O filme Para sempre Alice (Still
Alice, 2014) fala sobre a vida de uma talentosa e intelectual professora
universitária de lingüística chamada Alice (Julianne Moore) que, ainda jovem ao
redor dos 50 anos de idade, recebe o diagnóstico de ser portadora de uma forma
rara, genética e precoce de doença de Alzheimer. O filme, então, recorre o
período após este diagnóstico e a forma como Alice, gradativa e
inevitavelmente, vai perdendo quase que por completo a pessoa que ela era pelo
curso trágico da doença. No meio do caminho, há muito sofrimento pessoal e
familiar. Pessoal pela consciência de Alice do quão forte para ela é perder
controle da própria mente com a qual literalmente fez sua vida, seu trabalho e
construiu seu legado e familiar por toda a crise que um problema como esses
numa pessoa central causa, desconcertando, de certa forma, a dinâmica da vida
de todos.
Eu, particularmente,
não gostei muito de Para sempre Alice.
É um filme muito simples e que atinge seus objetivos, mas não me resta muito a
dizer sobre ele além do que o que disse acima. Sendo assim, apesar de ser um
filme bastante emocional e humano, ele é bastante esquecível, pois não existe
nenhum elemento no roteiro ou na direção que consigam destacar totalmente este
de dezenas de outros filmes do gênero e assim ele me parece mais um filme
genérico sobre doença. O único ponto que dá destaque a Para sempre Alice e que fez com que ele fosse tão bem recebido e
falado quando do lançamento é a atuação impecável de Julianne Moore, mas dizer
que ela é excelente e uma das melhores atrizes do século XXI é como dizer que o
mar é molhado ou que açúcar é doce. É algo inquestionável. O elenco de apoio
liderado por Kristen Stewart e Alec Baldwin também está muito bom e em
sintonia.
Outro problema que eu
tive, pessoalmente, é que eu não conseguia parar de evitar comparações com
outros filme sobre doença, mas que não usam a doença do protagonista como único
ponto, mas sim como a base para a construção de uma história muito mais ampla e
que abre margem para mais análises ou diferentes emoções que não apenas a
constatação da nossa fragilidade e o quão difícil e sofrido é o processo da
morte. Um exemplo muito bom e que vinha a minha mente o tempo todo é Longe dela (Away from her, 2007), filme em que a protagonista também sofre de
Alzheimer, mas no qual a doença é a base para um roteiro que fala muito sobre a
quebra de vínculo e o quão difícil é o processo de afastamento em vida quando
duas pessoas unidas por décadas passam a ser estranhas. Para sempre Alice não se aprofunda a esse nível. Outros exemplos de
filmes que usaram doenças para criar enredos mais amplos podem ser Filadélfia, que através da AIDS falou
sobre a homofobia, o preconceito e a falta de informação na sociedade estadunidense
dos anos 90 ou até mesmo Melancolia,
que faz uma metáfora entre depressão e o fim do mundo.
Enfim, os caminhos
existem, são muitos, e não foram percorridos em Para sempre Alice. Não é necessariamente um problema do filme, mas
é algo que eu sinto falta.
Ps: a atuação de
Julianne Moore é ótima e foi com ela que venceu o Oscar de melhor atriz. Não dá
para dizer que não seja merecido, mas naquele ano havia concorrentes tão boas
quanto em filmes muito mais interessantes. Rosamund Pike por Garota exemplar, Marion Cotillard por Dois dias, uma noite e Reese Witherspoon
por Livre são opções que me
agradariam mais. Moore poderia facilmente ter vencido como atriz coadjuvante
naquele ano por Mapa para as estrelas,
com o qual venceu o prêmio de atuação feminina em Cannes, mas não foi nem
indicada ao Oscar pelo filme, numa sequência de injustiças para um atriz que
deveria ter vencido o Oscar de melhor atriz por Longe do paraíso há 15 anos atrás.
Nota: 6/10
Leia também:
Lucas Moura
Nenhum comentário:
Postar um comentário