Há uns quatro anos eu via pela primeira vez a cerimônia do Oscar tendo assistido a boa parte dos filmes que concorriam, e começava a arriscar meus palpites. Na ocasião, obviamente, torcia por Cisne Negro na categoria principal, mas não achei ruim O discurso do rei ter levado o prêmio. O que me deixava intrigado era: o que A rede social estava fazendo na lista, concorrendo a tantas estatuetas? O tempo passou, meu pequeno conhecimento sobre cinema aumentou um pouco, o gosto apurou, A rede social foi novamente assistido e eu tenho a resposta da pergunta de 2011 na ponta da língua: é um filmaço. Diferente do que todo mundo pensou na época de seu lançamento, A rede social não é um filme sobre o Facebook ou sua criação. O evento acaba sendo só o plano de fundo pra o muito que o filme tem a oferecer.
O ano é 2003 e estamos na Universidade Harvard, uma das melhores e mais prestigiadas do mundo, e certamente a mais socialmente estratificada dos Estados Unidos. Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) é um jovem aspirante a programador que rompe com a namorada Erica depois de uma briga um tanto tola, mas que segundo ela foi mais uma manifestação da arrogância e falta de sensibilidade de Mark. Abalado, ele vai pro dormitório e começa a beber e escrever em seu blog pessoal. Quanto mais bêbado ficava, mais ofensas dirigia à ex e às mulheres em geral. Além disso, ele teve a ideia de criar um site chamado Facemash, com fotos de todas as alunas da universidade, para criar um ranking das mais bonitas. Lá pelas tantas seu melhor amigo, o brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield) aparece e Mark lhe pede um algoritmo que permita fazer a comparação no Facemash. O site vai pro ar, se torna um sucesso instantâneo em plena madrugada, e às 4h da manhã derruba o servidor de Harvard. Foram 22 mil acessos em apenas duas horas.
A fama do Facemash deu, além de uma audiência no conselho de disciplina de Harvard, uma certa notoriedade a Mark. É aí que entram em cena os gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss, jovens aristocratas da equipe de remo, que junto de seu amigo Divya Narendra, queriam construir um site de relacionamentos para estudantes de Harvard - que teria o domínio Harvard.edu, "o endereço de email mais prestigiado do país". O fato de Mark ter criado um site em apenas algumas horas, e bêbado, fez os três verem o potencial de Zuckerberg, e o convidam a ser o programador do seu projeto. Acontece que onde os Winklevoss e Narendra viam um site pra uma universidade, Mark via algo muito maior. Ele enrolou os gêmeos por mais de quarenta dias, fingindo que não estava trabalhando no projeto deles, até que lança um projeto seu: thefacebook. Põe o site no ar com a ajuda de Saverin e outros amigos, informando em todas as páginas que se tratava de uma realização de Mark Zuckerberg. Não demora muito e os gêmeos o processam por roubo de propriedade intelectual.
Com o apoio financeiro de Saverin, o thefacebook sai dos muros de Harvard e alcança outras universidades, sendo um sucesso em todas. É aí que a amizade do brasileiro com Mark começa a desandar. Eles conhecem Sean Parker (Justin Timberlake), criador do Napster, que chega com mil ideias para alavancar o site; acontece que a antipatia entre Parker e Saverin é imediata, e culmina numa armação para afastar o brasileiro da empreitada. Resultado: Saverin também processa Zuckerberg.
A Rede Social (The social network, 2010) é um filme repleto de ironias. A primeira delas: um site de relacionamentos que fez várias pessoas, inclusive dois melhores amigos, brigarem. O interessante é que momentos da época da criação do Facebook (que perdeu o "the" com uma sugestão de Parker) são intercalados com cenas da batalha judicial pelo site, em que os três lados (Mark, Saverin e os gêmeos) lavam muita roupa suja nas audiências de conciliação. Essas audiências são cheias de exposição de mágoas, intrigas, decepções, traições e inveja. Acho que por mais que o filme tente ser imparcial na exposição da história, unindo os pontos de vista das três partes pra montar o enredo, ele acaba se desviando pra o lado que aponta um culpado - e aí vem outra ironia fortíssima: em volta da origem da maior rede de relacionamentos do mundo, a incapacidade de se manter relações duradouras.
