Provavelmente
o último grande sucesso de Woody Allen e um de seus mais bem sucedidos filmes
do século XXI (dividindo espaço com Match
Point, Vicky Cristina Barcelona e
Meia noite em Paris), Blue Jasmine (2013) é mais uma incursão
do talentoso diretor de comédias no território dos dramas. No filme, temos a
trajetória trágica de Jasmine (Cate Blanchett, vencedora do Oscar de melhor
atriz por este filme – além do BAFTA, do SAG e do Globo de Ouro), em um caminho
descendente rumo à loucura após o trágico fim de seu relacionamento com o
ex-marido milionário, porém vigarista, Hal (Alec Baldwin), quando este é preso
por seus crimes. De uma vida de luxo e ostentação em Manhattan, Jasmine se vê,
do dia para a noite, sem um centavo no bolso, tendo que largar toda sua pompa e
elegância e assumir a derrota de seu orgulho ao buscar auxílio vivendo de favor
na casa de sua irmã Ginger (Sally Hawkins) em São Francisco após um surto
psicótico que a levou a vagar pelas ruas falando consigo mesma. A mudança,
apesar de não ser bem vinda e nitidamente desprender grande esforço por parte
de Jasmine, é sua tentativa de sair do fundo do poço – não é como se ela
tivesse mais alguma opção. Porém, as inquietações de sua mente, o remorso, a
não-aceitação de sua nova condição e as divergências com sua irmã que é de
todas as formas seu oposto, acabam tornando sua vida ainda mais complicada.
Esse
não é um filme leve, mas tampouco é exageradamente dramático. Blue Jasmine é, como os dramas de Woody
Allen de modo geral, bastante econômico. A história de Jasmine é pontuada por
tragédias e humilhações que guiam o clima da trama, mas de forma alguma o filme
torna-se melodramático. As sensações que se pode ter perante Jasmine são as
mais diversas, mas o mais interessante aqui é analisar todas as nuances de sua
personalidade e a maneira como esta se esforça, mesmo que de forma patética ao
mentir para si e para o mundo, a manter a glória e a elegância que um dia lhe
caracterizavam. Sendo assim, é, mais uma vez, um ótimo estudo de personagem
feito por Woody Allen. Particularmente, Jasmine é uma das minhas personagens
preferidas do diretor e a atuação de Cate Blanchett é impecável.
Além
disso, outros pontos que eu acho bastante interessantes com relação a Blue Jasmine é que, além do colapso
nervoso em si, Woody Allen de certa forma recria em sua Jasmine a figura
mitológica do cinema Blanche Dubois, da obra A streetcar named desire de 1951. Ambas personagens estão em
completa decadência mental, ambas lutam e se esforçam da maneira como podem
para sustentar uma imagem que sua condição presente não lhes permite suportar e
ambas buscam refúgio na casa de irmãs antes relegadas ao distanciamento. De
certa forma, até o término de ambas me parece um pouco similar. Claro que Blue Jasmine não tem a profundidade e
sordidez de A streetcar named desire,
mas eu acho sempre válido que os clássicos sejam resgatados de alguma forma e
contextualizados nos tempos atuais.
Nota: 9,0/ 10
Lucas Moura
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Trapaça
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