Com uma greve de mais de três meses nas universidades federais, que parece não ter fim, o Sagaranando decidiu torná-las mais produtivas sugerindo filmes. Mais do que isso, escolhemos filmes que possam servir de introdução a semelhantes da mesma linhagem, seja no âmbito da comédia, da introspecção ou dos clássicos, por exemplo. Vamos aos primeiros da seleção:
1. Fale com Ela (Hable con Ella, 2002)
Começando com um de meus filmes favoritos, tantas vezes comentado aqui no blog. De beleza singular, esse poético drama acompanha a angústia de dois homens cujas amadas, uma toureira e uma bailarina, estão em coma profundo. Falar com elas, mesmo sem resposta, é a única forma de estabelecer uma ligação - a resposta que nunca vem já é algum consolo para os corações dos homens que amam.
Por que ver na greve? Pra quem não conhece ou conhece pouco o trabalho do diretor espanhol Pedro Almodóvar, esse é um excelente meio de se introduzir na obra de tão talentoso cineasta, conhecido por suas personagens fortes e enredos polêmicos. Além disso, é uma ótima pedida pra quem curte a linha mais introspectiva.
Cenas marcantes: aquelas onde é estabelecida uma relação com a sutileza do balé e a violência das touradas, um paradoxo que se torna possível ao som de Elis Regina e Caetano Veloso.
Nota: 10
Um dos melhores filmes de Roman Polanski é mais uma prova da genialidade do cinema dos anos 70. Ambientado na Los Angeles dos anos 30, Chinatown traz Jack Nicholson como um detetive que se vê no meio de uma trama que quanto mais se aprofunda, mais complexa se mostra. Ao lado de uma femme fatale vivida por Faye Dunaway, a personagem de Nicholson tentará decifrar o mistério que envolve desde a guerra de águas da Califórnia até terríveis segredos familiares.
Por que ver na greve? Eis um filme maravilhoso - sério, dá raiva de quão bom ele é - que foi lançado no ano errado. 1974 foi apenas o ano de O Poderoso Chefão parte II, que ofuscou todos seus rivais. O que não tira em nada o mérito de Chinatown. O roteiro é perfeito, a direção é de mestre, o elenco é sensacional. Além disso, aqui estão algumas das melhores reviravoltas do cinema americano.
Cenas marcantes: são várias. A começar pelo detetive vivido por Nicholson ter seu nariz cortado por um bandido interpretado pelo próprio diretor Polanski e dizer "por pouco não perco o meu nariz. Ee gosto dele. Gosto de respirar por ele", passando por uma sucessão de tapas que Nicholson dá no rosto de Dunaway (dizer o conteúdo do diálogo é spoiler pesado) e claro, a inesquecível frase final (que também seria spoiler, então assista ao filme)
Nota: 10 + 1 por ser excelente e não tão conhecido
3. Quanto mais quente melhor (Some like it hot, 1959)
Mais um queridinho do Sagaranando e um de meus preferidos. A história é simples: os músicos Joe (Tony Curtis) e Jerry (Jack Lemmon), dois coitados sem um tostão, presenciam uma chacina e acabam tendo de se disfarçar como mulheres para fugir da máfia de Chicago. Acabam numa banda feminina que foi passar uma temporada na Flórida, onde conhecem a ingênua Sugar (Marilyn Monroe), que sonha em conhecer um jovem milionário.
Por que ver na greve? Além de ser considerada a melhor comédia de todos os tempos, Quanto mais quente melhor é uma ótima oportunidade pra aprender a gostar de filme em preto e branco. Os diálogos são excelentes, as tiradas são perfeitas, inteligentes, mas não é um filme cult - e aqui eu falo cult com toda a conotação prepotente que a palavra ganhou nos últimos anos. É um filme excelente e acessível para todos.
Cenas marcantes: difícil escolher em meio a tantas piadas ótimas, mas merecem destaque as cenas em que Marilyn canta músicas como I wanna be loved by you, a cena em que Jack Lemmon toca maracas alegremente depois de ser pedido em casamento por um velho ou mesmo a cena que te fará rir toda vez que ouvir que "ninguém é perfeito" (tem que assistir pra descobrir).
Nota: 10
Obra-prima (na verdade, uma das obras-primas) do diretor Ingmar Bergman, é de O Sétimo Selo uma das imagens mais famosas e icônicas de todo o cinema: um guerreiro jogando xadrez com a Morte na praia. Ambientado na Idade Média, o filme mostra uma terra assolada pela peste negra e sombria diante da iminência do juízo final, onde o cavaleiro que duela com a Morte e alguns artistas personificam os questionamentos de Bergman sobre Deus, religião e a própria humanidade.
Por que ver na greve? Esse é um dos filmes que acho que todo mundo deveria ver pelo menos uma vez na vida. O medo que Bergman tinha da morte o levou a fazer uma obra cheia de ecos psicanalíticos, que refletem desde sua traumática e rigorosa educação religiosa até a incerteza da existência de um ser superior. Nesse jogo de xadrez, Bergman deu um xeque mate na morte e foi imortalizado como um dos maiores cineastas da história.
Cenas marcantes: além da cena do jogo de xadrez com a Morte, que é logo no início, há várias outras marcadas por intensos diálogos. Também merece destaque a perturbadora cena da procissão, com monges impiedosos e doentes que se auto flagelam.
Nota: 10
A história é ambientada num futuro pós apocalíptico em que a Terra se tornou um imenso depósito de lixo e todos os humanos foram morar no espaço enquanto um pequeno robô, WALL-E, forma pilhas de lixo compactados na homérica missão de limpar o planeta. A rotina de WALL-E vai mudar completamente ao conhecer EVA, um robô de tecnologia muito mais avançada, que aparece em busca de vestígios de que a Terra está novamente propícia para a vida humana.
Por que ver na greve? Eis uma boa prova de que animação não é só para criança. WALL-E traz de maneira contundente o tema da preservação ambiental, apontando para o dia em que o planeta ficará inabitável graças à ação humana. Além disso, traz referências muito boas, como o piloto automático da nave em que os humanos estão, que remete ao computador HAL 9000, de 2001: Uma odisseia no espaço.
Cenas marcantes: tem muita coisa boa no filme, mas qualquer momento em que os robozinhos protagonistas estejam juntos e falem "EEEEVAAA", "WAAAL-EEEE" faz muito marmanjo encher os olhos e merece ser aplaudido.
Nota: 10
Luís F. Passos
Luís F. Passos
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