Terceiro ano seguido em que a seleção de filmes que disputaram a
categoria principal do Oscar não me entusiasmou muito. Dos nove filmes
desse ano, poucos tinham força suficiente para dar a impressão de que
serão lembrados por mais uns anos, dentre eles o vencedor, 12 anos de escravidão.
Acompanhando Solomon Northup, negro livre que fora sequestrado e
vendido como escravo, o filme consegue ser mais que outra história sobre
o trabalho escravo nos Estados Unidos. Primeiro, pelo seu realismo que
chega a ser impressionante, como nas cenas de castigos com chicotes ou
até mesmo quando um pesado pote de vidro é jogado na testa de uma
personagem. Além disso, a história é muito bem amarrada e a direção
igualmente boa, coroada com o desempenho formidável do elenco, cujo
maior destaque é a coadjuvante Lupita Nyong'o, vencedora do Oscar e
(Deus queira!) mais uma promessa da nova geração.
Nota: 9,0/ 10
2. Argo (2012)
Este vencedor do Oscar de melhor filme é uma grande produção muito
bacana de se ver e que talvez tenha ganhado merecidamente suas
estatuetas de filme, roteiro adaptado, entre outras - e muitos dizem que
também merecia a de direção. Mas a meu ver, Argo não resistirá
ao tempo, pois é mais um filme muito bom entre outros tantos muito bons.
O que não tira nenhum de seus méritos, afinal a história da crise
diplomática entre Irã e Estados Unidos que culminou na invasão da
embaixada americana, prisão de muitos cidadãos e fuga de alguns
diplomatas para a embaixada canadense foi algo impressionante, e tudo
foi história real. A partir de um plano um tanto mirabolante do agente
da CIA Tony Mendez (Ben Affleck), surge esperança para os diplomatas
deixarem o país: Mendez vai para o Irã disfarçado de diretor de cinema
após a agência criar em Hollywood uma pequena produtora ficíticia e
elaborar o roteiro de um filme de ficção científica chamado Argo, que
seria rodado no país dos aiatolás. E durante o filme fica aquela tensão
constante, mas as coisas são meio previsíveis. Alguém além de mim
preferia Django livre ou Amor?
Nota: 8,5/ 10
3. O Artista (The Artist, 2011)
O som chegou ao cinema em 1927; o primeiro Oscar ocorreu em 1928, único
ano em que um filme mudou ganhou o prêmio principal - até 2012, quando O
Artista venceu melhor filme. O longa franco-belga trata justamente da
chegada do som às telonas e do impacto causado a muitos atores, no caso o
protagonista, George Valentin (Jean Dujardin), maior astro de Hollywood
e totalmente averso ao cinema falado. O filme acompanha a queda brusca
de Valentin, ao mesmo tempo em que um novo rosto, Peppy Miller (Bérénice
Bejo) faz sucesso nos inovadores talkies. Talvez o maior mérito de O
Artista seja não caricaturar os filmes antigos, mas imitá-los com
perfeição: desde as interpretações cheias de caras e bocas com legendas
expressando os diálogos até a trilha sonora jazzística, além de várias
referências ao cinema clássico.
Nota: 8,5/ 10
4. A rede social (The social network, 2010)
Falar em Oscar faz lembrar do ano que talvez foi o mais forte do século
21 no que diz respeito à lista de indicados a melhor filme - apesar de
um dos mais fracos ter vencido. Entre as melhores opções, A rede social, talvez o melhor trabalho de David Fincher desde Clube da luta
(1999). Pra quem ainda não viu, uma frase resume tudo: não é só um
filme sobre a criação do Facebook. Na verdade, o nascimento de um dos
maiores sites do mundo é só o plano de fundo para Fincher explorar o que
se passa na mente dos jovens de uma geração brilhante que soube muito
cedo o que é fama, poder, dinheiro, mas obviamente pagou um preço por
isso. É como diz um dos mais conhecidos pôsteres do longa: você não
ganha quinhentos milhões de amigos sem fazer alguns inimigos. É fato
conhecido a briga entre Mark Zuckerberg e o brasileiro Eduardo Saverin,
co-criadores do site, antes colegas de quarto em Harvard, depois que o
Facebook ganhou fama e começou a render dinheiro. Fim de uma grande
amizade, início de uma era. A era Facebook.
Nota: 9,5/ 10
5. Amor sem escalas (Up in the air, 2009)
Ryan (George Clooney) é um profissional de uma
empresa que é contratada por outras empresas para demitir seus
empregados. Todos os dias ele fica de frente a dezenas de pessoas que
nunca viu na vida e diz "seus serviços não são mais necessários". E de
um trabalho para outro, Ryan viaja de avião, seu maior prazer. A cada
ano ele passa quase trezentos dias fora de casa - aliás, é realmente sua
casa? Para ele, seu lar são os aeroportos, as salas de espera, as
confortáveis poltronas executivas da American Airlines. Tudo na vida de
Ryan é emprego, voo, e a meta de acumular dez milhões de milhas aéreas.
Para mudar isso, surge o casamento de sua irmã caçula e uma nova colega
de trabalho que tem ideias que podem mudar radicalmente seu estilo de
vida. Uma ótima reflexão sobre a vida que cada um quer levar e sobre a
crise econômica de 2008/09.
Nota: 9,5 / 10
Luís F. Passos
Luís F. Passos
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