Este é um post especial de dicas pro final de semana. Recentemente parei pra pensar nos filmes favoritos e alterei a lista feita há mais de três anos e que foi publicada aqui no blog, comentando sobre os 30 filmes que eu mais gostava. Hoje não vou falar sobre trinta, mas escolhi dez dentre eles para recomendar para aquela dose semanal de Sétima Arte. Ao lado do título original, a posição de cada um na minha singela lista de favoritos.
1. A estrada da vida (La Strada, 1954 - 22º)
Absolutamente fascinado pelo cinema italiano (e reconheço que deveria ver
mais), especialmente de Fellini. Em seu quarto filme (e primeiro de
projeção internacional) o diretor se afasta do neorrealismo tão
frequente desde o pós-guerra e conta, num tom fabulista, a história da
miserável Gelsomina (Giuletta Masina, esposa de Fellini), que é comprada
pelo artista circense Zampanò (Anthony Quinn). Zampanò faz um truque
banal quebrando correntes, e Gelsomina passa a ser sua assistente,
atuando como palhaça, quase uma caricatura de Chaplin. A relação dos
dois é marcada pela brutalidade do artista e pela simplicidade das
emoções de ambos, quase primitivas. Amor e ciúme guiam o enredo que
explora a dualidade de suas personagens: a teatralidade que esconde
vidas interiores inexploradas.
Nota: 10
2. Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958 - 17º)
Nota: 10
Eleito há cinco anos o melhor filme de todos os tempos e tirando Cidadão Kane de um lugar que ocupava há 50 anos, Um corpo que cai
não foi bem recebido por público e crítica na época de seu lançamento, e
só vinte anos depois passou a ser visto como uma das obras-primas de
Alfred Hitchcock; francamente, não vejo o porquê de tal rejeição
inicial. O filme tem uma das melhores reviravoltas do cinema, e aparenta
não ter só um clímax, e sim um clímax principal que sucede e precede
outros dois secundários. Na trama, James Stewart, que foi um dos mais
frequentes parceiros de Hitchcock, interpreta um detetive que investiga a
esposa de um antigo colega que aparentemente está possuída pelo
espírito da bisavó. O filme é marcado pelo medo de altura da personagem
de Stewart, que num acidente no alto de um prédio viu um colega da
polícia morrer ao cair do telhado. Um suspense complexo e muito bem
elaborado que envolve o espectador como poucos.
Nota: 10
3. Taxi Driver (1976 - 8º)
Scorsese já tinha algum nome em Hollywood depois de dirigir Caminhos Perigosos (1973) e Alice não mora mais aqui (1974), mas foi em 1976 que ele cresceu de vez e marcou seu nome na história do cinema. É apresentada a história de Travis Bickle (Robert De Niro), um veterano da guerra do Vietnã que sofre de insônia e começa a trabalhar como taxista para aproveitar melhor suas noites em claro. Travis não só traz consigo sequelas psicológicas da guerra, como também é produto de uma sociedade doentia, corrupta e violenta, e é contra ela que ele se volta, desejando uma "chuva" que lavasse toda aquela imundície. Ele até tenta se integrar à comunidade, apoiando um candidato político - por quem criou obsessão, além de ser obcecado por uma moça do comitê dele; além de tentar fazer algo para melhorar - e fica obcecado por uma garota que se prostituía (Jodie Foster). Através do talento incomparável de Scorsese e De Niro, um dos mais crus e viscerais retratos do subúrbio nova-iorquino.
Nota: 10
4. Ligações Perigosas (Dangerous Liaisosons, 1988 - 19º)
Esqueça a ideia de que filmes de época devem retratar belas histórias de
amor ou intensos conflitos políticos, ou mesmo guerras. O negócio aqui é
bem mais sujo. A Marquesa de Merteuil (Glenn Close), ícone de riqueza e
beleza, é miserável em termos de escrúpulos. Junto do igualmente
charmoso e mau caráter Visconde de Valmont (John Malkovich), ela se
diverte seduzindo corações inocentes visando roubar-lhes a virtude e a
honra, humilhando as vítimas depois de usá-las. A sordidez do hobby
dessa desprezível dupla é posta à prova quando eles escolhem como vítima
a jovem Madame de Tourvel (Michelle Pfeiffer), cujo marido partiu numa
longa viagem de trabalho. O filme serve como uma rica fonte de estudo
comportamental e psicológico de suas personagens, abrindo espaço para o
espectador observar os costumes e vícios da nobresa francesa no século
18, no seu mesquinho jogo de aparências e interesse.
Nota: 10
5. Manhattan (1979 - 23º)
Cara, como eu adoro esse filme. Numa
época em que cineastas mostravam os subúrbios e a imundície social de
Nova York, sendo Scorsese e seu Taxi driver o melhor exemplo, Woody
Allen realiza seu maior tributo à cidade em que nasceu, viveu, realizou
boa parte de sua obra e pela qual é apaixonado. Manhattan mostra a
Big apple através de um preto e branco que a romantiza, embalado pelo
jazz constante na filmografia de Woody. Na trama, o diretor mais uma vez
vive o protagonista, que aqui é um roteirista de um programa de
televisão que se demite por odiar o emprego e a má qualidade da
programação e sua relação com a namorada de dezessete anos, a ex-mulher
que o largou para morar com outra mulher e a amante, uma jornalista
pedante. E claro, a cidade, que além de cenário é quase uma personagem e
fonte constante de inspiração para a personagem de Woody - "ele adorava
Nova York. Ele a idolatrava". Da mesma forma, é difícil não adorar essa
encantadora história.
