quinta-feira, 24 de março de 2016

Blue Jasmine - without a dream in my heart, without a love of my own


Provavelmente o último grande sucesso de Woody Allen e um de seus mais bem sucedidos filmes do século XXI (dividindo espaço com Match Point, Vicky Cristina Barcelona e Meia noite em Paris), Blue Jasmine (2013) é mais uma incursão do talentoso diretor de comédias no território dos dramas. No filme, temos a trajetória trágica de Jasmine (Cate Blanchett, vencedora do Oscar de melhor atriz por este filme – além do BAFTA, do SAG e do Globo de Ouro), em um caminho descendente rumo à loucura após o trágico fim de seu relacionamento com o ex-marido milionário, porém vigarista, Hal (Alec Baldwin), quando este é preso por seus crimes. De uma vida de luxo e ostentação em Manhattan, Jasmine se vê, do dia para a noite, sem um centavo no bolso, tendo que largar toda sua pompa e elegância e assumir a derrota de seu orgulho ao buscar auxílio vivendo de favor na casa de sua irmã Ginger (Sally Hawkins) em São Francisco após um surto psicótico que a levou a vagar pelas ruas falando consigo mesma. A mudança, apesar de não ser bem vinda e nitidamente desprender grande esforço por parte de Jasmine, é sua tentativa de sair do fundo do poço – não é como se ela tivesse mais alguma opção. Porém, as inquietações de sua mente, o remorso, a não-aceitação de sua nova condição e as divergências com sua irmã que é de todas as formas seu oposto, acabam tornando sua vida ainda mais complicada.
Esse não é um filme leve, mas tampouco é exageradamente dramático. Blue Jasmine é, como os dramas de Woody Allen de modo geral, bastante econômico. A história de Jasmine é pontuada por tragédias e humilhações que guiam o clima da trama, mas de forma alguma o filme torna-se melodramático. As sensações que se pode ter perante Jasmine são as mais diversas, mas o mais interessante aqui é analisar todas as nuances de sua personalidade e a maneira como esta se esforça, mesmo que de forma patética ao mentir para si e para o mundo, a manter a glória e a elegância que um dia lhe caracterizavam. Sendo assim, é, mais uma vez, um ótimo estudo de personagem feito por Woody Allen. Particularmente, Jasmine é uma das minhas personagens preferidas do diretor e a atuação de Cate Blanchett é impecável.
Além disso, outros pontos que eu acho bastante interessantes com relação a Blue Jasmine é que, além do colapso nervoso em si, Woody Allen de certa forma recria em sua Jasmine a figura mitológica do cinema Blanche Dubois, da obra A streetcar named desire de 1951. Ambas personagens estão em completa decadência mental, ambas lutam e se esforçam da maneira como podem para sustentar uma imagem que sua condição presente não lhes permite suportar e ambas buscam refúgio na casa de irmãs antes relegadas ao distanciamento. De certa forma, até o término de ambas me parece um pouco similar. Claro que Blue Jasmine não tem a profundidade e sordidez de A streetcar named desire, mas eu acho sempre válido que os clássicos sejam resgatados de alguma forma e contextualizados nos tempos atuais.

Nota: 9,0/ 10

Lucas Moura

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