Willkommen, bienvenue, welcome
Fremde, étranger, stranger
Glücklich zu sehen, je suis enchanté, happy to see you
Bleibe, reste, stay
Willkommen, bienvenue, welcome
Im Cabaret, au Cabaret, to Cabaret!
Mais uma vez falando de cinema dos anos 70, mais uma vez falando de musical, mais uma vez falando de musicais dos anos 70. Como falei anteriormente, são musicais ousados, com uma temática mais livre, muitas vezes abordando a sexualidade, principalmente a reprimida - vide The Rocky Horror Picture Show (1975). Mas a ousadia não se manifesta só assim. O fato de sair do ambiente doméstico dos anos 60 (tipo Mary Poppins ou A noviça rebelde) e descer pra zona, pro submundo, ou mesmo pros agitados bastidores de um show (como All that jazz em 1979) já simboliza uma mudança importante, dando um caráter muito mais realista e menos inocente ao cinema.
Leave your troubles outside!
So, life is disappointing?
Forget! In here... life is beautiful
The girls are beautiful
Even the orchestra is beautiful
Berlim, 1931. No delicado período entre guerras, a Alemanha ainda sofre as consequências da derrota na 1ª Guerra Mundial e os efeitos da crise econômica pós queda da bolsa de Nova York dois anos antes. Neste cenário que foi o terreno fértil para a ascensão do nazismo, somos apresentados ao professor inglês Brian Roberts (Michael York), que passará uma temporada na cidade dando aulas particulares de inglês. Brian vai morar numa pensão, onde conhece a dançarina americana Sally Bowles (Liza Minnelli), que canta e dança no Kit Kat Klub, uma das mais agitadas casas de show de Berlim. A pensão é decadente, todos seus moradores estão quebrados ("mas quem não está nos dias de hoje?", diz Sally), mas se mostra ótima devido ao preço e à agradável companhia de Sally.
Bye-Bye, mein Lieber Herr
Farewell, mein Lieber Herr
It was a fine affair,
But now it's over.
And though I used to care,
I need the open air
You're better off without me,
Mein Herr
Sally na verdade é prostituta, além de cantora e dançarina. A casa de shows onde ela trabalha, o Kit Kat Klub, é um espetáculo por si só. Como é descrito na abertura do filme, nele a vida é bela, as garotas são belas, até a orquestra é bela. É animado por um mestre de cerimônias (Joel Grey) que sabe como ninguém reger o show, por cinco cabaret girls ("todas elas virgens", diz o apresentador com um sorriso irônico), por uma banda totalmente feminina e por outros artistas, como malabaristas e ventríloquos. Mas voltando a Sally, seu grande sonho é se tornar atriz de cinema e deixar sua vida pobre e exaustiva para trás. Não que ela reclame do seu emprego e de suas condições; o próprio Brian passa a acreditar que Sally vive num estado de negação para não sofrer com os problemas.
Money makes the world go around
The world go around
The world go around
Money makes the world go aroundThat clinking clanking sound
Can make the world go 'round
Uma possível solução para os problemas de Sally aparece por acaso numa lavanderia, na forma do barão Maximillian von Heune (Helmut Griem), um milionário que se encanta pela dançarina e por Brian, que não nutre nenhuma simpatia pelo ricaço - pelo menos não no início. Sally entra num sonho regado a champanhe e nutrido por caviar no café, almoço e jantar. Brian aos poucos vai cedendo à gentileza do barão e descobrindo mais sobre sua sexualidade, que a própria Sally já vinha explorando.
Fatherland, fatherland, show us the signYour children have waited to seeThe morning will comeWhen the world is mineTomorrow belongs to me
Um grande mérito de Cabaret (1972) é expor a ascensão do nazismo, principalmente a conivência do povo alemão, que mesmo discordando das ideias de Hitler, achava que o partido de extrema direita era um bem necessário para a eliminação do comunismo na Alemanha. Poucas vozes sensatas no filme, como Brian, se preocupam com o fortalecimento cada vez maior do nazismo e se perguntavam se o governo e a população seriam mesmo capazes de conter os nazistas depois que eles "cumprissem sua missão" de exterminar o comunismo. Além disso, há uma personagem judia no filme, a bela e rica Natalia Lindauer (Marisa Berenson), aluna de Brian que é seduzida por Fritz Wendel, um amigo de Sally em busca de uma fortuna para se encostar. Natalia sofre perseguições durante o filme, como a morte de seu cachorro ou o preconceito através de frases como "judeus só servem para juntar dinheiro". Acontecimentos inesperados na história já apontam que o nazismo não seria algo fácil de conter, como acreditava a maior parte dos alemães.
Start by admittingHouve quem achasse que Cabaret não seria um sucesso. "Quem quer ver um musical com nazistas?". Mas foi um sucesso, todo mundo quis ver. O filme foi indicado a oito Oscar, venceu seis, incluindo melhor diretor e melhor atriz. Derrotou Francis Coppola no prêmio de direção, no ano de O Poderoso Chefão, como já alardeei dezenas de vezes aqui no blog - mas realmente é algo que merece destaque. Vencer Coppola não é pouca coisa, e foi uma vitória justa (importante ressaltar, já que o Oscar tem suas pérolas), memorável. Basta ver a abertura para perceber quão bem dirigido é o filme, quão bem os números musicais funcionam e a entrega do elenco ao trabalho. Por mais que pareça clichê a história de uma prostituta que sonha em ser atriz, Cabaret não é banal. Sally realmente é talentosa e merece que seu sonho se torne realidade; por trás dela há o talento de Liza Minelli, que cantando e dançando fez um dos maiores trabalhos de atuação feminina da década. O sinistro Mestre de Cerimônias (que não tem nome e nem dialoga) é outro destaque, aparecendo como a personificação do Kit Kat Klub e rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante a Joel Grey. O filme realmente é uma festa, uma celebração da vida e a defesa de que a vida merece ser comemorada mesmo nos momentos difíceis, que é o caso do período entre guerras. After all, life is beautifil. The girls are beautiful. Even the orchestra is beautiful.
From cradle to tomb
It isn't that a long a stay
Life is a Cabaret, old chum
It's only a Cabaret, old chum
And I love a Cabaret!
Auf Wiedersehen!Nota: 10,0
À bientôt!
Luís F. Passos
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