quinta-feira, 3 de março de 2016

Livros para Março

1. Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis, 1881)
Marco fundador do movimento realista na literatura brasileira, a biografia do defunto-autor Brás Cubas é o divisor de águas da obra de Machado de Assis. Dedicado ao verme que primeiro roeu as frias carnes de seu cadáver, as memórias do falecido milionário Brás Cubas são uma análise sagaz da alta sociedade carioca do século XIX, através das lembranças de um homem cheio de frustrações. Relembrando sua vida com bastante acidez e sem poupar críticas a quem quer que seja, Brás Cubas fala dos amores que não deram certo - "Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis" -, da carreira política que não deu certo, da revolução científica que não promoveu por não criar seu milagroso emplastro e claro, do duradouro caso de adultério com Virgínia, que talvez tenha sido seu grande amor. Destaque para o famoso Capítulo das Negativas, em que ele lista as frustrações já citadas, entre muitas outras. Certamente, até hoje é uma das melhores e mais fidedignas análises da personalidade humana de nossa literatura.
Nota: 10
2. O irmão alemão (Chico Buarque, 2014)
O monólogo narrado por um certo Cícero às vezes nos faz parar pra pensar em quão autobiográfico é o mais recente livro de Chico Buarque. Em parte pelo autor revelar a história familiar do filho que seu pai teve na Alemanha, em parte porque a narrativa é envolvente e bastante verossímil. Chico transforma em ficção a história que conheceu a partir de um devaneio de Manuel Bandeira, já idoso, através do qual soube que tinha um irmão alemão, do qual há muito não se sabia nada. A busca feita pela família se tornou material para um romance ambientado na juventude do autor, na época de faculdade, e focada em parte na relação com um pai brilhante, dono de uma das maiores bibliotecas particulares de São Paulo, mas distante de seus filhos. Ao escrever que Cícero tentava se aproximar do pai através da literatura, Chico expõe sua própria tentativa de estreitar o contato com o pai intelectual. Mais uma estrelinha pra carreira de escritor de Chico Buarque.
Nota: 9,5/ 10
3. Orgulho e Preconceito (Jane Austen, 1813)
Eis um livro que foi uma grande surpresa pra mim. Não fazia ideia de como Orgulho e Preconceito é bom até lê-lo. Ambientado numa Inglaterra aristocrática e moralista, o romance acompanha a bela Elizabeth Bennet, segunda de cinco irmãs e de longe a pessoa mais racional da família de um proprietário rural. Diferente da mãe esnobe e das três irmãs caçulas que não têm nada na cabeça, Elizabeth acha que há mais na vida do que bailes, vestidos e belos e ricos pretendentes. A pacata vida no campo ganha agitação quando o jovem, belo e rico Charles Bingley aluga uma propriedade na cidade, junto de sua charmosa e arrogante irmã e do misterioso amigo Fitzwilliam Darcy. Bingley e a irmã mais velha de Elizabeth, Jane, se apaixonam, mas a irmã dele e Darcy se certificam de impedir o romance por achar a moça inferior ao rico rapaz. Decidida a lutar pela felicidade da irmã, Elizabeth enfrenta a arrogância dos supostos oponentes, numa história sobre moralidade e preconceito na austera Inglaterra do século XVIII.
Nota: 10

Luís F. Passos

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