre crianças numa aldeia remota no Marrocos, um casal de turistas americanos, uma menina deficiente auditiva japonesa e uma mexicana que trabalha nos Estados Unidos? A bem amarrada série de tramas que é Babel vai mostrar isso. A partir de um infeliz acidente nas montanhas marroquinas, onde um tiro de rifle atinge uma americana que viajava num ônibus, tem início uma crise diplomática entre o Marrocos e os Estados Unidos, que acreditam se tratar de um atentado terrorista. Por outro lado, a investigação vai buscar a origem de tal rifle, que remonta ao Japão; da mesma forma, na América, a família da mulher ferida, cuja babá é mexicana, também será atingida, numa mal aventurada breve viagem ao México. Direção de Alejandro González Iñarritu e participação de grande elenco.
Nota: 9,0/ 10
5. Ghost - do outro lado da vida (Ghost, 1990)
A estória todo mundo conhece: Sam (Patrick Swayze) é noivo de Molly (Demi Moore) e é vítima fatal de um assalto, mas depois de morto recusa-se a deixar o plano terreno e a sua amada. Acompanhando Molly, ele descobre que sua morte não fora um crime ao acaso e que os responsáveis agora são uma ameaça à sua viúva. Ele, então, procura ajuda da médium Oda Mae Brown (Whoopi Goldberg), uma vigarista que acreditava não ter poderes paranormais, mas que os descobre com a presença de Sam. Esse clássico da Sessão da Tarde sobre um amor tão grande que nem a morte foi capaz de separar é piegas e tem lugar cativo no coração de quem se emocionou ao som de Unchained melody (oooh my love, my darling...) e vendo as cenas ora comoventes, ora engraçadas - créditos para a personagem de Whoopi Goldberg, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo hilário papel de Oda Mae.
Nota: 10


Luís F. Passos

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Filmes pro final de semana - 07/08

