A família Eastman é proprietária de uma milionária empresa de roupas de banho femininas. Por serem muito ricos, são as pessoas mais importantes da cidade. Famosas, bonitas, elegantes e imponentes. No entanto, nem todo Eastman partilha desta abundância. Parentes mais afastados vivem uma vida muito humilde, dedicada a serviços de caridade numa espécie de organização religiosa. Nem todos deste lado, no entanto, são pessoas tão simplórias assim. O jovem George Eastman (Montgomery Clift) larga toda essa vida de pobreza e munido exclusivamente de sua ambição vai buscar emprego na empresa de seu tio abastado. Sua meta é prosperar na vida, tornando-se uma daquelas pessoas a quem observa com olhares atentos e uma parte integral de todo aquele circo de dinheiro. Como o próprio título propõe, sua meta é encontrar um lugar ao sol, o que não é nenhum pecado. Ninguém pode dizer que não almeja avançar econômica e socialmente. O que é colocado em cheque é até que ponto se está disposto a pagar o preço desta evolução, que pode vir a ser caro demais.
Sua mediocridade, no entanto, parece não ser suficiente para permitir esta evolução, e tudo que o rapaz possui, na verdade, é sua incontestável beleza e carisma. Para piorar, a idiotice de George é tanta que ele acaba esbarrando em um grande emaranhado amoroso envolvendo duas mulheres opostas, mas igualmente apaixonadas. A primeira é a pobre e ingênua Alice (Shelley Winters), funcionária na indústria dos Eastman, que se envolve da forma mais trágica com nosso ingênuo e patético protagonista. Após um curto relacionamento de poucos altos e muitos baixos, a moça acaba grávida e não tem nenhuma solução além de pressionar George para que se case com ela. No entanto, a este momento o rapaz pouco tem interesse por ela (se é que em algum momento possuiu alguma atração), pois já se encontra perdidamente apaixonado pela rica e bela Angela Vickers (Elizabeth Taylor), que por sua vez é totalmente rendida a seus encantos. A dualidade entre Alice e Angela na vida de George é muito importante e um ponto chave do filme. O que elas representam é uma interpretação paralela da qual se é induzido ao longo do filme, em que a história de drama e romance mescla-se com um questionamento de classes onde cada uma delas representa um oposto da pirâmide social (o público do cinema clássico pouco ligava para essas coisas. Se fosse feito um remake moderno de Um lugar ao sol, com certeza esse conteúdo seria acentuado). Encurralado, George tem de tomar uma decisão muito simples: se livrar de Alice. Afinal, optar por ela e largar Angela (o que, tendo em vista a situação, seria o mais correto a fazer) seria o fim de sua jornada de ascensão e ainda o afastamento de seu nítido desejo físico (isso nem conta muito, qualquer um se apaixonaria de graça por Liz Taylor) pela jovem. Medidas drásticas devem ser tomadas, mas, ao maior estilo hollywoodiano, sucessões de acasos surgem de diversas maneiras tornando nosso pobre protagonista incapaz de controlar a situação em que tudo converge para um fim tão memorável quanto trágico.
Para mim, Um lugar ao sol (A place in the Sun, 1951) é uma representação exata do que é o cinema clássico. Tem um forte caráter dramático, pontuado por momentos que variam muito entre pequenos detalhes a grandes clímaces, e um quase descompensado caráter romântico. O romantismo, que na verdade nem combina muito com a proposta original da história, é acentuado à maneira antiga. O amor entre George e Angela é quase angelical. Os dois são lindos, tem uma conexão incrível, trocam extensas juras de amor eterno em que tudo é o mais bonito possível. A beleza de Elizabeth Taylor em Um lugar ao sol é algo surreal, o que também faz um excelente contraste com a normalidade proletária de Shelley Winters, que sempre foi excelente atriz, mas que se encaixava quase exclusivamente em personagens com cara de gente comum. Isso é interessante, pois nem assim George se encaixa, afinal, apesar de ser originado do mesmo meio que Alice, sua aparência é quase tão fora do normal quanto a de Angela – os dois formam um dos casais de cinema mais bonitos que já vi.
Dos três, o único indicado ao Oscar foi Shelley Winters. Diz a lenda, inclusive, que ela tinha certeza absoluta de que levaria o prêmio, ficando totalmente decepcionada pela derrota para Vivien Leigh. Não sei exatamente o porquê disso. Sua personagem é legal, mas não aparece muito no filme e, pra mim, a personagem mais interessante é a de Montgomery Clift. É George Eastman que desperta uma maior amplitude de emoções no espectador, que varia entre a raiva pela moral questionável, o desprezo pelas atitudes, e até mesmo a compaixão pela grande ingenuidade demonstrada várias vezes e a supervalorização de seu caráter romântico (em relação à Angela, claro). Vencedor também do prêmio de melhor direção (Geroge Stevens).
Nota: 8.5/10
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