sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Top 10 - Filmes em 2016


Em 2016 eu superei meu recorde de mais tempo sem freqüentar salas de cinema – literalmente, fui ao cinema apenas duas vezes ao longo do ano. Assim, como não queria deixar de fazer minha lista pessoal com o que vi de mais interessante no ano (já estou em falta por não ter feito a de 2015), trouxe aqui os dez melhores longas que tive o prazer de ver e me apaixonar nesses últimos meses.
1.       Azul é a cor mais quente (La vie d’Adèle, 2013)
Paixão. Talvez esta seja a melhor palavra para descrever esse filme memorável sobre um relacionamento avassalador entre duas mulheres. Interessante, envolvente e erótico, Azul é a cor mais quente destila doses grandes de amor em toda sua forma, toda sua beleza e toda sua naturalidade, do começo ao fim. Inesquecível.
2.     
  O clube dos cinco (The breakfast club, 1985)
O filme que me deixou fissurado pelos anos 80. O fato de ter demorado tanto tempo sem ter visto O clube dos cinco – tendo perdido a oportunidade de vê-lo quando criança e adolescente – é algo que lamento muito. Isso se deve ao fato de que este aqui talvez seja o filme que melhor dialoga com as peculiaridades e incertezas do universo juvenil. Baseando-se na construção e posterior desconstrução de estereótipos, O clube dos cinco nos leva a reflexões sobre a vida e nossos papeis nela, sobre quem somos e quem gostaríamos de ser. Mais de 30 anos se passaram e este ainda é o melhor filme do gênero e a obra prima máxima de John Hughes.
3.      
Ex-Machina (2015)
Para suprir minha necessidade de sci-fi, Ex-Machina aparece como uma fábula científica incrível, surpreendente e única. Não é simplesmente um filme de robôs e seus criadores, mas sim uma obra que analisa várias camadas da natureza humana (mesmo que artificial). Muito do que há de melhor e o que há de pior no comportamento humano pode ser percebido em Ex-Machina. Curiosidade, atração, dissimulação, traição. É um banquete para quem gosta de um bom filme de personagens muito bem construídos (além de manter um ar de suspense e um clima de tensão o tempo todo).
4.       Que horas ela volta? (2015)
Uma das melhores pérolas do cinema nacional dos últimos anos, Que horas ela volta? retrata de maneira quase desconfortavelmente fiel a realidade de milhares de famílias e trabalhadoras domésticas brasileiras. Um retrato social ácido, e, principalmente, necessário. Na figura de Val (Regina Casé) vemos a luta diária e as pequenas e grandes conquistas de uma pessoa incrivelmente banal no cotidiano do país. Que horas ela volta? dá, então, voz a toda uma classe e, para mim, é filme obrigatório para todo brasileiro. Não é sempre que vemos um filme retratar de maneira tão clara e direta o seu próprio país.
5.       Boyhood (2014)
Obra prima de Richard Linklater e um dos filmes mais comentados dos últimos anos pelos seus longos 12 anos de produção, Boyhood acompanha todas as trivialidades e todos os grandes momentos da vida de um garoto comum, cuja vida não é muito especial, nem muito melhor nem muito pior que a dos outros. Entre suas tragédias e glórias, o mérito de Boyhood é simplesmente o de retratar a vida (e o processo de amadurecimento) como ela é, em toda sua simplicidade, banalidade, repetição, monotonia. Em todos seus altos e baixos e em todos os momentos cotidianos de beleza que escapam a nossos olhos. É um filme muito bonito e muito bem realizado.
6.       Mapas para as estrelas (Maps to the stars, 2014)
Retrato bizarro sobre Hollywood, Mapa para as estrelas é um desfile de personagens sórdidas e de moral totalmente questionável. Superficialidade, violência, arrogância, culpa e desprezo são destilados num universo de entorpecentes, traições e aparências.  Mais uma obra perturbadora de David Cronenberg, recheada de atuações excelentes com destaque para Julianne Moore, que venceu o prêmio de atuação feminina em Cannes pelo seu papel neste filme.
7.       Inside Llewyn Davis (2013)
Filme sobre a vida errante de um solitário cantor de música folk (vivido por Oscar Isaac), entre todos seus altos e baixos. Bom, mais altos que baixos, visto que é um grande lidar com a difícil realidade mantida por erros do passado e as dificuldades da vida como artista. Inside llewyn Davis nos traz de maneira muito interessante o cenário da música folk em NY dos anos 60 e é um filme dotado de grande sensibilidade, com uma boa análise de personagem e bons elementos técnicos, que inclui uma excelente (excelente mesmo) trilha sonora e uma bela e sóbria fotografia.
8.      
Ou tudo ou nada (The full monty, 1997)
Divertidíssimo do começo ao fim, Ou tudo ou nada foi um grande sucesso dos anos 90 e trata sobre um grupo de homens desempregados e sem grandes expectativas de vida que decidem, já que não tem muito mais o que perder, ganhar dinheiro como strippers, mesmo com seus corpos meio caídos de gente comum e suas habilidades nulas de sedução. Não, aqui não rola nenhum Magic Mike, o que, justamente, garante boa parte da diversão. Além disso, é um filme muito legal sobre amizade e companheirismo e um retrato muito mais fiel e melancólico das falidas cidades industriais inglesas no fim do século XX do que se pode imaginar a um olhar mais desatento.
9.  
     Harry e Sally – feitos um para o outro (When Harry met Sally, 1989)
Uma das comédias românticas essenciais da história do cinema. Provavelmente, a melhor comédia romântica dos anos 80. Apesar de não ser nem um pouco imprevisível, Harry e Sally é tão agradável que é irresistível, muito disso graças ao roteiro inteligente cheio de piadas legais e a sintonia perfeita entre Meg Ryan e Billy Crystal. É possível observar alguns traços de Annie Hall na construção do longa, o que é receita de sucesso (500 dias com ela, alguém?). É pra ver, se divertir e relaxar como se estivesse vendo um filme da sessão da tarde em 2002. Tá liberado.
10.  
Jogos Vorazes + Em chamas (The hunger games, 2012 + Catching fire, 2013)
Demorei bastante para ver a saga de Katniss Everdeen e não sei bem o motivo. De fato, tenho de confessar que subestimei bastante Jogos Vorazes. Não é apenas mais uma saga para adolescentes e jovens adultos e muito menos mais um filme sobre um futuro bizarro. Jogos Vorazes é uma análise social muito interessante sobre as desigualdades entre as classes sociais, o aspecto nocivo da mídia em distorcer a realidade, o papel opressor do estado e a banalização da violência e do absurdo. Tudo isso ainda vem acompanhado com um romance guilty pleasure clichê como sobremesa.
 
Lucas Moura