1. Oito mulheres e um segredo (Oceans'8, 2018)
Spin-off da aclamada trilogia Ocean's - no Brasil, 11 homens e um segredo e aí por diante -, liderada por George Clooney, o filme traz Sandra Bullock no papel de irmã do personagem de Clooney. Debbie Ocean (Bullock) sai da cadeia e encontra sua parceira de longa data, Lou (Cate Blanchett), e as duas começam a acertar os detalhes de um plano que Debbie elaborou durante os anos em que ficou presa: o roubo de um lendário colar de diamantes que vale centenas de milhões de dólares. Para isso, montam um grupo que envolve uma hacker (Rihanna), uma estilista falida (Helena Bonham Carter), uma ladra profissional (Awkwafina), uma fabricante de joias (Mindy Kaling) e uma contrabandista (Sarah Paulson). Mirando a atriz Daphne Kugler (Anne Hathaway), que usará o colar num jantar de gala, a quadrilha liderada por Debbie nos dá um filme que não é apenas uma versão feminina da trilogia protagonizada por George Clooney, apesar de usar e abusar da mesma fórmula. Ser mulher faz parte do plano: "Se for ELE, é notado. Se for ELA, é ignorada. E pela primeira vez, queremos ser ignoradas", diz Debbie às suas companheiras.
Nota: 8,0/ 10
2. O estranho que nós amamos (The Beguiled, 2017)
Um filme que traz a assinatura de Sofia Coppola a cada cena - assim, podemos resumir a essência de O estranho que nós amamos, o que é suficiente para dar motivo para este longa ser visto, considerando a sólida obra que a diretora produziu nos últimos vinte e poucos anos. Ambientado no estado da Virgínia em plena  Guerra Civil, o filme se passa num casarão onde funciona uma escola para moças, dirigida por Martha Farnsworth (Nicole Kidman); as outras ocupantes da escola são a professora Edwina (Kirsten Dunst) e cinco alunas de diferentes idades. A tediosa rotina da escola muda quando um soldado ianque (Colin Farrell) é encontrado nas proximidades da propriedade gravemente ferido e é acolhido pelas sete mulheres. A intenção inicial é salvar o militar para entregá-lo às tropas sulistas assim que ele estivesse recuperado, mas com o passar do tempo surgem desejos e interesses pelo estranho - uns inocentes, outros nem tanto. Num clima introspectivo, sóbrio e repressivo, Sofia Coppola conduz uma parábola sobre desejo e manipulação, demonstrando talento de sobra na direção - trabalho reconhecido com o Prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes.
Nota: 9,5/ 10
3. Spotlight - segredos revelados (Spotlight, 2015)
O ano é 2001 e o jornal The Boston Globe tem um novo editor-chefe, Marty Baron (Liev Schreiber). Logo em seus primeiros dias após assumir o comando do jornal, Baron se interessa por uma coluna assinada pelo excêntrico advogado Mitchell Garabedian (Stanley Tucci), a qual dizia que o arcebispo de Boston tinha conhecimento de casos de abuso sexual praticados por padres e não fazia nada a respeito - apenas mudava os padres de paróquias. Baron convoca a equipe Spotlight, especializada em jornalismo investigativo, para assumir o tema. Liderados por Walter Robinson (Michael Keaton), os jornalistas da Spotlight enfrentam a difícil tarefa de encontrar vítimas e extrair depoimentos, e o desafio ainda maior de ter conseguir provas contra membros da poderosa e influente Igreja Católica de Boston. Neste filme intenso e despretensioso, o espectador é colocado dentro da redação do jornal, nos bastidores da notícia, presenciando o difícil e minucioso trabalho do jornalismo investigativo - trazendo à lembrança filmes como o maravilhoso Todos os homens do presidente, de 1976. Spotlight venceu os Oscar de melhor filme e melhor roteiro original.
Nota: 9,5/ 10
4. Quincas Berro d'Água (2010)
Quando Quincas Berro d'Água (Paulo José), o rei dos vagabundos da Bahia, foi encontrado morto no dia do próprio aniversário, uma nuvem de tristeza pairou sobre o Pelourinho e pelos cais de Salvador. Sendo muito bem quisto pelos bêbados, prostitutas, pescadores e jogadores, sua morte pôs de luto todos os marginalizados e personagens da noite que o conheciam. A notícia da partida de Quincas promove o inusitado encontro dos dois lados de sua vida: seus amigos pobres e boêmios, que dividiram com ele os últimos anos, e a família de classe média que ele largou por não suportar mais a pacata e hipócrita vida de funcionário público e cidadão exemplar. Depois de os amigos vagabundos conseguirem se livrar dos familiares do defunto, uma série de fatos estranhos os faz acreditar que Quincas estava vivo e pregando uma peça neles. A turma então percorre as vielas e becos, por bares, terreiros de candomblé e prostíbulos, fazendo algazarra enquanto os parentes e a polícia tentam encontrá-los e sua filha Vanda (Mariana Ximenes) mergulha em lembranças da infância com o pai exemplar e sua posterior transformação em pária da família. Baseado numa das mais conhecidas novelas de Jorge Amado, o filme é fiel à obra ao retratar tão bem arquétipos da noite e dos problemas sociais da Bahia.
Nota: 9,0/ 10
5. O segredo dos seus olhos (El secreto de sus ojos, 2009)
Argentina, 2009. Benjamín Esposito (Ricardo Darín) é um oficial de justiça (meio delegado, meio investigador) recém aposentado que decide ocupar o tempo livre escrevendo um livro a partir das memórias de um caso marcante que ele investigara vinte e cinco anos antes. Era 1974 e a Argentina vivia sob um governo ditatorial, uma época de bastante violência, não apenas relacionada à política. O departamento de Esposito recebeu a missão de investigar o estupro seguido de morte de uma jovem; um crime bárbaro que ganhou repercussão. Durante a investigação ele conhece o marido da vítima, Ricardo (Pablo Rago), por quem desperta empatia e passa a ter uma relação cordial, chegando a prometer encontrar o culpado. A difícil missão de Esposito conta com a ajuda de seu parceiro alcoólatra Pablo Sandoval (Guillhermo Francella) e de Irene Hastings (Soledad Villamil), sua chefe imediata - por quem Esposito nutre uma paixão secreta. O filme tem o mérito de unir investigação policial, romance e análise histórica numa história muito intensa e envolvente, vencedora do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e do Prêmio Goya.
Nota: 10


Luís F. Passos