Não importa o quão pouco ligado em cinema você seja muito provavelmente
você ouviu falar em La La Land, o
grande filme da temporada. Esta semana, o novo trabalho de Damien Chazelle
conseguiu arrebatar 14 indicações ao Oscar, marca igualada apenas ao recorde já
estabelecido pelos clássicos Titanic
e A malvada. No meio cinematográfico,
só se fala em La La Land. Saindo do
sucesso de Whiplash alguns anos
atrás, Damien Chazelle se vê experimentando um fenômeno. E um fenômeno
realmente digno de ser louvado.
O enredo simples e relativamente clichê sobre a vida, os sonhos e o amor
de Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), um casal de jovens artistas
fracassados entre seus altos e baixos, tentando vencer numa cidade tão incrível
quanto difícil, embalados por tesouros do passado em um mundo de mudanças e já
meio cansados de apanhar da vida pode parecer até banal quando se lê apenas a
sinopse, mas a construção do enredo, a forma como o filme evolui e a
impressionante qualidade técnica são arrebatadores.
Em relação ao roteiro, pode-se dizer que é cheio de qualidades. Como já
disse, é um pouco clichê e não é um tema jamais trabalhado nem tão inovador.
Porém, a forma como é escrito é de grande destreza, fazendo com que o filme
passeie entre momentos leves e cômicos a seqüências de grande carga dramática
sem, em momento algum, tornar-se lento ou arrastado e, sobretudo, sem nunca
perder a conexão com o espectador. Como espectador, posso afirmar que me
mantive totalmente fixo no filme durante toda a sua projeção, completamente
imerso no desenrolar da trama – coisa rara hoje em dia. La La Land é um filme sobre sonhos e, principalmente, sobre
sonhadores. Muitas vezes com áurea mágica e fantástica, o filme tampouco nos
nega momentos curtos e grossos de bruta e pura realidade, tons negros
contrastando com o colorido alto astral esperançoso. É um filme que, entre
magia e melancolia, consegue despertar o sonhador em cada um de nós e nos faz
refletir sobre a luta diária pelos sonhos, os momentos de derrota e os momentos
de glória. O final reserva um pequeno twist soberbo sobre a vida e seus
caminhos que, muito provavelmente, é uma das coisas mais genuinamente bonitas
que vi em um filme dentro da sala de cinema.
A nostalgia é elemento marcante em La
La Land e o filme traz uma coletânea infinita de referências
cinematográficas que vão desde o tom exageradamente colorido da fotografia –
uma clara referência ao technicolor amplamente utilizado por Hollywood,
sobretudo nos anos 50 – aos números musicais que remetem ao passado desde a
composição musical às elaboradas coreografias. Para bons cinéfilos, há um
saudosista desfile de referências a musicais como Cantando na chuva, Amor,
sublime amor e o “recente” Moulin
Rouge. A presença marcante do jazz, o figurino moderno com um toque
vintage, a presença de Juventude
transviada... enfim, o filme transpira o passado em toda sua glória. O
esmero com a perfeição segue em todos os outros aspectos técnicos de La La Land. Direção muito competente de
Damien Chazelle, belíssima fotografia e edição muito eficiente.
Por último, mas não menos importante, as atuações. Ryan Gosling está
muito bem (como sempre) e convence muito em seu Sebastian cheio de erros e
acertos, o que o torna altamente real e alguém com quem é fácil se identificar
e compreender, mas o filme pertence à Emma Stone. A atriz entra para o hall das
grandes atrizes nesta que é, de longe, sua melhor atuação. Uma personagem
riquíssima e muito carismática que carrega praticamente toda a carga cômica,
romântica e dramática do filme em suas costas. Atuação contida, discreta e sem
exageros, o olhar e as feições de Emma Stone são as grandes armas para fazer de
Mia alguém com quem podemos nos conectar de forma tão próxima. Torcemos por
ela, sofremos por ela e a apoiamos sempre. Afinal, o que Chazelle quer
despertar é a Mia em cada um de nós.
Finalizando, o filme mereceu suas 14 indicações? Sim. Consegue superar o
incrível trabalho antecessor de Damien Chazelle, Whiplash? Pergunta difícil. Particularmente, prefiro Whiplash, mas isso varia muito de pessoa
a pessoa. Seria La La Land um
potencial vencedor do Oscar de melhor filme? Com certeza e ainda há chances
moderadas de que também vença melhor diretor e melhor atriz.
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