Os protagonistas são expostos como mitos da sociedade contemporânea, em especial, claro, Mark Zuckerberg. Criador do Facebook aos 19 anos, aos vinte e poucos considerado o bilionário mais jovem do mundo, Mark é uma representação do poder de ser genial. De como é incrível ser jovem e muito mais que ser inteligente, ser criativo e inovador. Bilionário parece ser o de menos, o que é realmente vibrante é despontar como um garoto prodígio. E é nesse sentido que a direção de David Fincher leva o filme durante todo o tempo. Direção, inclusive, que pode ser resumida numa palavra: espetacular. Espetacular como todos os outros aspectos artísticos e técnicos do filme, que pra mim foi um dos três melhores no cinema americano num ano de ótima safra.
Nota: 10
Luís F. Passos
A fama do Facemash deu, além de uma audiência no conselho de disciplina de Harvard, uma certa notoriedade a Mark. É aí que entram em cena os gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss, jovens aristocratas da equipe de remo, que junto de seu amigo Divya Narendra, queriam construir um site de relacionamentos para estudantes de Harvard - que teria o domínio Harvard.edu, "o endereço de email mais prestigiado do país". O fato de Mark ter criado um site em apenas algumas horas, e bêbado, fez os três verem o potencial de Zuckerberg, e o convidam a ser o programador do seu projeto. Acontece que onde os Winklevoss e Narendra viam um site pra uma universidade, Mark via algo muito maior. Ele enrolou os gêmeos por mais de quarenta dias, fingindo que não estava trabalhando no projeto deles, até que lança um projeto seu: thefacebook. Põe o site no ar com a ajuda de Saverin e outros amigos, informando em todas as páginas que se tratava de uma realização de Mark Zuckerberg. Não demora muito e os gêmeos o processam por roubo de propriedade intelectual.
Com o apoio financeiro de Saverin, o thefacebook sai dos muros de Harvard e alcança outras universidades, sendo um sucesso em todas. É aí que a amizade do brasileiro com Mark começa a desandar. Eles conhecem Sean Parker (Justin Timberlake), criador do Napster, que chega com mil ideias para alavancar o site; acontece que a antipatia entre Parker e Saverin é imediata, e culmina numa armação para afastar o brasileiro da empreitada. Resultado: Saverin também processa Zuckerberg.
A Rede Social (The social network, 2010) é um filme repleto de ironias. A primeira delas: um site de relacionamentos que fez várias pessoas, inclusive dois melhores amigos, brigarem. O interessante é que momentos da época da criação do Facebook (que perdeu o "the" com uma sugestão de Parker) são intercalados com cenas da batalha judicial pelo site, em que os três lados (Mark, Saverin e os gêmeos) lavam muita roupa suja nas audiências de conciliação. Essas audiências são cheias de exposição de mágoas, intrigas, decepções, traições e inveja. Acho que por mais que o filme tente ser imparcial na exposição da história, unindo os pontos de vista das três partes pra montar o enredo, ele acaba se desviando pra o lado que aponta um culpado - e aí vem outra ironia fortíssima: em volta da origem da maior rede de relacionamentos do mundo, a incapacidade de se manter relações duradouras.
Os protagonistas são expostos como mitos da sociedade contemporânea, em especial, claro, Mark Zuckerberg. Criador do Facebook aos 19 anos, aos vinte e poucos considerado o bilionário mais jovem do mundo, Mark é uma representação do poder de ser genial. De como é incrível ser jovem e muito mais que ser inteligente, ser criativo e inovador. Bilionário parece ser o de menos, o que é realmente vibrante é despontar como um garoto prodígio. E é nesse sentido que a direção de David Fincher leva o filme durante todo o tempo. Direção, inclusive, que pode ser resumida numa palavra: espetacular. Espetacular como todos os outros aspectos artísticos e técnicos do filme, que pra mim foi um dos três melhores no cinema americano num ano de ótima safra.
Nota: 10
Luís F. Passos
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