Nota: 10
6. Pulp fiction (1994 - 29º)
O segundo filme de Quentin Tarantino lhe rendeu a Palma de Ouro em Cannes e o consolidou como novo talento do cinema. Passados mais de 20 anos, ele produziu muitas outras obras de peso e mostrou ser capaz de manter o alto nível. Mas Pulp Fiction realmente merece destaque em sua obra: Tarantino conseguiu sacudir a indústria mostrando um novo jeito de narrar uma história, construindo um enredo através de vários personagens em momentos e lugares diversos que estão atrelados por um elo de drogas e violência. Direção e roteiro brilhantes ficam ainda melhores com a volta triunfal de John Travolta dançando o melhor twist do cinema com Uma Thurman, os sermões bíblicos de Samuel L. Jackson e a dedicação de todo o ótimo elenco.
Nota: 10
7. Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004 - 27º)
O amor visto de um ângulo incomum em Hollywood: a desilusão amorosa e o
fim de um relacionamento. Como curar um amor fracassado? A melhor
alternativa seria simplesmente esquecer tudo. E se fosse possível? Brilho eterno
responde a esta pergunta (e levanta tantas outras) ao mostrar o término
do namoro de Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) e o
tratamento a que ela se submete para apagar Joel de sua mente depois de
perceber que não era feliz ao seu lado. Amargurado, Joel decide fazer o
mesmo tratamento, mas à medida em que vê sua ex-amada sendo apagada de
suas lembranças, descobre que é melhor sofrer ao lembrar dos bons
momentos ao lado de Clementine do que não ter memória alguma. A trama,
que parece meio impossível ao se ler sobre, na verdade se mostra
totalmente plausível ao ser vista - graças ao excelente roteiro,
vencedor do Oscar, das atuações de Carrey e Winslet e de um time de
coadjuvantes que inclui Kirsten Dunst, Elijah Wood e Tom Wilkinson.
Nota: 10
8. Meia-noite em Paris (Midnight in Paris, 2011 - 28º)
Tem como não amar? A história de amor e fantasia na Cidade Luz se tornou a maior bilheteria de Woody Allen e é um dos filmes bons mais pop do século (digo isso porque o que mais tem por aí é filme ruim e amado). O escritor e roteirista Gil Pender (Owen Wilson) vai para Paris com a noiva e os sogros, e em meio à fascinação pela cidade romântica e cheia de história, viaja no tempo a bordo de um velho carro. Nos anos 20, que ele considera ser a Era de Ouro de Paris, conhece Hemingway, Cole Porter, o casal Fitzgerald, Picasso, outros gênios da arte e a bela Adriana (Marion Cotillard), por quem se apaixona. Com muito bom humor e referências culturais excelentes, Woody nos fala sobre a importância de prestigiar o passado, mas sem deixar de viver o presente - afinal, a verdadeira Era de Ouro é agora, quando podemos realizar nossos objetivos. Admirável, ainda mais pra um jovem que na época tinha 75 anos.
Nota: 10
9. As Horas (The Hours, 2002 - 7º)
"Sempre os anos entre nós. Sempre os anos, sempre o amor, sempre as
horas". Baseado (em um livro que se baseia) na obra de Virginia Woolf, o
complexo e introspectivo As Horas acompanha um dia na vida de
três mulheres distintas que vivem em épocas distintas: a escritora
Virgina Woolf (Nicole Kidman) nos anos 20, a dona de casa Laura Brown
(Julianne Moore) nos anos 50 e a editora Clarissa Vaughan (Meryl Streep)
em 2002. O que une as três é o romance Mrs Dalloway, escrito por
Virginia, lido por Laura e cuja protagonista se assemelha a Clarissa
(tendo, inclusive, o mesmo nome). Ambas as personagens tentam esconder e
lidar com a angústia que as sufoca, mesmo as que aparentemente levam
uma vida perfeita. Ambas as três terão seus mundos transformados ao
longo de um único dia.
Nota: 10
10. Melancolia (Melancholia, 2011 - 1º)
O tempo passa e ele segue como o preferido. Transformar o fim do mundo numa obra de
arte de beleza singular- foi o que Lars von Trier fez em Melancolia. Dividido
em duas partes, o filme acompanha duas irmãs, Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte
Gainsbourg), na iminência do choque de um planeta gigante com a Terra. A
primeira parte, intitulada Justine, mostra o casamento desta no castelo de seu
cunhado, John. A festa luxuosa é o ponto de partida para o desencadeamento da
severa depressão que se abate sobre Justine. Já na segunda parte, surge o
misterioso planeta Melancholia, que em sua rota gravitacional passaria próximo
à Terra, se bem que para muitos ele colidiria. O filme aborda as diferentes
reações diante do fim do mundo, a pequenez do homem diante do universo e outros
temas amplos de forma brilhante. Um espetáculo de imagens e sentimentos que ainda consegue me fazer suar pelos olhos.
Nota: 10
Luís F. Passos