quinta-feira, 24 de maio de 2012

Annie Hall - melhor é impossível



Alvy Singer. Morador de Nova York e amante da cidade. Conhecido comediante famoso por suas piadas irônicas e pequenas participações em programas de TV. Também é um maníaco, neurótico, metódico, crítico, indeciso, chato, anti-social e ao mesmo tempo carismático homem de meia idade, com um longo histórico de problemas de relacionamentos com mulheres, que se encontra, no momento, apaixonado por Annie Hall. 
Annie Hall. Vinda da pequena Chippewa Falls, no Wisconsin. Não tem nenhum rumo definido para a sua vida. Canta, escreve, tira fotografias, freqüenta cursos aleatórios em faculdades, usa drogas para relaxar, engraçada, divertida natural e ao mesmo tempo estressada e sufocada pelo namorado possessivo. 
O longa se inicia com um monólogo proferido por Alvy onde já sabemos que o relacionamento dos dois não dá certo. É o primeiro sinal que deixa bem claro: essa não é uma comédia romântica como as outras. A partir daí, são apresentados vários momentos do relacionamento de Alvy e Annie, mostrando altos e baixos do período em que ficaram juntos. Numa cena, vemos os dois se declarando pela primeira vez. Na cena seguinte, os dois brigando por algum motivo besta. Depois dessa, como eles se conheceram. E assim o filme vai até o término de seus 90 minutos, com a óbvia separação entre Annie e Alvy, de uma forma obviamente inusitada, e com um monólogo final perfeito, digno do melhor de Woody Allen.
Não é só por se basear em um relacionamento falho que Annie Hall (1977) é uma comédia romântica atípica. As situações pelas quais os personagens passam são muito diferentes do convencional e o filme não se utiliza de clichês. As cenas são todas muito naturais e nenhuma das situações, por mais que sejam inusitadas parecem ser forçadas. Tudo flui muito bem. Mérito do sempre ótimo roteiro escrito por Woody e também da enorme sintonia que o casal protagonista tem, sejam nos momentos alegres e descontraídos, sejam nas brigas. Outra característica do filme são os monólogos. Em alguns momentos, Alvy conversa diretamente com o telespectador, fazendo reflexões sobre a vida, sobre sua personalidade confusa e, sobretudo, sobre as confusões de um relacionamento e de nossa necessidade de os manter, por mais insanos que eles possam parecer. O monólogo inicial é marcante também por trazer uma das melhores seqüências do filme, que é a infância de Alvy, onde podemos conhecer seus colegas de classe e a origem de suas neuroses em cenas e diálogos muito engraçados. Aliás, escolher a melhor seqüência do filme é uma coisa impossível de se fazer! São inúmeras as cenas excelentes! Quase todas estão entre as melhores já escritas por Allen em toda a sua longa filmografia. 
O filme também é repleto de referências a ícones culturais. De Fellini a Bob Dylan, passando por Wagner, Billie Holiday, Robert Redford, Eisenhower e até mesmo a Rainha malvada de Branca de Neve e os sete anões. A todo momento o filme lança referências inteligentes e muito bem colocadas. 
Algumas técnicas foram introduzidas no cinema por esse filme. Falar diretamente com o telespectador, dividir a tela em duas cenas em oposição (principalmente num momento impagável em que Alvy faz uma comparação entre sua família e a família de Annie) e até mesmo a narrativa “desorganizada” do filme serviram de base para muitos outros filmes de comédia romântica que se seguiram a Annie Hall. Na verdade, dá até pra dizer que esse é o pai da comédia romântica moderna, apesar de esta ser extremamente previsível, clichê, cheia de lugares comuns e entediantes. Poucas comédias românticas hoje em dia conseguem fazer o que Annie Hall fez nos anos 70: trazer algo novo! - A última comédia romântica moderna que chegou mais perto de ser algo original foi (500) dias com ela (que alguns chamam de “Annie Hall moderno”) - Parece simples, mas é algo muito difícil de ser feito e Annie Hall o fez muito bem, e por isso que é considerado mundialmente não só como um dos melhores filmes de Woody Allen (talvez o melhor) como uma das melhores comédias já feitas. Não gosto de considerá-lo apenas uma comédia romântica pois isso parece limitar muito o filme a uma área específica. Para mim filmes de Woody Allen são tão abrangentes que não se encaixam numa categoria só, como comédia, drama ou romance. Para mim é um gênero a parte. O gênero Woody Allen. E este filme é o auge deste gênero. 
Woody Allen interpreta Alvy Singer e reza a lenda de que Alvy não seja uma personagem, seja a “persona” de Woody. É tipo ele interpretando a si mesmo. Se for verdade, eu não sei, mas em toda a longa filmografia de Woody Allen temos vários e vários protagonistas quase iguais a Alvy. Diane Keaton interpreta Annie Hall. Uma das minhas atrizes preferidas, aqui ela ganhou o Oscar de melhor atriz em 1977. É de uma naturalidade difícil de ser ver em um filme. Em nenhum momento suas atitudes soam forçadas e Annie parece sempre ser a pessoa mais verdadeira e sincera possível. Originalmente falando, Diane Keaton é Annie Hall. O sobrenome real da atriz é Hall e em sua família ela é chamada de Annie. E também, ela e Woody tiveram um longo relacionamento amoroso, que deu origem a uma grande parceria, como amigos e como colegas de trabalho, o que se reflete na boa sintonia que vemos entre os dois em cena não apenas em Annie Hall como em outros filmes do diretor. 
Annie Hall foi o grande vencedor do Oscar de 1977, derrubando ninguém mais ninguém menos que Star Wars na categoria de melhor filme. Também saiu vencedor em melhor atriz, melhor diretor (Allen) e melhor roteiro (Allen), levando Woody e Diane ao posto mais alto no meio do cinema.
Obs: no Brasil, recebeu o péssimo nome de “Noivo neurótico, noiva nervosa”. Sem mais comentários...


por Lucas Moura

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