sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Filmes pro final de semana - 04/12

1. Blue Jasmine (2013)
Vencedor muito merecido do Oscar de melhor atriz para Cate Blanchett ano passado, Blue Jasmine é um trabalho consideravelmente genial de Woody Allen. À primeira vista, não me atentei muito ao filme em si porque Cate Blanchett chama tanta atenção que é difícil tirar os olhos dos trejeitos, da elegância, da instabilidade e das neuroses que ela cria ao dar vida à sua Jasmine, mas só precisei de 30 segundos para perceber que me deparava com mais um grande trabalho do diretor. O que Woody Allen faz aqui é, sabiamente, transportar o espírito deturpado da figura lendária do cinema e do teatro Blanche Dubois para a realidade atual do país, na esfera social rica e privilegiada dos milionários de NY e ainda adaptá-la a crise financeira mundial que se iniciou com especulação imobiliária há alguns anos atrás e usar isto como estopim para toda a crise psíquica de Jasmine. Assim como Blanche, quando na miséria, Jasmine, mais uma vez, depende da bondade de estranhos, recorre a sua irmã e até sofre com uma atração/repulsa pelo cunhado grosseiro. Assim como Blanche, Jasmine é a personificação da decadência, da negação e do desespero. Claro que Uma rua chamada pecado passeia por territórios muito mais sérios e complexos que Blue Jasmine, e as semelhanças entre os dois ficam por aqui mesmo, mas isso não nos impede de apreciar a forma como Woody Allen reverencia a genialidade de Tennessee Williams.
Nota: 9,0/ 10
2. Meia-noite em Paris (Midnight in Paris, 2011)
25 anos depois de Hannah e suas irmãs, Woody Allen estabelece um novo campeão de bilheteria entre seus filmes. A história do escritor Gil Pender (Owen Wilson), que consegue viajar no tempo na capital francesa e aproveitar a efervescência cultural dos anos 20 encantou milhões de pessoas por todo o mundo. Ao lado de pintores vanguardistas e escritores que guiaram toda a literatura do século, Gil vai descobrir que mais vale viver o presente e tentar ser feliz independente do tempo ou do espaço. Woody passa essa lição ao longo de 1h30 em belos cenários, fazendo a cidade luz e seu espírito serem os protagonistas do longa.
Nota: 9,0/ 10
3. Match Point (2005)
Depois de quase dez anos sem empolgar muito seu público, o grande diretor volta com tudo dirigindo uma trama tensa e sexy (não há palavra melhor para descrever o filme) que se passa em Londres, em meio à aristocracia britânica. Chris Wilton (Jonathan R. Meyers) é um ex-jogador de tênis que passa a dar aulas em um clube de alto padrão, e logo conquista a amizade de um de seus alunos, Tom Hewitt (Matthew Goode), que o leva para conhecer sua família. A irmã de Tom, Chloe, se encanta pelo professor, mas foi a noiva dele que chamou a atenção de Chris. Nola Rice (Scarlett Johanson) é uma aspirante a atriz com atributos físicos de deixar qualquer um doido. Mesmo começando a namorar Chloe e consequentemente sendo cunhado de Tom, Chris se aproxima de Nora e os dois começam um caso. A tensão sexual que existe entre o casal de protagonistas é impressionante e alimenta o clima de suspense que tomará conta do filme no final; não um suspense a la Hitchcock, mas uma questão mais profunda ao estilo de Crime e castigo.
Nota: 8,5/ 10
4. Desconstruindo Harry (Desconstricting Harry, 1997)
Woody Allen tem uma vasta obra, repleta de filmes excelentes e bem conhecidos como Annie Hall, Manhattan e Hannah e suas irmãs, e também outros não tão bons e conhecidos, mas também ótimos filmes meio desconhecidos - é o caso de Desconstruindo Harry. Seguindo um pouco o estilo de Bergman e Fellini, Woody vive Harry, escritor que passa por uma crise criativa, e nessa época é homenageado pela universidade em que estudou e foi expulso. Sem ter ninguém para acompanhá-lo, Harry leva consigo um amigo doente, uma prostituta e o filho que teve com uma de suas ex-esposas. Ao longo do filme vemos como Harry levou para sua obra pequenos problemas e episódios de sua vida, inclusive transformando amigos e parentes em personagens problemáticas, o que causou o afastamento de muitos deles.  Engraçado do começo ao fim, conta ainda com a participação de Billy Cristal, Mariel Hemingway, Tobey Maguire, entre outros.
Nota:  9/ 10
5. Annie Hall (1977)
Diane Keaton é Annie, descontraída, sem rumos traçados pra sua vida, vive fazendo bicos como fotógrafa e cantora em bares, que conhece o comediante Alvy Singer (Woody Allen), um nova-iorquino judeu neurótico, metódico, meio hipocondríaco e chato, apesar de carismático. Os dois se apaixonam e engatam um namoro que logo no início do filme sabemos que não dá certo. Woody Allen conta a história do casal de forma inovadora, alternando momentos do início da relação com momentos de crise ou do cotidiano deles enquanto viviam juntos - fora muitas outras inovações que deram novo fôlego ao gênero da comédia romântica e o Oscar de direção para Woody. É quase uma unanimidade de que este é o melhor filme do diretor, que aqui traçou o esboço de muitos de seus filmes subsequentes, e diferente dos anteriores que eram mais próximos à comédia pastelão; e não é difícil ver que Annie Hall supera até mesmo outros grandes filmes como Manhattan e Hannah e suas irmãs. A naturalidade com que tudo é passado ao espectador e o tema do longa - afinal, Annie é antes de tudo um filme sobre o amor - fazem dele uma fonte inesgotável de satisfação, tornando impossível querer ver uma só vez.
Nota: 10

Bônus:
 6. Woody Allen: Um documentário (Woody Allen: a documentary, 2012)

Woody é um cara tão simples, tão contrário a certas frescuras, que até o título do documentário sobre sua vida e obra faz o estilo "menos é mais". Com a participação do próprio Woody, parentes, amigos e colaboradores de décadas de carreira, o filme resgata a infância no Brooklyn, passa pelo trabalho como escritor e humorista, até chegar à carreira no cinema nos anos 60. Foco para a evolução do trabalho, inicialmente mais voltado para o humor, nos filmes de comédia pastelão, até que em 1977 vem Annie Hall, sua maior obra, trazendo um lado mais romântico e profundo e dando início a uma sucessão de trabalhos tendo como personagem central o alter ego do cineasta, o judeu novaiorquino paranoico, tão presente em sua obra - seja interpretado pelo próprio Woody ou por outros artistas. Destaque para a participação de várias musas do diretor, em especial Diane Keaton, que é sua melhor amiga, e também para a sua polêmica vida pessoal, sendo ressaltada a conturbada história com Mia Farrow.
Nota: 9,0/ 10

Luís F. Passos e Lucas Moura

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