Os
amantes passageiros é uma história passada nas alturas, num voo que sai de Madri
para o México, mas que por problemas no trem de pouso precisa ficar sobrevoando
a Espanha enquanto não se descobre uma solução. A tripulação dá soníferos a
todos os passageiros da classe econômica, mas os da primeira classe ficam
acordados e se transformam em personagens de uma louca comédia: a cafetina de
luxo que guarda segredos de homens poderosos, a mulher com poderes
sobrenaturais que se apaixona por uma ereção (!!!), um pai que há muito tempo
não vê a filha que fugiu de casa, o chefe dos comissários de bordo que é amante
do comandante casado. Uma história novelesca e impagável que se afasta um pouco
dos dramalhões envolvendo gays e aborda a temática de um modo muito mais leve e
divertido. Prova do talento e versatilidade de Almodóvar.
Nota:
8,0/ 10
Fúria. Loucura. Paixão. Elementos novelescos e claro,
onipresentes da obra de Pedro Almodóvar. Este filme de 2011 ganhou imensa
popularidade por trazer esses três elementos com mais intensidade que o normal
a ponto de chocar o espectador; muitos o classificam como terror – mas a
intenção aqui não é apavorar o espectador, e sim impressionar, e muito. Antônio
Banderas interpreta um cirurgião plástico muito competente, um cientista
inovador cujo único, mas grande defeito é o desprezo à ética. Um de seus mais
promissores e polêmicos trabalhos é o desenvolvimento de uma pele artificial
cuja aparência é a da pele humana, mas é mais resistente. E para cobaia, ele
usa alguém que fez coisas que o atingiram fortemente naquilo que ele considerava
mais precioso. O que? Assista para descobrir. Garanto que é um prazer imenso
descobrir os segredos que Almodóvar tem a revelar pouco a pouco e que deixou
boquiabertas plateias de todo o mundo.
Nota: 9,0/ 10
Voltando a trabalhar com fortes personagens femininas, Almodóvar dirige
a história das irmãs Raimunda (Penélope Cruz) e Sole (Lola Dueñas), que
perderam os pais num trágico incêndio. O maior destaque da história vai para
Raimunda, que logo no início do filme se vê diante da morte do marido pela sua
própria filha, que o matara para se defender de abuso sexual. Mãe protetora,
Raimunda decide esconder o cadáver para proteger sua filha. Na mesma noite,
Sole viaja para o enterro de sua tia Paula, uma idosa debilitada que quando viva
jurava para as duas irmãs que era a falecida mãe delas, Irene, quem cuidava
dela na velhice - e as irmãs achavam que a tia estava ficando caduca. Mas
acontece o impensável: Sole encontra sua falecida mãe mais viva do que nunca no
porta-malas de seu carro. Estamos diante do sobrenatural? É a indagação que
Almodóvar conduz pelo filme, com sua habilidade única de revelar aos poucos os
mistérios de suas obras. Além das marcas do diretor espanhol, Volver tem como principal mérito
as atuações de suas protagonistas, vencedoras do prêmio de atuação feminina em
Cannes (foram cinco vencedoras empatadas), e talvez a melhor atuação da
carreira de Penélope Cruz.
Nota: 8,5/ 10
Esse é um dos meus dez filmes favoritos; já o vi várias vezes e sempre
me emociono. A história é simples: o repórter Marco (Darío Grandinetti) se
envolve com a promissora toureira Lydia (Flores), que ao sofrer um grave
acidente entra em estado de coma profundo. Na clínica em que Lydia é internada
Marco conhece o enfermeiro Benigno (Javier Cámara), que é apaixonado por sua
paciente Alicia. Os dois amigos se veem na mesma situação, buscando o amor de
mulheres permanentemente inconscientes - o "fale com ela" do título é
um conselho que Benigno dá ao repórter para que este tente diminuir sua dor.
Almodóvar utiliza poesia e sutileza para contar essas tristes histórias que se
encontram e são tão semelhantes, se afastando um pouco de seu estilo em que
personagens femininas e homossexuais se destacam, dando lugar a dois
protagonistas masculinos e heterossexuais, e trocando a tradicional turbulência
pela delicadeza da dança (inclusive as touradas são suavizadas e comparadas ao
balé) e músicas bonitas e tristes, como Cucurrucucu paloma, interpretada por Caetano Veloso.
Nota: 10
5. Tudo sobre minha mãe (Todo sobre mi madre, 1999)
Este longa de 1999 é centrado em Manuela (Cecilia Roth), enfermeira
que perde seu único filho num acidente depois de assistir à peça Uma rua
chamada pecado. Ela então vai à Barcelona em busca do pai do garoto para dar a
notícia, mas não o encontra; quem ela reencontra é a travesti Agrado (Antonia
San Juan), sua amiga de muitos anos atrás, e através de quem conhece a freira
Rosa (Penélope Cruz), que descobre estar grávida e soropositiva. Manuela se vê
mantendo Rosa sob seus cuidados e responsabilidade ao mesmo tempo em que se
aproxima do elenco de Uma rua chamada pecado, cuja protagonista Huma (Marisa
Paredes) vive Blanche DuBois dentro e fora dos palcos. Com referências ao
cinema clássico, Almodóvar mais uma vez constrói perfis femininos através da ótica
de um homem crescido entre mulheres, especialmente a figura materna simbolizada
por Manuela. O resultado é um filme maravilhoso, vencedor do Prêmio de direção
de Cannes e do Oscar de melhor filme estrangeiro.
Nota: 10
Luís F. Passos