sábado, 25 de fevereiro de 2017

La La Land – os tolos sonhadores



Não importa o quão pouco ligado em cinema você seja muito provavelmente você ouviu falar em La La Land, o grande filme da temporada. Esta semana, o novo trabalho de Damien Chazelle conseguiu arrebatar 14 indicações ao Oscar, marca igualada apenas ao recorde já estabelecido pelos clássicos Titanic e A malvada. No meio cinematográfico, só se fala em La La Land. Saindo do sucesso de Whiplash alguns anos atrás, Damien Chazelle se vê experimentando um fenômeno. E um fenômeno realmente digno de ser louvado.
O enredo simples e relativamente clichê sobre a vida, os sonhos e o amor de Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), um casal de jovens artistas fracassados entre seus altos e baixos, tentando vencer numa cidade tão incrível quanto difícil, embalados por tesouros do passado em um mundo de mudanças e já meio cansados de apanhar da vida pode parecer até banal quando se lê apenas a sinopse, mas a construção do enredo, a forma como o filme evolui e a impressionante qualidade técnica são arrebatadores.
Em relação ao roteiro, pode-se dizer que é cheio de qualidades. Como já disse, é um pouco clichê e não é um tema jamais trabalhado nem tão inovador. Porém, a forma como é escrito é de grande destreza, fazendo com que o filme passeie entre momentos leves e cômicos a seqüências de grande carga dramática sem, em momento algum, tornar-se lento ou arrastado e, sobretudo, sem nunca perder a conexão com o espectador. Como espectador, posso afirmar que me mantive totalmente fixo no filme durante toda a sua projeção, completamente imerso no desenrolar da trama – coisa rara hoje em dia. La La Land é um filme sobre sonhos e, principalmente, sobre sonhadores. Muitas vezes com áurea mágica e fantástica, o filme tampouco nos nega momentos curtos e grossos de bruta e pura realidade, tons negros contrastando com o colorido alto astral esperançoso. É um filme que, entre magia e melancolia, consegue despertar o sonhador em cada um de nós e nos faz refletir sobre a luta diária pelos sonhos, os momentos de derrota e os momentos de glória. O final reserva um pequeno twist soberbo sobre a vida e seus caminhos que, muito provavelmente, é uma das coisas mais genuinamente bonitas que vi em um filme dentro da sala de cinema.
A nostalgia é elemento marcante em La La Land e o filme traz uma coletânea infinita de referências cinematográficas que vão desde o tom exageradamente colorido da fotografia – uma clara referência ao technicolor amplamente utilizado por Hollywood, sobretudo nos anos 50 – aos números musicais que remetem ao passado desde a composição musical às elaboradas coreografias. Para bons cinéfilos, há um saudosista desfile de referências a musicais como Cantando na chuva, Amor, sublime amor e o “recente” Moulin Rouge. A presença marcante do jazz, o figurino moderno com um toque vintage, a presença de Juventude transviada... enfim, o filme transpira o passado em toda sua glória. O esmero com a perfeição segue em todos os outros aspectos técnicos de La La Land. Direção muito competente de Damien Chazelle, belíssima fotografia e edição muito eficiente.
Por último, mas não menos importante, as atuações. Ryan Gosling está muito bem (como sempre) e convence muito em seu Sebastian cheio de erros e acertos, o que o torna altamente real e alguém com quem é fácil se identificar e compreender, mas o filme pertence à Emma Stone. A atriz entra para o hall das grandes atrizes nesta que é, de longe, sua melhor atuação. Uma personagem riquíssima e muito carismática que carrega praticamente toda a carga cômica, romântica e dramática do filme em suas costas. Atuação contida, discreta e sem exageros, o olhar e as feições de Emma Stone são as grandes armas para fazer de Mia alguém com quem podemos nos conectar de forma tão próxima. Torcemos por ela, sofremos por ela e a apoiamos sempre. Afinal, o que Chazelle quer despertar é a Mia em cada um de nós.
Finalizando, o filme mereceu suas 14 indicações? Sim. Consegue superar o incrível trabalho antecessor de Damien Chazelle, Whiplash? Pergunta difícil. Particularmente, prefiro Whiplash, mas isso varia muito de pessoa a pessoa. Seria La La Land um potencial vencedor do Oscar de melhor filme? Com certeza e ainda há chances moderadas de que também vença melhor diretor e melhor atriz.

Leia também – outros musicais aqui no Sagaranando:

Nenhum comentário:

Postar um comentário